Morihiro Saito: Seguindo o Fundador dentro da história

Por Gaku Homma

30 de Janeiro de 2003.
Nota do autor: partes deste artigo foram escritas logo após a passagem do Shihan Morihiro Saito, mas, mantendo-se as tradições japonesas de luto, não foram publicadas até o início do Ano Novo seguinte.De 7 a 9 de fevereiro de 2003 o Sensei Hitohiro Saito estará em Denver para lecionar no Seminário Memorial Americano realizado em homenagem ao seu pai o Shihan Morihiro Saito.

Existem muitos livros técnicos escritos sobre o Shihan Saito e o seu Aikido. Existem muitas entrevistas e artigos escritos a seu respeito como Guardião do Templo Aiki e como líder do Dojo de Iwama durante sua vida. Para aqueles que poderão vir ao seminário em sua memória e para aqueles que não poderão comparecer eu gostaria de compartilhar o que eu sei a respeito de uma faceta de Saito Shihan sobre a qual não se escreve freqüentemente; o lado mais reservado do homem que é conhecido publicamente em todo o mundo como o grande artista marcial que ele foi.

Saito Shihan teve muitos uchideshi, e milhares de estudantes que partilham de seus ensinamentos e de sua missão. Existem poucos, no entanto, que viram seu lado mais pessoal e privado. Sua família, estudantes antigos mais próximos e amigos de longa data tais como Stanley Pranin, editor do Aikido Journal, conheceram a sua “face real”, como isso pode ser chamado, ou sua maneira pessoal.

Minha relação com Saito Shihan se estendeu por mais de quatro décadas, começando em Iwama quando eu era apenas um rapaz. Desde aqueles dias distantes até os anos recentes, eu tive a honra de conhecê-lo e de compartilhar com ele alguns de seus momentos privados. Um dos seus últimos pedidos foi que eu dissesse o que pensava sobre ele nos últimos dias de sua batalha final. Ele, especialmente, quis que seus estudantes nos Estados Unidos entendessem o fim de sua vida como um meio de entender o seu começo. E foi com esse objetivo que eu peguei minha caneta para escrever…


Como seres humanos e Aikidoístas nós, freqüentemente, pensamos na morte como algo negativo, algo a ser evitado o máximo de tempo possível. Não importa se uma pessoa é um mendigo sem teto vagando pelas ruas, um negociante bem sucedido em Wall Street ou um artista marcial, ninguém nesse mundo pode escapar da morte. Artistas marciais e astros de cinema, eu suponho, estão ambos sob os holofotes quando estão no topo de suas carreiras. Nós ouvimos falar sobre eles quando vencem campeonatos ou quando recebem Oscars. Quando eles envelhecem eles parecem desvanecer e desaparecem. Conforme a história do Aikido se estende, as gerações de estudantes envelhecem. São muitos os aikidoístas da primeira geração que há muito tempo não estão mais conosco. Como seres humanos nós não escapamos da morte. Não importa o quão fortes ou famosos possam ser, os artistas marciais não vivem para sempre. Como um artista marcial se prepara para este momento inevitável, no entanto, pode ser uma grande lição para todos nós. E esta é a última grande lição do Shihan Morihiro Saito para todos nós. Ele disse uma vez que morrer não é algo para ser temido, a morte deve ser algo a ser encarado com coragem e dignidade.

A primeira vez que eu falei com Saito Shihan a respeito de vir com o seu filho a Denver foi em 1999. “Obrigado, mas não, obrigado” foi a sua resposta. “Estudantes que vêm a Denver para praticar no meu seminário estão interessados em aprenderem comigo. Eles não são estudantes de Hirohito por algum direito de nascença. Como pai não é bom para mim que eu simplesmente lhe apresente a organização e a estrutura que eu construí em uma bandeja. Assim é muito fácil. Se Hirohito quer fazer uma vida dentro do Aikido ele tem que fazer por si próprio. Depois que eu tiver ido, eu lhe peço então que convide Hirohito para ir a Denver. Ele terá que realizar o seu próprio começo nesse país e eu confio em você para lhe dar uma sólida plataforma onde começar”.

Este Seminário Memorial Americano realizado em homenagem ao Shihan Morihiro Saito é o meu presente para o pai Morihiro Saito… e para o seu filho, bem como para o começo de uma nova geração que virá.

Gaku Homma.

Com a tristeza ainda apegada aos meus pensamentos, eu deixei, em seguida, os serviços funerários e rapidamente e me encaminhei à Prefeitura de Wakayama para visitar Tanabe, lugar de nascimento e descanso final do Fundador do Aikido, Morihei Ueshiba, no templo Kozanji. Junto a tumba do Fundador eu permaneci em silêncio para prestar minhas reverências. Enquanto eu estava ali eu notei algo muito interessante; três tosoba (tábuas de madeira onde se inscrevem orações) estavam diligentemente erigidas atrás da tumba do Fundador. Uma estava inscrita com o nome “Morihiro Saito” e as outras duas com o nome “Moriteru Ueshiba”, o neto e herdeiro do legado do Fundador Morihei Ueshiba. Essas eram as únicas três tosoba colocadas ali no último ano. A tosoba do Shihan Morihiro Saito estava datada de 10 de junho de 2001. O Doshu Moriteru Ueshiba tinha duas tosoba datadas de 31 de março de 2001.

Muitos Aikidoístas têm vindo a esse lugar de descanso para tirar uma foto, mas apenas dois tiveram tempo e acolheram as despesas (aproximadamente $500 por cada tosoba) para contratarem os serviços do sacerdote local para oferecer esta oração especial. Esses oradores permaneceram através das marcas da tosoba. Ali, de pé, pensando, eu me dei conta de que Morihiro Saito Shihan provavelmente veio aqui para dizer adeus.


No mês de maio de 2002 nós perdemos um grande artista marcial, Morihiro Saito. Morihiro Saito era um ser humano, bem como um artista marcial, de grande estatura. Ele enfrentou sua última batalha – contra o câncer – de cabeça erguida, com calma e determinação. Seu modo de agir e elegância foram as suas últimas lições, uma das muitas que ele, silenciosamente, ensinou a todos nós, seus estudantes.

Eu quero escrever sobre Morihiro Saito, o homem, desta forma vocês poderão ter mais entendimento sobre a vida – e o fim da vida – de um verdadeiramente grande artista marcial.

Em 1997, Morihiro Saito veio à Denver, Colorado pela terceira vez. Ele veio ensinar em seu maior seminário de 1997 prestigiado por mais de 350 estudantes. “Todos gostaram do Seminário?”. Esta pergunta foi respondida com aplausos. “Esta pode ser a minha última visita à America”, ele continuou, “Vocês gostariam que eu viesse novamente?”. Mais uma vez esta pergunta foi respondida com estrondoso aplauso.

