A revista Made in Japan na edição que fala de Ono Sensei relaciona academias nos estados brasileiros representantes da União Sul Americana. Entre elas o Ganseki Dojo. Representante de Kawai Sensei no Rio de Janeiro.
Exposição Fotográfica faz homenagem a Ono Sensei
Entrevista com Hitohiro Saito
por Sonoko Tanaka
Aikido Journal #113 (1998)
Traduzido por Christiaan Oyens
Este artigo foi preparado graças a assistência deVolker Hochwald da Alemanha.
“Não devemos romper com a tradição do fundador apenas porque pessoas chegam do exterior.”
Hitohiro Saito (40) nasceu em Iwama, onde iniciou sua prática de Aikido aos sete anos. Ainda criança estudou com Morihei Ueshiba e depois continuou aprendendo com seu pai, Morihiro Saito Shihan. Dedicado a preservar a tradição espiritual e técnica do aikido de O-Sensei, Hitohiro criou sua reputação pela excelência de sua técnica e seu método de ensino no Japão, Estados Unidos, Europa e Austrália. Pudemos sentir seu amor intenso e profundo respeito pelos seus dois mestres (o fundador e seu pai) durante esta entrevista exclusiva.
Hitohiro Sensei, quais são as suas primeiras memórias do dojo?
Eu dividia as refeições com O-Sensei e me davam o que sobrava do seu prato. Eu também me lembro que chorava de manhã durante a minha infância porque não encontrava a minha mãe do meu lado ao acordar. Ela estava sempre no dojo ajudando O-Sensei.
Dizem que O-Sensei era muito severo?
O-Sensei em geral só demonstrava suas técnicas nos outros lugares, mas ele instruía de verdade em Iwama e era muito rigoroso. Ele gritava, “Que tipo de kiai é esse! Vá lá fora e veja se consegue derrubar um pardal com o seu kiai”. Ou a alguém aplicando um yonkyo fraco, “Vá lá fora e experimente aplicá-lo numa arvore! Mantenha a chave até descascá-la!”.
Mesmo quando criança, eu percebi pela atmosfera que o rodeava que se tratava de um grande homem. Nós curvávamos nossas cabeças em reverência desde o momento que Saito Sensei, meu pai, ia buscar O-Sensei, e permanecíamos prostrados até a chegada de O-Sensei com o Saito Sensei vindo logo atrás. Finalmente, levantávamos nossos rostos para junto com O-Sensei fazer a reverência frente ao santuário do dojo. Aí, iniciávamos a pratica com tai no henko.
Se eu sentava ao lado de Saito Sensei enquanto O-Sensei explicava uma técnica como shomenuchi, me mandavam executar o shomenuchi em O-Sensei. Um dia, a minha irmã mais velha foi instruída a ir atacar O-Sensei, mas ela começou a chorar e saiu do dojo já que não era fácil para uma criança ir e interromper O-Sensei desta maneira. Mandaram que eu fosse em seu lugar e ataquei com um grito de kiai, aí O-Sensei comentou, “então você veio?” Ele me arremessou, mas usou sua mão para me proteger e evitar que a minha cabeça batesse no tatame, e disse, “tenha cuidado.” O-Sensei era uma pessoa muito boa.
Me lembro de um dia ir para o jardim e observa-lo escovar os dentes, quando de repente ele os removeu, como eram falsos, e disse, “isto foi engraçado, não?” (risos)
Quantos anos tinha na época
Na época freqüentava o segundo grau. O-Sensei era vigoroso na época. Durante os seus últimos anos fazia longos aquecimentos, mas na época que iniciei o Aikido ele ensinava um numero maior de técnicas.
Quando decidiu se dedicar completamente ao Aikido?
Não tive muita escolha, já que eu era o único filho, mesmo que eu fosse muito preguiçoso quando o assunto era treinar. (risos) Tinha planos de abrir um restaurante para ganhar a vida enquanto fazia Aikido. Depois do secundário, fui para Sendai durante um ano onde estudei cozinha. Depois fui para Osaka por mais dois anos de estudo. Sempre que tinha folga, eu visitava o dojo de Seiseki Abe para estudar caligrafia com ele. Também visitava o aiki dojo de Bansen Tanaka.
Abe Sensei pratica o misogi ao se derramar com água fria todo manhã para purificar sua alma. Ele parecia expressar uma mente ascética através de sua caligrafia. Originalmente ele conheceu O-Sensei no dojo de Bansen Tanaka em Takahama. O-Sensei criou afinidade com ele no caminho do misogi e começou a estudar caligrafia com ele.
Visitamos Abe Sensei alguns anos atrás e vimos alguns manuscritos incríveis de O-Sensei. Você sente uma atmosfera espiritual assim que entra no dojo.
