Não há preferências quando falamos das coisas em si. Apenas quando trazemos a individualidade à tona. Um raio é um raio. Ele não é bom nem mau. Ele pode queimar uma árvore ou pode iluminar a escuridão. Ele simplesmente é. Nós é que vemos características que preferimos de uma maneira ou outra.
A espada e o bastão do Aikido tem suas formas de ser. A espada (bokken) é sustentada abaixo pela mão esquerda e acima pela mão direita. Sempre. O bastão (jo) por vezes é sustentado com a mão direita acima, e por vezes com a mão esquerda acima. Cada um tem sua maneira de ser, uma estrutura, uma disposição, enfim, uma energia.
Como toda polaridade de energias, podemos perceber a bokken e o jo como complementares. Assim, o bokken carrega a energia da ação direta, do menor caminho, da forma cristalizada. Já o jo carrega a energia da distração, do giro, da mudança. Obviamente esta é uma interpretação. Ou melhor, um caminho de entendimento, para algo maior. Tais características vão reverberar a sutileza da vida de várias formas. Porém, para o fim do que se propõe este texto, essas polaridades serão mantidas.
Por um lado, podemos ver na espada as características da ação direta, do movimento ao exterior, da expansão, da lâmina que representa a posição de destaque. Mesmo a bainha já simboliza algo fora dela mesma, à medida que sua presença movimenta quem a cerca. Vemos tudo isso na espada. De maneira evidente na estocada, mas o próprio corte também possui em si uma expansão. Um movimento certo, para o que está adiante, seja a partir da posição superior ou inferior. E mesmo o seu término não cessa em si, tornando ato o movimento. Isto porque a posição final é mirando adiante, e temos a expansão representada no fluxo que passa pela ponta da espada.
Por outro lado, podemos ver no bastão as características da ação indireta, do movimento em todas as direções, da recepção, do pedaço de madeira que representa a falta de destaque, da simplicidade que é um material do cotidiano se tornar uma instrumento marcial. Tudo isto cerca e compõe o bastão. O giro fluido no ar, através das mãos que se coordenam, mostram esta constante troca. Ao término do movimento é difícil saber se a ponta que está para adiante era a que estava para trás. E assim, mesmo quando cessado o movimento, ele continua existindo, já que não sabemos se ele terminou realmente. Talvez falte mais uma volta para ele terminar na posição original. Talvez não.
Evidentemente, assim como todas as energias mais fundamentais, estas também vão muito além dos objetos. E, entre outras coisas, podemos ver nas pessoas. Quando marcamos algo com alguém e, independente do que passa, mantemos nosso combinado, então essa é a energia da espada. Quando marcamos algo com alguém e, por motivos que são importantes a nós, temos que reagendar nosso compromisso, então essa é a energia do bastão. Busque essas energias em sua prática.