12 anos da Ganseki kai

Neste ano de 2017 completamos 12 anos da associação de aikido. Mais precisamente em 17 de julho passado. Uma marca que nos deixa muito feliz; e que desde o inicio do ano, temos comemorado. Tivemos em varias oportunidades, momentos importantes de confraternização com alunos e amigos.

Em março fizemos um gashuku com a presença do grande mestre e amigo sensei Claude Walla.

Inicio de junho, outra confraternização com outro grande mestre da França, Sensei Mantoian, trazido por meu amigo, e seu aluno, Eduardo Silva.

E em julho, fizemos um maravilhoso evento com um seminário duplo, com Sensei Caires e Sensei Dutra, dois grandes sensei que são referencia, não só na sansuikai, como no Brasil. E que temos o privilegio de possuir como amigos. Muito satisfeito com tantas amizades, tantas confraternizações e treinos que fizemos até aqui nesse ano 12. E continuaremos ao longo do ano.

Esta foi nossa agenda que organizamos, mas mais que isso, temos os tranalhado sempre. Nos treinos no dia a dia, nos encontros em outros eventos externos, e na evolução dos alunos e do grupo em geral, e que tem se provado que tem valido a pena ao longo destes 12 anos.

O aikido como dizem que foi desenvolvido por Morihei Ueshiba, possui muitos elementos que nos permitem poder entender a natureza humana de cada um.  Não podemos fazer aikido sem introduzirmos  a cooperação, a aceitação,  o sentido de integração e todo o gesto da hospitalidade, gratitude, a cortesia e o respeito. A força vital do aikido está em tudo isto, e indubitavelmente oferece possibilidades magnificas como educacional de corpo, mente e do espírito humano.

Muitos anos virão!

Tao – a sabedoria do silêncio interno

Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (energia). Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projetem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi.

Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada. Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem condições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e ações, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas.

Yamada sensei
“O silêncio é ..de ouro e muitas vezes é resposta.” Sabedoria Popular

Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fracasso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.

Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranquilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando reações emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera e fluída.

Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra superior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima. Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinível, insondável como o TAO.

Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessário. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar. O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.

Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só então tome uma decisão. Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabedoria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite o fato. Não saber é muito incómodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo, ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.

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Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga alguém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias fraquezas.

O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é uma projeção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo, não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.

Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afetam, que são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.

Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado, em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personalidade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do silêncio.

Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria realização e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio. Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o envenenará rapidamente.

Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a vida de tudo o que existe no mundo. Não force, manipule ou controle o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os demais serem o que têm a capacidade de ser.

Este texto foi extraído originalmente do site Portal do Budismo, e o encontramos no site 50 e mais. Foi publicado com o título original de “Tao – a sabedoria do silêncio interno” e colocado aqui com seu título original.

Visita a Aldeia Guarani

Nosso aluno professor Celso Sanches,  estes dias esteve na Aldeia Guarani Araponga e passou alguns exercícios de Aikido e Taichi.

Foi uma bela interação.  Pediu também para fazerem umas orações pelo nosso Dojo. Obrigado Celso!  Grande 2017 para a Ganseki Kai!

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Muito legal

Mensagem de ano novo

14199169_10210263366210083_4006492602852871388_nChegamos ao final de 2016. Um ano bom para a Ganseki Kai. Dojo central em Instalações novas, novas amizades, novas promessas, boas realizações. Ou seja, evoluçao sempre. Fora, não foi bem assim. 2016 foi um ano difícil em diversas esferas. Econômica, política e humana. Na nossa vizinhança, no nosso município, estado, país… e no mundo. Para lidar com tudo isso, mais importante é termos boas forma de manter o prumo, a base e a nossa energia. Para nós, praticantes de Aikido, temos uma forma eficaz de lidar com esse mundo. Precisamos mais do que nunca manter nossos treinos. No dia a dia no tatame conseguimos energia, base, atenção para enfrentar tudo isso. Que 2017 seja melhor do que o ano que passa. O que não é difícil. Que sejamos fortes e embasados pelo aikido para lidar pessoalmente com todo esse cenário; e se possível ajudar com nossa força tantos que precisam nestes tempos de batalhas e guerras sem fim. Sejamos guerreiros que auxiliam e servem. Como o samurai.soga goro

Feliz 2017

O dojo central está em recesso de fim de ano a partir de 21/12. Retornamos em 9/1.

LEIA ISTO SE EXISTE ALGUÉM QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE PERDOAR

Luiza Fletcher • 21 de setembro de 2016

Eu odeio todos os clichês que existem sobre o perdão.

Eu conheço cada ditado, cada pequeno aconselhamento. Eu li todos os posts sobre deixar a raiva ir. Eu escrevi citações de Buda e as preguei na minha parede. Eu sei que nenhuma parte disso é simples. Eu sei a diferença entre “decidir perdoar” e realmente sentir que a paz pode parecer totalmente intransponível. Eu sei.

O perdão é um terreno vasto e não atravessável para aqueles de nós que anseiam por justiça. O próprio pensamento de deixar alguém impune nos faz mal. Queremos que ele suporte o peso do que fez.

Simplesmente perdoar parece ser uma traição a si mesmo. Você não quer desistir da luta por justiça depois do que aconteceu com você. A raiva está queimando dentro de si e bombeando de toxicidade em todo o seu ser. Você sabe disso, mas ainda assim não consegue simplesmente deixar ir. A raiva é uma parte de você assim como o seu coração, mente ou pulmões. Eu conheço o sentimento.

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Mas aqui está uma coisa sobre a raiva: é uma emoção instrumental. Nós ficamos com raiva porque queremos justiça. Porque achamos que é útil. Porque supomos que quanto mais bravos estivermos, mais mudanças seremos capazes de realizar. A raiva não percebe que o passado acabou e que o dano foi feito. Diz-lhe que a vingança vai consertar as coisas.

Acontece que a justiça que queremos nem sempre é realista. Ficar com raiva é pensar que um dia, a pessoa por quem você foi injustiçado, poderá lhe curar com tamanha precisão que você até mesmo esquecerá que um dia foi ferido. A verdade sobre a raiva é que não é nada além da recusa de se curar, porque você tem medo. Porque você tem medo de ficar perdido em uma vida desconhecida, livre de dor. Você quer sua pele velha de volta.