Esses manuscritos são iluminados, não são? Para aprender mais sobre O-Sensei devemos ler seus dokas (poemas) e estudar sua caligrafia. Fotos e vídeos nos criam um senso de ligação com O-Sensei, mas seus poemas e caligrafia nos comunicam aspectos mais sutis. São realmente profundos e maravilhosos.
Abe Sensei conhece bem os poemas de O-Sensei, não é?
Isso mesmo. Eu espero que ele consiga realizar seus planos de publicar uma coleção da caligrafia de O-Sensei e a construção de um museu dedicado a O-Sensei. Durante a minha infância, Abe Sensei visitava com freqüência Iwama acompanhado de sua filha. É um homem dedicado ao estudo com um profundo conhecimento do Kojiki (Registro sobre Assuntos Antigos), o livro mais antigo da historia japonesa, livro que O-Sensei citava ao explicar o Aikido. Abe me falava muito sobre o Kojiki, mas como era tão complicado, temo que as explicações entravam por uma orelha e saiam pela outra. (risos)
Treinou aikido durante seu aprendizado em Sendai e Osaka?
Em Sendai, treinei com Hanzawa Sensei, e em Osaka, pratiquei no dojo de Abe Sensei.
Abriu um restaurante em Iwama como planejado?
Sim, em 1978, mas eu era jovem e tolo e costumava beber com os fregueses à noite e não treinava com seriedade. Operei o restaurante durante sete anos, mas fiquei preocupado com a minha saúde, então falei com o meu pai e ele concordou que eu deveria abandonar este negócio. Ele viajava com freqüência para o exterior e precisava de alguém para administrar o dojo em sua ausência. Isto foi há onze anos, e desde então ensino Aikido em tempo integral.
Onze anos atrás acompanhei Saito Sensei para a Dinamarca e participei ali de um seminário. Ano passado marcou o décimo aniversario desta viagem, então fui novamente com Saito Sensei e várias pessoas de Iwama. Foi um grande seminário com mais de 300 participantes.
Que conselhos daria para os estudantes do Aikido sobre os princípios de treinamento?
Saito Sensei diz que todas as técnicas de taijutsu (sem armas), ken e jo são baseadas em hanmi. Aí, você tem que aprender a usar o kiai corretamente. Acho que treino sem kiai é inútil. O Fundador tinha um kiai maravilhoso. Se você quer aprender o verdadeiro budo, não terá nada a perder sempre que tentar imitar O-Sensei. Infelizmente, os praticantes não sabem muito sobre O-Sensei, portanto faço o possível para contar-lhes sobre ele.
O fundamento do treino de Aikido é o ato de se forjar. Você não pode fazer isto se desde o início de seu treinamento praticar ki no nagare (técnicas de fluxo de ki). O treinamento básico consiste em permitir que o seu parceiro o segure com vigor. Fazendo isso, ele estará lhe fazendo um favor. Seu parceiro primeiro segura firme, aí sim você pratica uma técnica. Uma das instruções do Fundador era de começar como tai no henko. Você não deve negligenciar nem uma vez a prática de tai no henko. Isto é o que ensinamos em Iwama.
É de suma importância treinar com afinco tai no henko e morotedori kokyuho. De outra maneira, não se pode nem tentar explicar ikkyo. Quando você pivota com o pé da frente e abre um espaço atrás, como em urawaza, você deve ser capaz de executar o movimento correto de tai no henko, que é apenas fazer com que os dedos do seu pé se alinhem com os dedos do pé do seu parceiro. Seu corpo pivota sobre o seu dedão do pé. Você deve pivotar de forma equilibrada, não de qualquer maneira. Você tem que se harmonizar de forma precisa com o seu oponente, e não de forma desajeitada. Você tem que ter esta segurança desde o início.
É um ponto de vista valido; a precisão necessária para se harmonizar.
Qualquer um pode se harmonizar, num modo geral, mas ele deve começar com formas mais específicas que irão, no final das contas, expandir para a harmonia universal que o Fundador citava. Primeiro você aprende a se fundir com o parceiro “dedo a dedo” (dos pés), depois a pivotar com seu pé da frente. Quando você aprender a pivotar corretamente, você irá conseguir executar uma técnica urawaza. Ninguém pode expressar isto verbalmente, isto só pode ser dominado treinando. O Fundador dizia, “O treino vêm em primeiro lugar.” Não é que o seu parceiro se harmoniza com você, mas que você irá se harmonizar com ele em tudo. “Mexa-se, abra um espaço e tome a iniciativa.” Isto foi o que o Fundador ensinou para o Saito Sensei. Um erro de um centímetro pode impossibilitar uma técnica de ser usada com sucesso.
