Integrantes do Ganseki Dojo em Aula especial


Mais uma vez integrantes do Ganseki Dojo estiveram participando de Aula especial aberta do grupo Iwama Brasil. Como política do nosso grupo estamos sempre travando contato com os diversos grupos e conhecendo as diversas visões do aikido. Foi mais uma vez uma aula bastante instrutiva.

Nesta ocasião podemos também conversar com o Sensei Carlos Nogueira e conhecer algo mais da historia do aikido em Iwama e de Saito Sensei por meio de quem treinou diretamente com o grande e saudoso mestre.

Aplicação do principio da arte do sabre

Por Kishomaru Ueshiba.

O caminho do aiki e o caminho do sabre são, na aparência, radicalmente diferentes. O Aikido é praticado apenas com as mãos nuas, sem armas, enquanto que a arte do sabre requer o uso de uma arma. Mas, se tirarmos a casca, numerosos pontos comuns aparecem. Faz-se referência aqui ao Kenjutsu, arte do sabre de combate e não ao Kendo que é um esporte de competição. O Aikido apresenta similitudes mais com a arte antiga que com sua expressão moderna.

Admite-se que o Aikido se aproxima mais do Judo que da arte do sabre. Isso é compreensível se se considera que essas duas formas de arte marcial são praticadas com mãos nuas, e que se nos referimos superficialmente ao passado do fundador Morihei Ueshiba, o Jujutsu desempenhou um papel preponderante na criação do Aikido. O fundador, que por muito tempo praticou o Jujutsu da escola Daitô, adaptou um certo número de seus princípios ao Aikido; e técnicas tais como a chave de punho, as pancadas, as projeções ou as imobilizações foram elaboradas a partir do Jujutsu tradicional ou de sua forma moderna, o Judô. Mas as semelhanças se eclipsam pelas diferenças. No Aikido, por exemplo, não existe equivalente à pegada da manga ou da lapela do quimono indispensável no Judô. Além da ausência de corpo a corpo e da competição, o Aikido não integra técnicas ofensivas. Não existem técnicas no solo visando imobilizar o adversário por chaves ou estrangulamentos.

Os fundamentos

Entre as numerosas semelhanças entre o Aikido e a arte do sabre, encontram-se certos fundamentos: a posição de guarda, a distância ou o espaço que separa as duas pessoas, o olhar, os deslocamentos de pés, assim como as aplicações técnicas que são espantosamente parecidas, para não dizer idênticas. Enquanto que no Judô o quimono é usado frouxo, a fim de facilitar o corpo a corpo, no Aikido como no Kenjutsu, a vestimenta padrão é o hakama, a longa saia-calça tradicional dos japoneses que oferece uma grande liberdade de movimentos quando duas pessoas se encontram face à face. O hakama é usado igualmente em Kendo acompanhado de diversas proteções. No Aikido, os iniciantes geralmente não usam o hakama. A comparação detalhada do Aikido e da arte do sabre revela apenas um pouco das diferenças. A tomada de distância (ma-ai) pode ser um exemplo disso. Na arte do sabre, a distância correta entre duas pessoas é dada pelas duas extremidades dos sabres, se enfrentando, devendo cruzar-se ligeiramente a fim de que, com um único passo, seja possível dar um golpe mortal no adversário. No Aikido, quando duas pessoas se enfrentam, na posição hanmi, as mãos simbolizando as lâminas dos sabres não se tocam, e a distância correta deve permitir um máximo de eficácia na entrada (irimi). De mais a mais, com um sabre, o princípio de base continuará o mesmo quando da tomada de distância, qualquer que seja a altura da lâmina. No Aikido, ele vai variar segundo a técnica: os dois parceiros ajoelhados, um parceiro ajoelhado e o outro em pé, ou os dois parceiros em pé; um praticante enfrentando vários adversários ou um adversário armado.

Em relação a isso, não é possível estabelecer uma equivalência escrupulosa entre o Aikido e a arte do sabre, mas como nós sublinhamos, antes, os princípios de base, os movimentos e as maneiras de aplicação apresentam numerosos pontos comuns. Essas similitudes não são obras do acaso, mestre Ueshiba tendo, desde o início desejado fazer um bom uso das vantagens inerentes à arte do sabre. Ele se esforçou a dedicar muito tempo e energia a adaptá-los para integrá-los ao Aikido.

O estudo do sabre

Desde a mais tenra idade, mestre Ueshiba se interessou pela prática do sabre. Com efeito, antes de estar totalmente absorvido pelo Daitô jûjutsu, ele empregou seu tempo ao estudo do sabre, para dominar seus princípios. Mesmo depois de ter colocado o Aikido no ranking do budo, ele gostava de praticar o sabre e o bokuto (sabre de madeira). Houve um tempo onde o Kobukan Dojo abrigava um curso de Kendo, e entre 1936 e 1940, vários membros eminentes do Yushinkan, Nakakura,Kiyosji, Haga Jun’ichi, Nakajima Gorozo e outros freqüentaram nosso dojo. Na minha juventude, o fundador me incitou a estudar a arte do sabre da escola Kashima shinto, o que demonstra bem sua profunda ligação com essa arte e o respeito que ele lhe prestava. O Aikido não faz uso de nenhuma arma, é fundamentalmente uma arte marcial que se pratica de mãos nuas, mas a mão, por exemplo, não é uma simples extensão do corpo.. falar do sabre da mão (tegatana) permite sugerir que a mão se torna uma arma que corta como o sabre. E quando a mão é utilizada como um sabre, o movimento segue naturalmente o movimento do sabre. Esse é o exemplo da manifestação concreta de um princípio da arte do sabre em um movimento de Aikido.

Shiho-nage é o exemplo disso por excelência. O princípio da técnica é calcado sobre a manipulação do sabre. Em pé, em guarda à direita ou à esquerda, o sabre é levantado para cortar em quatro, dezesseis ou oito direções. A partir das técnicas de base do Aikido, entrada e espiral, o sabre da mão projeta os parceiros em quatro, oito ou dezesseis direções. Esta técnica pode ser modulada ao infinito, segundo a situação ou urgência. Quando o ataque é um golpe vindo da direita ou da esquerda do adversário, é possível responde-lo com shiho-nage. Se o ataque consiste em segurar os dois punhos por trás, e ainda possível, a partir dessa posição, realizar o shiho-nage. Quando os atacantes agarram os ombros de um parceiro ajoelhado, esse último pode se defender com um shiho-nage qualquer que seja a situação, shiho-nage segue mais ou menos a mesma construção.

Em um primeiro tempo, o equilíbrio do adversário é desestabilizado pela entrada e o movimento de rotação. Em um segundo tempo, o adversário é levado a seguir o movimento de rotação do defensor. Para terminar, a mão esquerda ou a mão direita (algumas vezes as duas) é utilizada como um sabre, levado acima da cabeça para descer de novo a fim de projetar o adversário.

No shiho-nage, cada movimento é ditado pela vontade de utilizar a mão como um sabre. Isso significa também que a mão do adversário é percebida como uma lâmina. Se bem que nenhuma das partes esteja armada, a ação é tão intensa como se duas lâminas nuas devessem se encontrar. Shiho-nage supõe que potência e eficácia emanam da concentração do ki e que o escoamento do ki, saído da respiração-energia, se exprime totalmente a través da mão – a lâmina do sabre – em um corte preciso e poderoso. Entre as técnicas do Aikido, shiho-nage é considerada como marca do começo e do fim da prática, a perfeição em sua realização como a demonstração do domínio em Aikido. Isso é devido ao fato de que essa técnica simboliza mais que qualquer outra a relação íntima existente entre o Aikido e a arte do sabre.

Apesar de que o Aikido ser fundamentalmente uma arte marcial que não faz uso de nenhuma arma, e que o treinamento consiste o mais frequentemente a opor dois adversários de mãos nuas, existe numerosas aplicações das técnicas de base para as quais será necessário recorrer a um sabre, faca, bastão curto ou longo. Nesses casos particulares, o princípio de usar a mão como um sabre será invertido, as armas sendo utilizadas e manipuladas não mais como objetos mas como extensões do corpo.

O gênio do fundador

O que foi dito deveria ser suficiente para demonstrar a relação estreita entre o Aikido e a arte do sabre. Mas isso não nos ajuda a compreender porque o fundador integrou a arte do sabre ao Aikido. De mais a mais, é preciso reconhecer o gênio do fundador que criou o Aikido inspirando-se fundamentalmente em duas artes marciais evidentemente de natureza diferente: o Jûjutsu clássico e a arte do sabre. Sua originalidade não reside unicamente na combinação assim obtida mas igualmente na maneira de se fazer um novo budo que soube tirar do que havia de melhor dos budos anteriores.

Criando o Aikido, o fundador realizaria seu mais ardente desejo: preservar no mundo moderno a herança inestimável do budo. A fim de chegar a seu objetivo, ele ultrapassou as querelas da forma para apreender a essência de cada arte marcial, desejando vê-la reviver em um novo budo. Ele foi guiado, nesse caso, pela profundidade de busca espiritual, procurando descobrir por entre o budo uma filosofia capaz de dar a vida e de preservá-la. O coração do budo foi transformado para se tornar o coração do Aikido, o caminho da Harmonia e do amor.

Kishomaru Ueshiba

Traduzido por Maria Imaculada de Araujo Walla

Fim de um ciclo. Novos caminhos.

Em 09 de fevereiro formalizei meu afastamento dos quadros da Nippon Kan Brasil. Considerando que as mudanças e novos paradigmas da organização demandam maior dedicação administrativa e política, acredito que minha participação seja neste momento muito restrita para o que se pretende (Tirar a Nippon Kan do patamar atual de pequeno grupo para um grupo maior e de maior estrutura). Na minha visão, batalhar por uma organização maior e mais estruturada demanda tempo e dedicação maior. Já ajudamos muito, mas os compromissos profissionais me impedem um pouco estar a frente no conselho NKB como estava. Mas fico tranqüilo, já que as pessoas que continuam a frente podem, com certeza, contribuir com o futuro da Nippon Kan Brasil melhor que eu possa no momento.

foto de exame de nidan em 2007
foto de exame de nidan em 2007

O Ganseki Dojo continua em seu trabalho e com suas aulas regulares apenas torcendo para que tudo dê certo com a Nippon Kan. Como caracteristica nossa, continuamos amigos dos alunos e instrutores da NKB e nos encontrando nos seminários e treinos em geral por aí para continuar a promover e incentivar esta arte marcial tão apaixonante, que permite tantas leituras e tantos caminhos a percorrer. A Nippon Kan Brasil e o Ganseki Dojo continuam a seguir e evoluir, não separados, mas em paralelo.

Feng Shui Interior

A bagunça é inimiga da prosperidade. Ninguém está livre da
desorganização.
A bagunça forma-se sem que se perceba e nem sempre é visível. A sala parece em ordem, a cozinha também, mas basta abrir os armários para ver que estão cheios de inutilidades.

De acordo com o Feng Shui Interior – uma corrente do Feng Shui que mistura aspectos psicológicos dos moradores com conceitos da tradicional técnica chinesa de harmonização de ambientes – bagunça provoca cansaço e imobilidade, faz as pessoas viverem no passado, engorda, confunde, deprime, tira o foco de coisas importantes, atrasa a vida e atrapalha relacionamentos.