Quando você está fervendo, o perdão parece impossível. Você quer ser capaz disso, porque intelectualmente sabe que é a escolha mais saudável a fazer. Queremos a paz que o perdão oferece. Queremos a libertação. Queremos que a loucura em nosso cérebro se acalme, e ainda assim não conseguimos encontrar uma maneira de conseguir.

Aqui está o que ninguém conseguem dizer-lhe sobre o perdão: Não vai resolver nada. Não é uma borracha que irá enxugar a dor do que aconteceu com você. Ele não desfaz a dor que você está vivendo com e nem lhe concede a paz imediata. Encontrar a paz é uma batalha longa e difícil. O perdão é apenas algo para manter-se hidratado ao longo do caminho.

O perdão significa renunciar à esperança de um passado diferente. Significa saber que o passado passou, a poeira baixou e a destruição deixou um rastro que nunca pode ser reconstruído. É aceitar que não há uma solução mágica para o dano que foi causado. É a constatação de que por mais injusto que tudo tenha sido, você ainda tem que viver em sua cidade em ruínas. E nenhuma quantidade de raiva vai reconstruir aquela cidade. Você tem que fazê-lo sozinho.

O perdão significa aceitar a responsabilidade – não de causar a destruição, mas de limpá-la.

O perdão não significa que você tem que fazer as pazes com quem te machucou. Não significa fazer amizade, simpatizar ou validar o que fez a você. Significa apenas que aceitar que essa pessoa deixou uma marca em você. E que, para melhor ou pior, essa marca é agora o um fardo seu. É a decisão de curar suas próprias feridas, independentemente de qual marca ficará em sua pele. É a decisão de avançar com cicatrizes.

O perdão não é sobre deixar a injustiça reinar. Trata-se de criar a sua própria justiça, o seu próprio carma e seu próprio destino. É sobre se recuperar e decidir que o resto de sua vida não vai ser infeliz por causa do que aconteceu com você. Significa caminhar corajosamente para o futuro, com cada cicatriz obtida ao longo do caminho. O perdão significa dizer que você não vai deixar o que aconteceu com você te definir.

Perdoar não significa desistir de todo o seu poder. Significa que você está finalmente pronto para recuperá-lo.

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Traduzido pela equipe de O Segredo – Fonte: Thought Catalog

As artes marciais e a formação do caráter

Autodefesa
Autodisciplina
Confiança
Respeito por si própriobowing_figures

Faça uma pesquisa no Google o termo “publicidade artes marciais” e você vai encontrar uma oferta ilimitada de anúncios que proclamam que a prática de artes marciais ensina os valores indicados acima. Eles são bons valores. Certamente não se afirmaria que o desenvolvimento de boas habilidades de auto-defesa, auto-disciplina, auto-confiança e auto-estima não é bom para ninguém.

Sim, habilidades de auto-defesa são maravilhosas. Ninguém vai argumentar que a auto-disciplina não é importante. Confiança e auto-estima também são impressionantes. Todas essas características são cultivadas e reforçadas pela prática de artes marciais. Minha preocupação é que eu conheci muitos artistas marciais que não desenvolveram essas coisas de uma forma saudável e equilibrada. O que acontece quando as coisas dão errado?

Aprender auto-defesa por meio de treinamento em artes marciais parece redundante, mas tem de ser enfatizado. Todo mundo que tem treinado durante algum tempo vai conhecer pessoas que aprenderam a lição errada.
Estes são os caras que desenvolvem alguma habilidade, mas nunca aprendem quando e onde podem aplicá-la. Eles têm habilidades de auto-defesa, e talvez algum apreço por si mesmos, mas eles não aprenderam a respeitar os outros, e isso se mostra na forma como eles usam suas habilidades. Você pode vê-los de forma sutil e as vezes não tão sutilmente, na intimidação das pessoas com que treinam, fazendo imobilizações e projetando mais forte e mais brutal do que o necessário. Eles usam a ameaça implícita de sua capacidade de intimidar os seus parceiros de treino e as pessoas que estão dentro e fora do dojo. Não é o ideal em que o treinamento de auto-defesa deva tornar-se.

Autoconfiança é muitas vezes o que nos dá a coragem de tentar algo novo ou realizar algo que não é uma aposta certa. Significa não hesitar em pequenas coisas. Ter confiança significa estar disposto a assumir riscos, mesmo que o principal risco seja o nosso ego. É surpreendente como frequentemente os risco mais importantes é o nosso ego ou algum embaraço pessoal, e que esteo risco pode tornar-se demasiado grande. autoconfiança saudável inclui a capacidade de assumir esses riscos e estar confortável com os resultados, em ter sucesso ou falhar. Quando a confiança em nós mesmos culpa os outros é quando temos muito ego. Pense em todos os idiotas arrogantes que realmente acreditam que eles não podem fazer nada de errado no dojo. De onde eles tiram isso? Quando essa arrogância foi ensinada?

O treinamento de artes marciais, sem dúvida, deve fazer-nos melhor em algum tipo de disciplina de combate, mas também no resto?
Autodisciplina é uma característica maravilhosa, e muitas vezes eu queria ter mais. Mas eu vi o que pode acontecer quando você tem um estoque exagerado dela presente. Também já vi pessoas muito disciplinadas. Mas estamos falando de um tipo de pessoa no dojo sendo levada a um nível pouco saudável, enquanto acha que com sua autodisciplina está fazendo o que deve ser feito. Tipo, a pessoa que treina dia após dia sem fazer uma pausa, não dando a seu corpo tempo para descansar e se recuperar, mesmo quando ela está ferida. Há autodisciplina, mas não é balanceada por qualquer sabedoria.

Apreço por si mesmo é maravilhoso. É um reconhecimento saudável de nosso próprio valor como seres humanos. Esse conhecimento nos dá a força mental para não ser destruído por cada crítica. Além disso, fornece suporte contra a pressão que vem de todas as partes da sociedade para mudar ou fazer coisas apenas para agradar outras pessoas. Sem autoestima, podemos envolver-nos em todos os tipos de coisas, só porque aqueles que nos rodeiam querem fazer algo. Os companheiros não podem obrigar-nos a nosa vestir de uma certa maneira ou de se comportar mal, e também não podem nos convencer a desrespeitar alguém, a fim de impressionar aos outros. A autoestima deve ser equilibrada com respeito por aqueles que nos rodeiam, ou você é apenas um idiota.