Você não pode mudar as técnicas ao seu agrado. Há uma maneira correta de executar cada técnica. Qualquer pessoa – não apenas os fisicamente fortes – deve poder aplicar as técnicas. Infelizmente, muita gente negligencia tai no henko. Posso dizer apenas observando as pessoas praticando tai no henko e morotedori kokyuho, como praticam em seus dojos. Não preciso ver mais nada. Creio que todos os básicos do taijutsu do Fundador estão presentes nestas duas técnicas e em ikkyo. É difícil encontrar alguém que execute uma técnica ikkyo com perfeição. Sei que isto pode soar um tanto insolente, mas eu acho que você não pode entender o Aikido sem desde o início se familiarizar bem com estas técnicas. Se você não dominar tai no henko, você sempre irá se chocar com seu oponente executando outros movimentos. O treinamento básico permite que você resolva problemas causados por movimentos corporais mal executados. Isto é impossível explicar com palavras, já que seu significado é muito profundo, mas acredito que a única maneira de aprender é permitindo que o seu parceiro lhe segure de maneira firme.
Em alguns dojos, os professores demonstram as técnicas duas ou três vezes e pedem para que seus alunos as treinem sem maiores explicações, mas em Iwama, o senhor sempre dá explicações detalhadas.
A razão pela qual Saito Sensei explica suas técnicas detalhadamente é porque ele gostaria que seus alunos aprendessem as técnicas o mais rápido possível. Seu método de ensino é resultado dos inúmeros erros que ele fez ao longo dos anos e o que ele conseguiu aprender deles. Nos seus últimos anos, O-Sensei demonstrava suas técnicas com a velocidade de um flash, assim julgaria depois as habilidades de seus alunos e o quanto eles conseguiam entender das técnicas. Como o Saito Sensei quer que todos melhorem com mais rapidez do que ele teve oportunidade, ele interrompe seus alunos imediatamente quando estes fazem algo errado e os corrige em cada detalhe. Ele não seria capaz de fazer isto se ele endossasse treinos fáceis. Se o seu parceiro cede às suas técnicas o tempo todo, você não irá saber se as está executando corretamente. Ao segurar com força, o seu parceiro está lhe ajudando a entender se está executando as técnicas de forma correta, ou não. Isto não quer dizer que ele deve segurá-lo de maneira torpe ou agressiva; embora em tais casos, a técnica pode ser adaptada para lidar com estas situações também. Seu parceiro deve segurá-lo de maneira firme, porém correta, aí você pode se alinhar com esta força. Isto é o treinamento básico. Se ele assume uma pegada invertida por cima, ou por baixo, você deve adaptar sua resposta da maneira adequada. Quando o seu parceiro vier agarrá-lo, conduza-o com habilidade. Vocês estão se doando fisicamente para treinar com seriedade.
As pessoas tendem a dizer que no Aikido você não consegue avaliar a sua habilidade porque o seu oponente está sempre colaborando com você.
Isto não é verdade. Você sempre pode ter uma dimensão da sua técnica e se ela funciona, cada momento que estiver praticando. Se tiver que fazer um esforço desnecessário, sentir que o seu parceiro está pesado, ou entrar em choque com ele, isto acontece porque não está se harmonizando completamente com ele. Você deve ter a capacidade de identificar com precisão o que há de errado com seu movimento, ou se você não abriu suficiente espaço. Não existe a necessidade de torneios para saber se as técnicas funcionam ou não.
O senhor quer dizer que seu parceiro deve atacar com seriedade durante os treinos?
Sim. Se eu digo, “Empurre com força”, ele deve empurrar com toda força; se eu digo, “me dê um soco”, ele deve me golpear com força; ou segurar com força. Ele deve me atacar com toda sua força e energia. Claro que se a força de uke for muito maior do que a do seu parceiro, ele deve atacar com metade da força para que nage possa aprender. O Fundador afirmava que praticar com crianças era uma ótima maneira de aprender. Se harmonizar completamente com a energia de uma criança é um grande desafio. É evidente que algumas pessoas são mais fortes do que outras, mas se elas agridem seu parceiro, estão apenas cometendo um ato de violência que não tem nada a ver com o Aikido. Algumas pessoas pensam que treinar de forma violenta tem seu valor, mas eu acho isto lamentável. O Fundador disse que nós devemos nos divertir treinando, mas isto depende de como você emprega esta diversão. Ao dizer para seu parceiro no término da aula, “Muito obrigado. Por favor, treine comigo outra vez”, esta é a melhor maneira de se treinar. Se surge conflito entre você e o seu parceiro durante o treino e este mal estar permanece até a conclusão da aula, este tipo de treinamento não pode conduzir à paz mundial, que era justamente o objetivo do Fundador. Quero que as pessoas desfrutem todas as minhas aulas. Mesmo que uma pessoa com alguma contusão tenha vontade de treinar. Eu aconselho os meus alunos a avisarem seus parceiros se estão com alguma contusão no cotovelo ou pulso. Eles ainda podem treinar com o outro braço. Digo às pessoas que sofrem de dores nos joelhos para treinarem as técnicas em pé, em vez de sentados. Não devemos treinar de forma negligente. A melhor maneira de se treinar é quando os parceiros se respeitam. O fundador pregava uma abordagem sem preconceitos e em Iwama você ainda irá se comover com este tipo de sentimento. Ele também dizia que você pode aprender com tudo que observar, desde que você queira. Isto é a mais pura verdade.