Para evitar tudo isso fique atento às

REGRAS PARA DOMAR A BAGUNÇA:

1. Jogue fora o jornal de anteontem.

2. Somente coloque uma coisa nova em casa quando se livrar de uma velha.

3. Tenha latas de lixo espalhadas nos ambientes, use-as e limpe-as diariamente.

4. Guarde coisas semelhantes juntas; arrume roupas no armário de acordo com a cor e fique só com as que utiliza mesmo.

5. Toda sexta-feira é dia de jogar papel fora.

6. Todo dia 30, por exemplo, faça limpeza geral e use caixas de
papelão marcadas: lixo, consertos, reciclagem, em dúvida, presentes, doação. Após enchê-las, dê o destino apropriado.

7. Organize devagar, comece por gavetas e armários e depois escolha um cômodo, faça tudo no seu ritmo e observe as mudanças acontecendo na sua vida.

Veja uma lista de atitudes pessoais capazes de esgotar as nossas
energias. Conheça cada uma dessas ações para evitar a “crise energética pessoal”.

ATITUDES QUE DRENAM ENERGIA:

1. Maus hábitos, falta de cuidado com o corpo– Descanso, boa alimentação, hábitos saudáveis, exercícios físicos e o lazer são sempre colocados em segundo plano. A rotina corrida e a competitividade fazem com que haja negligência em relação a aspectos básicos para a manutenção da saúde energética.

2. Pensamentos obsessivos– Pensar gasta energia, e todos nós sabemos disso. Ficar remoendo um problema cansa mais do que um dia inteiro de trabalho físico. Quem não tem domínio sobre seus pensamentos – mal comum ao homem ocidental, torna-se escravo da mente e acaba gastando a energia que poderia ser convertida em
atitudes concretas, além de alimentar ainda mais os conflitos.

Não basta estar atento ao volume de pensamentos, é preciso prestar atenção à qualidade deles. Pensamentos positivos, éticos e elevados podem recarregar as energias, enquanto o pessimismo consome energia e atrai mais negatividade para nossas vidas.

3. Sentimentos tóxicos– Choques emocionais e raiva intensa também esgotam as energias, assim como ressentimentos e mágoas nutridos durante anos seguidos. Não é à toa que muitas pessoas ficam estagnadas e não são prósperas.

Isso acontece quando a energia que alimenta o prazer, o sucesso e a felicidade é gasta na manutenção de sentimentos negativos. Medo e culpa também gastam energia, e a ansiedade descompassa a vida. Por outro lado, os sentimentos positivos, como a amizade, o amor, a confiança, o desprendimento, a solidariedade, a auto-estima, a alegria e o bom-humor recarregam as energia e dão força para empreender nossos projetos e superar os obstáculos.

4. Fugir do presente– As energias são colocadas onde a atenção é focada. O homem tem a tendência de achar que no passado as coisas eram mais fáceis: “bons tempos aqueles!”, costumam dizer. Tanto os saudosistas, que se apegam às lembranças do passado, quanto aqueles que não conseguem esquecer os traumas, colocam suas energias no passado.

Por outro lado, os sonhadores ou as pessoas que vivem esperando pelo futuro, depositando nele sua felicidade e realização, deixam pouca ou nenhuma energia no presente. E é apenas no presente que podemos construir nossas vidas.

5. Falta de perdão– Perdoar significa soltar ressentimentos, mágoas e culpas. Libertar o que aconteceu e olhar para frente. Quanto mais perdoamos, menos bagagem interior carregamos, gastando menos energia ao alimentar as feridas do passado. Mais do que uma regra religiosa, o perdão é uma atitude inteligente daquele que busca viver bem e quer seus caminhos livres, abertos para a felicidade. Quem não sabe perdoar os outros e si mesmo, fica “energeticamente obeso”, carregando fardos passados.

6. Mentira pessoal-Todos mentem ao longo da vida, mas para sustentar as mentiras muita energia é gasta. Somos educados para desempenhar papéis e não para sermos nós mesmos: a mocinha boazinha, o machão, a vítima, a mãe extremosa, o corajoso, o pai enérgico, o mártir e o intelectual. Quando somos nós mesmos, a vida flui e tudo acontece com pouquíssimo
esforço.

7. Viver a vida do outro– Ninguém vive só e, por meio dos relacionamentos interpessoais, evoluímos e nos realizamos, mas é preciso ter noção de limites e saber amadurecer também nossa individualidade. Esse equilíbrio nos resguarda energeticamente e nos recarrega. Quem cuida da vida do outro, sofrendo seus problemas e interferindo mais do que é recomendável, acaba não tendo energia para construir sua própria vida. O único prêmio, nesse caso, é a frustração.

8. Bagunça e projetos inacabados– A bagunça afeta muito as pessoas, causando confusão mental e emocional. Um truque legal quando a vida anda confusa é arrumar a casa, os armários, gavetas, a bolsa e os documentos, além de fazer uma faxina no que está sujo.

À medida em que ordenamos e limpamos os objetos, também colocamos em ordem nossa mente e coração. Pode não resolver o problema, mas dá alívio. Não terminar as tarefas é outro “escape” de energia.

Todas as vezes que você vê, por exemplo, aquele trabalho que não concluiu, ele lhe “diz” inconscientemente: “você não me terminou! Você não me terminou!” Isso gasta uma energia tremenda.

Ou você a termina ou livre-se dela e assuma que não vai concluir o trabalho. O importante é tomar uma atitude. O desenvolvimento do autoconhecimento, da disciplina e da terminação farão com que você não invista em projetos que não serão concluídos e que apenas consumirão seu tempo e energia.

9. Afastamento da natureza– A natureza, nossa maior fonte de alimento energético, também nos limpa das energias estáticas e desarmoniosas. O homem moderno, que habita e trabalha em locais muitas vezes doentios e desequilibrados, vê-se privado dessa fonte maravilhosa de energia.

A competitividade, o individualismo e o estresse das grandes cidades agravam esse quadro e favorecem o vampirismo energético, onde todos sugam e são sugados em suas energias vitais. Posicionar os móveis de maneira correta, usar espelhos para proteger a entrada da casa, colocar sinos de vento para elevar a energia ou ter fontes d’água para acalmar o ambiente são medidas que se tornarão ineficientes se quem vive neste espaço não cuidar da própria energia.

Portanto, os efeitos positivos da aplicação do Feng Shui nos
ambientes estão diretamente relacionados à contenção da perda de energia das pessoas que moram ou trabalham no local. O ambiente faz a pessoa, e vice-versa.

A perda de energia pessoal pode ser manifestada de várias formas, tais como: o falha de memória (o famoso “branco”); o cansaço físico, o sono deixa se ser reparador; o ocorrência de doenças degenerativas e psicossomáticas.

Para economizar energia, o crescimento pessoal, a prosperidade e a satisfação diminuem, os talentos não se manifestam mais por falta de energia, o magnetismo pessoal desaparece, medo constante de que o outro o prejudique, aumentando a competição, o individualismo e a agressividade, falta proteção contra as energias negativas e aumenta o risco de sofrer com o “vampiro energético”.

Mentalize que, quando todos colocarem essas regras em prática, o mundo será mais justo e mais belo. Vamos tentar melhorar nossa energia pessoal. Atitudes erradas jogam energia pessoal no lixo.

S.Bernardelli

Vinte anos a documentar a vida de um homem

Traduzido por Pedro Escudeiro.

Poucas pessoas saberão tanto sobre a história do Aikido como Stanley Pranin. Além disso, ninguém tem sido mais importante na procura de dados precisos da história do Aikido como ele. O Aikidonytt encontrou Stanley para uma entrevista fora do Dojo de Iwama, no final de Maio, depois de uma sessão de fotografias com Saito Sensei para o seu novo volume da série Takemusu Aikido.

Como editor-chefe de Aiki News do Aikido Journal ele tem, há mais de vinte anos, documentado a vida de Morihei Ueshiba, fundador do Aikido. Stanley Pranin é conhecido pelo seu cuidado nos detalhes e precisão. Apesar da sua pesquisa, de tempos a tempos, lhe causar problemas, uma vez que as suas descobertas às vezes contradizem a história oficial do Aikido, o seu profundo conhecimento é muito respeitado por toda a comunidade do Aikido.

Qual era o seu objectivo quando iniciou o Aiki News em 1974?

O que aconteceu foi que, uns anos antes, consegui obter alguns documentos japoneses que eram uma série de um jornal que falava acerca da vida de O´Sensei. Como não havia uma tradução deles em inglês, então, com um amigo japonês traduzimos os dezassete artigos. Mostrei-os a algumas pessoas e toda a gente os queria, por isso, começámos a fazer umas cópias mimeográficas deles. Está a ver as máquinas desse tempo, e começámos a dá-los e as pessoas ficaram muito contentes. Sempre gostei de escrever e decorriam alguns eventos na área norte da Califórnia, por isso pensei, Bem, vamos fazer um pequeno boletim. Usámos os artigos de O´Sensei como a parte principal e depois algumas notícias locais daquela área. Escrevi um curto editorial e de vez em quando as pessoas enviavam alguns artigos; e por vezes vinha algum mestre japonês, fazíamos uma entrevista e era colocada lá. Começou a partir daí. Era apenas um passatempo. Era como uma forma de distribuir o que tinha vindo a pesquisar privadamente a uma audiência mais vasta.

O que considera ter atingido com o seu trabalho?

Consegui foi arranjar uma data de problemas! (Risos) Penso que mostrámos convincentemente em termos históricos que há uma grande ligação entre o Daito-ryu e O´Sensei e entre a religião Omoto e O´Sensei. Tentar removê-lo desse contexto é prestar um péssimo serviço e tornar muito difícil saber quem O´Sensei era, de que forma ele fora original e o que conseguiu atingir. Isso, e conseguimos historicamente documentar a posição de Saito Sensei dentro do contexto histórico do Aikido. Para além de ser talentoso, aconteceu que estava no local certo, na altura certa. Caso não estivesse empregado nos Caminhos de Ferro, não estaria aqui. Se tivesse um emprego de escritório das nove às cinco, e depois a sua família , nunca poderia ter treinado tão seriamente. Descobrimos algumas coisas históricas que são provavelmente interessantes só para as pessoas que gostam de detalhes. Havia uma ligação forte entre a família Inoue e a Ueshiba. Há uns setenta ou oitenta anos atrás. Há bastante tempo mesmo, isso foi muito, muito importante nos primeiros tempos do treino de O´Sensei. Eles promoveram-no e assistiram-no de muitas formas.

