Exame de Nidan Ganseki Kai (18/12/2022)

Nesse último fim de semana (18/12/2022) fizemos exame de Nidan de Waldecy Gonçalves de Lima e Lucas Marques Braga.

Lembrando o que escrevemos no site da Ganseki, a mais de 10 anos atrás:
“Ao Trabalho do 1° Dan acrescenta-se rapidez e potência ao mesmo tempo que se demonstra maior determinação mental. Isto se exprime no aluno pela sensação de ter progredido. Os examinadores devem sentir este progresso constatando uma clareza na maneira de se apresentar e na condução do trabalho.” (Link)

Esses exames de graduação de Dan sempre são ocasiões muito especiais a serem comemoradas, não só pelos candidatos (que com certeza marcam um ciclo de muito esforço e dedicação em sua vida), mas por todos do grupo. E eu, como Sensei, também fico muito feliz, pois é resultado de um investimento naquele aluno e um oferecimento para o Aikido.

Tantos anos depois poderia descrever isso de outras formas, que não invalidam o já escrito. O Nidan deve começar demonstrar” uma assinatura” do seu aikido. Uma forma de se manifestar na arte começa a aparecer. Mostra o seu caminho, a sua visão e/ou modo de execução do Aikido que oferecerá ao mundo nos anos que virão.

A chegada dos alunos nessa graduação fortalece também o grupo que se torna mas rico e sólido. É um ótimo momento. Para todos. Sobretudo para a Ganseki Kai.
Parabéns e obrigado, Lucas e Waldecy.

Reverência ao entrar e sair do tatame

Existem diversos rituais que fazem parte da vida de um dojo. Aqui não queremos definir o que é certo ou errado, haja visto a individualidade de cada espaço, e nem tampouco vamos falar da ritualística enquanto sacralização do espaço (vamos dedicar um texto inteiro só pra isso…). Mas, sem dúvida nenhuma, um dos rituais mais presentes em um dojo é a reverência ao kamiza.

O procedimento em si mesmo é simples, mas carrega muitos significados. Inicialmente é preciso reconhecer a existência de um kamiza. Este determina uma referência no qual corpo e pensamento devem fazer reverência. Em nosso dojo, o kamiza consta um quadro com a foto de O-sensei Morihei Ueshiba e um quadro com o conceito Aikido escrito.

Para além da liberdade individual, e outras ritualizações, é obrigatória a reverência ao entrar e sair do tatame. Existem duas possibilidades para esta reverência. Uma é a reverência sentada, onde a pessoa fica em seiza e procede do modo usual, ou seja, sentado, com os joelhos juntos, dedão do pé direito sobre o dedão do pé esquerdo, coluna ereta e com as mãos apoiadas sobre a perna, é visualizado o kamiza. Em seguida, a mão direita e esquerda formam um triângulo, no qual a cabeça toma como referência, e a coluna é inclinada, mas mantida reta. Por fim, a coluna é novamente levantada e as mãos retornam à posição original. Outra possibilidade, ainda na entrada e saída do tatame, é a reverência em pé. Neste, a pessoa se mantém em pé, com a coluna, pernas, braços, retos e juntos, e visualiza o kamiza. Em seguida, inclina o corpo, mantendo a coluna, braços e pernas retos. E, por fim, retorna a sua posição anterior.

Uma das características mais interessantes, desta reverência, é que ela deve ser realizada por todos aikidocas, e isso independe da graduação ou tempo de prática. Além disso, outras artes marciais também praticam esse ritual, ou algum semelhante.

De fato, estendendo esse ritual para fora do dojo, praticamente todas as pessoas praticam um ritual semelhante em suas casas. Pode ser na entrada, ao colocar a bolsa e mochila em um certo local ou mesmo na saída, como trancar a porta de uma maneira específica. Em todos os casos você está tornando o lugar mais familiar, se conectando com o espaço, em suma, tornando-o seu lugar. E assim deve se tornar o dojo para você. Ali você dispende parte do seu dia ou noite, sua vontade, sua dedicação. Bem como tantas outras pessoas o fizeram antes de você. E por todos esses motivos, e muitos outros, você o deve reverenciar.

Presentes para os instrutores!

O ano de 2022 foi um ano de reconstrução, em diversos sentidos. Com o Dojo Tijuca não foi diferente! Graças ao esforço de cada praticante conseguimos continuar nossas atividades – e manter as portas abertas! Foi uma luta diária e com diversos esforços particulares e coletivos.

Para além dos agradecimentos individuais a cada integrante, neste fim de ano quisemos realizar um momento especial. Para isso, fizemos um agradecimento especial aos dois instrutores que mantêm as turmas regulares, na ausência do sensei Walter.

Com uma resiliência inabalável, sensei Lucas e sensei Igor asseguram vivo o espírito do dojo e ajudam na continuidade do Aikido. Como mostra a foto, em uma ação coletiva, foram entregues dois pequenos presentes a eles como uma singela homenagem.

O dojo e o Aikido agradecem!!!

Foto: Sensei Walter entregando presentes para sensei Lucas (esquerda) e sensei Igor (direita).

Etiqueta

A vida de um dojo está conectada com sua capacidade de manter sua estrutura. E uma das características principais de sua estrutura é a etiqueta. Obviamente, não estamos falando do quadrado de tecido das roupas, ou classificadores de mensagens de Internet. Etiqueta, aqui, se refere a todas as ações que formalizam o ambiente social do dojo.

Note que dissemos ambiente social de forma ampla. Ou seja, a etiqueta está relacionada tanto com o trato entre os participantes, como também do trato das pessoas para com o espaço físico, do dojo. Para além da parte conceitual dessa relação, podemos tratar de regras práticas, tanto para o espaço, quanto para os parceiros, como segue:

Regras de etiqueta com o espaço:

– Respeite o espaço.

