As Origens da Artes Marciais Tradicionais – Kobudo

Alguns estudiosos estimam que as escolas tradicionais de artes marciais japonesas, referidas como ryuha, tiveram início no final do período Heian. Contudo, estes sistemas de combate não se especializaram em um tipo particular de arma, como arco, espadas, lanças, etc. Ao invés disso, buscaram um currículo abrangente que integrava treinos de diferentes armas. Ao longo do tempo as escolas se compartimentalizaram e por volta do período Muromachi ao período Edo , surgiram aquelas onde os guerreiros podiam se devotar a treinos ascéticos de apenas uma arma em especial. Entretanto, as escolas dedicadas ao Kyujutsu (Arco e Flecha) e Bajutsu (Equitação de Guerra) remontam a épocas anteriores a esta compartimentalização. A partir do século XV percebe-se o florescimento de estilos de Kenjutsu (Arte da Espada), Sojutsu (Arte da Lança) e Jujutsu (Arte da Imobilização do Oponente), porém estes não se estabeleceram como Ryuha até a Era Keicho (1596-1615).
Kashima e Katori são bem conhecidas como sendo importantes regiões de onde as escolas tradicionais de artes marciais surgiram. Situadas no mesmo lado da região Otone, na parte Leste do Japão, ambas, Kashima Shrine e Katori Shrine são lugares sagrados onde divindades associadas à destreza e bravura militares são reverenciadas. Logo, é natural que as artes marciais japonesas tenham tradicionalmente florescido nestas áreas. É frequentemente dito no Japão que “as ciências militares (Heiho) vieram do Leste”, o que em essência se refere a Kashima e Katori. Artes marciais ryuha representativas da região são a Kashima Shinto-ryu e Katori Shinto-ryu.
No início do período Muromachi, um número de notáveis guerreiros criou suas próprias ryuha. Alguns exemplos são Chujo Hyogonosuke (?-1384), fundador da Chujo-ryu; Aisu Iko (1452-1538), criador da Kage-ryu e Iizasa Choisai (1387-1488) fundador da Katori Shinto-ryu, a qual foi posteriormente desenvolvida por Tsukahara Bokuden (1489-1571). Todos foram grandes guerreiros renomados por suas exemplares habilidades militares. Eles percorriam os campos desafiando outros guerreiros a fim de testar e aprimorar suas técnicas numa prática conhecida como musha-shugyo. Estas práticas, consequentemente, serviam para promover suas próprias ryuha, as quais derivaram em outras escolas que se espalharam pelo país.
Na metade do período Tokugawa, com a solidificação do sistema de territórios, os senhores de cada uma destas regiões (han) competiam para empregar hábeis instrutores de artes marciais de várias ryuha. Eles procuravam os melhores instrutores para ensinar artes militares aos guerreiros que os serviam, o que eventualmente deu origem a algumas ryuha em localidades seguras. Alguns lordes proibiam as ryuha de se propagarem fora de seus territórios, fazendo destas propriedades exclusivas. O número de ryuha proliferou enormemente, e ao final do período Edo estimava-se a existência de 52 escolas de Kyujutsu, 718 escolas de Kenjutsu, 148 escolas de Sojutsu e 179 escolas de Jujutsu (algumas eram as mesmas escolas, porém com nomes diferentes). Muitas ryuha espraiaram-se pelo Japão, entretanto, um número de filiais, facções e imitações deixaram de funcionar, restando apenas seus nomes. A despeito das questões sobre linhagens autênticas, estima-se que em torno de 500 destas ryuha tradicionais ainda existam hoje em dia.
Como se pode observar no gráfico exposto, muitas das ryuha que sobreviveram até hoje, não necessariamente vieram ou permanecem na mesma localidade em que estão situadas atualmente. Por outro lado, existem algumas ryuha cujas sucessoras permaneceram no local de origem através das gerações. Destas, as mais famosas são a Kashima Shinto-ryu, Tenshin Shoden Katori Shinto-ryu, Jigen-ryu, Takenouchi-ryu, Ogasawara-ryu Kyubajutsu, Maniwa Nen-ryu, Taisha-ryu e Owari Yagyu Shinkage-ryu. As linhagens destas ryuha são genuínas, e são celebradas até os dias de hoje como sendo representativas das escolas tradicionais de artes marciais japonesas.

( Texto original de Nippon Kobudo Kyokai – Associação das Artes Marciais Tradicionais Japonesas – coletado de The Spirit of Budo)
Tradução: Daniele Probstner. Edição Final: Walter Amorim Sensei

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