A maioria dos anúncios que estão lá fora, parece estar destinado a pais, mas há uma abundância de adultos que gostariam de ter habilidades de defesa e melhorar a autoconfiança e autoestima. O treinamento de artes marciais, sem dúvida, deve fazer-nos melhor em algum tipo de disciplina de combate, mas também no resto não? Como aprender a lutar realmente melhora a autoestima global ou a autodisciplina? Mais especificamente, treinamento marcial realmente melhora apenas habilidades de autodefesa, ou ensinam algo mais?

As artes marciais são frequentemente ensinadas de uma maneira que eu não acho que ele irá contribuir grandemente para o desenvolvimento de qualquer das características do personagem estabelecido acima. Como repetição de técnicas de pé e em fila desenvolve algum traço de personalidade? Mesmo a prática de técnicas e habilidades com os seus pares não necessariamente vai ensinar algo mais do que técnica. É ainda muito possível aprender lições que irão desenvolver um pobre caráter simplesmente treinando técnicas com os colegas.

No treinamento com os pares é muito provável que o tipo de caráter estes tem. Alguém que aprendeu a aumentar a sua autoconfiança abusando os parceiros mais fracos também é passível de abusar de você. Você irá realizar a chave muito forte ou forçar a articulação em uma rotação maior do que é realmente necessária, ou projetar com força e não fazer nada para aliviar a queda. Esta não é certamente o caminho para aprender a respeitar um parceiro, muito menos a si mesmo.

Se o professor é arrogante e desrespeitoso para os alunos, em seguida, os alunos irão aprender a ser arrogantes e faltarem com respeito por aqueles que os rodeiam. Mesmo se o professor não é arrogante ou desrespeitoso, mas permite ao sempai o faça com alunos mais jovens, os alunos aprendem que a arrogância e desrespeito são aceitáveis.

Nas aulas em que os alunos não são tratados com respeito pelos professores, não há nenhuma razão para fazê-lo.
Se o professor é arrogante e desrespeitoso para os alunos, em seguida, os alunos irão aprender a ser arrogante e falta de respeito por aqueles que os rodeiam.
Espera que os alunos aprendam a autoconfiança ou respeito. Os “senhores de si mesmo” não tem medo de cometer um erro. No final do dia, é que vemos ou não a autoconfiança. Um professor que tem autoconfiança e autoestima, da aos alunos respeito individual e espaço para desenvolver a sua própria autoconfiança.

14199169_10210263366210083_4006492602852871388_nHá muitas maneiras que um professor dar aos alunos aulas de mau-caratismo, e, infelizmente, muitas pessoas que ensinam artes marciais não são exatamente um personagem maravilhoso. Eles praticavam artes marciais e ensinavam aos alunos os aspectos físicos da matéria sem aprender nada sobre a maturidade emocional. Os professores podem ser arrogantes e ensinar que qualquer um que não é bom o suficiente deve ser ridicularizado. Estudantes com perguntas difíceis podem ser tratados com condescendência. Todos podem ser abusados, e apenas aqueles que sofrem abusos sem reclamar ou lamentar serão digno. Quando eu penso sobre isso, é como se os maus caminhos para ensinar artes marciais eram muito mais numerosas do que as formas corretas de transmissão de conhecimento.

Há um equilíbrio delicado. Como podemos ensinar autodefesa sem ensinar a intimidar e abusar? Como podemos ensinar a confiança, sem ensino arrogância? Como podemos ensinar os alunos a valorizar outros, enquanto estamos ensinando valor a si mesmos? Como podemos ensinar a confiança sem a arrogância atingi-los?

artes marciais, dojo, dojang e tem que ter tempo para enfatizar algo mais do que apenas a violência crua ao treinar. No dojo de judô onde eu amo treinamento, dicas de segurança para trabalhar no interesse mútuo, e promover o respeito entre os companheiros de treino são tão prevalentes em uma parte do discurso, como sugestões para melhorar as projeções e chaves mais comuns . Ninguém vai aprender uma lição que não é ensinada. Se uma escola de artes marciais anuncia que ensinam autodefesa, autoestima, autoconfiança e autodisciplina, não devemos ter medo de perguntar “Como ensina isso?”

autodefesa é um conceito jurídico, e se você não sabe o que constitui a autodefesa legalmente pode entrar em todos os tipos de problemas
Se uma escola pretende ensinar autodefesa, ou ensina a resposta adequada e a complexidade de cada situação, ou é direcionado para slogans baratos como “melhor ser julgado por doze do que carregado por seis”. A escola usa um tempo para enfatizar como excepcionalmente deve ser o uso da força, e em que situações seria adequado o uso dela, ou ensinar todos os tipos de técnicas aos estudantes deixando que eles descubram por si mesmos?

Quando uma escola que ensina a autodisciplina pergunte: O que voce ensina é autodisciplina, ou somente a disciplina? Autodisciplina é ser capaz de se concentrar e fazer algo para si mesmo. A escola dá aos alunos o tempo necessário para aprender e trabalhar em coisas por conta próprias, ou a cada momento está sendo programado, dirigido e conduzido por um professor? A não ser que os alunos tenham tempo para si mesmos, eles nunca aprendem a se conduzirem e terem autodisciplina. Ninguém pode aprender a autodisciplina, enquanto a disciplina externa o está apertando e bloqueando. Os alunos precisam de espaço para desenvolver o seu interior, bem como as habilidades físicas mais refinados.

Como a escola ensina ao aluno o respeito por si mesmo? O que é mais importante para mim, como ensinam ao aluno respeito por si próprio e aos outros? Os professores e alunos são modelos de respeito e tratam a todos com dignidade? Ou, ao contrario depreciam e abusam de aos que estão abaixo deles na hierarquia? Os alunos são tratados com louvor adequado e legítimo, ou são criticados gritando-se com eles e degradados quando eles cometem um erro?