Até onde irei? Superando a nós mesmos pela perseverança.
No AIKIDO, regularmente são realizados exames para que cada um de seus participantes nos mais diversos níveis executem suas técnicas para atingirem um estágio superior, prática comum, acredito eu, em todas as artes marciais modernas.
Quando são verdadeiramente dedicados os alunos atingem um bom resultado. Eles tem a confiança baseada no trabalho duro em cima de metas determinadas individualmente por ele e pelo professor.
O interessante disso é que por mais que conheçamos sobre determinado assunto, quando este é posto a prova, nós nos sentimos desafiados e aí surge o temor, o nervosismo e a ansiedade, isto ainda com um sentido de se ter a responsabilidade de fazer bem feitos os movimentos que determinarão o aparente sucesso ou fracasso de todo o treinamento realizado. Queremos ser bem avaliados, muitas vezes por nosso orgulho ou muito vezes pela gratidão que temos com nosso Sensei de mostrar retorno a tudo que ele nos tentou passar. Alguns Sensei merecem outros não. Alguns praticantes são agradecidos outros não.
Mas será que estamos preparados para o caminho que virá? Muitos vão tomar conhecimento do problema depois que de fato ele existir. Não querem sofrer por antecipação. Eu estes dias falei a um aluno que somente até a faixa verde eu pensei ainda no exame como uma meta a ser alcançada. Depois, (até por que este demorou por problemas profissionais), eu aguardei a azul sem mais pensar se iria chegar ou não. Apenas treinando. Fazendo o que gosto. Na hora que o professor chegava e dizia: Treinar para o exame, eu pensava então: Tá bom, o que tenho dúvida? Vamos lá… O processo, não o produto. Entretanto a verdadeira dedicação é necessária..
Existe o outro lado: A pessoa encara o treino como uma ginástica laboral, aula de aeróbica, ou algo despretensiosos qualquer. A arte marcial exige mais que isso pois é mais complexa e de maior resultado também. Essa visão é muito simplista. Outro ficam com medo de se machucar e dizem: “Eu vou mais devagar, não vê estes mestres e graduados como estão todos machucados, com problemas nos joelhos etc?” Só tem um detalhe: Qual a atividade física que não tem risco e deixa algum risco ou seqüela possível? Me lembro da palestra do nosso Oscar, do Basquete, que disse: Só minha esposa é que sabe como acordo de manhã e que dores carrego pelo treino constante durante tantos anos… Entretanto todas adoram quando eu estou nas quadras, apareço na mídia, ganho títulos para o Brasil.. As pessoas gostam muito do glamour, mas do trabalho árduo quantas estão dispostas? Quantas pessoas sentaram para assistir aulas e quantas chegaram para treinar, super entusiasmadas, mas ao ver o quanto tem que se dedicar acabam arrefecendo? Algumas após um mês, após um ano, dois ou quando chegam na faixa preta. Repito sempre: Aikido está disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Aumentando a abrangência: Arte Marcial, em linhas gerais, é disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Ou mais ainda: PERSEVERANÇA está ao alcance de todo mundo… Mas não é para todo o mundo! No final, o caminho de tudo, arte marcial e outros, passa pelo nível de perseverança. Isto determina vencedores e vencidos. Não falo em relação a um ou outro mas em relação a vida.
A QUESTÃO DA REFERENCIA:
Muitas pessoas ainda não têm consciência de que, quando se gradua em uma arte marcial ou em qualquer atividade, nós nos tornamos uma referência, passamos a ser avaliados constantemente e de forma diversa, sejam por nossos pares ou por aqueles que virão posteriormente. A cobrança, principalmente para aquele que ensina é exaustivamente testada nos mais diversos níveis, sejam estes técnicos ou teóricos, o que obriga o praticante a se preparar mais e mais, fazendo dele um eterno Sensei e Sempai de si mesmo.