Como seria a história do Aikido sem o Aiki News?
Leia os livros do Aikikai e do Yoshinkan e saberá. O Doshu escreveu uma biografia de O´Sensei que foi publicada, creio que em 1977, e ficou para imprimir durante dois ou três anos. Contém bastante informação histórica importante e informação que inclui coisas da sua experiência de ser filho. Contudo, temos que nos lembrar que O´Sensei historicamente teve quezílias e desavenças com várias pessoas. Apesar de terem havido pessoas importantes a apoiar as suas actividades, ou membros familiares como os Inoue ou as desavenças com o Daito-ryu, havia uma tendência que pretendia fazer com que estas coisas nunca se tivessem passado nos últimos anos. Eles queriam basicamente não mencionar tais coisas. Podemos compreender isto do ponto de vista da natureza humana. Mas, como um historiador, se eliminarmos o Daito-ryu ou a família Inoue teremos uma concepção totalmente distorcida do que é o Aikido e de como veio a ser. Temos que pôr O´Sensei no seu contexto histórico para que possamos compreender quão grandioso ele foi ou quão significativa foi a coisa que fez criando o Aikido. O que é o Aikido? Será uma arte marcial completamente original ou será apenas um Daito-ryu repassado, o que será? Não poderemos dizer a menos que estudemos estes assuntos históricos. Não teremos bases para apreciar o que ele fez.

Fazia alguma ideia da dimensão que o Aiki News iria ter quando começou?

Não, creio que não sabia o que ia fazer. Tive um dojo durante algum tempo. Fui levado pelo facto de querer saber mais sobre O Sensei. Quando vim ao Japão pela primeira vez em 1969 comecei a procurar alguma informação e não cheguei a lado nenhum. Muito poucas pessoas quiseram cooperar comigo. Não havia quase nada também em japonês. Ninguém tinha feito pesquisa. O Sensei tinha acabado de morrer e os japoneses não pareciam levar muito a sério a pesquisa. Então, assim que me interessei e descobri algo, encontrei mais e tornou-se mais interessante e quis continuar.

Quais são os seus planos futuros para o Aiki News?

Documentar qualquer aspecto da vida de O Sensei que possa. Isso significa documentar o Daito-ryu em profundidade. Iremos publicar uma tradução em inglês da biografia de Onisaburo Deguchi este ano. Publicar o maior número de volumes desta série técnica com Saito Sensei que ele queira. Um dia gostaria de publicar uma série técnica do Daito-ryu. Há vários outros mestres que levaram o Aikido noutras direcções. Pessoalmente, não pratico os seus estilos, mas admiro e respeito estes professores. Gostaria de fazer algumas coisas com eles porque penso que o que eles fazem merece a pena. E depois, após uns anos, espero escrever uma biografia de O Sensei que vai ser séria, e uma vez que vou ser eu próprio a publicá-la não haverá um editor a dizer-me o que posso ou não fazer, ou que está muito longo ou detalhado. Farei apenas o que quiser fazer. Estou a pensar mais em quando eu morrer, o que posso deixar para trás.

Pode explicar a razão mais específica desta série de livros com Saito Sensei, para a que temos estado a tirar fotografias hoje?

Como tenho expresso nos meus editoriais ou no volume um desta série, Saito Sensei, grandemente devido a um acidente histórico, teve uma oportunidade realmente única de estudar com o Fundador em pormenor, mais do que qualquer um. Ele recebeu tanta instrução técnica directa do Fundador e como a sua mente é muito metódica, então foi capaz de classificá-la e explicá-la de uma forma que é muito, muito mais fácil de compreender. Assim, ao preservar as técnicas de Saito Sensei é a seguinte melhor coisa para preservar as técnicas de O Sensei. Não há qualquer outro mestre com quem eu possa trabalhar que saiba deste assunto com esta profundidade, que possa explicá-lo claramente ou que tenha visto O Sensei por um tão longo período de tempo e que tenha visto as alterações nas suas técnicas.

Neste momento estamos no Dojo de Iwama. Qual é a importância deste local para o desenvolvimento do Aikido, do seu ponto de vista de historiador?

É provavelmente o local onde O Sensei mais podia relaxar. Onde se sentia mais confortável nos seus últimos anos. Ele viajou para Tóquio, Osaka, Tanabe e Shingu, mas a sua casa era aqui. A sua casa em Tóquio tornou-se mais a casa do actual Doshu (Nidai-Ed.) do que a casa de O´Sensei. É claro que ele podia ficar lá, mas Iwama era basicamente o seu lar e, enquanto viajava, a sua mulher Hatsu estava aqui. Ela não estava assim tanto em Tóquio. A partir de 1942 esta era basicamente a sua casa. O Dojo manteve este sabor antigo. Não é um prédio de cimento moderno. As redondezas são muito bonitas e temos ali o Sanctuário do Aiki e para O Sensei o aspecto espiritual era muito importante. É um local muito especial e, provavelmente, depois da guerra, a única casa que O Sensei teve. Provavelmente, as pessoas de Tóquio vêem de uma forma diferente, mas é assim que eu o vejo.

O’Sensei passou a maioria do seu tempo aqui em Iwama quando desenvolveu o seu Aikido e como afirmou num dos seus editoriais o Aikido ensinado no Hombu Dojo foi desenvolvido por Tohei Sensei e pelo Doshu. Como foi possível que ocorresse tão grande diferença no desenvolvimento do Aikido?

Alguns anos atrás teria muita dificuldade em responder a esta questão. Basicamente, por falar com muitas, muitas pessoas e de ponderar sobre estas coisas durante anos e anos, cheguei a uma conclusão sobre isto. Tentei explaná-la num dos meus editoriais. Se analisarmos por quanto tempo as pessoas de grande nome estudaram com O Sensei, e por grande nome refiro-me a Doshu, Tomiki, Mochizuki ou Shioda, descobriremos que treinaram por um relativamente curto período de tempo. Devido à altura em que foram treinados , receberam alguma instrução, e depois foram enviados como professores, talvez depois de seis meses ou um ano. O próprio O Sensei ia viajando, portanto, não era como se estivessem a ter uma dieta de treino constante da parte do Mestre numa base diária. Quando vimos treinar em Iwama, Saito Sensei ensina uma ou duas vezes ao dia, excepto quando viaja. Mas naqueles tempos era como se viéssemos para aqui e depois de uns quantos meses fossemos para Mito ou Tsuchiura duas ou três noites por semana para ensinar. Numa tal situação em que estamos envolvidos no ensino, a quantidade de instrução que recebemos pessoalmente é limitada. Uma vez que a arte estava na sua infância e mais tarde por causa da guerra, a carreira de muitas pessoas que eram bastante talentosas foi interrompida. É claro que durante a guerra não se passava nada, e depois da guerra O Sensei estava aqui. Ele era já um homem idoso e estava retirado, por isso, as figuras principais em Tóquio eram Koichi Tohei e o actual Doshu. Não há dúvida sobre isso. Tohei era aquele que tinha o carisma, que era forte, treinou ainda por um tempo razoável com O’Sensei , viajou para o estrangeiro, falava inglês, escreveu livros. Era o ideal de toda a gente. Mesmo no Hombu Dojo muitos dos professores seguiram-no. Tohei Sensei estudou com o Tempukai. Portanto, muitos membros do Aikikai entraram para o Tempukai também. Ele detinha uma grande influência. Na mesma altura ele estava fora bastante, no Hawai, portanto, o Doshu e pessoas como Tada Sensei e Yamagushi Sensei tinham uma certa influência e alguns seguidores. Mas Tohei era a corrente principal. Ele era o shihan bucho, o instrutor chefe e o principal do grupo de instrutores. Depois da morte de O Sensei, Kisshomaru Ueshiba tornou-se Doshu e Tohei deixou o dojo em 1974, e veio a era do Doshu. Ele queria tornar as técnicas mais fáceis de compreender e menos estilo jujutsu, mais redondas e circulares. Agora está iniciada a gestão para o seu filho Moriteru, mas a sua influência não é O Sensei. Não é Saito Sensei ou Tohei Sensei, é o seu pai. E estão a remodelando o que é o Aikido em relação à sua imagem, penso que é da natureza humana. Contudo, está cortada das suas raízes históricas, da forma como eu vejo.

O Sensei estava consciente das diferenças que se desenvolviam no mundo do Aikido?

Temos que entender que O Sensei vivia de certa forma num mundo de sonho. Via-se a ele próprio como um veículo dos vários kami. Tohei Sensei diz, por exemplo, que O Sensei dizia qualquer coisa e os seus alunos diriam, Sensei, desculpe, não percebo, e ele diria, Não tem importância, eu também não entendo o que estou a dizer. Tohei Sensei diz isto para criticar O Sensei. O Sensei pensava só em como unificar com o universo. O seu vocabulário e o seu ponto de vista eram grandemente modelados pela religião Omoto. É uma religião Shinto, uma religião Xamanística e ele estava noutro mundo. Não estava interessado em organizações. Mesmo quando era jovem nunca organizava coisas. Deixava isso para outras pessoas. Ele estava interessado em treinar-se, fazer a sua meditação, a sua relação com Deus. Penso que se aborrecia se visse as pessoas a fazer coisas que ele considerava serem de um nível vulgar. Nos termos actuais acharíamos que ele era muito estranho ou excêntrico. E na altura ele era um ancião e depois da guerra já estava nos finais dos seus sessenta.

O que acha que vai acontecer no mundo do Aikido no futuro? Como se irá o Aikido desenvolver?

Uma coisa boa do Aikido é que está a difundir-se internacionalmente e que há pessoas que estão a trazer o seu treino de outros campos e outras ideias. Portanto, iremos encontrar o Aikido como fazendo parte de outras disciplinas. Talvez a principal parte ou talvez como complemento. Penso que certas pessoas desenvolverão o Aikido mais como um sistema de saúde. Poucos farão um estilo mais duro. Irá apenas dirigir-se em muitas direcções. Nalguns aspectos é forte, pois tem algumas figuras carismáticas e as pessoas tendem a praticar Aikido por mais tempo que outras artes marciais, porque não há competição. Há mais uma relação harmoniosa e é atraente para pessoas com um intelecto mais elevado. Se for Karate ou qualquer coisa parecida, há a tendência de serem homens novos que praticam por uns anos e depois saem. Mas no caso do Aikido, as famílias podem fazê-lo e pode-se praticar por vinte, trinta, quarenta anos e nos nossos cinquenta ou sessenta ainda podemos ter uma boa prática. Poderemos fazer um Judo competitivo aos sessenta, ou Kendo? Não muito frequentemente. Vai-se definir a si próprio e depois espalhar-se por todo o lado.

Qual é o seu conselho para todos os aikidoka na Suécia?

Façam-no à vossa própria imagem e façam o melhor que puderem. Devido ao meu carácter pessoal, gostaria de lhe adicionar outros elementos porque tenho outros interesses externos. Não é o meu papel necessariamente preservar o Aikido de O Sensei como praticante. Faço-o mais como académico. Saito Sensei tem este papel. Ele tem que cuidar da casa e do dojo de O Sensei . Ele tem a sua missão na vida. Hitohiro Sensei, o filho de Saito Sensei, tem a sua missão na vida. A minha é um pouco diferente. Eu encorajo as outras pessoas a investigar e se encontrarem alguém melhor que O Sensei que aprendam com ela. Se não puderem, pelo menos eduquem-se a vocês mesmos em saberem quem era e o que fez. Não têm que tentar fazer o Aikido que ele fazia, mas pelo menos compreendam de onde ele vinha. Então, adquiram a vossa base de seja qual for a versão de Aikido que estejam a fazer e façam algo de grandioso a partir dele.

Como se irá desenvolver o Aikido da escola de Iwama , e qual é a sua missão?

