Tengu: o Demônio Japonês

Extraído de  Morte Súbita Inc     e  marshmallow revolution

A origem dos Tengu

tengu1Tengu (天狗) significa “cachorro dos céus” e este nome tem origem em um ser celestial canino chinês (Tien Kou). A palavra “tengu” é originária do chinês “tien-kou”, que significa “cão celestial”.

Desde que lhe foram atribuídas características fantásticas, a partir da influência da mitologia chinesa (600 a 700 d.C.), os tengu povoam os mitos e a imaginação dos japoneses. Na mitologia chinesa o Tinagou é um imenso lobo comedor de gente, semelhante a um cometa. Quando ele corta o céu como uma estrela cadente, o barulho que provoca é como um poderoso trovão e sempre é tomado como um sinal de que a guerra se aproxima. No Japão, contudo,  Tengu não é um único ser, mas toda uma classe de seres que inicialmente eram mais semelhantes a aves de rapina do que a cães. As versões mais antigas são retratadas com bicos e penas, mas essas características foram perdidas com o tempo.

Como o Tengu se transformou de um cão-meteoro chinês em um homem pássaro japonês é algo que ninguém sabe exatamente. Existe contudo uma possível explicação antropológica que remonta à demonização e exílio do budismo Shugendô. No Japão pré-feudal nasceu esta corrente do budismo que uniu elementos do taoísmo, xintoísmo e crenças animistas para formar uma escola do Mikkyo, o budismo esotérico.

Por meio de praticas severas e rígida ascese ( exercício de renúncia aos prazeres e necessidades básicas, com fins espirituais), seus seguidores buscavam adquirir maestria no domínio das artes marciais e algumas formas de poderes espirituais, como: o força sobre-humana, poderes de cura, clarividência, levitação, entre outros. Estas disciplinas exigiam uma forte separação do resto da sociedade. Isolados e misteriosos logo atraíram o medo das demais pessoas. Nesta época, o Tiangou chinês já estava sincretizado com o deus hindu Garuda, ganhando características de pássaro e com algumas entidades demoníacas xintoístas. O passo seguinte foi pluralizar este demônio pássaro em toda uma espécie de seres, num processo de demonização dos seguidores do budismo Shugendô.

Mitos e transformações dos Tengu

PF_Tengu_RoninAs lendas começaram a se multiplicar, até que no período Heian uma série de histórias foram publicadas em uma coleção chamada “Konjaku Monogatari”, contendo os principais contos que caracterizariam os Tengus nos séculos a seguir. Estes tengus eram demônios inimigos do budismo, que buscavam a todo custo confundir e desencaminhar as pessoas para longe dos ensinamentos de Buddha. Para atingir seus fins eles se valem de uma série de poderes, como a capacidade de mudar de forma, de tamanho, de criar ilusões, de ventriloquismo, teletransporte e o poder de entrar nos sonhos de quem dorme. Eles sequestravam discípulos e os largavam em lugares remotos, roubavam e vandalizavam templos e recompensavam quem os adorassem com poderes profanos. Frequentemente disfarçados como sacerdotes ou sacerdotisas e escondendo seu aspecto demoníaco.

Devido a seus poderes de ilusão e transformação a arte oriental apresenta os Tengus de muitas formas diferentes, algumas gigantescas como os daitengu outras minúsculas como os konoha-tengu. Contudo, existe uma tendência de  serem retratados sempre com narizes extremamente grandes ou as órbitas oculares bastante proeminentes. As lendas contam também que os Tengu geralmente carregam consigo um leque mágico feito de penas, com o qual conseguem enfeitiçar as pessoas. Estes leques às vezes possuem o poder de fazer o nariz de uma pessoa crescer ou de provocar poderosas ventanias.

Com o passar do tempo os Tengus foram popularizados como demônios caóticos cuja grande missão é causar discórdia e desordem. Estão sempre ligados à figura dos orgulhosos,  em alguma histórias infernizando sua vida, em outras destilando orgulho em seus corações para fazê-los cair no reino dos tengu (天狗道, tengudō). Isso porque muitas lendas afirmam que os próprios Tengus foram samurais ou monges que foram desencaminhados em algum momento de suas vidas.

Essa imagem de fantasmas de sacerdotes e monges corrompidos ganhou força nos séculos 12 e 13. Mais espirituais e menos físicos. Nessa época as histórias começaram a falar de tengus que possuíam o corpo de belas mulheres, para então seduzir os monges ou para falar por meio de suas bocas (kitsunetsuki). Também começaram a raptar crianças, assim como já faziam com os sacerdotes. Ambos eram encontrados mais tarde perdidos na floresta, pendurados no topo de árvores ou mesmo na segurança em seus lares. Entretanto, todas as vítimas dos tengu voltavam quase mortas ou em um estado de completa loucura, acreditando ser animais e se alimentando de fezes.

Além de eternos inimigos do budismo neste período, os tengus também passaram a se preocupar com a família real japonesa. Kojidan nos conta a história da Imperatriz possuída e Ōkagamirelata o caso do imperador Sanjō que ficou cego por conta do ataque de um tengu, espírito de um sacerdote que desejava o trono.

tengu mascaraUm famoso tengu do século 12 foi, ele mesmo, o espírito de um Imperador. Hōgen Monogatari nos conta a história do Imperador Sutoku, que foi forçado pelo pai a abandonar o trono. Ele teria liderado uma rebelião contra a dinastia de Go-Shirakawa, mas foi derrotado e exilado na provincia de Sanuki em  Shikoku. Diz a lenda, que morreu em tormento e desde então assombra o Japão como um grande demônio, se tornando um terrível tengu com unhas afiadas e olhos felinos.

tengu2Como no exemplo acima, as lendas dos Tengus se confundem com a própria história do Japão. Conta-se que o Minamoto no Yoshitsune, um dos samurais mais notáveis da história japonesa, foi aluno do Rei dos Tengu, aprendendo com ele habilidades mágicas de esgrima e artes marciais. Outros personagens históricos, como o senhor feudal Kobayakawa Takakage, também tiveram alguma relação ou conflito com os tengus.