E quando este resultado não é atingido, como nos portaremos? Já vi pessoas que abandonaram tudo, outras ficaram inconformadas transferindo a culpa de seu resultado para outras pessoas, algumas começam a treinar de forma semi-motivada e algumas, com mais tranqüilidade, absorveram o resultado e buscam polir as arestas. É interessante que o fator “reprovação” esteja presente, nem que dentro de nós mesmos, e seja uma constante na vida do praticante. Ser melhor a cada dia e ajudar outros a se desenvolverem se faz necessário para o desenvolvimento marcial, pois polimos o nosso espírito nas dificuldades nas agruras de um treinamento. Meu professor dizia, e sempre repito, para chegar ao paraíso é preciso passar pelo purgatório. Alguns alunos acham o treino forte, pesado, mas não tem ideia do que já passamos e como isto determina o bom praticante e o praticante não tão bom… E é interessante que também são estes muitas vezes aqueles que admiram tanto a técnica dos grandes shihan, sem ter a mínima vontade de passar pelo 1/3 do treino que eles passaram. Como os fãs do Oscar que querem ser eles sem passarem pelos dores e sacrifícios de um treino…
Aprendemos a superar os limites vencendo inicialmente a nos mesmos, encarando nossas fobias e desafiando as nossas preguiças e dificuldades. Por quantas vezes, quando chega a hora de ir para a academia, nos sentimos aquela preguiça, pensamos “ah, só faltarei hoje, que mal fará?”, ou, “será que vou ter que repetir aquela técnica novamente?”, (como se o praticante a dominasse perfeitamente). Alguns gostam de técnicas de armas ou de determinada técnica Tai jutsu, pois acham que já sabem. Tenho, e tive, muitos alunos que acham que é só uma coreografia a ser executada com velocidade. E você que conhece olha um outro do lado e é como se visse um jogador de sinuca profissional e um amador lado a lado em uma mesa: Os instrumentos, técnicas são as mesmas, mas a precisão e a efetividade são algo muitas vezes tão dispares como o mar e a montanha. Enfim, começamos superando em nossa mente estas pequenas dificuldades, que se não superadas se tornarão grandes, transformando-se em um obstáculo ao crescimento. Uma das primeiras ações é acorrentar o ego.
Os nossos limites são estabelecidos por nós mesmo. Pelo controle do ego, pela perseverança e no conhecimento interno, dosando empenho com maestria e racionalidade, superando cada obstáculo, sorvendo o conhecimento adquirido com tranqüilidade e sabedoria. Acatando nosso limites mas sem indolência. Sendo verdadeiramente sinceros com nós mesmos e com a arte. Que é difícil, mas tem muito o que nos oferecer.
Está frio e chuvoso. Muitas faltarão por causa da chuva. Ficarão em casa vendo DVD, Talvez um DVD de luta; ou um jogo de basquete na TV a cabo, quem sabe? “Há se luta-se assim…” “Há se joga-se como esse cara.. Como ele faz isso!?”
Jo e Bokken
O Jô é um bastão de madeira cuja medida deve corresponder à altura da linha do ombro do praticante em pé medindo-se a partir do tornozelo (existe outra forma de medir mas dá literalmente no mesmo). O Bokken é uma espada de madeira também para treinamento de Buki Waza no Aikido. O Jô e o Bokken, embora com movimentações distintas, auxiliam sobremaneira a dar uma visão ao praticante das moviemntações e posturas das técnicas de taijutsu. Os movimentos devem ser executados buscando o aprimoramento da base, da postura, da distância(maai)e tempo exato(Sen sen no sen, Sen No Sen, Go no Sen). Com certeza aprimora os wazas que virão a ser executados dando mais segurança e gerando mais harmonia e eficiência no movimento.
Se estudarmos relatos de alunos de O’Sensei Morihei Ueshiba como: Morihiro Saito, Mitsugue Saotome, Nobuyoshi Tamura e vários outros, observaremos que estes são unânimes em afirmar que O’Sensei utilizava o Jô e o Bokken para esclarecer seus ensinamentos. Diante desta observação ressaltamos a importância do treinamento com estas armas para o refinamento do AIKIDO.
Pelo fato de O’Sensei ter passado parte de sua vida na província de Iwama, Morihiro Saito Sensei, teve o privilégio de acompanhá-lo durante vinte e cinco anos, sendo que através de seus relatos nota-se que O’Sensei Morihei Ueshiba, procedia a cada manhã um estudo aprofundado do Jô e do Bokken tendo como única testemunha Saito Sensei.
Pessoalmente acredito que a linha de ensino, amplamente difundida por Saito Sensei, é a que mais se aproxima da ministrada pelo fundador, devido ao tempo em que ambos compartilharam o mesmo treinamento. Dentro dos katas, que são ensinados por diversos professores, é sabido que existem algumas variações, ou até mesmo modificações e interpretações diversas; mas isso não quer dizer que A ou B estão certos ou errados, como disse, são interpretações, e se observarmos bem todas as respostas são plausíveis e completam um vazio que às vezes é criado pela forma.