Autoestima e confiança em si mesmos estão intimamente relacionados. Os alunos têm a oportunidade de trabalhar em objetivos sem pressão constante de instrutores na condução e pelos colegas? Os alunos têm a oportunidade de falhar? A autoconfiança real vem de saber que você pode fazer as coisas por si mesmo, não de se mover ao longo de uma escala de progressão de faixa com os outros, enquanto parcelas mensais e a taxa do exame são pagas. Não é até que tenhamos experimentado algum fracasso, seguimos em frente para a nossa confiança em nós mesmos e se adquirindo a verdadeira autoestima profunda. Se no exame está tudo definido para que todos sempre passem, ou se os alunos não têm a chance de falhar, não vão desenvolver autêntica autoconfiança e autorespeito. No melhor do casos tem-se a ilusão de que vai ficar tudo bem até que algo surge para testar essa confiança e autoestima, e, em seguida, quebra-la. Confiança genuína pode lidar com contratempos. Autorespeito genuíno não será danificado pelo que vem de fora, já que temos o suficiente para absorver os danos causados ​​pela profundidade da vida.

Se a escola não está trabalhando ativamente, de forma consciente, o ensino dessas lições, provavelmente, não esta ensinando, tampouco de forma passiva. Apesar dos mitos e lendas, bom caráter não é um subproduto automático de treinamento de artes marciais. A publicidade é boa, mas realmente o que os alunos aprendem no dojo de artes marciais?

Texto extraído de aikido en linea: tradução livre do espanhol por Walter Amorim

Honoríficos Japoneses – San, Chan, Kun

bowing_figuresNo Japão, o habitual é chamar as pessoas pelo sobrenome, exceto se for alguém da família, amigos íntimos ou crianças. Outra característica interessante e muito importante é o uso frequente de honoríficos após o nome ou sobrenome. Existe uma variedade grande de honoríficos e cada qual deve ser usado de forma apropriada.

A hierarquia é muito importante na sociedade japonesa e também determina qual o honorífico usar para cada pessoa de acordo com o grau de intimidade ou posição social. O conceito dos honoríficos existe desde a era feudal e podemos dizer que é um dos pilares da educação no que diz respeito ao trato social.

Nas fábricas e empresas em geral é comum se referir aos seus superiores de acordo com sua posição dentro da empresa. Por exemplo, o presidente de uma empresa é chamado de Shacho (社長) por seus subordinados. O chefe, por sua vez, irá chamar seus subordinados pelo sobrenome seguido do sufixo “san”.

Pra quem está aprendendo japonês, é muito importante aprender a usar corretamente os honoríficos japoneses, pois o uso inadequado pode acarretar más interpretações e você pode sair como “mal educado”, mesmo sem esta intenção. Também não devemos usar honoríficos para se referir a nós mesmos.

Honoríficos Comuns

✭ さん – San

Este é um honorífico que pode ser usado em praticamente todas as situações, independente do sexo da pessoa. Podemos dizer que é equivalente a Senhor ou Senhora. Para usá-lo basta dizer o sobrenome da pessoa seguido do sufixo “san”. Exemplo: Sr./Sra. Tanaka = Tanaka san (田中 さ ん). Normalmente é usado para pessoas que temos pouca ou nenhuma intimidade.

No caso de você ficar perdido, sem saber qual qual honorífico usar, o “san” é a escolha mais segura com certeza. Não tem erro! Lembrando que no dialeto de Kansai, é muito usado o sufixo “han”, que é equivalente a “san”.

✭ 様 / さ ま- Sama

Este é um sufixo bem mais formal que “san” e é usado para se referir a alguém pelo qual sentimos um enorme respeito. É comum muitos funcionários de lojas e empresas se referir aos seus clientes como “sama”. Um exemplo é o termo “Okyaku-sama” (お客様 / おきゃくさま), que significa “prezado cliente”.

Também pode ser usado para expressar gratidão aos esforços de alguém. Exemplos: Gokurō-sama deshita (ご苦労様 でした) ou Otsukaresama (お疲れ様), que significam algo como “Obrigado por seu trabalho, empenho ou esforço”.

✭ ちゃん – Chan

O sufixo “chan” é um termo carinhoso usado geralmente para crianças ou pessoas que temos muita intimidade. O “chan” é usado após o nome inteiro ou abreviado. Por exemplo, no anime Detective Conan, a mãe de Shinichi Kudo, costuma chamá-lo de forma abreviada e carinhosa: “Shin-chan”.

“Chan” pode ser usado tanto em homens ou mulheres e também em animais de estimação. Seria um diminutivo para dar um ar de fofura, equivalente a chamar alguém de Duda, Zeca, Carolzinha, Zezinho, Mariazinha, etc…

✭ 君 – Kun

O sufixo “kun” é bastante utilizado entre jovens que tem laços de amizade. É um honorífico informal também utilizado no ambiente de trabalho, principalmente na forma como chefes se referem a seus subordinados. É geralmente usado para se referir às pessoas do sexo masculino nos quais se tem um grande grau de afinidade.

✭ 先輩 – Senpai

“Senpai” é um título honorífico normalmente usado para tratar colegas mais velhos, figuras mentoras ou para fazer referência a alguém que é mais experiente que você. Seria uma forma respeitosa que serve para mostrar a diferença de status social entre o falante e o ouvinte. Ele significa algo como “veterano” ou “mentor” e é um honorífico bastante utilizado nas escolas.

✭ 後輩 – Kohai

“Kohai” seria o antônimo de “Sempai”, e é usado para se referir aos mais jovens ou calouros dentro de escolas e instituições. Porém, não é nada educado tratar alguém diretamente com este sufixo, pois seria considerado uma atitude muito rude. Nesse caso, o ideal é usar os sufixos “san” ou “kun”, ao invés de kohai.

✭ 先生 – Sensei

O título honorífico “sensei” é usado especialmente para professores, médicos, dentistas, cientistas, advogados, escritores, artistas e até mesmo, qualquer um que seja considerado um doutor ou um mestre no que faz.

Honoríficos obsoletos

✭ 氏 – Shi

O sufixo “shi” é um honorífico formal, usado especialmente em escritas formais como documentos jurídicos, diários, jornais, publicações acadêmicas, entre outros escritos, para se referir a uma pessoa cujo o interlocutor não conhece pessoalmente, mas o conhecemos através de publicações.

