No Japão é comum encontrarmos na entrada de algumas lojas um gracioso animal – o tanuki. Sua presença indica que naquele estabelecimento é vendido o saquê e outros tipos de bebidas alcoólicas.
Feito de cerâmica, ele pode ser encontrado em todos os lugares, mas é um pouco mais difícil de se deparar com o verdadeiro animal. O tanuki é uma criatura de pernas curtas, razoavelmente corpulenta, com um pequeno e espesso rabo, e é membro da família dos caninos. Embora o nome do tanuki em inglês seja ‘cachorro raccoon’, ele é freqüentemente confundido com o texugo japonês, anaguma, um animal completamente diferente.
Foi desde o início da Era Edo que a população passou a consumir o saquê refinado. Nessa época, os adultos mandavam as crianças aos Sakaya (lojas de bebidas alcóolicas) e essas retornavam à sua casa com uma garrafa de saquê (tokkuri). Antigamente, os produtores de saquê de Nada (região de Hyogo) diziam “Sem a presença de um texugo pequeno, não é possível fabricar um saquê delicioso!!!”. Segundo este ditado, para produzir um saquê de qualidade é necessário tradição e experiência. Assim, foi criado kozou-tanuki. Desde então, o Tanuki passou a ser visto também como um amuleto de sorte.
Folclore:
No folclore japonês, o Tanuki possui grande força física, e poderes sobrenaturais, incluindo poder de transformação e, assim como a raposa vermelha, chamada kitsune , é um mestre do disfarce que utiliza para iludir ou irritar as pessoas.
É uma criatura travessa, utilizando todas as formas de disfarces para iludir ou perturbar os viajantes. Posicionando-se em pé na calçada com suas patas traseiras, ele distende sua barriga (ou melhor, região pélvica), e bate nela com suas patas dianteiras. O tanuki também é simbolizado numa forma semelhante a uma raposa, fazendo brincadeiras loucas, perigosas e de mau gosto com sua enorme barriga, que mede oito tapetes de tatami!
Devido à sua pança, o Tanuki é associado com duas outras figuras que possuem grandes estômagos, o peixe Fugu (Baiacú), e Hotei, o gordo, Deus da Sorte. Também é dito que ele tem alguma ligação com a chaleira, por causa de sua aparência. O Shogun, Ieyasu Tokugawa, era irreverentemente referido como Furu Tanuki, velho Tanuki. A expressão ‘Tanuki-gao’ é às vezes utilizada para descrever mulheres de rosto redondo. No Japão dos dias de hoje então, você freqüentemente vê a estátua de um Tanuki do lado de fora de uma loja ou restaurante, sinalizando aos clientes que venham visitar o estabelecimento.
As suas oito características peculiares são conhecidas como “hassou engi” (cada característica associada a uma lição):
1- O chapéu japonês de bambu do kozou-tanuki significa proteção contra desastres inesperados.
2- Os olhos grandes significam a decisão certa.
3- A expressão amorosa do kozou-tanuki diz para nunca esquecer o sorriso no rosto.
4- A garrafa de saquê significa que esforço do dia-a-dia resulta nas virtudes que cada um possui.
5- O livro significa valorização da confiança e importância da caderneta financeira(o sucesso financeiro). No livro há um símbolo hachi (kanji de 8). Este símbolo, brasão da família Owari Tokugawa, significa seu domínio sobre Owari-hachi-gun. Na epoca, Tokugawa Ieyasu tinha o apelido de ”Tanuki” e, por isso, a introdução do brasão no livro foi aceito com grande sucesso.
6- A barriga saliente significa serenidade e equilíbrio para tomadas de decisão.
7- O saco com dinheiro expressa capacidade de aumentar riqueza e sabedoria para utilizar o dinheiro sem desperdícios.
8- O formato da cauda do texugo (cauda grossa com ponta afinada) significa que as tarefas que foram iniciadas devem ser executadas firmemente até a sua conclusão.
Essas estátuas são vendidas em lojas, e os tanuki geralmente são representados segurando uma garrafa de saquê e, como uma amostra do ácido humor japonês, com testículos exagerados. Acreditam que esses testículos (chamados coloquialmente de kintama – literalmente, “bolinhas douradas”) são símbolos de boa sorte.
O Animal original:
No passado, ele era caçado no Japão pela sua carne, sua pele marrom e preta (utilizada para fazer pincéis), e seus ossos, aos quais eram atribuídas qualidades medicinais. Eles foram introduzidos nas partes ocidentais da antiga U.S.S.R. para o cultivo de peles. Alguns escaparam (ou foram soltos), e desde os anos 50 espalharam-se pela Escandinávia e sul, chegando até na França.
Eles vivem em áreas altamente arborizadas, geralmente próximo à água, alimentando-se de invertebrados, pequenos animais (sapos, lagartos, roedores e pássaros que vivem ou constroem seus ninhos no chão) e (particularmente no outono), sementes e frutas silvestres. Quando vivem próximos ao mar, os tanukis também procuram comida ao longo da linha da maré, buscando caranguejos e outros animais marinhos que ficam expostos. Eles são mais ativos após o pôr do sol, e ao longo do anoitecer, depois novamente nas primeiras horas da manhã, período no qual eles podem chegar a vagar por 10 a 20 km, em busca de comida.
Como os tanukis entraram em áreas suburbanas e até urbanas no Japão durante os anos 80 e 90, começaram a procurar comida em aterros de lixo, e chegam até a ser alimentados por pessoas, em seus jardins, que é uma das razões que fazem com que eles sejam associados aos texugos, que sobrevivem nos aterros de lixo de muitas cidades. É improvável que você veja um tanuki durante o inverno porque, embora ele não hiberne, acumula gordura no outono e então recolhe-se à sua toca, desde novembro até meados de abril. Ele pode surgir algumas vezes para se alimentar, e nos períodos mais quentes, pode chegar a ficar sem dormir.
O futuro do Tanuki é incerto, já que muitos tanukis têm sido afetados pela ‘sarcoptic mange’, uma condição causada por um parasita. Os tanukis que contraem esse parasita sofrem deterioração de pele, e progressiva perda de pêlo, deixando-os parcialmente, ou completamente, sem pêlos. Nesse estado, a probabilidade que eles sofram e morram de hipotermia aumenta enormemente, e desde por volta de 1990, muitos têm sido encontrados mortos durante o inverno. Ao que parece, o parasita conseguiu espalhar-se de áreas suburbanas com altas densidades de tanukis até áreas selvagens também, levando a sérios declínios particularmente nas populações dos estados de Kanagawa e Miyagi. Durante o final dos anos 80 e início dos anos 90, o parasita espalhou-se rapidamente, e os números de animais infectados aumentaram bastante.
Por outro lado, os números de caçadores no Japão decaíram durante os anos 80, e num período de 10 anos, o número de tanukis mortos por caçadores caiu pela metade, de um pico de aproximadamente 75,000 em 1981, para aproximadamente 33,000 em 1990. Isso pode, de alguma forma, estar contrabalanceando o efeito do mange sobre a população de tanukis durante os últimos vinte anos.