Pessoalmente acredito que a linha de ensino amplamente difundida por Saito Sensei é a que mais se aproxima da ministrada pelo fundador devido ao tempo em que ambos compartilharam o mesmo treinamento, por muitos anos. Dentro dos katas que são ensinados por diversos professores, existem algumas variações, ou até mesmo modificações e interpretações diversas; mas isso não quer dizer que A ou B estão certos ou errados, mas são interpretações, e se observarmos bem todas as respostas são plausíveis e completam um vazio em um ou outro ponto que às vezes é criado pela forma executada. Mas não quer dizer que aquela forma está errada por não ter aquele detalhe. Existe aí uma questão, que é a finalidade do treinamento. Por exemplo, ressalto sempre que algumas formas são kihons para aperfeiçoamento de determinado aspecto. Então nem sempre voce enxergará a forma lógica em uma defesa pessoal. Ressalto neste ponto um cuidado importante: É importante mostrar muitas vezes a forma original, para melhor entendimento. Mesmo que essa não seja enfatizada. Pode ser que o praticante não objetive a forma marcial, mas deve entender a origem. Senão virá uma forma de coreografia sem sentido, pois ele não sabe de onde se originou aquilo. Ou pior: Acha que aquele forma, somente presente como kihon, funcionaria em situação de defesa pessoal. Cabe ao professor orientar adequadamente. Ocorre que, infelizmente, existem hoje professores que não passam estes conceitos. Por que nem mesmo eles sabem. Já aprenderam assim, sem correlação marcial e sem entendimento. Aí a prática de armas vem também em auxilio. Mas de novo também nem todos os professores estão preparados para passar essas formas. A fundação Aikikai começa a exigir o treino de armas a partir do 3º dan, mas a meu ver nada impede, e é interessante, que o aluno vá se habituando coma as armas mais cedo. Isto não é impedido pela Aikikai e meu antigo professor Nelson, aikikai, sempre deu aulas de armas, característica do grupo dele. Inclusive é cobrado em exames de kyu se bem me lembro (muito tempo faz). Pode até não ser cobrado em exames, mas o treino do Kyu com armas é importante. Tive essa sorte e passo a meus alunos esse conhecimento ainda em desenvolvimento. Isso evita também aqueles que vão na época do exame com armas “estudar para a prova”, apresentando dificuldades e formas ruins no manejo destes importantes instrumentos de desenvolvimento do seu aikido.
Para a prática das armas no AIKIDO é interessante que inicialmente se pratique o suburi aprendendo as posturas e criando intimidade com o instrumento. Depois os Katas, e o seu estudo; em seguida, se pratica o Jô Dori e Tachi Dori, que são katas de tirar o Jô ou bokken do atacante. (alguns enfatizam “os dori” depois). Por fim iniciam-se os Kumitachi e os Kumijo, que são os Katas de combate com os instrumentos e também relações de Jo e Bokken em confronto. Em meus treinamentos, sempre que possível, envolvo o iniciante em alguns treinamentos mais complicados, entretanto não espero obter a mesma destreza e precisão de um aluno mais antigo.
Seminário Seki Shihan – 45 anos de Aikido
No primeiro final de semana de Setembro foi realizado o seminário dos 45 anos de Aikido no Brasil com a participação de Seki Shihan, um dos grandes expoentes dentro do Hombu Dojo e do aikido mundial atualmente. O Ganseki Dojo, como membro integrante da União Sul Americana participou da demonstração de Aikido dos dojos presentes. Sem dúvida um evento muito importante, onde pudemos conhecer mais a respeito deste grande Sensei, e a expressão de suas técnicas. Sensei Seki mostrou sua forma direta, rápida e precisa. A qualidade técnica de Seki Shihan era esperada. O Ganseki Dojo esteve bem presente e todos que lá estiveram puderam evidenciar que a orientação técnica no nosso dia-a-dia está bastante alinhada com o que se pretende para o desenvolvimento futuro da União e das diretrizes do Hombu Dojo. Parabéns a todos os participantes que estiveram na demonstração e aqueles que, embora não participassem da demonstração, estiveram no seminário desfrutando dos ótimos ensinamentos e na demonstra por desfrutarem desta grande oportunidade de aprendizado. Outras virão…
As Origens da Artes Marciais Tradicionais – Kobudo
Alguns estudiosos estimam que as escolas tradicionais de artes marciais japonesas, referidas como ryuha, tiveram início no final do período Heian. Contudo, estes sistemas de combate não se especializaram em um tipo particular de arma, como arco, espadas, lanças, etc. Ao invés disso, buscaram um currículo abrangente que integrava treinos de diferentes armas. Ao longo do tempo as escolas se compartimentalizaram e por volta do período Muromachi ao período Edo , surgiram aquelas onde os guerreiros podiam se devotar a treinos ascéticos de apenas uma arma em especial. Entretanto, as escolas dedicadas ao Kyujutsu (Arco e Flecha) e Bajutsu (Equitação de Guerra) remontam a épocas anteriores a esta compartimentalização. A partir do século XV percebe-se o florescimento de estilos de Kenjutsu (Arte da Espada), Sojutsu (Arte da Lança) e Jujutsu (Arte da Imobilização do Oponente), porém estes não se estabeleceram como Ryuha até a Era Keicho (1596-1615).