Somos uns afortunados por o sucessor de Saito Sensei ser tão talentoso e leal. Nem sempre acontece assim com os sucessores. Tenho realmente muitas esperanças. Ele vai-se expandir mais e mais, porque contém tanta essência dentro dele. Tem tanto conteúdo, que se pode passar várias vidas a estudar o estilo Iwama. Espero que não venha a haver nenhum movimento no sentido de uma estrutura organizacional rígida, porque essa tem os seus próprios problemas. Se Iwama se concentrar em preservar o Aikido de O Sensei e em disseminar a arte, e na prática das próprias técnicas, em vez de criar uma estrutura hierárquica, penso que o Aikido de Iwama estará muito bem.

Muito obrigado pelo seu tempo e pelo seu bom trabalho com o Aiki News.

Kashima Shinto-Ryu

por Meik Skoss
Aiki News #99 (1994)
Traduzido por Nelson Wagner Santos

Às vezes é muito difícil saber em quem acreditar ou o que pensar quando aqueles numa posição de saber não podem, ou não dão à informação exata. Um caso sobre este ponto foi quando eu comecei a perguntar para alguns de meus professores e seniores sobre os antecedentes técnicos e influências históricas no desenvolvimento do aikido. O jujutsu do Daito-ryu é sentido geralmente como a base para técnicas desarmadas, mas as técnicas de armas vistas geralmente na arte foram atribuídas a um número de fontes. A maioria das pessoas com quem eu falei o pensa que o trabalho com espadas foi derivado do Yagyu-ryu ou do Yagyu Shinkage-ryu e que o uso do bastão vieram do Hozoin-ryu. Algumas pessoas eram enfáticas em dizer que todas as técnicas no aikido eram inteiramente criações do fundador da arte, Morihei Ueshiba. Depois que eu comecei a estudar o kobudo (artes marciais clássicas) eu mesmo e me tornei familiar com as características de muitos dos koryu diferentes (tradições marciais clássicas, escolas, ou estilos das artes), eu fui muito surpreendido ao ver que as armas que treinam seqüências mais frequentemente associadas com aikido de Ueshiba se assemelharam mais claramente àquelas do Kashima Shinto-ryu. Em todas as minhas conversas com professores e seniores nos dojos do aikido onde eu treinei ou visitei, eu nunca ouvi o nome deste koryu mencionado; as pessoas com quem eu falei confessaram a ignorância ou negaram qualquer conexão, e eu nunca recebi uma explanação satisfatória.

Logo depois que eu levantei estas questões, em 1978 ou 79, eu visitei o dojo do falecido Mestre Koichiro Yoshikawa, 64º Grão Mestre do Kashima Shinto-ryu. Responderam graciosamente muitas perguntas sobre a história e as técnicas do ryu. Além disso, mostrou-me um registro das pessoas que tinham entrado no Kashima Shinto-ryu e tinham feito keppan (literalmente “selo de sangue,” assinando o registro e selando-o com seu próprio sangue como amostra de sinceridade e intenção séria) datados de antes da Segunda Guerra Mundial. Adivinhem fãs do esporte? Um dos nomes no registro era o de Morihei Ueshiba, junto com o de Zenzaburo Akazawa, seu deshi. Foi-me dito que um monte de alunos da Kobukan, incluindo Morihei Ueshiba, estudou por um período de vários anos. Mais uma vez, quando eu trouxe à tona o assunto do Kashima Shinto-ryu e sua influência no aikido, diversas pessoas do aikido, incluindo um dos instrutores mais antigos no Aikikai, me asseguraram que eu estava confundido. A única ligação que eu poderia fazer era esta: a) Eu posso ler japonês, e b) eu vi o registro com meus próprios olhos (se pode discutir com um professor e seniores em inglês sem parecer impertinente, mas é quase impossível fazer algo assim no contexto japonês). Mais tarde, eu mencionei tudo isto a Stan Pranin, editor da Aiki News, e ele tinha estabelecido isto e muitos outros detalhes contundentes não publicados previamente do treinamento de Morihei Ueshiba nas artes marciais clássicas e a influência dos koryu em cima do desenvolvimento do aikido moderno. Muito mais trabalho, entretanto, permanece para ser feito.

Kashima Shinto-ryu é uma das tradições marcial mais antiga do Japão. Seus membros seguem a história do ryu há seiscentos anos até Kuniazuno Mabito, considerando ele ser o shiso, ou o progenitor, do original Ichi no Tachi ou Kashima no Tachi. Mesmo se alguém datar a história da tradição para época de Tsukahara Bokuden (Nascido. 1489), que é considerado por membros do Shinto-ryu ser o verdadeiro ryuso (fundador), há uma linha de sucessão direta contínua que dura mais de quinhentos anos.

Kuniazuno Mabito era um antepassado direto de Bokuden. Foi indicado para o cargo de curador, ou guardião, do Grande Templo do Kashima. Uma de suas responsabilidades era a manutenção da paz e da ordem dentro dos recintos do templo (o domínio manorial do Templo pode ser uma descrição mais exata; ele é grande atualmente, mas foi um dos latifundiários principais na região inteira e de exercia grande poder). Um espadachim notável, Mabito criou um grande corpo de técnicas e de métodos de treinamento e ensinou muitos estudantes que serviram como a guarda do Templo. Seus descendentes foram os Yoshikawa Urabe. Serviram como adivinhos assim como curadores do Templo, e fornecer a segurança armada transformou-se em um de seus deveres hereditários. Bokuden nasceu nesta família, mais tarde transformando-se em um yoshi, ou genro adotado do clã de Tsukahara.

Bokuden é frequentemente citado como kensei. Traduzido literalmente, a palavra significa a “santo da espada,”, mas ela significa mais corretamente um espadachim que transcendeu as técnicas meramente físicas e penetre à essência da esgrima, um cuja arte imbuída com uma dimensão espiritual extraordinária. Bokuden aprendeu o Katori Shinto-ryu de seu pai adotivo e aperfeiçoou mais tarde suas habilidades realizando o musha shugyo (treinamento ascético do guerreiro), viajando durante todo Japão e treinando com a maioria dos expoentes hábeis, conhecidos de seu tempo. Sistematizando mais tarde o ensino das artes marciais locais da área de Kashima. Após ter recebido uma inspiração divina de Takemikazuchi-no Kami, a divindade do Templo Kashima, “kokoro arata ni koto ni atare” ([aqueles] que mantém a mente de um novato [perspectiva nova; uma mente aberta à mudança], terá sucesso [pode confrontar/negociar, lidar com] em qualquer coisa), Bokuden pegou os dois caracteres (kanjis) para o novo e suceder, junto com o nome do Templo e deu um nome formal a seu sistema: Kashima Shinto-ryu.

O Kashima Shinto-ryu foi formado durante o Sengoku Jidai (idade de estados guerreiros), quando o país inteiro estava envolvido em uma série de guerras pelos senhores feudal que disputavam o controle militar e político. Suas técnicas são baseadas naturalmente nas experiências ganhas no campo de batalha e refletem a maneira em que se luta quando paramentado com a armadura da época o domaru e o gusoku yoroi. Os movimentos são dirigidos contra ao que seriam os pontos fracos ou as aberturas na armadura, particularmente as superfícies internas dos braços e dos pés e a área entre o peitoral e o pescoço ou as coxas. Muitas técnicas incorporam o atemi, golpeando com o pomo ou as costas da arma, para nocautear, ferir ou imobilizar o oponente. Os movimentos são grandes e parecem relativamente lentos nas técnicas projetadas para combate com armadura. As técnicas para o combate quando vestidos com roupas comuns ou somente protegidas mìnimamente pela armadura foram desenvolvidas mais tarde, e são, mais rápidas, menores e imperceptíveis, e alvejam um grande número de áreas no corpo do inimigo. O aprendizado esta centralizado na espada, mas incluem a lança (yari), o bastão (Jô e bô) e a alabarda (naginata).

Geralmente falando, os kamae (posturas de combate) no Kashima Shinto-ryu são enraizados, com os pés bem separados e o corpo um tanto abaixado (mi wa fukaku atae). Isto fornece uma base contínua, estável para os movimentos em campo aberto e ajuda para movimentos poderosos. A postura psicológica ou intenção do praticante de Kashima Shinto-ryu é agressiva (kokoro wa itsumo kakari nite ari), mas o corpo é mantido em uma maneira atenta, sem brandir a espada para o inimigo (tachi wa asaku nokoshite). Expondo-se ligeiramente para eliciar um ataque ou sondar a habilidade física do oponente e o estado mental (saguriuchi), podendo derrotar o oponente utilizando suas fraquezas.

O omote no tachi é compreendido de doze técnicas executadas com o bokuto reto, como de armadura. O primeiro destes, ichi no tachi, é quase idêntico a um exercício do mesmo nome ensinado por Morihiro Saito. O Ni no tachi do Kashima Shinto-ryu tem diversos elementos em comum com seqüência de treinamento do Saito, como san no tachi, mas há um número de diferenças também. Eu acredito que as diferenças refletem os ensinamentos que Saito recebeu de Ueshiba, e é relacionado à finalidade do treinamento da espada do aikido ao contrário daquele da esgrima clássica. Em todo o caso, foi observando o omote no tachi waza do Kashima Shinto-ryu que acendeu meu interesse nas conexões entre esta tradição clássica e o desenvolvimento do aikido.

Além do omote no tachi>, há um total de dezessete técnicas no chu gokui. Embora possam ser feitos com bokuto, é executada geralmente usando o fukuro shinai, uma espada do treinamento feita de bambu rachado encerrado em um saco do couro ou de lona. Esta arma permite que os praticantes experimentem o treinamento aplicado com mais segurança, porque o impacto do shinai não causa ferimento sério. A maioria das técnicas envolve treinar de encontro a um outro espadachim, mas diversas delas envolvem respostas à lança e a alabarda. O kojo okui jukka no tachi é uma série de dez técnicas com as espadas longas e curtas, sozinhas ou em conjunto, usando espadas de metal. Se as espadas forem reais, com bordas afiadas, esta pode ser chamada como habiki; na prática, entretanto, as espadas com (sem corte) bordas rebatidas (mugito) são usadas geralmente. O Tonomono tachi é uma seqüência de doze técnicas que concentram em aspectos sutis e dos princípios da esgrima. Há oito bojutsu kata, dando ao estudante do Kashima Shinto-ryu o completo conhecimento no uso do rokushakubo (bastão de madeira de seis pés). A parcela de sojutsu (lança) do currículo contém mais de trinta exercícios, e inclui técnicas com e de encontro ao kamayari (lança com gancho, lança com barra transversal), e a naginata (alabarda), assim como o bajo sojutsu (uso da lança quando montado a cavalo). Finalmente, há vinte e seis battojutsu, técnicas de sacar a espada. Incluem técnicas simples para sacar e cortar, lidando com oponentes múltiplos, e ataques de surpresa.