Contudo ele não conseguia nem engolir sua comida direito. Ele me confidenciou que havia feito um exame físico completo antes de vir e que alguns dos resultados não tinham sido bons. “Eu provavelmente terei que fazer uma cirurgia quando voltar ao Japão”, ele disse. Isto, no entanto, não o impediu de vir. Ele não esperou por uma resposta e disse aos seus médicos que precisava vir aos Estados Unidos. Ele também não ouviu os avisos de sua família, que já havia me dito que a sua condição era séria. Eu mesmo fui ao Japão pessoalmente para tentar dissuadi-lo de vir. “Eu não estou doente!” ele insistiu diante de um copo de shochu. Com um pesado sotaque Ibaraki ele continuou; “Não se preocupe, eu ainda estou bem. Eu posso estar com uma enfermidade, mas meu espírito não está doente. Existem muitas coisas que eu ainda posso fazer e ir aos Estados Unidos é uma delas!”. Depois de escutar isso, o que eu poderia fazer mais a não ser concordar? Quando o Shihan decidia alguma coisa não havia muito o que dizer além de “sim, Senhor”.


Morihiro Saito Shihan Aikikai Hombu 9th Dan, líder do Dojo Ibaragi Iwama e guardião do Templo Aiki era uma importante liderança dentro do mundo do Aikido. Se alguma coisa acontecesse com ele em Denver isto seria mais do que uma tragédia.

Antes do Seminário ele não falou a nenhum de seus estudantes a respeito de sua condição. Tentando não levantar preocupações, nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para cuidar dele. Dois de meus estudantes são pilotos da United Airlines e eles foram à Tokyo pessoalmente para o trazerem. Ele voou todo o tempo de primeira classe. Existe uma foto de Saito Shihan sentado na cadeira do capitão, na cabine, com o piloto da United e presidente da Nippon Kan Doug Kelly. Esta é uma foto que eu o vi exibindo várias vezes. Depois ele me confidenciou que, “Primeira classe era muito impressionante, mas eu fiquei sozinho comigo mesmo. Não era permitido aos meus estudantes virem me visitar. Eu tinha tanta atenção dos comissários de vôo que eu não podia sequer bebericar um gole do meu sakê favorito que eu havia trazido de casa!”. Foi um alívio vê-lo no aeroporto de aparência saudável e fazendo brincadeiras.

Durante o seminário nós tomamos outras precauções. Eu pedi a dois de meus estudantes – um dos quais é o meu médico pessoal e a outra uma enfermeira cardíaca para ficarem de olho nele. Entre as horas de prática e antes do dia do evento nós checamos o seu pulso e a sua pressão sangüínea, monitorando qualquer sinais de perigo. Decidimos que era melhor não interromper a sua dieta usual. Eu cozinhei pessoalmente todas as suas refeições, utilizando ingredientes básicos como miso, molho de soja e arroz que eu comprei para ele em Iwama. Nós retiramos a cama em estilo ocidental do seu quarto de dormir e a substituímos por um estrado levantado suavemente de um lado para que ele pudesse respirar facilmente. Todas as noites eu dormia em frente a sua porta, desta forma eu poderia ouvir se ele começasse a tossir ou precisasse de atendimento.

Eu não estou buscando por nenhum galardão. Com a minha experiência de último uchideshi do Fundador Morihei Ueshiba, este tipo de cuidado era esperado de mim. Não era estranho de minha parte agir desta forma.

Em uma noite durante o seminário, Saito Shihan começou a sufocar durante o jantar. Nós corremos para ajudá-lo, mas ele nos impediu. “Apenas sentar-se calmamente por um momento fará com que o sufocamento desapareça”, ele nos disse. “Meus médicos disseram que comidas de cor vermelha são boas para minha saúde, então eu acho que uma taça de vinho tinto é bem vinda”. Eu pensei em protestar, mas conhecendo-o bem, eu parei. Ele sabia de sua condição, e eu estava aliviado com o fato de ele saber lidar com ela.

Na manhã após o seminário nós nos preparamos para sair de van para as atividades do dia. Antes de entrar no carro ele separou amplamente os pés e se curvou sobre um dos joelhos em um longo alongamento das pernas. “Genki desu ne” ou “Você parece cheio de energia e vigor”, eu disse, então eu perguntei “O que você está fazendo?” “Eu preciso terminar de trabalhar no seu jardim”, ele replicou. “Eu estou preocupado com isso”. Com isso ele pulou dentro da van. Este era o Shihan Saito em sua intimidade. Não o Saito Shihan que reinou em dojos de todo mundo.

No jardim, não importava o quanto nós nos preocupávamos, ele insistia em andar de um lado para o outro solicitando que saíssemos do caminho enquanto ele reposicionava pedras e endireitava as plantas. Ele estava decidido a “consertar” o jardim e a retirar pedras com uma facilidade que os jovens uchideshi não tinham.


Shigeru Kawabe Sensei de Akita, Japão, e sua esposa acompanharam Saito Shihan em sua viagem a Denver. Naquela segunda-feira eles estavam bem vestidos para um dia de passeio sem saberem que iriam praticar um pouco de jardinagem. Em todo o caso eles arregaçaram as mangas e ficaram com suas roupas elegantes um pouco sujas, mas foi gratificante ver que todos estavam sorrindo.

Depois que o trabalho terminou, Saito Shihan se sentou sobre uma pedra que tinha acabado de reposicionar e contemplou o trabalho feito por suas mãos. “É sempre bom sentar no jardim depois de ter trabalhado nele para se reabastecer!” ele exclamou. Eu perguntei a ele se ele poderia colocar um nome na pedra que ele tinha trabalhado tanto para colocar exatamente naquele lugar e ele respondeu, “Pedra Morihiro, e o nome para o seu jardim é Aikien”. Aikien era o nome usado no Santuário do Aikido em Iwama para o Yagai dojo (lado externo do dojo) construído pelo Fundador Morihei Ueshiba. Saito Shihan continuou, “Está tudo bem, o nome não é mais usado em Ywama, então é um bom nome para este jardim”.

O jardim da Nippon Kan não tinha nem um ano de idade na época, e as plantas e árvores ainda eram pequenas. Na época havia mais pedra do que jardim. Eu acredito que Saito Shihan tinha um dom especial em projetar e saber o que as coisas se tornariam. Eu acho que é por isso que ele sabia exatamente como posicionar as pedras. Ele até mesmo observava que estudantes e jardins se pareciam na medida em que você precisa olhá-los como serão daqui a dez anos conforme você os molda. Descansando ali, juntos naquele jardim de poucas penas, não havia meios de imaginar que cinco anos depois o jardim seria classificado pela revista especializada em restaurantes Zagat como a melhor decoração e atmosfera exterior entre 6.000 restaurantes dos Estados Unidos.