Kashima e Katori são bem conhecidas como sendo importantes regiões de onde as escolas tradicionais de artes marciais surgiram. Situadas no mesmo lado da região Otone, na parte Leste do Japão, ambas, Kashima Shrine e Katori Shrine são lugares sagrados onde divindades associadas à destreza e bravura militares são reverenciadas. Logo, é natural que as artes marciais japonesas tenham tradicionalmente florescido nestas áreas. É frequentemente dito no Japão que “as ciências militares (Heiho) vieram do Leste”, o que em essência se refere a Kashima e Katori. Artes marciais ryuha representativas da região são a Kashima Shinto-ryu e Katori Shinto-ryu.
No início do período Muromachi, um número de notáveis guerreiros criou suas próprias ryuha. Alguns exemplos são Chujo Hyogonosuke (?-1384), fundador da Chujo-ryu; Aisu Iko (1452-1538), criador da Kage-ryu e Iizasa Choisai (1387-1488) fundador da Katori Shinto-ryu, a qual foi posteriormente desenvolvida por Tsukahara Bokuden (1489-1571). Todos foram grandes guerreiros renomados por suas exemplares habilidades militares. Eles percorriam os campos desafiando outros guerreiros a fim de testar e aprimorar suas técnicas numa prática conhecida como musha-shugyo. Estas práticas, consequentemente, serviam para promover suas próprias ryuha, as quais derivaram em outras escolas que se espalharam pelo país.
Na metade do período Tokugawa, com a solidificação do sistema de territórios, os senhores de cada uma destas regiões (han) competiam para empregar hábeis instrutores de artes marciais de várias ryuha. Eles procuravam os melhores instrutores para ensinar artes militares aos guerreiros que os serviam, o que eventualmente deu origem a algumas ryuha em localidades seguras. Alguns lordes proibiam as ryuha de se propagarem fora de seus territórios, fazendo destas propriedades exclusivas. O número de ryuha proliferou enormemente, e ao final do período Edo estimava-se a existência de 52 escolas de Kyujutsu, 718 escolas de Kenjutsu, 148 escolas de Sojutsu e 179 escolas de Jujutsu (algumas eram as mesmas escolas, porém com nomes diferentes). Muitas ryuha espraiaram-se pelo Japão, entretanto, um número de filiais, facções e imitações deixaram de funcionar, restando apenas seus nomes. A despeito das questões sobre linhagens autênticas, estima-se que em torno de 500 destas ryuha tradicionais ainda existam hoje em dia.
Como se pode observar no gráfico exposto, muitas das ryuha que sobreviveram até hoje, não necessariamente vieram ou permanecem na mesma localidade em que estão situadas atualmente. Por outro lado, existem algumas ryuha cujas sucessoras permaneceram no local de origem através das gerações. Destas, as mais famosas são a Kashima Shinto-ryu, Tenshin Shoden Katori Shinto-ryu, Jigen-ryu, Takenouchi-ryu, Ogasawara-ryu Kyubajutsu, Maniwa Nen-ryu, Taisha-ryu e Owari Yagyu Shinkage-ryu. As linhagens destas ryuha são genuínas, e são celebradas até os dias de hoje como sendo representativas das escolas tradicionais de artes marciais japonesas.
( Texto original de Nippon Kobudo Kyokai – Associação das Artes Marciais Tradicionais Japonesas – coletado de The Spirit of Budo)
Tradução: Daniele Probstner. Edição Final: Walter Amorim Sensei
As Sete Verdades Do Bambu
Depois de uma grande tempestade, o menino que estava passando férias na casa do seu avô, o chamou para a varanda e falou:
Vovô, corre aqui !
Me explica como esta figueira, árvore frondosa e imensa, que precisava de quatro homens para abraçar seu tronco se quebrou, caiu com vento e com chuva, e…
…este bambu tão fraco continua de pé ?
Filho, o bambu permanece em pé porque teve a humildade de se curvar na hora da tempestade. A figueira quis enfrentar o vento. O bambu nos ensina sete coisas. Se você tiver a grandeza e a humildade dele, vai experimentar o triunfo da paz em seu coração.
A primeira verdade que o bambu nos ensina, e a mais importante, é a humildade diante dos problemas, das dificuldades. Eu não me curvo diante do problema e da dificuldade, mas diante daquele, o único, o princípio da paz, aquele que me chama, que é o Senhor.