Atualmente, os treinos ocorrem somente uma vez por semana durante a maior parte do ano. Em janeiro, durante a parte mais fria do inverno, entretanto, a prática é feita diariamente. Os alunos variam de meninos na adolescência a diversos homens na casas dos oitenta anos. Como são comuns com a maioria dos koryu, as licenças ao invés da graduação de Dan (dan-i) são concedidos, indicando o grau de proficiência alcançado e a quantidade do currículo que se estudou. A permissão para ensinar é dada somente após ter alcançado um determinado nível, e somente com a autorização expressa do Grão Mestre do ryu. Atualmente, quatro homens da Inglaterra se juntaram ao ryu e treinaram-no por um período de tempo considerável antes de retornar para casa. Os estudantes de Aikido interessados em aprender mais sobre as raízes técnicas de sua arte podem considerar as possibilidades de treinar nesta tradição clássica.

Copyright ©1993 Meik Skoss. Todos os direitos reservados.

Meik Skoss começou a treinar artes marciais em 1966 em Los Angeles, quando se juntou ao dojo de aikido de Takahashi Isao. Foi ao Japão em 1973 continuar treinando o aikido e o iaido de Muso Jikiden Eishin-ryu com Hikitsuchi Michio. Após mudar-se para Tokyo em 1976, Skoss começou seu estudo do jojutsu de Shinto Muso-ryu com o Shimizu Takaji, um naginatajutsu de Toda-ha Buko-ryu com o naginatajutsu de Muto Mitsu, e do Tendo-ryu com Sawada Hanae, bem como continuar a praticar o aikido no Dojo do Aikikai Hombu. Foi também nesta época que começou a trabalhar com Donn F. Draeger e acompanhou o mestre hoplologista em um número de viagens a campo no Sudeste Asiático. Em 1979 começou a estudar o battojutsu sob o Grão Mestre da 21ª geração, Yagyu Nobuharu Toshimichi do Yagyu Shinkage-ryu heiho/kenjutsu e de Yagyu Seigo-ryu. Praticou também o judo, tai-chi chuan, karatedo do estilo Goju-ryu e, além do koryu acima, atualmente treina judo, atarashii naginata e jukendo. Skoss possui a graduação de 4º Dan de aikido (Aikikai), 5º Dan de jodo de Zen Nihon Kendo Renmei, 5º Dan de Jukendo, 3º Da de Tankendo, 2º Dan de atarashii naginata, okuden mokuroku e shihan licenciado em naginatajutsu do Toda-ha Buko-ryu, e sho-mokuroku no jojutsu de Shinto Muso-ryu. É um dos inúmeros hoplologistas que continuam o trabalho de Donn F. Draeger e viajou por todo o Japão para visitar muitos koryus e os dojos modernos de budo para coletar as informações em artes marciais japonesas. Atualmente reside em New Jersey, e com sua esposa ensinam o jojutsu, o kenjutsu e o naginatajutsu em um dojo em Madison. Pode ser encontrado no e-mail: mskoss@koryubooks.com

Curvando-se à Realidade

por David Lynch

Aikido Journal #116 (1999)
Traduzido por Jefferson Bastreghi

Parece incrivelmente óbvio, contudo eu me deparo continuamente com pessoas que parecem incapazes de dizer a diferença entre treinar e lutar.

Alguns insistem, por exemplo, que você deveria manter seus olhos fixos no seu parceiro enquanto se curva, para o caso de você ser golpeado na nuca, receber uma joelhada no rosto, ou sujeitar-se a algum outro ataque covarde.

Espanta-me minha imaginação, entretanto, de que alguém se curvaria em uma briga real – deixando-se de lado se “briga” é a palavra certa para se dirigir ao Aikidô – então eu não posso entender de onde estas pessoas estão vindo. A menos, é claro, que esta é uma questão de manter algum código arcaico de honra no qual combatentes se curvam uns aos outros antes de se atracarem em uma luta de vida ou morte.

Em uma versão contemporânea, isto envolveria um floreio elaborado do boné de baseball: “Fred Bloggs, da nobre família Bloggs, a seu serviço, Senhor. Permita-me a honra de uma luta até a morte. Canivetes ou correntes de bicicleta? A escolha é sua.” Eu acho ridículo confundir treino no dojô, isto é, aprender as técnicas e os princípios por trás delas em um ambiente seguro com um parceiro cooperativo, com alguma espécie de vale-tudo.

No dojô, cortesias são observadas, linhas são traçadas, e é entendido por todos os participantes (de fato?) que você está treinando, não lutando. De qual outro modo você aprenderia técnicas potencialmente mortais? De qual outro modo compreenderíamos os princípios mentais e espirituais da arte?

Se treinar no dojô é suposto a se igualar a uma “luta real” haveria pouco sentido em usar um uniforme e treinar com os pés descalços no tatame, usando (pior ainda) formas de ataque pré-arranjadas. Que irrealista!

Poderia ser que a confusão sobre isto vem do fato que tantas artes marciais se tornaram esportes competitivos? Ou é porque a indústria cinematográfica de Hong Kong tem saturado tanto a mente do público com cenas de heróis e vilões esbanjando força bruta para provar qual dojo é o melhor, que esta imagem celulóide se tornou a única a que algumas pessoas se relacionam?

A etiqueta no dojô é levada a sério no Aikidô, e curvar-se é considerado uma parte importante disso, complementar ao aspecto marcial. O ato de se curvar originou-se, como o aperto de mão, como um gesto de respeito e confiança. Curvar-se com nada além de desconfiança no seu coração seria negar completamente este significado. Seria também extremamente má conduta, e realmente não entendo a lógica daqueles que insistem em fazer isso. Estou aberto a correções, mas eu sinto que este é outro exemplo de uma atitude competitiva mal-orientada, o que é particularmente inapropriado ao treinamento do Aikidô. Nós vemos isso também naquelas pessoas que continuamente resistem a técnicas.

De onde vem esta necessidade desesperada por “realismo”? Parece ser um desenvolvimento moderno, julgando-se sua completa ausência nas formas antigas de treinamento, incluindo aikijujutsu.

Eu não tenho grande experiência de “luta de rua” (estou geralmente no meu carro quando saio nas ruas!), então pode haver algo que eu não esteja compreendendo. A visão que há muitas pessoas sórdidas, não-confiáveis “lá fora” pode sustentar esta abordagem negativa ao treinamento. Mas desconfiança constante ao companheiro seria um modo muito patético de vida – ou melhor, modo de morte – e a sociedade certamente ainda não atingiu aquele nível sombrio.

Treinamento em “estar atento” (uma idéia com tantas interpretações quanto ela tem advogado) é importante, mas isto não depende somente dos olhos. Na verdade, muitos mestres de budô instruem especificamente os seus estudantes a não olharem diretamente nos olhos dos seus oponentes. Eu não vejo conflito entre treinamento cooperativo no Aikidô e treinamento em “estar atento”. Ao invés de competir uns com os outros, nós deveríamos tentar aumentar nossa atenção durante o treino para que cada movimento nosso se torne vivo e não apenas uma repetição mecânica.

Aprendizado repetitivo de técnicas poderia levar a reações não apropriadas em algumas situações (o que é o porquê nós somos alertados a não ficarmos presos na forma), mas não posso imaginar alguém indo tão longe a ponto de automaticamente curvar-se a um agressor seriamente intencionado a machucá-lo. Há uma piada sobre o vilão, preso seguramente em uma chave de pulso por um oficial de polícia, que sinaliza com o sinal ortodoxo de submissão do dojô batendo com sua mão livre, e imediatamente foge quando o oficial reflexivamente solta sua pegada. Parece possível, embora improvável, que tais hábitos de treino poderiam se mostrar no momento errado.

Devo admitir, entretanto, que uma vez fui beneficiado por uma ação reflexiva similar em um campo de treinamento, onde eu fui “atocaiado”. No dia final do campo, voluntários pisaram no tatame para lidar com múltiplos ataques por diversos números de ukes. Quando foi minha vez, alguém tinha secretamente espalhado a palavra e o grupo inteiro de umas cinqüenta e tanto pessoas levantaram-se simultaneamente e começaram a me atacar. Depois de uns poucos segundos evitando os primeiros, eu soltei um alto kiai, da variedade “hai, iiiiii….” e preparei-me para encontrar meu destino. Eu pensei que pelo menos iria tombar lutando.

Para o meu espanto, todos repentinamente pararam de me atacar, ajoelharam-se e curvaram-se respeitosamente. Aparentemente eles acharam que eu tinha gritado “Yame!” (“Pare!”), este foi o kiai mais efetivo que eu poderia ter desejado, embora eu me senti um pouco tolo quando a oposição esmagadora repentinamente se evaporou.

Nós somos criaturas de hábito – produtos, sem dúvida, de nosso ambiente, do qual não é fácil nos separarmos.

Observei este fato recentemente, de um ângulo diferente, quando eu questionei um instrutor japonês de elevado ranking sobre como ele aplicava seus 40 e poucos anos de Aikidô em sua vida diária.

Suas respostas foram fascinantes: “Quando eu fico bêbado, eu volto para casa e faço exercícios de respiração aiki para reduzir a ressaca da manhã seguinte.” E: “Eu tenho acumulado altas dívidas, mas meu treino tem me capacitado a ser filosófico sobre isto, enquanto que uma pessoa comum (não treinada) iria provavelmente ficar doente de preocupação.”

Aparentemente, não ocorreu a este sensei usar seu conhecimento para ficar sóbrio ou para gerenciar melhor suas finanças. Seu ambiente evidentemente ainda assim exerceu uma influência considerável sobre ele. É mais fácil ver isto nos outros, é claro, do que em nós mesmos.

Entrevista com Pat Henricks (imperdível para aikidoistas do sexo feminino)

Pat Hendricks no Aiki Expo 2002

Ikuko Kimura: O Quanto você está curtindo o Expo?

-Pat Hendricks: Isso é mais do que eu esperava, existe muito talento aqui, não são somente os professores, que são fantásticos, mas muitas pessoas que são realmente de alto calibre. Eu não pensei que veria algum evento em toda a minha carreira nas artes marciais igual a este.

-Eu escutei dizer que você treinou muito para se preparar para essa demonstração?

-im, meus três alunos no qual todos são realmente excepcionais, e eu temos feito juntos demonstrações em outros eventos de artes marciais. Então primeiramente eu pensei ,

“Nós temos nosso padrão de demonstração. Nós podemos mudar isso um pouco”. ” Mas aí eu senti que esse evento era tão importante que eu quis me dedicar mais nele e ajudar a fazer ele ser mais especial do que merecia ser.

Quantos alunos você trouxe ?
-ito uchideshi (alunos internos) vieram do meu dojo, e dois alunos antigos que agora se tornaram professores, mais dez alunos diretos meus e de outros quatro ou cinco de várias outras regiões.

-Quantos alunos voce tem?
Eu tenho algo de sessenta alunos adultos e cinquenta e sessenta crianças, no meu dojo, então mais de cem ao todo.

Você ensina todos os dias ?
Sim eu ensino. Minha filosofia, que eu peguei observando Saito Sensei, é que não importa qual seja a graduação que eu tenha ou o quanto eu seja avançada, isso é realmente importante para mim, e muito mais importante é dar quantas aulas eu puder. Então quando eu estou no dojo e não estou viajando, eu dou todas as aulas. É só isso o que eu faço. Eu ensino nas aulas de crianças porque eu acho que inspira todos eles.