Uma vez que a viagem de retorno de Denver para Tokyo seria longa, nós decidimos passar uma noite em São Francisco antes que Saito Shihan e Kawabe Sensei continuassem em sua viagem para o Japão. O hotel em que ficamos tinha aproximadamente trinta andares, e os quartos eram aparelhados com varandas que davam vista para a Baía de São Francisco e para a ponte Golden Gate. Tendo chegado no quarto, Saito Shihan se dirigiu diretamente para a varanda onde ele abriu os braços e exclamou, “ii, na”, ou “Isto é lindo”, em japonês. O sol da tarde ainda estava quente e a brisa entrava gentilmente vinda da baía.

Alegre, ele retornou ao quarto e começou a tirar da mala os seus pertences. Geralmente ele tinha um uchideshi para fazer isso para ele, mas desta vez ele mesmo tirou as coisas da mala com entusiasmo infantil. Ele carregou uma pequena garrafa de sakê para a varanda e puxou duas cadeiras para perto de uma mesa na varanda. “Kawabe-san, vamos nos sentar aqui”, ele disse entusiasticamente. Sabendo que Saito Shihan nunca bebia sem alguma coisa para comer, o seu otomo, Mark Larson e eu rapidamente nos encaminhamos para o bairro japonês para comprar aperitivos para eles. Nós retornamos a tempo de contemplar uma cena que eu nunca esquecerei. Ambos Saito Shihan e Kawabe Sensei estavam imóveis sentados de frente um para o outro entre a pequena mesa na varanda. Estavam ambos sentados, cabeças inclinadas em direção ao outro como se estivessem em oração. O calor suave do sol e as brisas suaves tinham feito sua mágica depois de um longo e agitado fim de semana, e ambos dormiram rapidamente!


Saito Shihan completou sua missão, e foi um sucesso em seu seminário em Denver. Nesse momento, no entanto, ele era um homem, em seu momento privado, que estava tirando um merecido cochilo.

Dois dias depois de seu retorno ao Japão, eu recebi um a chamada telefônica. “Eu estou com câncer”, Saito Shihan falou pelo telefone. “Existe um extrato do cogumelo maetake que eu estou procurando, mas não tem no Japão. Supõe-se que tem propriedades curativas. Eu sei que isso pode ser encontrado nos Estados Unidos. Você poderia mandar um pouco para mim?”. Eu pude sentir a determinação em sua voz.

Eu comprei todo o tipo de extrato maetake disponível em todo o tipo de lojas de produtos naturais e farmácias em Denver naquele dia. No dia seguinte eu viajei para o Japão para entregar. A inauguração do meu restaurante, Domo, estava marcada para a semana seguinte e deixar o país não era boa idéia. No entanto, a saúde de Saito Shihan estava em perigo. Eu não pensei duas vezes para ir até ele. Ele estava tão surpreso e feliz em me ver no dia seguinte que ele quase chorou, ele literalmente arrombou a porta para me encontrar. Naquele momento não importava se o extrato de maetake iria funcionar ou não para curar a sua doença. O mais importante para mim era mostrar o meu respeito e o meu apoio. Se eu o fiz feliz por apenas um minuto que seja, isto já foi o suficiente. “Você está com fome?” ele perguntou e me levou para dentro de sua casa me segurando pelo braço.

Em 1998 Saito Shihan sofreu uma cirurgia e, embora a cirurgia tenha sido complexa, ele se recuperou bem. Em maio de 1999 ele me telefonou para dizer que estava bem e que viria a Denver. “Eu ainda tenho trabalho para fazer no jardim”, ele explicou. O primeiro pensamento que tive foi o de convencê-lo a não vir e proteger a sua saúde. Eu não sabia como fazer isso, então eu pedi ajuda à sua família. Eles me disseram que, exceto pela sua voz, que parecia um pouco rouca, ele parecia estar bem. Esta explicação me deixou sem nenhuma desculpa, então não havia mais nada a dizer a não ser: “Quando o Sr. gostaria de vir, Sensei?”


Nós tomamos ainda mais precauções e o seminário de Saito Shihan em 1999 se deu sem nenhum desvio. Minhas preocupações pareciam exageradas. Ele comeu bem e se divertiu muito. A única diferença que eu notei foi que ele estava controlando o que bebia e o que comia e estava indo descansar mais cedo. Em algumas poucas ocasiões, no entanto, ele retornava depois que a maioria das pessoas já havia saído para tomar alguma coisa com seus amigos e estudantes mais próximos. Este era o seu momento privado de descanso. Ele nos contou sobre a sua cirurgia, tendo, inclusive, nos mostrado suas cicatrizes. “Os médicos me disseram: “Sr. Saito conte até três”. Eu contei até três e é tudo o que me lembro. Quando eu acordei eu estava grampeado, fechado do pescoço até o umbigo, em minhas costas tinha um corte diagonal de aproximadamente 60 centímetros! Ele mostrou suas cicatrizes com orgulho de uma criança que tivesse pescado o seu primeiro peixe. Os médicos aqui concordaram com os médicos japoneses que suas cicatrizes haviam cicatrizado bem. Ele estava orgulhoso disso.

Mais de 350 estudantes compareceram ao seminário de Saito Shihan em 1999, que foi um grande sucesso. Durante o seminário ele fez uma pausa para perguntar “Todos estão contentes? Eu estou muito feliz de estar de volta ao Colorado mais uma vez. Posso voltar novamente no próximo ano?” Ele recebeu uma salva de palmas que continuou mesmo depois que ele já havia deixado o ginásio. Mais tarde na festa de boas vindas ele deleitou a todos cantando um emocionante coro de “Shiroi Keiko Gi,” que era uma versão japonesa de Saito Shihan para “Oh My Darling Clementine” (oh, minha querida Clementina). Naquela noite o Sensei Hans Goto veio falar comigo em particular com um ar sério. “Será que você poderia perguntar ao Shihan se ele poderia ir à Califórnia no próximo ano?” ele perguntou. “É claro”, eu respondi. “Eu imagino que isso dependeria enormemente de sua saúde. Eu acho que é melhor que ele não venha a Denver da próxima vez. Ele faz de conta que está tudo bem, mas ele sabe do seu futuro. Em meu coração eu gostaria que ele permanecesse em sua casa em Iwama cuidando de sua saúde”.

Mais tarde em minha casa eu escolhi as palavras da melhor forma que pude e coloquei a questão para Saito Shihan. “Sensei no próximo ano, será que seria uma boa idéia visitar os dojos afiliados à Iwama na Califórnia? Se o senhor não for, seus estudantes vão achar que eu seqüestrei o seu pai!”. Depois de alguns momentos ele respondeu, “Ir ensinar em vários Dojos na Califórnia durante uma visita é agora fisicamente muito difícil para mim. Faz mais sentido fazer um grande seminário em um local central como Denver”. “E se o Sr. conseguisse realizar um grande seminário em um de seus dojos na Califórnia? Eu perguntei. “Eu me preocuparia se isso iria parecer que eu estaria favorecendo um dojo em detrimento de outros o que poderia causar problemas no futuro. É muito importante para mim que isso não aconteça”, ele disse. “E que tal se o Sr. escolhesse um local que fosse central e que tivesse um comitê formado pelos líderes de seu grupo para organizar o evento juntos?” Eu perguntei novamente. Saito Shihan olhou como se tivesse pensando profundamente a respeito disso, mas ele não respondeu.