Segunda verdade: o bambu cria raízes profundas. É muito difícil arrancar um bambu, pois o que ele tem para cima ele tem para baixo também. Você precisa aprofundar a cada dia suas raízes em Deus na oração.
Terceira verdade: Você já viu um pé de bambu sòzinho? Apenas quando é novo, mas antes de crescer ele permite que nasça outros a seu lado (como no cooperativismo). Sabe que vai precisar deles. Eles estão sempre grudados uns nos outros, tanto que de longe parecem com uma árvore. Às vezes tentamos arrancar um bambu lá de dentro, cortamos e não conseguimos. Os animais mais frágeis vivem em bandos, para que desse modo se livrem dos predadores.
A quarta verdade que o bambu nos ensina é não criar galhos. Como tem a meta no alto e vive em moita, comunidade, o bambu não se permite criar galhos. Nós perdemos muito tempo na vida tentando proteger nossos galhos, coisas insignificantes que damos um valor inestimável. Para ganhar, é preciso perder tudo aquilo que nos impede de subirmos suavemente.
A quinta verdade é que o bambu é cheio de “nós” ( e não de eu’s ). Como ele é ôco, sabe que se crescesse sem nós seria muito fraco. Os nós são os problemas e as dificuldades que superamos. Os nós são as pessoas que nos ajudam, aqueles que estão próximos e acabam sendo força nos momentos difíceis. Não devemos pedir a Deus que nos afaste dos problemas e dos sofrimentos. Eles são nossos melhores professores, se soubermos aprender com eles.
A sexta verdade é que o bambu é ôco, vazio de si mesmo. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que nos preenche, que rouba nosso tempo, que tira nossa paz, não seremos felizes. Ser ôco significa estar pronto para ser cheio do Espírito Santo.
Por fim, a sétima lição que o bambu nos dá é exatamente o título do livro: ele só cresce para o alto. Ele busca as coisas do Alto. Essa é a sua meta.
Padre Léo – Livro “Buscando as coisas do Alto“
Saito Sensei
No meio dos bosques de Iwama ecoavam gritos (kiai) do treino de Ueshiba O’Sensei. Os aldeões evitavam seguir os caminhos que atravessavam o bosque temendo os ruídos de combate. Em 1946, o jovem Saito aventura-se a ir ao Dojo e pede licença para assistir a um treino. No final, O’Sensei convida-o a atacá-lo. Apesar do seu conhecimento de Judo, Karate e Kendo, o jovem é projetado ou imobilizado em cada ataque.
A partir desse dia torna-se aluno de Ueshiba O’Sensei, assistindo e contribuindo para o nascimento do Aikido. Passou a viver no Dojo e serviu com extraordinária dedicação o Fundador até à morte deste. Tal é a devoção para com o Mestre, que no próprio dia do seu casamento acompanha O’Sensei deixando a sua esposa em casa.
Em 1969, morre em Tóquio o Grande Mestre com a cabeça pousada nas mãos de Saito Sensei, que o acompanhou até ao último instante. Por vontade do seu único mestre, Saito Sensei torna-se reitor da escola de Iwama, conhecida como Aiki-Shuren Dojo, onde viveu a ensinar os princípios filosóficos e técnicos originários e a codificar as técnicas de seu mestre.
Agricultor, continuou a sua vida como a viveu com seu mestre durante 23 anos: conjugando o trabalho da terra com a prática diária do Aikido.
Graduação de Dan
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No dia 17 de Agosto de 2008 foram realizados na Academia Central exames de Dan dos membros da União Sul Americana. Entre estes, informamos com satisfação, que o aluno Alexandre Pierre foi promovido para SHODAN por unanimidade, sendo o primeiro aluno do Ganseki Dojo promovido a Dan pela União Sul Americana. Primeiro de muitos. Ficamos muito satisfeitos pois também, dos alunos meus que já foram promovidos a DAN, é um aluno que acompanhamos desde o início no Aikido e está conosco todo esse tempo, sempre comparecendo e vestindo a camisa do dojo. Nesse ponto, hoje não temos o que reclamar, pois de uma forma geral todos os praticantes tem, ou estão desenvolvendo este espírito tão importante para o nosso crescimento. Esta é uma conquista principalmente pessoal, mas não podemos deixar de agradecer a todos pela dedicação e esforço. Com certeza, como fruto da dedicação de alunos e instrutores na busca do aprimoramento é que vamos chegando aos melhores resultados.
Sabemos que muitos pontos têm que ser aprimorados, mas o saldo que se resulta de todos os esforços no nosso dojo tem sido bastante positivo.
Agradecimentos especiais a Jorge “Gito” Henrique, Waldecy Gonçalves, Silvio Ferreira e Ingo Lyrio, que foram de imensa ajuda colaborando como ukes na preparação final do Pierre.