– Observe o cumprimento do horário de treino.

– Todo material de treino deve ser guardado após seu uso.

– Não é permitido pisar no tatame calçado nem andar sobre ele fora do período de aula.

– Mantenha o dojo limpo, incluindo o tatame, banheiro e dependências.

– Lixos orgânicos devem ser corretamente alocados e não podem se acumular.

– O uso do espaço fora do horário estipulado deve ser previamente permitido pelo dojocho.

– Após o treino as janelas devem ser fechadas, os ventiladores desligados e as luzes apagadas.

– Durante a aula coloque os chinelos encostados no tatame e virados para fora.

– Quando em espera, fique em seiza

– Ajude com a limpeza do espaço.

Regras sociais a serem seguidas no dojo:

– Respeite seu parceiro/sua parceira.

– Utilize um linguajar educado e humilde.

– Não grite nem fale palavrão.

– À parte das consequências do treino, mantenha seu corpo, e kimono, limpos e livres de mau-cheiro.

– Apare as unhas das mãos e pés.

– Trate a si e aos demais com respeito.

– Quando for se dirigir ao sensei não o chame ou grite, mas sim vá a ele e espere o momento apropriado.

– Perceba se há um incômodo com o parceiro/a, bem como diga, educadamente, se estiver incomodado/a com algo.

– Se o parceiro/a estiver lesionado/a em alguma parte do corpo, evite movimentos que envolvam a parte lesionada. Bem como diga, educadamente, se estiver com alguma parte do corpo lesionada.

– Informalidade não deve ser confundida com falta de respeito.

– As correções devem ser feitas pelo sensei, quando o mesmo achar apropriado.

– Ao entrar e sair do tatame faça uma reverência ao kamiza.

– Caso esteja ocorrendo uma aula, peça licença ao sensei para entrar no tatame.

– Não interrompa uma técnica que esteja sendo demonstrada pelo sensei.

– Ajude com a manutenção do trato social.

Tais regras permitem mantermos a harmonia do dojo e também garantir a longevidade da tradição.

Forma e Ordem

No Aikido é fundamental o reconhecimento da forma. Note, porém, que reconhecer o fundamento não é o mesmo que enrijecer e ficar preso a uma forma. Para entender isso é necessário também perceber a relação entre forma e ordem.

Quando entramos em um dojo uma das principais características é a ordem. Essa palavra carrega um duplo sentido. Temos ordem enquanto organização e estrutura, e também temos ordem enquanto sequenciamento e gradação. Em um dojo, em todas as partes e nos dois sentidos, a ordem se faz presente. Os chinelos na entrada do tatame, os praticantes sentados de acordo com a graduação, a prática iniciando a partir dos mais velhos, entre outros.

Em todas estas situações, a ordem tem uma forma para se manifestar. Por exemplo, a ordem dos chinelos é revelada por uma forma de ser. Os chinelos não podem ficar com qualquer estrutura. Eles devem estar paralelos e com a ponta para fora do tatame. Existe uma forma específica para a sua ordenação. De outra maneira, a ordem se manifesta pela forma. Portanto, ambas estão intimamente conectadas.

A manutenção dessa ordem é feita por cada pessoa que integra o dojo e existem várias maneiras de se percebê-la. Uma delas, por exemplo, é a ordem através da limpeza,  e  diferentes limpezas manifestam diferentes formas. Uma destas limpezas é interior. Estarmos com o interior limpo é, por exemplo, mantermos os pensamentos com propósitos nobres, não falarmos palavrão, cuidarmos uns dos outros durante o treino, e qualquer outro modo de purificação interna. Com isto, a partir de uma limpeza interna, naturalmente surge uma ordem, que manifestará uma forma de ser.

Outra ordenação, bastante presente, é a limpeza do espaço físico através de ações como varrer e passar pano. A mecânica primeira de varrer não pode ser de qualquer modo. Não podemos jogar a poeira para qualquer lado. Se puxamos a poeira, ela vem para nós. Então há uma melhor forma. Varrer é para longe de nós. Já para passar um pano úmido  também existe uma forma preferencial. Isto porque se passarmos o pano para frente, enquanto andamos para frente, iremos pisar na região úmida. Portanto, aqui, também, existe uma melhor forma. Passar o pano é em nossa direção.

Por mais simplório que seja o exemplo da limpeza, como manifestação de ordenação, podemos perceber que ele trás rapidamente a questão da forma. Outra relação entre ordem e forma também surge na própria diagramação do espaço físico do dojo. Ao contrário de ser uma região disforme, a forma começa a surgir quando o dojo ganha um centro, no sentido de ponto de referência. Enquanto espaço, essa referência é o kamiza; enquanto instrução, essa referência é o sensei; e assim por diante. Então, a partir do centro, podemos pensar em uma ordenação – mais longe do centro, mais perto do centro – e, assim, a forma surge a partir dessa percepção do centro, que ordena o espaço.

Deste modo, a ordem trás à tona a noção de forma. Enquanto a forma é a manifestação da ordem. E, a sua manutenção destes conceitos garantem os desenvolvimentos subsequentes. Ordenação, forma e repetição. Sem caminhos encurtados ou fórmulas mágicas.

Expandindo ainda mais nosso entendimento, ao falar das formas e ordens, recorremos constantemente a dualidades. No exemplo de varrer e passar pano, na aproximação ou afastamento do centro, entre outros. Em todos estes conceitos, formas opostas foram uma ideia presente. Por outro lado, podemos pensar na própria existência da forma como uma possibilidade de oposição à forma, ou ainda, liberdade de forma. Como vemos manifestados na espada e no bastão. Mas vamos deixar pra outro texto…