✭ 殿 / ど の – Dono

O sufixo “dono” vem da palavra “tono”, que significa “senhor”. Seria semelhante ao termo “meu senhor”. Trata-se de um honorífico mais formal que “sama” e não é muito utilizado em conversas no dia a dia. Na verdade, esse honorífico quase não é mais usado nos dias de hoje, exceto em algumas correspondências de negócios ou documentos formais como diplomas ou premiações.

✭ 上 / う え – Ue

O sufixo “ue” era muito usado antigamente, especialmente pelas famílias aristocratas, para se referir a alguém a quem sente muito respeito, tais como pai, mãe e outros membros da própria família. Exemplos: chichi-ue (pai), haha-ue (mãe), ani-ue (irmão mais velho), ane-ue (irmã mais velha).

✭ 選手 / せんしゅ – Senshu

O honorífico “senshu” é usado especialmente para atletas em geral. Pode ser aplicado a boxeadores, jogadores de futebol, lutadores de artes marciais, etc.

✭ 家 元 – Iemoto

O honorífico “Iemoto” é uma versão mais formal de “sensei”, usado para grandes mestres de arte tradicionais, tais como caligrafia japonesa ou cerimônia do chá.

✭ 被告 / Hikoku

O título honorífico Hikoku serve para fazer referência a criminosos condenados. Já suspeitos que ainda aguardam julgamento são referidos como “yogisha”.

✭ 陛下 – Heika

O título honorífico Heika trata-se de um título real, que se traduz como “majestade”. Por exemplo, Tennō heika (天皇 陛下), que significa “Sua Majestade, o Imperador” e Joo heika (女王 陛下) que significa “Sua Majestade, a Rainha”. Outro título similar é Denka (殿下), que se traduz como “Alteza Real”.

✭ 閣下 – Kakka

Kakka é um título honorífico que significa “Vossa Excelência” e é usado geralmente para embaixadores e alguns chefes de Estado.

Extraído do blog Japão em Foco

O estado de não mente (mushin ou munen)

441248Mushin – Espírito original, espírito puro, espírito livre. Expressão usada para exprimir uma mente livre do ego e das suas afirmações. É oposta à de ushin, o pensamento superficial e fixo. A procura da vacuidade mental ou da libertação de todo o pensamento está no centro da procura de todas as artes marciais. Só um espírito livre e vazio pode estar instantaneamente receptivo a todo o movimento e intenção do adversário.
O treino deve ser, sempre, shin gi tai.
SHIN GI TAI é o conjunto de espírito, carácter (shin); de técnica (gi); e dos elementos corporais (tai), como a posição, o movimento, a energia física. Cada um destes elementos tem uma intensidade diferente em cada uma das graduações. Uma graduação dan deverá ser sempre o conjunto de shin gi tai.
 
tkeiko-samuraiA idade, os anos de prática, o sexo, as possibilidades de cada um, a própria graduação devem determinar qual o ou os elementos mais importantes. Para um jovem shodan, admitir-se-á que seja predominante o tai acompanhado de um razoável desempenho técnico gi. Para outras graduações superiores, em que a idade é avançada, o shin deve ser predominante. Shin gi tai, harmonizam-se e fundem-se. O budoka atinge o estado de mushin. É possível a reação espontânea face a não importa qual ataque, com eficácia absoluta do corpo e da técnica. Algo reagiu. Algo lutou e venceu. Algo que não a mente está vigília.
 
O corpo é treinado intensa e duramente. A técnica é aperfeiçoada até ao infinito, sem nunca o budoka parar de procurar aperfeiçoá-la mais. Mas no momento decisivo é o espírito que finalmente decide. É a mente em mushin que determina a reação adequada. O espírito intervém, porque o pensamento não pode estar presente. Se o pensamento procura a resposta, não há tempo para reagir.
 
Um dado interessante do Budō é a certeza de que intuição e ação são uma só coisa. E quando intuição e ação não se destinguem, os três elementos, shin gi tai, passam a ser, também eles um só.
 
Com o conceito de Do a acompanhar as artes de guerra, a ênfase passou para as atitudes internas e o autoconhecimento. A execução das técnicas, o seu âmbito prático, tem como objectivo a exploração interna e o treino da habilidade mental.
 
Aikido-7c2-1024x682O objectivo o treino é alcançar mushin, e este só será alcançado com a renuncia ao ego, com a renúncia aos frutos da ação, ou seja, MUSHOTOKU. (Mushotoku 無所得 é uma palavra japonesa que poderia traduzir-se como ausência de intenção ou de proveito, significa fazer algo sem esperar nenhum beneficio pessoal.)
Uma mente preocupada em alcançar algo, não consegue libertar-se do pensamento e não consegue mushin.

Quem mudou o aikido após a grande guerra e por quê? – por Stanley Pranin

morihei-ueshiba-all-japan-demo-750x350Autor original: Stanley Pranin – Aikido Journal.

Em outras ocasiões temos trazido artigos de Stanley Pranin, entre outros, sobre a historia do aikido, e a profunda transformação que se operou no pós guerra, implementado pelo Hombu Dojo. Nesta ocasião gostaríamos de trazer mais um artifo sobre esta matéria, escrito pelo mesmo autor, e ele dá a sua opinião fundamentada sobre o porque se produziu tamanha mudança na prática, inegável do ponto de vista técnico, marcial e de organização. Uma proposta provocadora, e que alguns parece bastante irritante, mas que merece ser levada em conta.
La reactivación del Aikido después de la Segunda Guerra Mundial

A reativação do aikido depois da segunda guerra.

O praticante de aikido típico ( e nisto incluem-se muitos instrutores) só tem uma remota ideia e noções sobre como a arte criou suas raízes no Japão e no estrangeiro, depois da segunda guerra mundial. Isto não é devido a falta de disponibilidade de informações sobre o tema. E possível estudar os acontecimentos deste período, mas a informação necessária está dispersa em múltiplas fontes, que requerem uma capacidade de leitura em Japonês, inglês e em outro idiomas europeus.

Sem dúvida, a internet tem facilitado esta tarefa, mas é difícil obter uma perspectiva básica de como ressurgiu o Aikido, pela primeira vez no Japão e logo no estrangeiro., depois do acontecimentos catastróficos da grande guerra. Existem poucos incentivos para os estudiosos realizarem a investigação necessária. Há somente um numero relativamente pequeno de pessoas que estão interessadas nestes assuntos históricos relacionados ao aikido.