Quando você originalmente começou Aikido?
-u começei no verão de 1974 em uma pequena faculdade em Monterey onde Mary Heiny estava ensinando. Logo após registrar-me eu encontrei Stanley Pranin no dojo, no qual estava também em Monterey, então eu começei a ir lá. Eu dirigia mais ou menos uma hora cada ida e volta, três vezes por semana para chegar no dojo.

Quantos anos você tinha ?
-u tinha dezoito anos quando eu começei no Aikido em Junho, e por volta dos dezenove, foi aí que eu comecei no dojo de Stanley em Setembro.

Stanley disse que tinha muito orgulho de você.
-h, Eu sempre tive um suporte inacreditável dele. Ele foi meu primeiro professor e eu aprendi muito com ele. Eu fazia aulas três vezes por semana com ele, e no sabado de manhã uma aula de mulheres com Danielle Smith. Em algum ponto eu mudei dentro do dojo de Stanley e tornei-me uma uchideshi informal, e treinando em todas as aulas.
Por volta de 1977 Stanley foi para o Japão. Nós estávamos em Oakland treinando com Bruce Klickstein no momento. Bruce já tinha estado em Iwama uma vez e ele estava pronto a sair para uma longa estada por lá.
Bruce, um par de alunos antigos e Stanley, em outras palavras todos estavámos sentindo a hora de ir para Iwama. Então eu decidi, “Bem, Eu vou também. Esse deve ser um lugar puro.” Eu tinha feito um ano ou um ano e meio de universidade e decidi ter um ano de folga e ir para o Japão. Eu fiquei mais do que um ano, no qual foi mais longo do que eu esperava. Isso era no Outono de 1977, quando tinha poucos estrangeiros ou uchideshi. O treinamento era muito severo e tradicional. Isso ainda é tradicional em Iwama, mas muitas pessoas completamente não estavam indo no qual eu tinha que ir direto.
Nesta época era fácil para qualquer uchideshi ter um contato pessoal com Saito Sensei e sua familia. Bruce Klickstein e eu éramos os únicos uchideshi na maior parte do ano.

Não tinha uchideshi japoneses?
-ão, existiam pessoas que vieram por um mês ou dois, mas o único uchideshi a longo prazo antes de nós foi Shigemi Inagaki. Ele foi o primeiro uchideshi a longo prazo de Saito Sensei. Ele ensinava na classe da manhã onde na maior parte apenas nós três treinavamos. Era um treinamento muito pesado, muito intenso. Eles eram 3º ou 4º dan e eu era somete uma faixa preta. Eu aprendi muito, incluindo todos os meus treinamentos de armas naquelas cinrcunstâncias.

Estando em Iwama por mais de um ano e treinando desta forma deve valer mais que alguns anos ou até em qualquer outro lugar ?
-Sem dúvida. Nós vimos Saito Sensei o tempo todo e trabalhamos com ele todos os dias.

Ele foi para o exterior nessa época ?
-Durante minha estada ele teve a sua primeira viagem internacional, para a Suécia, mas era incomum para ele viajar. Ele não viajou para nenhum lugar como fez nos últimos dez ou quinze anos. Depois dessa viagem para a Europa ele não foi para lugar algum por muito tempo. Ele ficava no dojo direto; ele tinha almoço conosco e cozinhava para nós. Foi uma época maravilhosa nesse sentido, mas o treinamento era muito, muito severo e muitas pessoas ficavam machucadas. Eu tive meu exame de SHODAN logo depois que entrei pro dojo e dentro de duas semanas eu tive meu braço quebrado. Mas naqueles dias você não para, então eu tive meus ossos ajustados por um velho doutor cego, Mr. Tachikawa, que era muito famoso em Iwama. Quando eles me levaram, eu vi aquele velho homem cego somente me sentindo ao redor de suas mãos e eu pensei “ Eu estou encrencada agora “. Mas ele era fantástico ! Ele era um genuíno curandeiro ! Ele me pegou como se eu fosse um projeto especial e usou todos os tipos de a gulhas e coisas para fazer o meu braço funcionar de novo.

Quantas semanas depois ?
-Dentro de duas a três semanas o braço estava curado e eu estava treinando com um braço. A recuperação total durou em torno de cinco semanas. Era inverno então para curar era lento. Eu esperei a recuperação total, embora tenha ficado muito melhor depois disso. Isso era a maneira de como as coisas eram feitas nesse tempo. Você tinha um nariz sangrando uma noite ou tinha algo torcido na outra, e isso fazia parte da coisa. Eu tive muitos machucados, mas eu penso que era naquele tempo quando Saito Sensei realmente decidiu fazer um esforço para fazer os treinos mais seguros. Bruce estava lá e Mr. Inagaki também. Bruce é um grande sempai e um grande irmão pra mim. Seu aikido era muita coisa.

Porque você se tornou interessada no aikido em primeiro lugar ?
-Na escola eu via muitos filmes de Bruce Lee e eu fui influenciada naturalmente apenas para as artes marciais.

Porque aikido, então ?
-Para ser honesta, isso foi uma coincidência. Eu queria fazer artes marciais, e o foi o aikido que me ofereceram naquele tempo; mas a partir do momento que eu fiz minha primeira aula eu sabia que isso era pra mim. Tudo se ajustava, os movimentos, a filosofia, a maneira das pessoas pensarem, tudo ! Eu não sei se eu teria ingressado em outra arte, mas aikido me serviu desde o começo mesmo.

Você tentou alguma outra arte marcial ?
-Após anos e anos eu tive muitos amigos em artes marciais e eu tive muitos contatos como estes, embora eles estivessem em uma graduação menor. Em muitos lugaress você tem somente as aulas que estão sendo oferecida. Pessoas tem tendencia a pedir que você pratique algo a sua volta , então eu experimentei várias artes marciais, mas o aikido tem sido uma linha consistente em toda a minha vida.

Então você esteve em Iwama mais de um ano, e aí voltou para a América ?
-Eu voltei para a América aproximadamente oito anos atrás e aí retornei para Iwama muitas outras vezes, e eu frequentemente continuei voltando como uma uchideshi de curto prazo até 1988 quando decidi me tornar uma uchideshi a longo prazo de novo, pela última vez. Eu fiz quinze ou desesseis visitas a Iwama juntando tudo, mas essa foi minha 50 ou 60 vez. Eu ja tinha começado meu próprio dojo em 1984, e eu deliberadamente decidi deixá-lo, deixando com um amigo e voltei para o Japão, onde eu fiquei por 18 meses.

Se você somasse todo o tempo em que ficou em Iwama, quanto tempo seria ?
-Eu acho que se eu somasse seria uns seis anos. Em 1988 eu experimentei o suficiente todas as oportunidades que me apareceram. Esse é um tipo de história engraçada. Em uma ocasião Saito Sensei estava sendo entrevistado por uma famosa revista japonesa, Wushu. Ele fez muitas coisas comigo, mas principalmente usou um aluno uchideshi masculino.

Então todos se vestiram para o almoço, menos eu que estava servindo chá, como eu fazia normalmente, ainda vestindo meu keikogi. Saito Sensei disse para esse homem, que eu acho que era o editor , “Bem, eu acho que eu posso demonstrar com ela, mesmo que ela seja uma garota,” e ele começou demonstrando, e não parou.

Isso aconteceu bem no meio do verão e estava realmente quente, muito quente. Então ele fazendo e fazendo por uns 40 minutos. Eu pensei comigo mesma, “Eu nunca mais verei nenhuma dessas fotos, elas nunca estarão na revista, porque eu sou uma mulher.” Bem, aparentemente, aquelas eram as únicas fotos que eles escolheram ! Quando Saito Sensei recebeu a revista, ele quietamente colocou-a no altar e não mostrou a ninguém, e eu achei que ele estava desapontado. Mas aí ele começou a receber chamadas de todo o Japão dizendo-o que o artigo estava bom porque ele usou uma mulher estrangeira como seu uke. Isso mudou completamente o jeito de Saito Sensei pensar, era muito mais facil usar uma mulher como uke e esperar esse tipo de resposta de outros.

Então, você voltou para Iwama em 1988, e aí ?
Durante esse tempo muitas coisas aconteceram. Eu tinha feito algumas demonstrações com Saito Sensei em 1976, mas isso foi no período 1988/89, quando eu era 4th-dan, que Saito Sensei realmente me pegou como uma uke profissional e como uma otomo (acompanhante de viagens). Ele nunca tinha feito isso com uma mulher anteriormente, e tão pouco com estrangeiros.

As coisas realmente mudaram e eu senti que eu abri caminho para muitas mudanças para as mulheres. Eu fui mais uma vez uma uchideshi a longo prazo, e eu estava fazendo parte das demonstrações. Eu estava nas demonstrações da amizade também, e eu fiz um numero de viagens diferentes com Saito Sensei.

Esse artigo no Wushu mudou tudo porque ele teve uma resposta positiva de todos. Também, todo o sistema de arma evoluiu durante esse tempo. Saito Sensei levantou-o realmente a um outro nível. Ele começou a pensar sobre emitir a certificação tradicional num formulário como pergaminho escritos à mão da transmissão para técnicas de armas. E as tecnicas de ken-tai-jo foram codificadas enquanto eu estava lá. Saito Sensei adicionou também muitos das variações às técnicas das armas, então isso era realmente excitante, e eu habilitada a fazer parte daquilo.

Antes de alguns dos pergaminhos serem dados, Saito Sensei escreveu-me um menkyo kaiden (certificado de proficiência avançado) que basicamente dizia, “Eu ensinei-lhe o repertório inteiro do ken-jo”. Eu realmente não entendi o que ele estava fazendo e eu pensei que ele estava me entregando o primeiro pergaminho de armas, no qual eu seria honrada em receber. Contudo, ele me escreveu isso em Inglês e ele foi sobre o que estava escrito com uma caneta de caligrafia e escreveu algo além daquela versão japonesa. Enquanto ele estava fazendo isso, alguém disse, “Você tem idéia do que é isso ? ” Eu disse, “Bem, isso é um certificado.” Eles disseram, “Não, isso é um menkyo kaiden. Você está recebendo o único menkyo kaiden que nós conhecemos.” Eu não sei se isso é verdade, possivelmente existe alguém que deve ter recebido um, em todo caso, era uma honra grande. Ele me entregou isso privativamente porque, com certeza, o pessoal japonês não teria ficado muito feliz ao me ver recebendo isto . Eu estava bem com isso.

Nós fizemos um monte de demonstrações e eu viajei muito com Saito Sensei. Esse período me promoveu como uke de Saito Sensei. Nós tiramos fotos para o livro Takemusu Aiki , e viajamos o mundo todo fazendo demonstrações. Saito Sensei teve a coragem de me levar a um caminho que não tinha sido feito antes.

Ele estava te levando porque você é tão boa, não porque você é uma mulher ou por outro motivo.
Sim, eu acho isso, mas isso não tinha acontecido antes, então pela primeira vez outra mulher poderia me olhar e dizer, “Hey, nós podemos fazer isso !” Eu apostei por elas. Eu sei que Saito Sensei não me tratou nem um pouco diferentemente só porque eu sou uma mulher. Ele me avaliou para um posto neutro. Isso é o que admiro nele. Ele realmente acreditava que a mulher e o homem deveriam ir mais longe do que realmente poderiam.

