Artigo de Nobuyoshi TAMURA Sensei, 1979. Publicado originalmente na Revista da Federação Europeia de Aikido com o título “O Aikido e os Aikidos”
O Mestre Nobuyoshi TAMURA foi delegado da Aikikai de Tóquio para a Europa. Nasceu em 1933 em Osaka, em 1953 entra no AIKIKAI HOMBU DOJO como uchideshi do fundador Morihei Ueshiba. Em 1964 é enviado para França pelo fundador onde permaneceu até hoje. Em 1999 é condecorado pelo governo Francês com a ordem “Chevalier de l’ordre National du mérite”. Faleceu em 2010.
Aikido e flores verdadeiras
Hoje em dia qualquer de nós pode ver no supermercado, no restaurante ou sobre uma tumba, e até nas igrejas, flores artificiais. Estas flores são fabricadas tão delicadamente que às vezes podemos confundi-las com as verdadeiras flores; são práticas, não necessitam nem de sol nem de água, são eternas e por muito tempo uma alegria para os olhos.
No entanto não suporto tais flores perto de mim. Não têm verdadeira vida. São todas parecidas, nenhuma difere da outra, nenhum botão com vida, sem rebentos, sem perfume e, quando chega ao Outono, não há sementes, nem folhas amarelas ou avermelhadas. Nem sequer caiem. É a imobilidade, e apesar da beleza das cores e das formas, a impressão que se experimenta é a de um mundo morto.
Em contrapartida, acerca das flores verdadeiras, frágeis, efémeras, mutáveis, nunca estáveis, sentimos o fluxo de uma vida eterna. Flores desaparecidas, folhas caídas no solo húmido do Outono, o silêncio imóvel do Inverno, sabemos que há aí uma promessa de vida, o retorno da Primavera.
As flores artificiais, tão belas, tão parecidas com as verdadeiras, que requereram para o seu fabrico tanta imaginação e talento, não serão nunca flores verdadeiras. Essas flores levam consigo tristeza eterna, o pesar de uma vida que não conhecemos, que não soubemos dar-lhes.
O Mestre Ueshiba faleceu em 1969, faz dez anos. Mas a sua imagem está sempre presente diante dos meus olhos. Vejo-o, sorridente, indo e vindo, ensinando.
Dez anos é pouco tempo, mas o que é que vemos? O que é que ouvimos? Quantos dizem: “O meu aikido é o verdadeiro Aikido”, “o meu Aikido é a evolução moderna do Aikido”, “eu ensino Aikido”. Surgem escolas… de onde vêm?
Confesso que não compreendo, este fenómeno não me entra na cabeça.
Mas o Aikido, todos os Aikidos, provêm de uma semente plantada por O’Sensei. Se são tão diferentes é, sem dúvida, porque nem todos cresceram na mesma terra, porque não receberam o mesmo sol, isso é o que explicaria a sua diferente cor, o seu aroma mais ou menos intenso, mas de qualquer modo são todos Aikido nascidos da mesma espécie, da mesma família.
No entanto, às vezes, chamamos Aikido a uma flor que não surgiu da mesma família de flores. Por exemplo, em França e Bélgica chama-se “achicoria” a duas plantas totalmente diferentes. Isto é aceitável e explica-se pelo facto dos homens poderem confundir as palavras e dar, assim, uma falsa denominação sem graves consequências.
Mas se alguém diz que uma túlipa artificial é da mesma família que uma túlipa verdadeira e que por isso devemos catalogá-la ao lado desta, isso é inaceitável.
Um falsificador que imita o quadro de um grande mestre comete uma falta que, no entanto, não é igual à de quem quer fazer crer que a flor artificial é uma flor verdadeira.
Na flor real há vida, na outra, pelo contrário não há vida.
Este tipo de falsificação é um ataque à divindade, uma blasfémia.
Aquele que pretende aprender Aikido por livros e filmes, ou ainda pior, a partir da sua imaginação que o leva a inventar movimentos, e que de seguida recebe dinheiro pelo seu ensino, este deveria saber que no seu Aikido não há rasto da herança de O’sensei, não existe a vida que o Mestre transmitiu. É um Aikido artificial. Acho que receber dinheiro e enganar as pessoas deste modo, é um crime.
Com poucas palavras, disse tudo.