Quais foram os promotores desta reativação?

É uma questão simples identificar as principais personalidades responsáveis pela aparição do Aikidô como uma arte marcial moderna, dado que poucas pessoas tiveram participação nos primeiros anos da arte. Aqui temos uma lista: Kisshomaru Ueshiba, Koichi Tohei, Gozo Shioda, e Kenji Tomiki. Estes nomes serão imediatamente reconhecidos pela maioria dos praticantes de aikido com experiência. Há outros que desempenharam um papel de importância variável, mas estas quatro figuras se destacam como as figuras chave que deram forma ao aikido do pós-guerra. Entre os quatro, Kisshomaru Ueshiba y Koichi Tohei, foram de longe os mais influentes durante os anos 50 e 60. Não obstante, nenhum deles tinha uma ampla experiência em artes marciais antes de entrar em seus papeis de liderança dentro da aikikai.

Dado que é fundamental para minha tese, permita referir-me aos antecedentes de artes marciais de cada um destas quatro pessoas:

  • kisshomaru-ueshiba-c1962Kisshomaru (1921-1999): De constituição frágil de uma criança, Kisshomaru, filho do fundador Morihei Ueshiba, estudou kendo quando pequeno. Ele começou a praticar Aiki Budo regularmente com seu pai após o abandono de seu cunhado Kiyoshi Nakakura da família Ueshiba em torno de 1937-1938. A primeira evidência de que Kisshomaru estava sendo preparado como sucessor do fundador é o fato de que o mais jovem dos Ueshiba aparece em 1938 no livro “Budo” como um dos uke de Morihei. Naquele tempo, o núcleo mais talentoso entre os uchideshi do período pré-guerra tinha deixado o Kobukan Dojo, principalmente devido à mobilização para a guerra no Japão. Kisshomaru foi uma dos poucos jovens que ficaram no Kobukan Dojo. Os outros eram Gozo Shioda e Zenzaburo Akazawa. Apenas cinco anos depois, Kisshomaru tornou-se o chefe do dojo de seu pai quando Morihei retirou-se para Iwama, no final de 1942. Durante e depois da guerra, o treinamento de Aikido de Kisshomaru era irregular devido às condições extremas no Japão que foram desfavoráveis para a prática de artes marciais. Era empregado durante o dia em uma empresa de valores mobiliários em Tóquio e treinou e ensinou em tempo parcial Aikido quando seu horário o permitia. Durante os primeiros anos, viveu em Iwama e se deslocava para Tóquio, mas mais tarde mudou-se de volta para o dojo de Ueshiba na capital para cuidar de seus assuntos e encurtar o trajeto para o trabalho. Durante este tempo, várias famílias que foram bombardeadas estavam vivendo no dojo. Em 1955, como o Aikikai Hombu Dojo estava revivendo, Kisshomaru largou o emprego e começou a dedicar tempo integral para instrução e gestão no dojo. O tempo total de sua formação com o pai nos períodos pré-guerra e pós-guerra pode ser estimado em 7-8 anos. A partir de 1955 até a morte do fundador, em 1969, Kisshomaru estava ocupado com seu programa de ensino e responsabilidades de gestão, por isso é uma suposição qualquer cálculo da duração do seu estudo com o pai
  • koichi-tohei-hawaii-c1960-02Koichi Tohei (1920-2011): Tohei começou a praticar judô quando criança e continuou treinando até chegar a faculdade alcançando determinado nível de dan. No início de 1939, quando ele era um estudante na Universidade de Keio, Tohei entrou no Ueshiba Dojo e aprendeu com Morihei por um período de cerca de 18 meses antes de entrar no Exército Imperial Japonês. Após o seu repatriamento no fim da guerra, Tohei retornou à casa de sua família em Tochigi e iniciou um projeto de negócio, que falhou. Ele encontrou tempo para viajar regularmente para Iwama para receber treinamento adicional de Ueshiba durante os anos 1940. Tohei, finalmente, começar a passar mais tempo em Tokyo a partir dos anos 1950, antes de sua partida para o Havaí em 1953. Podemos estimar o seu tempo estudar com Ueshiba em três ou quatro anos, incluindo sua educação e formação em Iwama e Tóquio em tempo de guerra. O próprio Tohei relatou que ele aprendeu com o fundador apenas cerca de dois anos.
  • shiodalGozo Shioda (1915-1994): Shioda se inscreveu no Kobukan do Dojo Morihei em 1932, depois de estudar judô e kendo. Ele continuou a sua formação no Dojo durante o auge do Kobukan continuamente por cerca de oito anos, parte do qual residia como um estudante interno. Seus parceiros de treinamento incluiram muitos dos mais famosos alunos de Morihei Ueshiba do período pré-guerra. Embora Shioda não tenha ido para o exército, ele serviu durante a guerra como um civil em várias atribuições na China e Sudeste Asiático. Após a guerra, Shioda passou um mês de prática intensiva em Iwama com Morihei em 1946. Como Shioda vivia em Tóquio, teve posteriormente contato esporádico com Ueshiba, durante visitas a Iwama – um passeio de trem de cerca de duas horas. Shioda foi um dos primeiros a começar ativamente o ensino do Aikido depois da guerra Aikido, em Tóquio, e logo estabeleceu sua própria escola chamada Yoshinkan Aikido. A estimativa generosa do tempo total de Shioda estava estudando com Ueshiba seria cerca de nove anos.
  • kenji-tomiki-aikido-kyogi-1Kenji Tomiki (1900-1979):  Tomiki aprendeu judô quando criança e continuou sua prática enquanto ele era um estudante na Universidade de Waseda, tendo interrompido por quatro anos os estudos devido a uma doença. Um grande homem pelos padrões japoneses, era um competidor de nível superior, um quinto dan durante os anos 1920 e inclusive competiu diante do imperador no torneio Tenranjiai em 1929. Tomiki foi fortemente influenciado pelas opiniões de Jigoro Kano com quem desfrutou de uma relação estreita. Tomiki ele começou a aprender Daito-ryu Aikijujutsu com Morihei Ueshiba em 1926. Ele foi formado por Ueshiba em Tóquio dentro e fora do dojo enquanto trabalhava como professor em na prefeitura de Akita. Em 1936, mudou-se para a Manchúria controlada pelos japoneses, onde foi empregado como um instrutor de artes marciais através de suas conexões com Morihei Ueshiba. Tomiki foi p com um 8º dan de Ueshiba em 1940. O tempo total de estudo em Ueshiba totalizaram talvez 8-10 anos.

