Carlos Portas, mestre de Aikido
Texto de Teresa Trindade Pereira
Porque escolheu esta modalidade de artes marciais?
Antes do Aikido, em 1974, 1975, eu comecei a fazer karaté, aqui em Aveiro. Uma vez, em Lisboa, vi o Aikido e fascinou-me. A partir daí estive sempre na mira de encontrar alguém que me pudesse ensinar o Aikido. Em 1984 quando eu vivia na Suécia encontrei o mestre japonês Takeji Tomita e passado algum tempo deixei o karaté e comecei a praticar só Aikido com ele todos os dias durante 9 anos. Em 1993 vim para Aveiro e comecei a ensinar Aikido. Primeiramente no Ginásio Avenida, depois na ACAV e, por fim, aqui neste espaço chamado “Mussubi – oficinas de artes e coisas do Oriente”. Onde na vertente das artes marciais tem o Aikido.
O que quer dizer a palavra Aikido?
Aikido é um conceito. “Ai” traduzido à letra do japonês significa união, harmonia, amor, qualquer coisa que se integra uma na outra. “Ki” é a energia vital, a energia do Universo, a energia de cada um, é tudo aquilo que mexe. “Do” é a via através da qual se encontra, se entende e se percebe essa união, essa aceitação, essa função.
São esses conceitos juntos…
… que dão a parte filosófica e a parte de conceito da própria prática. O que é utilizado são técnicas de auto-defesa que têm origem histórica no período dos Samurais. A prática do Aikido é feita tanto de formas e técnicas de imobilizações, percepções de corpo a corpo, mas também com o sabre de madeira e o pau. As técnicas são resultantes da movimentação das técnicas do sabre desenvolvidas no período em que o Japão foi proibido de usar armas. Nessa altura eles começaram a progredir mais na parte de corpo a corpo e isso deu origem a muitas modalidades como, por exemplo, o karaté e o judo.
O que diferencia esta modalidade dessas restantes?
Eu não sei se alguma coisa a diferencia. Eu acho que é mais o conceito. No Aikido não há competição. A pessoa que pratica o Aikido fá-lo com o intuito de se auto-conhecer e de propor a si próprio uma forma de se reunir consigo próprio e com o mundo que o rodeia. Sempre que se pratica Aikido nunca é, nunca poderá ser, e se assim for está errado, uma coisa contra alguma coisa. A essência científica é, na realidade, encontrar a não resistência.
Não temos então vencedores nem vencidos…
Não, não temos vencedores nem vencidos, o que temos é o aperfeiçoamento do carácter das pessoas que o praticam.
O Aikido, como artes marciais, não é para ser usado fora destas portas , pelo menos ao nível físico?
Não é… é tanto ou não como as outras. Para já uma pessoa que conheça artes marciais e que tenha bons princípios e bom carácter nunca utiliza isso em termos práticos. Pode usar, obviamente, em termos secundários a experiência adquirida, fazer com que possa tirar dela ilações ou resultantes que o permita colocar-se numa posição melhor.
Já lhe aconteceu a si ter de usar o Aikido para se defender?
É sempre muito difícil dizer que não, mas isso é como tudo. Um jornalista, por exemplo, pode usar os seus conhecimentos no dia-a-dia sem entrevistar ninguém. É claro que, como eu costumo dizer, cria-se um género de capa à volta de cada um, daquilo que faz, um género de aureola que se for esse o espírito repela. A prática em si não incentiva as pessoas a quererem experimentar se funciona ou não, porque não é esse o objectivo, mas que funciona, obviamente funciona.
Em que consiste o conceito Takemuso Aiki?
O conceito Takemuso Aiki significa criação marcial. O “take” é o guerreiro o Budo. O “muso” é junção, é a ligação, é a criação. Portanto é o expoente máximo, é a arte marcial invencível. Não é a pessoa seja invencível, o conceito é que é invencível. A forma como se aprende e como se pratica, pelo menos aqui na escola, pretende que a pessoa, posteriormente, consiga dar os seus passos sozinha.
Tem muitas pessoas a aprender?
Já tive mais… Agora parece que estamos num período difícil para as pessoas, e depois também a maneira de estar aqui não é talvez aquilo que as pessoas possam pensar. Às vezes sonho com isto cheio.
Disse que era um período difícil para as pessoas?
Sim é um período difícil economicamente e também esteve um Inverno um bocado escuro e as pessoas um bocado deprimidas. Mas as pessoas gostam de fast-food. Isto aqui não dá para fazer dois treinos, irse embora e já saber tudo. Isto é um processo e isso é que é mais complicado. Temos que ter a consciência de que a laranja demora o seu tempo a nascer e demora o seu tempo a amadurecer, não tem o mesmo espaço de vida igual àquele que as pessoas costumam pensar: “quero uma laranja, quero uma maça vou ao supermercado, compro e pronto está o assunto resolvido”. A pessoa aqui quer aprender e tem que ter esse espaço de tempo, de prática, de experiência. Nem que compre os livros todos e que veja os vídeos todos não adianta absolutamente nada.
É o tempo o grande professor.
É o tempo o grande professor, o grande mestre. O tempo e a própria pessoa porque é um desafio à paciência, é um desafio à perseverança, um desafio a muita coisa, inclusive em relação à sua própria vida. Às vezes acontecem situações imprevistas e complica sempre todo o ritmo. As pessoas às vezes não estão preparadas nem disciplinadas para fazer a diferença do que é bom para si, do que é bom para os outros e do que é bom para ambos para poderem constituir uma sociedade melhor.
Tem alunos masculinos e femininos?
Homens e mulheres, pequenos e grandes. Tenho duas classes de 20 a 25 crianças dos 6 aos 13 anos, aos quais tento incutir esse conceito logo à partida. Há resultado se não houver quebra e se houver ajuda também dos pais e se eles continuarem e não desistirem quando querem e lhes apetece. É um processo que os ajuda muito, inclusivamente, na organização académica.
Acha que é uma modalidade que é conhecida por todos os cidadãos?
Mundialmente é muito conhecida. Em França é praticada por mais de 50 mil pessoas. Em Portugal já está a ser também conhecida sobretudo nas zonas da grande Lisboa e arredores, no Porto e em Coimbra. Em Aveiro não há tanta aderência, a procura é feita mais por pessoas de fora. O balanço que eu faço aqui na escola é que 80 por cento dos alunos são de fora.
Ficha Técnica Nome: Carlos Portas
Mussubi – Oficinas de Artes e Coisas do Oriente Eucalipto Sul – Aveiro – Portugal