Depois que ele retornou ao Japão eu só tive notícias de Saito Shihan em Janeiro de 2000. Ele me disse que havia decidido ir à Califórnia naquele ano. Era do seu entendimento que seus estudantes haviam decidido trabalhar juntos para organizar um seminário central na Califórnia para que todos fossem. Ele parecia estar muito feliz de que todos os seus estudantes estivessem trabalhando em conjunto. Ele me pediu que ensinasse aos seus instrutores o ABC da organização de um seminário, utilizando o “sistema de Denver” como ele chamava. Eu respondi gentilmente “Sensei o Sr. tem gerações de ushideshi na Califórnia que conhecem o Sr. a décadas. Esses seus instrutores agora têm gerações de estudantes atrás deles. Enquanto o Sr. ainda tem sua saúde esta é uma boa maneira de mantê-los ligados para o futuro. É importante para eles trabalharem juntos como em um time. Se eu me intrometer e der conselhos de como organizar um seminário, isto seria apenas interferência, o que iria atrapalhar o processo. Eles são muito capazes de organizar um seminário por si próprios. Eu acho que é melhor para todos que eu não esteja envolvido”.


Como foi do desejo de Saito Shihan no outono de 2000 um seminário de grande sucesso aconteceu na área da baía (da Califórnia) recepcionado, como Saito Shihan acreditava, por seu grupo de principais instrutores e estudantes da Iwama ryu. Em maio de 2001 eu fui ao Japão para (o evento) All Aikido Demonstration em Tóquio. As demonstrações se deram na Nippon Budokan. Saito Shihan realizou uma demonstração maravilhosa de técnicas de sankyo e suas variações. Como sempre ele agradava as platéias e recebeu enorme aplauso. Nessa época a força de suas pernas e de seus joelhos estavam enfraquecendo. Seu uke atuou bem e mascarou que ele estava ajudando o Shihan a se manter em pé após cada pegada. Acima das arquibancadas enquanto aguardava o começo e sua demonstração, Saito Shihan brincou com uma bengala desdobrável que ele embainhava e desembainhava propositadamente. “Você acha que poderíamos vender essas bengalas para Ninjas americanos? Não se preocupe, se um Ninja estiver precisando de uma bengala desdobrável ele não deve ser um Ninja de verdade”, ele concluiu. Todos ao seu redor riram.

No dia seguinte eu visitei Iwama e fui recebido calorosamente. Jantamos juntos na nova área de jantar do dojo ele parecia estar bem. Ele falou sobre os Estados Unidos e disse que estava ficando um pouco fraco fisicamente mas que ele havia prometido ir à Califórnia novamente neste ano, e era uma promessa que ele tinha a intenção de cumprir. Todos na mesa tentaram dissuadi-lo, mas ele se apressou em defender teimosamente seu ponto de vista. Finalmente sua filha disse: “Não existe razão para mudar sua opinião. O melhor é deixar que ele faça o que lhe faz feliz”. Enquanto eu me preparava para sair ele me presenteou com 30 bokkens que havia empacotado em feixes com alças.

Eu falei com sua filha novamente antes de partir. Ela me disse que o câncer estava se espalhando e agora estava afetando suas extremidades. Como é muito comum no Japão a família de Saito Shihan havia sido mais informada de suas condições do que ele próprio, e eles foram informados de que ele teria apenas mais alguns meses de vida. Ela estava muito preocupada com suas viagens mas ela não estava em condições de informá-lo que a sua saúde estava piorando. Ela também estava preocupada com seus anfitriões na Califórnia. Se alguma coisa acontecesse enquanto ele estivesse nos Estados Unidos isto seria traumático para os seus estudantes. Ela me perguntou se eu poderia de alguma forma persuadir seus estudantes na Califórnia que solicitassem a ele que não fosse. Eu expliquei a ela que eu não estava em posição de fazê-lo, nem eu gostaria de interferir em sua relação com seus estudantes.


Quatro meses depois veio a tragédia de onze de setembro de 2001. O governo japonês fez um comunicado público de que todas as viagens aos Estados Unidos que não fossem imperativas deveriam ser adiadas ou canceladas. Saito Shihan telefonou-me para dizer que ele queria vir aos Estados Unidos mas ele havia sido fortemente aconselhado por sua família e pelas autoridades a não ir. Ele disse que já havia tomado a sua decisão, mas ele perguntou o quão perigoso eu achava que seria viajar, e o que eu pensava de qual seria a reação de seus estudantes se ele não fosse. “É difícil dizer. Depois de um evento tão trágico é difícil predizer que tipo de reação as pessoas poderiam ter. Realizar um seminário logo depois de um evento tão trágico pode parecer falta de sensibilidade para algumas pessoas, para outras poderá parecer coragem”. Eu respondi. Ele me perguntou, “se fosse você , você iria?”. Sabendo de sua condição que piorava a cada dia, esta era uma questão difícil de responder. Se fosse eu teria ido, mas a minha posição era muito diferente da dele. Embora eu soubesse muito bem de todo o trabalho duro que seus estudantes tiveram para preparar a sua visita e dos sofrimentos e desapontamentos que isso causaria se ele não fosse, para o seu próprio bem, eu o aconselhei a não ir. Mais importante agora era a sua vida e os desejos de sua família.

Eu acho que ambos sabíamos que isso era por causa de sua saúde, mas eu sugeri gentilmente, “neste momento de tragédia, em respeito às vítimas do ato terrorista, eu acho melhor não ir”. No dia seguinte havia um anúncio colocado na web site do Aikido Journal comunicando que Saito Shihan não iria à Califórnia. Ao ver que o anúncio tinha sido oficial soube que ele havia tomado sua decisão antes que eu falasse com ele. Eu me senti mal por seus estudantes, mas não ter feito aquela viagem ajudou a prolongar sua saúde e vida por pelo menos mais um dia, eu senti que era minha obrigação apoiá-lo neste momento final.

Em 2002, Saito Shiham ia e vinha do hospital. No mês de fevereiro o câncer se espalhou pela sua coluna, o que o impossibilitou de andar. Ele foi confinado a uma cadeira de rodas e foi informado de que estava no fim da contagem regressiva. Ele recusava todos os tipos de tratamento médico indicados por seu médicos e voltava do hospital para casa. Sua família me disse que sua condição estava piorando e eu fiz uma viagem para Iwama para visitá-lo no dia primeiro de março de 2002.