Deixando para trás o legado de Morihei

Gozo Shioda foi o primeiro a começar a ensinar Aikido após a guerra publicamente devido a seu trabalho fornecendo segurança em várias instalações de empresas durante o “expurgo vermelho” da década de 1950. A Aikikai ainda estava tentando sobreviver com baixa assistência e a contínua presença de famílias deslocadas pela guerra que viviam no dojo. Um evento histórico ocorreu em 1954, quando uma demonstração de artes marciais patrocinada pela “Association of Life Extension” atraiu cerca de 15.000 espectadores. Shioda fez uma demonstração dinâmica que atraiu a atenção de vários clientes ricos e logo foram feitos planos para construir um dojo. Em 1955, o primeiro dojo da Yoshinkan Aikido foi aberto e serviu de base para a expansão deste estilo de Aikido em empresas e departamentos de polícia. Um ponto interessante é que um punhado de soldados norte-americanos estava entre os primeiros estudantes de Aikido Yoshinkan e trouxeram a arte de volta para os EUA a partir de meados dos anos 1950. Shioda permaneceu com boas relações com o Aikikai, mas ele não viu muitas vezes Morihei. Ueshiba estava retirado em Iwama e correspondia a ele e a geração mais jovem dos estudantes de Morihei a responsabilidade de espalhar a arte para o público em geral.
A repatriação de Tomiki para o Japão foi adiada até 1948. No ano seguinte, tornou-se professor em sua alma mater, a Universidade de Waseda, chegando a ser diretor do clube de judo no departamento de educação física. Suas atividades estavam focadas na universidade, mas também continuou a ensinar na Aikikai de forma semi-regular. Isso durou até 1958, quando Tomiki atraiu a ira de Morihei e os líderes Aikikai através da introdução de uma forma competitiva de Aikido da Universidade de Waseda, algo anátema para os princípios mais profundos de O-Sensei. Ele poderia ter silenciado a crítica da sua ação abandonando o uso do nome “Aikido”, mas preferiu mantê-lo. A partir desse momento, tornou-se pessoa indesejada no Aikikai. Por parte de Tomiki, embora ele tivesse um profundo respeito por Ueshiba como um artista marcial, ele pensava que os métodos de ensino Morihei eram antiquados e pouco científicos. Ele preferia a abordagem de seu mestre Jigoro Kano no ensino de artes marciais e sentiu que a competição era uma ferramenta importante e um meio para testar o verdadeiro progresso contra um adversário que não coopera.
A situação de Kisshomaru era extremamente complexa. Como o filho do fundador, era esperado que seguisse os passos de seu pai e gestionasse o curso do desenvolvimento do aikido depois da guerra. Quanto à habilidade marcial, ele não tinha experiência e seu temperamento era tal que rejeitou um modelo de formação rigorosa em favor de formas mais suves de prática, que se assemelhavam mais a um sistema de exercício cardiovascular. Da mesma forma, ele se absteve de usar uma linguagem esotérica de para expressar sua visão da arte. Por outro lado, ele publicou escritos e discursos publicados em nome de seu pai, eliminando as referências religiosas desconhecidas. Kisshomaru considerou essas ações como uma reforma e melhoria do Aikido tornando a técnica mais apropriada para a sociedade japonesa do pós-guerra e, portanto, mais fácil de espalhar internacionalmente.

Koichi Tohei foi contundente em sua crítica de Morihei Ueshiba. Claramente ele declarou em entrevistas publicadas que a coisa mais importante que ele aprendeu com a sua formação em Aikido com o fundador foi a importância de “relaxamento”. Tohei desenvolveu seus métodos baseados em ki que incorporam elementos do sistema de saúde Tempu Nakamura e práticas de meditação Ichikukai. Ele criou o que era na verdade um sistema híbrido que combina as técnicas básicas de Aikido, com ausência de ênfase marcial, com práticas adicionais extraídas de seus estudos fora do aikido depois da guerra. Tohei também acreditava que as explicações místicas sobre Aikido estavam cheios de metáforas incompreensíveis e que falar incoerentemente retardaria o crescimento futuro da disciplina.

A partir das observações acima, deve ficar claro que todas essas quatro figuras-chave desapreciaram algumas partes do legado do Aikido de Morihei. Kisshomaru e Tohei, acima de tudo, abandonaram as técnicas marciais do fundador, a teoria do Budo e metodologia de ensino. Todos Eles c hegaram a conclusão que a linguagem e explicações arcanas sobre os principais conceitos de Aikido Morihei eram inadequados para os tempos modernos. No entanto, com exceção de Tohei, todos eram cuidadosos em suas críticas, fazendo-as em trmos diplomaticos enquanto mostravam respeito exteriormente.

Neste ponto, gostaria de focar a atenção nas ações de Kisshomaru e Tohei nos anos 1950 e 1960. A razão para isso é que estes dois formaram a espinha dorsal da organização Aikikai a qual a grande parte dos praticantes do aikido em todo o mundo após a guerra deve obediência até hoje. Em artigos anteriores, eu avancei na tese de que a presença e participação de Morihei nas atividades do Aikikai durante este período foram limitadas e irregulares, e ele não desempenhou um papel na gestão do dojo ou da organização. Evidência histórica abundante existe para apoiar este ponto de vista. Por muitos anos, Kisshomaru e Tohei atuaram como uma equipe. Casados com irmãs e, assim, compartilhando de um vínculo de sangue, ambos tiveram seus seguidores dentro do Aikikai e exerciam uma um poder de controle sobre as decisões-chave tomadas pela sede.

O aikido troca de marcha seguindo o sinal dos tempos.