Você provou isso! Quantas pessoas poderiam voltar para Iwama e ficar esse tempo! Morar no Japão é muito difícil também.
Sim, é muito difícil.

Então você fez isso, e o que você mudou na cabeça de Saito Sensei.
Muitas pessoas tinham ido para Iwama e moravam fora do dojo como sotodeshi por muitos anos, mas é muito incomun para um uchideshi extrangeiro ficar por um tempo longo. Eu acho que ele reconheceu isso.

Então você tem ensinado desde 1984?
Bem, eu estava ensinando aqui e lá por volta de 1978, mas somente em alguns encontros em dojos. Em 1984 eu abri me próprio dojo em San Leandro, então isso tem acontecido em 18 anos.

Talvez agora não seja tão raro ver uma mulher subindo em um dojo mas eu acho que naquele tempo era até mesmo raro nos Estados Unidos, não era?
Sim era muito raro. Isso não acontecia

Nesta Aiki Expo eu vi muitas professoras (mulheres) fazendo demonstrações. Continua raro ver mulheres ensinando no Japão, mas não nos Estados Unidos atualmente. Então, voltando em 1984, para você ter um dojo deve ter sido bem incomum mesmo, né ?
San Leandro, aonde eu estou ainda, era uma cidade muito conservadora. Eu passei por um período difícil no começo. Pessoas vinham e perguntavam quem era o instrutor, e quando eles descobriam que era uma mulher, eles davam meia volta e partiam. Mas se graduando isso muda e agora isso não é mais um problema. Algumas pessoas procuram especificamente uma instrutora nos dias de hoje.

Mas você já tinha passado por isso com Saito Sensei e ele mudou ?
Sim, então eu sei que isso era possível. Eu somente persisti e finalmente as pessoas me reconheceram. Desde 1989 me envolvi em um tipo de circuito nacional e internacional de seminários. Meu dojo está crecendo, e nós temos mais do que eu poderia ter. Mas isso é maravilhoso. Esse seminário tem sido tão fácil pra mim, porque eu posso somente ir e ensinar ou treinar e eu tenho alguém próximo de mim o tempo todo me oferecendo chá, ou o que for. Meu dojo está funcionando por causa dos meus alunos, todos eles fazem coisas diferentes e eu estou um tanto feliz como tudo está se encaminhando. Eu mantenho as oportunidades de ensinar realmente ao lado dos professores de calibre elevado. Eu fico muito honrada, e eu sinto que as oportunidades se mantem abertas pra mim. Artigos de revistas, entrevistas em radio e algumas aparições na televisão tem acontecido pra mim, então me sinto bem com isso também. As coisas estão definitivamente seguindo uma direção positiva.

Como uma professora, o que mais você enfatiza ?
Eu te digo que a minha filosofia é, depois desses anos todos ensinando: Quando alguém vem para o dojo eu olho para eles e me pergunto em que caminho esse ser humano necessita se envolver ? Eu sou somente um instrumento, Eu não vou fazer nada por eles, e eu não vou fazê-los ser qualquer coisa. Eu somente faço meu trabalho espiritual. Eu faço minha meditação, e “esvazio” de modo que a energia possa se mover através de mim nos meus ensinamentos. Todas as minhas aulas são espontâneas. Vem através da minha conexão com o universo apenas, assim quando eu faço correções ou o que quer que seja, eu faço com a inspiração do momento. Meu treinamento é para continuar sendo esse tipo de professor, sem ser demasiado a resultados. No entanto eu vejo os resultados. Eu encontro uma maneira diferente para cada indivíduo para o todo seu potencial somente canalizando o que ele precisa. Isso funciona ! Eu acho que eu posso produzir alunos de alto nível.
Você é uma grande professora.
Obrigada. Eu amo ensinar. Isso é uma responsabilidade. Eu comecei ensinando num bom sentido da palavra quando eu tinha mais ou menos 22 ou 23 anos, então eu comecei meu dojo antes dos 30. Eu relativamente sempre fui uma professora nova comparada aos outros. Por quaisquer razão, eu tinha sido escolhida para ser uma pioneira. Você sabe, estou fazendo um montes de coisas primeiro por ser uma mulher e estou sendo capaz de quebrar as barreiras mesmo que outros não façam isso. Isso parece que me veio naturalmente. Não sou uma radicalista feminina. Eu somente amo o Aikido e adoro as mulheres progredindo, assim como adoro ver os homens progredindo também. Eu não tenho nenhuma agendinha especial.

Você é uma pioneira pelo o que fez, sem tentar ser única. Isso é como o Aiki Expo. Se você foca em ter pessoas juntas para fazer dinheiro, talvez muitas pessoas não estariam juntas desta forma. Stanley tinha uma visão e a visão é importante.
Sim, muito mesmo. E as pessoas respondem a isso. A maioria das pessoas responde a paixão. Se você tem paixão, as pessoas podem sentir isso.

Concluindo, você pode nos dar mais alguma impressão do Aiki Expo?
O Expo é muito mais profundo do que eu esperava. Existe um real de amizade acontecendo aqui. Existe de verdade um grande relacionamento acontecendo aqui. Isso está trazendo estilos diferentes e professores diferentes também. Nós estamos trocando informações um com os outros e procurando similar como as nossas filosofias são. Stanley fez um excelente trabalho em ter pessoas que prosperem com as outras facilmente. Eu sinto que muitas barreiras estão sendo quebradas aqui: a barreira japonesa/americana, a barreira masculina/feminina – mantendo me alinhada com todo esse alto-grau masculino e tal inspiração para as mulheres. – e também as barreiras entre as culturas.

Todos estão treinando juntos e realizando estilos diferentes, aikido ou aikijujutsu ou o que seja, estão somente “ajustando” para ajudar-lhes a ter um núcleo. Nós estamos somente usando essas formas como veículos, então nós não deveríamos levá-los tão seriamente.

Eu quero dizer mais uma coisa, tanto para homem como para mulher. Quando eu tive meu filho há três anos atrás eu pensei, “Oh, aikido vai parar e minha vida vai parar, e eu somente tomarei conta desta criança.” Mas o oposto aconteceu. Ele viajou o mundo todo comigo e isso chegou a um ponto onde sua energia é tão importante para os seminários. Ele tem uma influência sutil nas coisas. Até aqui sua presença tem sido algo especial. Eu o levei para Iwama e ele foi incrível.Ele estava como um uchideshi! Então, para mim, estar sendo uma mãe é uma parte do caminho das artes marciais que nós estamos ligados o tempo inteiro. Se você não estiver ligada seu filho pode até morrer. As vezes você vê e escuta coisas que não deveriam ser ditas que seu filho poderia ficar exposto a isso. Como uma familia você deve abrir seus braços e dar boas vindas as coisas novas.

Eu realmente encorajo mulheres e homens a ter uma família também. Isso intrega sua vida. Isso completa a sua vida. Você ainde pode fazer tudo aquilo que você quer fazer. Ter uma família faz tudo ficar equilibrado e todas as “peças” se juntam.

Obrigado por tudo.

Tradução Guilherme S. Borges

Exercitando o corpo enquanto ainda somos jovens

Por Gozo Shioda Sensei 9 dan.

Como um princípio fundamental do Aikido, treinamos sem usar forças desnecessárias. Diferente de outras artes marciais, onde existem muitos exercícios para treinamento muscular, o treino de Aikido não inclui este tipo de atividade. A questão é: porque não usamos treinamento muscular e, se usarmos, até que ponto devemos fazê-lo? Caso Ueshiba Sensei visse pessoas levantando e puxando pesos, ele comentaria: “Que exercícios tediosos” e nos aconselharia a não fazê-los.
Mas, de fato, quando eu estava sozinho costumava praticar vários tipos de exercícios para treinar meu físico. Era jovem e cheio de energia, e como estava muito ávido para ficar forte, não me sentia satisfeito, a não ser que fizesse todos os tipos de exercícios até me cansar e tratar meu corpo com dureza.
Pensando melhor sobre isso, desafiando meus limites físicos, estava simultaneamente construindo minha força mental. Faria muitas flexões: facilmente 250 por dia. Barra horizontal também, quando estivesse com disposição. Poderia fazer mais de 300 por vez. Barra com uma mão era fácil também. Quando estava no segundo ano do colegial, representava a região de Kanto na ginástica. Como um jovem, estava bastante confiante na minha força física e habilidade.
Foi graças a esse tipo de treinamento que pude ganhar de Masahiko Kimura no braço-de-ferro. Naquele tempo éramos dois estudantes da Universidade Takushoku, da mesma classe de inglês. O braço-de-ferro era muito popular. Era só um de nós querermos uma disputa que uma das mesas da classe imediatamente se transformava em cena de confronto.
O sr. Kimura já era o melhor judoca do Japão e muito mais forte que a média. Um tipo de “Hércules”. Ele podia entortar uma moeda entre os dedos, quebrar uma porta japonesa entre seus braços ou mesmo entortar uma barra de chumbo. A primeira vez que lutamos me lembro da minha mão direita sendo imobilizada nas mãos de Kimura. Lembro-me também de ter esperado algum tipo de reação por parte dele. Mas tão logo o sinal do início foi dado, juntei toda minha força contra ele antes que ele pudesse usar qualquer força. Surpreso, e quase sem resistência, sua grande força não utilizada, sr. Kimura virou-se e caiu. Ele riu vigorosamente, dizendo: “Eu perdi antes que pudesse ter feito qualquer coisa.”
Foi assim que ganhei no nosso primeiro confronto, mas como meu oponente era um homem particularmente forte, as outras vezes não foram tão boas assim. A vez seguinte, perdi. Nós tentamos de novo, muitas vezes perdendo e ganhando em turnos.

NO FINAL DO PROCESSO DE
TREINAMENTO “ESPARTANO”, A FORÇA SE FOI

Houve um tempo que eu era orgulhoso da minha força física. Naquele tempo, usava só o poder e a força das mãos quando executava as técnicas. Aliás, no Dojo Ueshiba, havia sempre entre 20 jovens estudantes da religião Omoto Kyo, que estavam sempre se confrontando e testando uns aos outros, com o uso de muita força. Durante o processo de treino, isto é aceitável. Mesmo que eu peça para os jovens não usarem força, naturalmente eles usam. Esta é a realidade quando somos jovens. Para testar e limitar o uso da força, perdemos a proposta de nosso treino.
O importante é fazer nosso melhor a cada estágio de nosso progresso. Devemos levar nosso corpo e mente até o limite e, se não treinarmos até nos satisfazermos, então não podemos sentir e assimilar mentalmente com nosso corpo o que é realmente vital.
Os KIDOTAI, polícia de choque, que treinam em nosso Dojo, são um bom exemplo. Não falo para eles para não usarem força. Nós os levamos até seus limites e quando eles estão tão cansados que suas pernas e quadris mal podem suportá-los, não usam mais força. Anteriormente, quando o Dojo era em Musashi Koganei, todo mês de abril os funcionários da estação ferroviária podiam olhar para o corrimão da escada e dizer “parece que a polícia começou seu treino na Yoshinkan novamente este ano.”
Os treinees estavam tão exaustos com seu treino que seguravam nos corrimões para se arrastarem para cima e para baixo na escada mantendo-os, assim, limpos e polidos.
Se não treinarmos duro não poderemos realizar o Aikido como arte marcial. Entretanto, nem todo mundo é capaz de fazer ou seguir este tipo de treino. Por isso, hoje em dia no nosso Dojo temos um modelo de ensino.
Quando somos jovens, podemos forçar nosso corpo fisicamente. Fazendo isso, entendemos melhor sobre nós mesmos e começamos a desenvolver nossa força mental. Assim que começamos a envelhecer, nossa força física gradualmente desaparece. Quando isso acontece, somos capazes, pela primeira vez, de sentir e realizar efetivamente o poder e o foco do Kokyuryoku, o qual não depende de força física.
Entretanto, esse nível só é alcançado através do treino duro e absoluto feito enquanto somos jovens. Se nós nos restringirmos desde o começo e fizermos treinos leves durante os anos seguintes, então de nada terá adiantado. Ueshiba Sensei nos disse para não usar força, mas na verdade ele treinou muito forte quando jovem. Chegando ao fim de sua vida, alcançou o estágio que podia demonstrar “técnicas divinas” por causa de sua experiência. Não podemos esquecer esse ponto.