Eu estava surpreso em ver que Saito Shihan havia colocado sua cama para o cômodo de entrada de sua casa, muito perto das portas de correr. No Japão é um costume, especialmente entre artistas marciais, dormir o mais longe possível da porta, particularmente se eles estão doentes ou comprometidos de outra forma. É também costume dormir com a cabeça em direção ao altar de forma a mostrar deferência. Saito Shihan, no entanto, se posicionou onde ele pudesse ouvir o que estava acontecendo no quintal e no dojo e o que os seus estudantes estavam fazendo. A sua missão de ensinar Aikido aos seus ushideshi e estudantes ainda era posta em primeiro lugar – mesmo que isso significasse que ele teria que dormir com os pés em direção ao altar.

Deitado em sua cama ele utilizava uma bomba para drenar seus fluídos. A bomba deixava hematomas em sua pele que eram difíceis de serem contempladas, elas pareciam muito dolorosas. Mesmo assim ele brincava, “Eu nunca tive essas (manchas) pretas e azuis mesmo quando eu era jovem e me envolvia em brigas todo o tempo!”.


Eu lhe perguntei se ele gostaria que eu massageasse seus pés. Enquanto eu massageava seus pés embaixo do cobertor meus olhos se encheram de lágrimas. Eu havia feito isso antes, no mesmo lugar. Só que da última vez que eu fiz isso foi para o Fundador antes dele morrer. Minha vida parecia ter se transformado em um círculo completo, e eu estava mais uma vez oferecendo o conforto de uma massagem a outro grande artista marcial em Iwama.

Enquanto eu massageava seus pés, Saito Shihan falou em particular a respeito de seus estudantes, especialmente seus estudantes no exterior. Depois de vinte minutos de conversa eu pedi licença para me retirar. Então ele me surpreendeu e me deu um susto quando ele começou a gritar ordens para um uchideshi que estava esperando atrás de uma tela de shoji. Está frio lá fora esta manhã! Faça aquele fogão trabalhar, Homma-kun precisa tomar café agora! VOCÊ ESTÁ ENTENDENDO?” O uchideshi correu o máximo que pode em direção à cozinha.

Depois de terminar de dar ordens ao uchideshi, ele se virou para mim e disse com uma voz suave, “Obrigado por você ter vindo. Nós deveríamos tomar café juntos, mas já que estou impossibilitado, você terá seu café pronto na cozinha dos uchideshi”. Com isso ele voltou a sua atenção ao uchideshi que havia se retirado “Não se esqueça daquele fogão!”, ele gritou.

Depois que terminei o café da manhã eu voltei para me despedir. Ele me ordenou que fosse no armazém para pegar entre 20 e 30 bokkens. Eu o agradeci amavelmente por sua generosidade, mas ele já havia me dado uma generosa quantidade de bokkens de presente, o que já foi o suficiente. Eu apenas vim me despedir por ora.

No dia 23 de abril de 2002 eu recebi uma chamada telefônica do Japão. Minha presença era solicitada este ano para a festividade de Aiki Jinja Tai Sai no dia 29 de abril. Tai Sai é uma grande festividade realizada no templo do Aikido em Iwama a cada ano em honra ao Fundador Morihei Ueshiba. Sem hesitação eu comecei a fazer planos para ir à Iwama, onde o festival seria realizado. Saito Shihan estava se preparando para oficiar a cerimônia do Tai Sai, e era muito importante para mim estar lá.

Quando eu cheguei em Iwama eu parei na casa de Saito Shihan para cumprimentá-lo. Assistido por seus uchideshis, ele estava ocupado trocando de roupas. Ele foi vestido oficialmente com um montsuki haori. Seus cabelos haviam sido suavemente pintados para remover o cinza, e ele parecia enormemente dignificado.

Ele foi trazido por seu uchideshi em uma cadeira de rodas para um local em frente ao dojo. Seus estudantes logo se juntaram ao seu redor. Eu cheguei com Doug Kelly, o piloto que Saito Shihan havia encontrado muitas vezes antes. Ele nos notou e perguntou a Doug se a Airlines estava tirando folga para o Tai Sai. Todos riram, o que quebrou a tensão do momento. Todos nós nos curvamos sobre um dos joelhos para ficarmos mais próximos do Shihan e também para mostrar nosso respeito por ele. Nunca é educado olhar acima de um Sensei, especialmente este Sensei, neste dia especial.

Enquanto nos aproximávamos Saito Shihan informava a todos sobre sua condição. Nós estávamos sob o sol e estava quente. Eu sugeri que fossemos para sombra, mas ele moveu a cabeça negando. “Os médicos queriam fazer vários testes e queriam tirar vários raios x, então eu deixei. O dojo é o meu hospital eu estou muito mais confortável aqui. De qualquer modo, radiação e medicamentos fazem apenas com que você perca cabelo e peso. Já é o suficiente para mim. Me foram enviadas ervas maravilhosas de todas as partes do mundo. Eu vou tomá-las para melhorar”.


Quando a cerimonia Tai Sai começou, Saito Shihan impulsionado em sua cadeira de rodas por seu uchideshi tomou o caminho do templo. Nós permanecemos com ele enquanto ele inclinava sua cabeça para orar. Olhando o chão, ele me chamou discretamente “Homma-kun, eu tenho, por muito, muito tempo, cuidado deste chão aqui no dojo de Iwama, mas este é o fim. É estranho para mim que todos os dias do ano eu tomo conta deste templo e apenas um dia do ano alguém vem de Tóquio e do Hombu dojo. Eles vêm para celebrar e ir embora novamente. Sempre tem muito lixo deixado para trás! Ano passado eu pedi para que todos levassem seu lixo com eles quando eles fossem. O lixo era tanto que chegou até à estação de trem de Iwama onde os depósitos de lixo transbordaram. Eu recebi um telefonema do chefe da estação reclamando da bagunça! Isto, também é o fim para mim”. Ele olhou para mim e riu, Enquanto ele estava sentado do lado de fora do templo, pétalas de azaléia caíam dos galhos próximos, assentando-se calmamente sobre seus ombros e sobre seus cabelos. Se aquele tivesse sido um ano diferente, se ele estivesse bem de saúde, ele teria entrado no templo para realizar a cerimônia. Esse ano, no entanto, ele se sentou embaixo das árvores de azaléia.

A cerimônia foi seguida por um naori (uma festa de celebração) no dojo. Saito Shihan bebeu uma pequena taça de vinho tinto, o que o deixou contente. Ele pediu que fosse tirada uma foto dele comigo e com Kawabe Sensei. Eu e Kawabe Sensei tentamos ficar o mais próximo o possível do Shihan para a foto, mas uma garrafa de vinho sobre a mesa estava no meio da foto. Brincando, Saito Shihan falou, “Ummm, se aquela garrafa de vinho sair na foto, todo mundo vai achar, erroneamente, que eu sou um grande beberrão!” Nós tiramos a garrafa e fizemos uma pose séria para a fotografia, o que fez com que ele desse uma gargalhada.
No dia seguinte, chegou a hora do meu retorno para os Estados Unidos, então eu voltei para me despedir. Eu fiquei do lado de fora das portas de correr e disse, Denver no Homma desu. Eu tenho que deixar Iwama. Muito obrigado”. De dentro do quarto eu ouvi, “Homma-kun, você já tomou café da manhã?” “Sim”, eu repliquei. “Então tudo bem, se cuide”. Então depois de uma pausa ele continuou, “Você é o único japonês de Iwama que tem um dojo nos Estados Unidos. Conserve a amizade de todos eles”. “Hai, Arigato Gozaimashita,” eu repliquei.