Kisshomaru, desde o final dos anos 1950, e Tohei no início de 1960, começou a publicar um fluxo constante de livros de Aikido, na maior parte técnica. Estas primeiras publicações estabeleceram o padrão de fato para o ensino do Aikido, em que o currículo dos membros do Aikikai se baseiam. Instrutores jovens enviados pela Aikikai a muitas partes do mundo estenderam essas mesmas técnicas e métodos de ensino no exterior. Outros instrutores de responsabilidade dentro da Aikikai, é claro, tinham alguma influência, mas nenhum deles poderia rivalizar com Kisshomaru e Tohei em importância ou visibilidade.
Quais foram os métodos de treinamento Tohei e Kisshomaru? Ambos estilos de treinamento tinham aquecimentos, alguns dos quais se sobrepõem, incluindo exercícios herdados de Morihei. Houve um núcleo de cerca de 50 técnicas de Aikido com mãos vazias que foram os mais comumente praticados e que têm sido utilizados para os exames. A maioria das técnicas eram realizadas de maneira fluida, e raramente nage fazia as técnicas a partir de uma posição estática. Embora às vezes mencionado de passagem, as práticas comumente usado em artes marciais, tais como atemi e kiai caíram em desgraça no sistema Aikikai, e não são recomendados no treinamento. O cerne da questão era que todo o praticante que tentou usar um atemi forte ou kiai era repreendido, ou inclusive era convidado a deixar o dojo.
Tenho praticado em ambos os sistemas desde 1963 e têm um conhecimento de primeira mão das condições de formação que prevaleciam naqueles dias. Os ataques tendem a ser lentos, superficiais e carentes de compromisso. Os adultos mais velhos, por vezes existiam aos jovens, o que era fácil de fazer por causa dos ataques descopromissados. A implementação bem sucedida de algumas técnicas era completamente dependente desse tipo de interação descuidada entre uke e nage. Ataques repentinos e fortes eram vistos como desafios e provocavam uma reação irada de nage, que costumavam recorrer à força física, na tentativa de forçar uma técnica.
O uso de armas (de ambos, ken e jo) foi mínima. Defesas contra várias armas às vezes era ensinado em preparação para exames avançados. Como poucas pessoas tiveram treinamento no uso de armas, os ataques eram lentos, fracos e mal executados.

Pode-se pensar que a formação não era vigorosa. Pelo contrário, pode ser muito estressante, especialmente no estilo de Kisshomaru. No entanto, a severidade da formação em tais situações era devido a exigências cardiovasculares motivadas por um movimento contínuo, e uma série de quedas durante a prática. Eu achei que era particularmente difícil para treinar desta forma, em condições práticas de calor e umidade.
Para a maior parte, a formação no dojo marcial não insiste na integridade marcial na técnica. Na verdade, uma tentativa de mostrar uma maneira de pensar de acordo com o Budo durante a prática teria sido recebida com resistência e ridicularizado como “contrária aos princípios do Aikido.” A falta de atemi, kiai e treinamento com armas anteriormente mencionados acima prova este estado de coisas. Temos material histórico desde 1962 de ambos os métodos de ensino tanto de Kisshomaru quanto Tohei, que os leitores podem consultar-se para tirar suas próprias conclusões.
O uso dos métodos paralelos de formação por Kisshomaru e Tohei dentro da Aikikai e escolas filiadas chegou a um fim abrupto em maio de 1974, quando Tohei desligou-se da escola. Eu tenho escrito muito sobre este grande evento em outras oportuindades para aqueles que desejam aprender sobre este importante episódio da história do Aikido.

O Aikido de Kisshomaru se converte no padrão Aikikai

aikikai-hombu-dojo-buildingOs métodos de Kisshomaru foram rapidamente adotados como padrão para a instrução no Hombu Dojo após a saída de Tohei, embora instrutores seniores da Aikikai continuaram a ensinar como anteriormente. O filho de Kisshomaru, o atual Doshu Ueshiba Moriteru, foi preparado sob a tutela de seu pai, como os jovens instrutores que aderiram à Aikikai neste período. Com algumas modificações, o sistema Kisshomaru continua hoje como o currículo oficial da Aikikai.
Isso, em poucas palavras, é uma descrição dos princípios do Aikido no Japão após a guerra. Muitos criticaram Kisshomaru, Tohei, e outros mestres desta vez pela disseminação de padrões técnicos medíocres que fizeram do Aikido uma caricatura de uma arte marcial. Tais comentários são comuns entre os críticos do Aikido de outras artes marciais, e pode ser ouvidos até mesmo dentro da comunidade aikidoka. Claro, todo o debate é subjetivo, e os pareceres cobrem um amplo espectro.
Para ser justo, devemos lembrar as circunstâncias em que o Aikido deu seus primeiros passos no Japão e começaram a ser exportados para países estrangeiros. A sociedade japonesa rejeitou o espírito militarista e nacionalismo radical que levou a nação a uma guerra suicida. Portanto, qualquer coisa associada com o nacionalismo e militarismo antes da guerra, o que naturalmente inclui artes marciais, foi recebido com ampla desaprovação social.
Estudantes de Morihei que reviveram a arte após a guerra tinham que manter um “low profile”*, combater a pobreza galopante, as forças de ocupação, e uma opinião pública negativa. Isto era a verdade de todas as artes marciais. Uma das maneiras em que algumas artes tentaram ultrapassar estas circunstâncias foi enfatizar ou introduzir um componente competitivo. Eles poderiam, então, dizerem que estas artes tornaram-se esporte, e, portanto, não se destinavam a ser utilizados para a propaganda de guerra, como foi o caso antes e durante a guerra.
Tendo em conta os princípios fundamentais da arte apresentados por Morihei, a introdução de competição não era, obviamente, uma opção no caso do Aikido. O que foi feito no lugar, dentro do sistema Aikikai, era enfatizar o pedigree marcial das técnicas do Aikido e evitar condições de prática que levassem ao cultivo de um forte espírito marcial. Cerca de 60 anos mais tarde, entretanto, ele ainda está formando um grande número de profissionais dentro do sistema Aikikai usando este método de ensino, que não é marcial na natureza e não reflete a visão de Aikido concebido pelo fundador da arte, Morihei Ueshiba O Sensei.

(traduzido do espanhol da publicação de aikido en linea)

* low profile: Expressão utilizada para pessoa discreta, avessa a escândalos, de atitudes, modo de vestir e opiniões moderados. Quem não gosta de chamar atenção para si.