DEVEMOS CONSTRUIR FÍSICOS QUE SE MOVAM NATURALMENTE

O que significa para pessoas que seguem um treinamento espartano “construir o físico de alguém?” Vamos olhar o físico que Ueshiba Sensei tinha. Mesmo o físico do Sensei sendo bem largo, ele não possuía grandes músculos. Em fotos, nós o vemos com o corpo enrugado.
A realidade era um pouco diferente. Seu corpo não era duro, mas era, no todo, macio e liso. Tinha sempre que lavar as costas do Sensei no banho ou que massagear seu corpo e com isso tive muitas oportunidades de tocá-lo. Mesmo hoje, me lembro o quanto ele era flexível e suave. Quando o segurava com pressão dos dedos por um momento e depois soltava, sua pele voltava ao estado normal suavemente – era esse o tipo de físico dele. Quando segurávamos suas mãos, havia um sentimento estranho. Primeiro nós não sentíamos força ou poder, mas sem se dar conta do que tinha acontecido, nós nos sentíamos presos. Em outras palavras: ele era leve, mas era uma leveza com um terrível tipo de poder e de força que poderia ser despertado, se necessário.
Porque Ueshiba Sensei é o fundador do Aikido e tinha este tipo de físico, nós poderíamos ser levados a pensar que todos que treinam Aikido deveriam ter o mesmo tipo de constituição. Este, entretanto, não é o caso. Ueshiba Sensei costumava dizer que nós deveríamos estar prontos e preparados para construir nosso corpo, mas de modo que estivesse de acordo com a nossa estrutura e constituição. “Por isso Shioda, se você tentar desenvolver um corpo igual ao meu, você não será capaz de se mover naturalmente”, ele me disse uma vez. Em outras palavras, Ueshiba Sensei estava querendo dizer que o Aikido é uma das maiores formas de Budo porque é natural. Por esse motivo, não devemos tentar construir um corpo contra a natureza, mas sim um corpo que combine conosco.
No entanto, muitas pessoas confundem a natureza. Por exemplo, é estranho quando o corpo envelhece e se transforma, fica rígido, para forçar a fazer os mesmos tipos de exercícios que os jovens fazem. Isto somente tende a prejudicar os músculos. É igualmente estranho se nós tentamos e construímos músculos desnecessários num corpo pequeno através de levantamento de pesos até o corpo ficar forte. Este tipo de tentativa vai contra a natureza. Se nós persistirmos em ir contra a natureza, podemos ficar fortes em musculatura, mas não seremos capazes de alcançar o segredo do Aikido.
Até o ponto que o Aikido interessa, o desenho ideal para o físico é aquele que não é deficiente para o tipo de atividade que fazemos. A revelação de Ueshiba Sensei que a “postura natural quando andamos é Budo”, se aplica a esse assunto. O Aikido pode ser praticado por qualquer um. Pessoas com físico rígido praticam como pessoas rígidas. Aqueles com físicos gordos, como pessoas gordas. Qualquer situação onde nós podemos nos movimentar naturalmente está bom.
Contrariamente, podemos dizer que devemos mudar nosso corpo para este se tornar natural. Shugyo (treino “espartano”) afeta essa mudança, mas necessita de esforços contínuos para aperfeiçoar isso. Se desenvolvemos nosso corpo do melhor modo possível, de acordo com a nossa idade e nosso físico, então mesmo sendo velhos podemos ainda praticar Aikido.
(Traduzido da Revista Aikido Yoshinkan International)

Traduzido por Emy Yoshida

A arte do auto-conhecimento

Carlos Portas, mestre de Aikido
Texto de Teresa Trindade Pereira

Porque escolheu esta modalidade de artes marciais?

Antes do Aikido, em 1974, 1975, eu comecei a fazer karaté, aqui em Aveiro. Uma vez, em Lisboa, vi o Aikido e fascinou-me. A partir daí estive sempre na mira de encontrar alguém que me pudesse ensinar o Aikido. Em 1984 quando eu vivia na Suécia encontrei o mestre japonês Takeji Tomita e passado algum tempo deixei o karaté e comecei a praticar só Aikido com ele todos os dias durante 9 anos. Em 1993 vim para Aveiro e comecei a ensinar Aikido. Primeiramente no Ginásio Avenida, depois na ACAV e, por fim, aqui neste espaço chamado “Mussubi – oficinas de artes e coisas do Oriente”. Onde na vertente das artes marciais tem o Aikido.

O que quer dizer a palavra Aikido?

Aikido é um conceito. “Ai” traduzido à letra do japonês significa união, harmonia, amor, qualquer coisa que se integra uma na outra. “Ki” é a energia vital, a energia do Universo, a energia de cada um, é tudo aquilo que mexe. “Do” é a via através da qual se encontra, se entende e se percebe essa união, essa aceitação, essa função.

São esses conceitos juntos…

… que dão a parte filosófica e a parte de conceito da própria prática. O que é utilizado são técnicas de auto-defesa que têm origem histórica no período dos Samurais. A prática do Aikido é feita tanto de formas e técnicas de imobilizações, percepções de corpo a corpo, mas também com o sabre de madeira e o pau. As técnicas são resultantes da movimentação das técnicas do sabre desenvolvidas no período em que o Japão foi proibido de usar armas. Nessa altura eles começaram a progredir mais na parte de corpo a corpo e isso deu origem a muitas modalidades como, por exemplo, o karaté e o judo.

O que diferencia esta modalidade dessas restantes?

Eu não sei se alguma coisa a diferencia. Eu acho que é mais o conceito. No Aikido não há competição. A pessoa que pratica o Aikido fá-lo com o intuito de se auto-conhecer e de propor a si próprio uma forma de se reunir consigo próprio e com o mundo que o rodeia. Sempre que se pratica Aikido nunca é, nunca poderá ser, e se assim for está errado, uma coisa contra alguma coisa. A essência científica é, na realidade, encontrar a não resistência.

Não temos então vencedores nem vencidos…

Não, não temos vencedores nem vencidos, o que temos é o aperfeiçoamento do carácter das pessoas que o praticam.

O Aikido, como artes marciais, não é para ser usado fora destas portas , pelo menos ao nível físico?

Não é… é tanto ou não como as outras. Para já uma pessoa que conheça artes marciais e que tenha bons princípios e bom carácter nunca utiliza isso em termos práticos. Pode usar, obviamente, em termos secundários a experiência adquirida, fazer com que possa tirar dela ilações ou resultantes que o permita colocar-se numa posição melhor.

Já lhe aconteceu a si ter de usar o Aikido para se defender?

É sempre muito difícil dizer que não, mas isso é como tudo. Um jornalista, por exemplo, pode usar os seus conhecimentos no dia-a-dia sem entrevistar ninguém. É claro que, como eu costumo dizer, cria-se um género de capa à volta de cada um, daquilo que faz, um género de aureola que se for esse o espírito repela. A prática em si não incentiva as pessoas a quererem experimentar se funciona ou não, porque não é esse o objectivo, mas que funciona, obviamente funciona.

Em que consiste o conceito Takemuso Aiki?

O conceito Takemuso Aiki significa criação marcial. O “take” é o guerreiro o Budo. O “muso” é junção, é a ligação, é a criação. Portanto é o expoente máximo, é a arte marcial invencível. Não é a pessoa seja invencível, o conceito é que é invencível. A forma como se aprende e como se pratica, pelo menos aqui na escola, pretende que a pessoa, posteriormente, consiga dar os seus passos sozinha.

Tem muitas pessoas a aprender?

Já tive mais… Agora parece que estamos num período difícil para as pessoas, e depois também a maneira de estar aqui não é talvez aquilo que as pessoas possam pensar. Às vezes sonho com isto cheio.

Disse que era um período difícil para as pessoas?

Sim é um período difícil economicamente e também esteve um Inverno um bocado escuro e as pessoas um bocado deprimidas. Mas as pessoas gostam de fast-food. Isto aqui não dá para fazer dois treinos, irse embora e já saber tudo. Isto é um processo e isso é que é mais complicado. Temos que ter a consciência de que a laranja demora o seu tempo a nascer e demora o seu tempo a amadurecer, não tem o mesmo espaço de vida igual àquele que as pessoas costumam pensar: “quero uma laranja, quero uma maça vou ao supermercado, compro e pronto está o assunto resolvido”. A pessoa aqui quer aprender e tem que ter esse espaço de tempo, de prática, de experiência. Nem que compre os livros todos e que veja os vídeos todos não adianta absolutamente nada.

É o tempo o grande professor.

É o tempo o grande professor, o grande mestre. O tempo e a própria pessoa porque é um desafio à paciência, é um desafio à perseverança, um desafio a muita coisa, inclusive em relação à sua própria vida. Às vezes acontecem situações imprevistas e complica sempre todo o ritmo. As pessoas às vezes não estão preparadas nem disciplinadas para fazer a diferença do que é bom para si, do que é bom para os outros e do que é bom para ambos para poderem constituir uma sociedade melhor.

Tem alunos masculinos e femininos?

Homens e mulheres, pequenos e grandes. Tenho duas classes de 20 a 25 crianças dos 6 aos 13 anos, aos quais tento incutir esse conceito logo à partida. Há resultado se não houver quebra e se houver ajuda também dos pais e se eles continuarem e não desistirem quando querem e lhes apetece. É um processo que os ajuda muito, inclusivamente, na organização académica.

Acha que é uma modalidade que é conhecida por todos os cidadãos?

Mundialmente é muito conhecida. Em França é praticada por mais de 50 mil pessoas. Em Portugal já está a ser também conhecida sobretudo nas zonas da grande Lisboa e arredores, no Porto e em Coimbra. Em Aveiro não há tanta aderência, a procura é feita mais por pessoas de fora. O balanço que eu faço aqui na escola é que 80 por cento dos alunos são de fora.

Ficha Técnica Nome: Carlos Portas

Mussubi – Oficinas de Artes e Coisas do Oriente Eucalipto Sul – Aveiro – Portugal