Aquelas foram as últimas palavras que Saito Shihan me disse.Ele era um tipo especial de pessoa. Diferente de seus pares, outros instrutores de alto nível do Hombo dojo, Saito Shihan foi um homem do interior, um agricultor de Iwama. Saito Shihan viveu em Iwama, trabalhou na estrada de ferro em Iwama e veio a focar sua vida em cuidar do Fundador e do Templo Aiki em Iwama. Ele era apenas um simples homem do campo, com a sua teimosia de homem do campo. Uchideshis e estudantes durante muitas décadas foram testemunhas de que Saito Shihan era um professor muito duro e rigoroso. Mas, uma vez que a relação entre estudante e professor se desenvolvia, Saito Shihan se tornava muito gentil, um ser humano de sabor único. E era essa essência de Saito Shihan que lhe dava o poder de atrair estudantes de todas as partes do mundo.


A minha relação com Saito Shihan se estendeu por mais de quatro décadas. Quando eu era jovem eu me relacionei com ambos, o Fundador e Saito Shihan. Mas veio então o tempo, como agora, de deixar Iwama. Quando o Fundador foi para o Hombu dojo, pouco antes de sua morte, eu também deixei Iwama novamente. Quando eu estava saindo, naquela ocasião, Saito Shihan me entregou um maço de fotos. Eram fotos de teste para o seu primeiro livro, para aquilo que viria ser Traditional Aikido, Volume I (Aikido Tradicional, Volume I). Depois que o Fundador havia ido para Tóquio, eu ainda me lembro do que Saito Shihan me disse quando eu vim me despedir. “Você é aluno do Fundador, quando o Fundador estava com boa saúde não era meu papel lhe ensinar. Fique com este maço de fotos, eu irei usá-las algum dia para um livro. Você tem uma longa viagem pela frente até retornar à Akita. Você irá precisar de muitas bolas de arroz para levar você até lá. Ajude a si mesmo, leve essas bolas de arroz com você”.

Talvez tenha sido a sua própria experiência de uma vida difícil com uchideshi, mas Saito Shihan estava sempre preocupado com a as pessoas terem o suficiente para comer. Não importava o quanto ele era severo como professor, não importava o quão duro ele tivesse sido, ele sempre se preocupava em se certificar que aqueles que estavam ao seu redor estavam alimentados. Isto é uma das coisas sobre ele que eu nunca esquecerei.

Nós não podemos nos esquecer de que Saito Shihan foi um aluno do Fundador do Aikido, Morihei Ueshiba, ou de que ele foi um instrutor da Aikikai sob a liderança do filho do Fundador Kisshomaru Ueshiba e seu neto, o atual Doshu, Moritetu Ueshiba.
Saito Shihan, às vezes, parecia desenhar uma linha separando a si mesmo do Quartel General da Aikikai. Ele às vezes falava duramente a respeito do Hombu dojo e de sua maneira de praticar. Isto, algumas vezes, serviu para afastar Saiti Shihan de seus pares e alunos que não entendiam completamente a sua crítica. Por trás de sua crítica, eu acredito que o seu desejo era que o Hombu dojo se destilasse e continuassee a transmitir a filosofia do Fundador Morihei Ueshiba que fosse correta aos seus olhos.

Eu acho que é muito difícil, para alguns estudantes que não são do Japão, entender as complexas nuanças e níveis das relações japonesas e do seu estilo de comunicação. Para tentar tomar as duras palavras de Saito Shihan de forma literal quando para o Hombu deveriam ser tão superficiais e não refletirem um quadro real.

Existem dois termos em japonês chamados honne e tatamae. Eles são conceitos de difícil compreensão, principalmente por ocidentais. Em geral honne é um termo que designa crenças íntimas, pessoais, enquanto que tatamae se refere à persona e à posição que uma pessoa assume para a coesão com aqueles que fazem parte de sua sociedade circunstante. Ambos são intrínsecos ao outro, no entanto eles são expressos de formas diferentes no Japão e nos Estados Unidos. É comum no Japão, em alguns contextos sociais, as pessoas desabafarem suas frustrações, ou mostrarem sua opinião pessoal da mesma maneira que o marido chega em casa e reclama do chefe com sua esposa. A maior parte das vezes isso é apenas reclamação e é tomado como tal. Em circunstâncias comuns no Japão, uma esposa apenas escuta as reclamações do marido e as entende apenas como elas são. Nunca ocorre que a queixa do marido feita na noite anterior venha a ser tornar um fato público ou venha a ser repassada ao chefe de alguma forma. Eu temo que para um homem na posição de Saito Shihan, sua severidade em algumas ocasiões, especialmente em contextos sociais, foi mal interpretada e tomada literalmente quando não deveria ter sido.


Eu acho que as más interpretações que prejudicaram a reputação de Saito Shihan e algumas das relações que ele teve durante os anos poderiam ter sido evitadas com um profundo entendimento cultural do modo de comunicação japonês. Existe uma frase Zen que diz “Sokkotso no Ki”. Para traduzi-la é mais proveitoso utilizar uma parábola do que uma descrição.

Uma mãe pássaro põe seus ovos e os protege enquanto eles crescem. Ela os guarda de inimigos e os mantêm aquecidos. Ela espera pacientemente que o filhote que está dentro se desenvolva. Quando a hora chega o filhote começa a bicar a casca de dentro para fora, tentando se libertar. Quando a mãe pássaro ouve as bicadas, ela bica delicadamente a casca por fora para fazer com que a casca comece a quebrar. No entanto, ela não quebra a casca para que o filhote emirja. O filhote tem que se libertar sozinho do ovo que o acolheu. Conforme o filhote vai quebrando a casca ele não tem conhecimento de que a mãe pássaro lhe ajudou começando a bicar a casca do lado de fora. O filhote entra no mundo fora do ovo pensando que entrou no mundo sozinho. Para o modo japonês de ensinar este timing (momento) é muito importante, sabendo quando e como ajudar um estudante a quebrar a casca fazendo com que cresça por si próprio. Saito Shihan era muito bom nisso quando ensinava aos seus alunos. Saito Shihan ensinou muitas gerações de estudantes durante a sua vida. Ele teve diferentes alunos durante os diferentes períodos de sua própria existência e de seu próprio desenvolvimento. Através dos anos os valores mudaram, o mundo mudou e, no entanto, cada aluno era tratado como se fosse um uchideshi de Saito Shihan, não importava o período de sua vida que eles fizeram parte.

Picasso foi famoso como pintor. Como pintor ele evoluiu e seu estilo e expressão mudaram através de diferentes períodos de sua própria vida e de seu próprio desenvolvimento. Não faz sentido pegar um período da arte de Picasso e dizer que esta foi a sua única forma de expressão, ou a sua verdadeira forma de expressão. Picasso foi a totalidade de sua obra. Tudo foi parte dele.

O mesmo se torna verdadeiro com um artista marcial como Saito Shihan. (as mudanças) não significavam de nenhum modo o começo de sua jornada. Saito Shihan praticou e ensinou Aikido durante trinta e três anos após a morte do Fundador. Enquanto o seu estilo e execução mudavam naturalmente através do anos, o que ele ensinava aos seus alunos também mudava. Se alunos de diferentes gerações comparassem sua forma de ensinar, provavelmente encontrariam diferenças e, no entanto, todas as suas diferentes formas de ensinar eram partes de Saito Shihan, e ele era todas elas.

No final, Saito Shihan se tornou um iluminado com o aproximar-se de sua morte. Ele falou com alunos mais ligados a respeito dos arranjos para o funeral, ele ordenou que fossem feitos quimonos de luto para sua esposa e filha. Para o seu filho Hitohiro ele deu o seu próprio quimono de cerimônias especiais… um quimono que seu filho iria usar em poucos meses. Antes do Aiki Jinja Tai Sai, ele ordenou ao seu filho e aos seus uchideshis que limpassem cada polegada de todo o dojo até que ele ficasse satisfeito.

Depois que o Tai Sai terminou, ele visitou o seu templo e orou em frente ao túmulo de sua família. Alguns dias depois ele teve um pequeno problema respiratório e pensou que seria melhor checar isso no hospital. Ninguém sabia que aquela seria uma viagem sem volta.

No dia 13 de Maio de 2002, um dos maiores aikidoístas de nosso tempo seguiu o Fundador Morihei Ueshiba através da história. O legado que ele nos deixou foi uma grande vida por si mesma, e suas últimas lições de dignidade e honra irão continuar em sua memória.

Tradução: William Soares

SEMIDEUSES – por Roberto Shinyashiki

Entrevista Isto É

Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que Imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvarode Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (…) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipes dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma Mudança de atitude. O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.
Por Camilo Vannuchi

ISTOÉ – Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki – Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.
ISTOÉ – O Sr. citaria exemplos?
Shinyashiki – Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito 100% Jardim Irene . É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.
ISTOÉ – Qual o resultado disso?
Shinyashiki – Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará- los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
ISTOÉ – Por quê?
Shinyashiki – O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
ISTOÉ – Há um script estabelecido?
Shinyashiki – Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional no programa O aprendiz? Qual é seu defeito? Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar. É exatamente o que o chefe quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir. Isso significa que ;quem fala a verdade não chega a diretor?
ISTOÉ – Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki – Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se reparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.
ISTOÉ – Está sobrando auto-estima?
Shinyashiki – Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.
ISTOÉ – Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki – Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham. Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói Não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.
ISTOÉ – O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Shinyashiki – Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.
ISTOÉ – É comum colocar a culpa nos outros?
Shinyashiki – Sim. Há uma tendência a reclamar, dar desculpas e acusar alguém. Eu vejo as pessoas escondendo suas humanidades. Todas as empresas definem uma meta de crescimento no começo do ano. O presidente estabelece que a meta é crescer 15%, mas, se perguntar a ele em que está baseada essa expectativa, ele não vai saber responder. Ele estabelece um valor aleatoriamente, os diretores fingem que é factível e os vendedores já partem do princípio de que a meta não será cumprida e passam a buscar explicações para, no final do ano, justificar. A maioria das metas estabelecidas no Brasil não leva em conta a evolução do setor. É uma chutação total.
ISTOÉ – Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki – Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: Quem decidiu publicar esse livro? Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.
ISTOÉ – Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki – O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B.B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem “Covers” ou “Bill Gates”. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades. O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal
ISTOÉ – Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki – A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. ; A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias. A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: Você tem de fazer as coisas do jeito certo. Jeito ;certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você precisa ser feliz tomando sorvete, levando os filhos para brincar. Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero ser feliz. Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis.

Dento Iwama Ryu (Estilo tradicional de Iwama Style) Hitohiro Saito Jukucho

Instrutores presentes no Seminário do Rio se unindo para foto. Entre eles Walter Amorim, que foi um dos organizadores do evento no Rio de Janeiro.

Patrocinado e dirigido pela sede da Nippon Kan de Gaku Homma Kancho e pela AHAN-EUA

A sede da Nippon Kan AHAN patrocinou e dirigiu o primeiro seminário da série de seminários de Instrutores Internacionais da AHAN, 2005. Essa primeira excursão para a Cidade do México, no México e para o Rio de Janeiro, Brasil foi coordenada com Dojos anfitriões em ambos os países afiliados à AHAN. Proventos de ambos os seminários foram doados diretamente a instituições locais de ajuda humanitária selecionadas pelos dojos anfitriões em suas comunidades.
Para esses seminários, Dento Iwama Ryu no Shin Shin Aiki Shurin Kai Tanren Juku, Hitohiro Saito Jukucho foi o instrutor que se apresentou. O objetivo dessa série de eventos realizados pela AHAN é o de apresentar uma variedade de diferentes instrutores de alto-nível de diferentes organizações e formações. Homma Kancho viajou para acompanhar e coordenar esses eventos no México e no Brasil como é colocado nos relatórios que se seguem.

Seminário do México
7 a 11 de abril de 2005
Escrito por Gaku Homma
Nippon Kan Kancho

A AHAN México Aikido, Take Musu Aiki, dirigida por Fernando Roman Sensei e Rocio Aguero Sensei, www.mexicoaikido.com.mx receberam na Cidade do México o primeiro seminário da Série de Seminários realizados por instrutores Internacionais. Eu me encontrei com Hitohiro Jukucho no aeroporto de Houston onde ele havia acabado de chegar do Japão. Depois de tão longo vôo, eu fiquei um pouco surpreso que ele não mostrasse sinais de fatiga, apenas excitação enquanto nos dirigíamos ao avião para a Cidade do México.
A respeito de nossa chegada, nós fomos recebidos calorosamente por simpáticos anfitriões da AHAN México Aikido e fomos conduzidos à casa do Senhor José Alvarez que, gentilmente abriu sua casa para nós durante os dias que se seguiram.

Para Hitohiro Jukucho, esta viagem feita ao México e ao Brasil foi a realização de um sonho de seu pai, o falecido Morihiro Saito Shihan. Durante a sua vida, ensinando em Iwama, Morihiro Saito Shihan teve muitos uchideshi que foram estudar com ele vindos da América Central e América do Sul. Era o seu sonho poder algum dia visitar a terra natal desses estudantes; um sonho que nunca foi realizado antes de sua morte em 2002. A realização desse sonho se tornou uma missão de seu filho Hitohiro, que deveria cumprir os desejos de seu pai.

Durante a abertura das cerimônias no seminário do México, Saito Jukucho explicou a todos os alunos reunidos a respeito do sonho de seu pai e de sua missão. Saito Jukucho também pediu um momento de silêncio pelo falecimento de João Paulo II, em honra a sua liderança espiritual e ao seu ativismo pela paz ao redor do mundo. Nesse seminário compareceram estudantes de todo o México, praticantes de diferentes estilos e organizações.

A AHAN México Aikido, Take Musu Aiki na Cidade do México, se tornou independente do instrutor pioneiro Kurita Shihan em 1998. Em um tempo relativamente curto a AHAN México Aikido conseguiu uma base de 150 estudantes. Fernando Roman Sensei and Rocio Aguero Sensei têm mantido boas relações de trabalho com outros dojos menores em muitas partes do México, e muitos grupos participam dos eventos da AHAN realizados por eles.

A Fundação Michou y Mau Foundation, foi a instituição de caridade escolhida pela AHAN México Akido was the charity chosen by AHAN Mexico Aikido para receber os proventos levantados pelo seminário devido ao seu trabalho realizado com crianças vítimas de queimaduras severas. Representantes da Fundação estavam presentes nacerimônia de encerramento do seminário para receberem a doação de todos os estudantes. Eu e Hitohiro Jukucho and visitamos as instalações do escritório da Fundação Michou y Mau na Cidade do México no dia seguinte. www.fundacionmichouymau.org

Representantes da Fundação Micheo y Mau no seminário. A partir da direita Hitohiro Jukucho, Rocio Sensei, Sr. Izabal, criança do centro, Fernando Sensei, Homma Kancho.

Visita as instalações do centro.
Depois do seminário, nossos anfitriões da AHAN Mexico Aikido levaram Hitohiro Jukucho e companhia para verem as pirâmides fora da Cidade do México e outros monumentos históricos. Depois de aproveitarem o dia aprendendo a respeito da cultura e da História do México, era a hora de se preparar para a próxima longa viagem; Rio de Janeiro, Brasil…

Participando desse seminário também estava o Instrutor IISA (Instrutores em Apoio da AHAN), Vince Salvatore Sensei do Reno Aikido, www.renoaikido.org. Muito obrigado a Vince Salvatore Sensei por ter vindo auxiliar Hitohiro Jukucho em suas aulas.

Seminário no Brasil
12 a 18 de abril de 2005
Written by Gaku Homma
Nippon Kan Kancho

Instrutores presentes no Seminário do Rio se unindo para foto.

O seminário teve lugar nas instalações das Forças Armadas brasileiras no Forte do Leme, localizado próximo ao mundialmente famoso ponto turístico da praia de Copacabana no Rio de Janeiro. 150 Aikidoístas de nove países e trinta e três dojos de diferentes estilos e afiliações comparecerem a este evento pioneiro.

Durante a cerimônia de abertura, Hitohiro Jukucho pediu um momento de silêncio pela passagem do Papa João Paulo II, um líder para as pessoas do Brasil. Também presente à cerimônia de abertura estava Ichitami Shikanai Shihan que viajou por quatro horas de ônibus para comparecer à cerimônia. Shikanai Shihan é um estudante direto de Yasuo Kobayashi Shihan (Aikido Kobayashi Dojo, Japão), e tem estado no Brasil por muitos anos como um dos instrutores pioneiros de Aikido no Brasil. Como um honrado e respeitado instrutor de Aikido no Brasil, Shikanai Shihan foi reconhecido pelos participantes, durante o seminário, por suas décadas de esforço e realizações.

Pelo segundo seminário consecutivo, o Cônsul Geral do Japão no Rio de Janeiro, Sr. Toshio Ikeda separou um pouco do tempo de sua agenda lotada para proferir algumas palavras de boas-vindas na cerimônia de abertura do seminário do Rio de Janeiro. Durante os seus anos de estudo universitários no Japão, o Cônsul Geral Ikeda praticou Aikido, e participantes do seminário se espantaram em vê-lo praticando no tatame nas aulas que se seguiram depois da cerimônia. Todos mostraram respeito ao ver um homem de sua posição praticando voluntariamente com todos os presentes no seminário. Nós sinceramente agradecemos pelo Cônsul Geral Ikeda ter dispensado o seu tempo, e agradecemos por sua participação no evento.
Eu sinto que é importante reiterar que o propósito da Série de Instrutores Internacionais da AHAN 2005 é a de convidar instrutores de alto nível mundial, de diferentes estilos ou afiliações para se unirem com aikidoístas de todo o mundo em um espírito de amizade, comunicação e de serviço às nossas comunidades. Um dos objetivos dos organizadores da dessa série de eventos da Niippon Kan é o de escoltar e promover instrutores de qualidade e permitir a eles a chance de partilharem seu conhecimento com outros. O propósito da série não é o de promover um tipo ou estilo particular de Aikido. O propósito não é o de promover uma organização ou obter lucros do evento. Como sempre, os lucros desse evento foram doados para uma organização humanitária local, próxima ao dojo anfitrião. Dessa forma a reputação de nossa comunidade Aikidoísta como um todo se eleva, bem como se torna uma ótima oportunidade para que possamos nos comunicar sem barreiras e fronteiras. Esses e apenas esses são os objetivos e princípios dessa Série de Instrutores Internacionais 2005.


Esse seminário foi apresentado e realizado pela Nippon Kan Brasil que é um grupo de pequenos dojos instruídos por Luc Leoni Sensei. Luc Leoni Sensei também é o fundador da AHAN Rio de Janeiro, que ganhou status e notoriedade por seu envolvimento em muitos projetos humanitários, educacionais e ambientais na área do Rio de Jnaeiro. Devido ao envolvimento da AHAN Rio de Janeiro com a comunidade, havia uma presença forte da mídia no seminário de levantamento de fundos. A mais importante emissora televisiva brasileira, a Rede Globo e outros canais educacionais, incluindo a TV-E estiveram presentes no seminário junto com vários repórteres de revistas e jornais.

Na cerimônia de encerramento, os fundos levantados pelo seminário, foram doados pessoalmente por Hitohiro Jukucho a representantes dos orfanatos Obra do Berço e do Lar beneficente AMAR. Os fundos foram doados em forma de notas promissórias que serão trocadas durante o ano por suprimentos mensais de remédios, fraldas, produtos de papel, sopas instantâneas e outros itens de necessidade pelos membros do corpo da AHAN Rio de Janeiro. Dessa forma, os itens que estiverem em grande falta serão destinados diretamente às crianças mensalmente.

Hitohiro Jukucho e companhia visitaram o orfanato Obra do Berço onde ele encontrou tempo para passar com as crianças que moram ali.

Tradução: William Soares