Tardiamente, a partir do período Edo, foi possível  notar uma última transformação na forma como os tengus são retratados. Embora ainda perigosos, gradualmente ganharam o status de protetores, sendo relacionados com certas divindades xintoístas (shinto kami) que guardavam as montanhas e os templos. Em todos estes momentos os tengus sempre guardaram as características de serem seres não-humanos com poderes sobrenaturais, mestres no combate e dotados de uma moralidade e crenças próprias. Difícil dizer quais destas características fazem deles mais assustadores.

Tengu e as arte marciais

São criaturas do folclore japonês, cujas lendas possuem traços tanto da religião Budista quanto a Xintoísta. Habitam florestas e montanhas. O traço físico mais marcante dos Tengu são seus longos narizes. A maioria deles também possui barba. Alguns Tengus têm cabeças de pássaro, estes eram tidos como grandes lutadores de artes marciais.
Acreditava-se que possuíam vários poderes sobrenaturais, entre eles a capacidade de mudar de forma, Ventriloquismo, teleporte e a habilidade singular de penetrar no sonho dos mortais. O Tengu é um guerreiro habilidoso, mas sua principal diversão é causar desordem.
  Eles gostam de pregar peças em sacerdotes budistas que incorrem no pecado do orgulho, as autoridades que usam seu poder ou sabedoria para adquirir fama e os samurais que se tornavam arrogantes. Algumas fontes consideram que pessoas que apresentavam esse tipo de mau comportamento é que se tornavam Tengus ao reencarnar.
  Entretanto, dentro do O-Chikara, a interpretação é outra. Tengus são energias da natureza que, quando personificadas em ações dinâmicas, apresentam características específicas com diversos aspectos dentro da sua freqüência energética. O estudo dessas energias é profundo, complexo e desconhecido por 99,9% das pessoas. É, portanto, um estudo esotérico (segundo o Aurélio, ‘esotérico’ é o ensinamento reservado a discípulos completamente instruídos, ou a um círculo restrito e fechado de ouvintes). O senso comum, em contrapartida, prefere mistificar o conceito de tengus, classificando-o meramente como “demônio das montanhas”.
  Essas personificações arquetípicas originaram uma série de interpretações e descrições a respeito dos Tengus que, não raro, são retratados como goblins, monstros ou criaturas mágicas. No Japão, ao invés do bicho-papão, são contadas às crianças histórias de tengu que as perseguiriam. Estão presentes em várias manifestações culturais, como esculturas, máscaras, estórias infantis, lendas e, mais recentemente, nos mangás.
  Em 1729, Shissai Chozan escreveu o Tengu-Geijutsu Ron, em que o narrador recebe ensinamentos sobre a arte da espada diretamente de tengu. No Brasil, esta obra foi publicada como O Zen na Arte de Conduzir a Espada, de Reinhard Kammer, pela Editora Pensamento.
  Historicamente, o grande guerreiro do século XII, Minamoto-no Yoshitsune, era conhecido por ter um tengu como professor que o instruía nas artes marciais e táticas militares. Tais lições possibilitaram o afamado senhor da guerra a vencer seus inimigos. Na verdade, atribui-se a Karassu Tengu o ensinamento da arte da espada aos samurais.
  O poder e a sabedoria de tengu eram temidos pelos japoneses que, quando tinham de atravessar florestas e montanhas, faziam-lhe oferendas de arroz e manju (doce de feijão), pedindo sua proteção. Mokiti Okada, conhecido como Meishu-sama, fundador da Igreja Messiânica, afirma ele próprio ter um Karassu Tengu em seu Alicerce do Paraíso.
  O povo Shizen, composto pelos rebeldes que habitavam as aldeias no norte do Japão, tinha uma especial ligação com Tengu. Essas aldeias se localizavam nas florestas de Hokkaido (antigo Eso), e o povo da floresta, como eram chamados os Shizen, cultuava os tengus, recebendo proteção e instrução deles.
Tenguseram desenhados de duas formas diferentes:
  • Karasu tengu: possui o corpo humanóide, mas uma cabeça de corvo. Muito visto em histórias e pinturas.
  • Konoha tengu: possui feições humanas, mas dotados de asas e longos narizes. Os konoha tengu eram representados às vezes carregando uma pena. Máscaras representando seus rostos eram muito usadas em festivais.
Ainda durante o período Edo, os Tengus eram o tema de várias pinturas no estilo uliyo-e nas quais seus longos narizes recebiam uma conotação ora cômica, ora sexual. O papel dos tengus foi mudando drasticamente ao longo do tempo. Em algumas épocas, eram tidos como ladrões de crianças, enquanto no Período Edo, orava-se aos Tengus para que ajudassem a encontrar crianças perdidas. Foram considerados também guardiões de templos.

Curiosidades:

Quem assistiu o filme 47 Ronins, e tem um gosto pelas coisas estranhas certamente voltou para casa se perguntando, que diabos eram os Tengu, aqueles sacerdotes reclusos da sociedade com olhos esbugalhados e poderes paranormais. Este nome também já apareceu em jogos como o Ragnarok Online e Adventure Quest Worlds e em uma série de outros filmes, e mangás. Bom, “diabos” talvez seja uma palavra apropriada, pois os Tengu são um tipo de demônio das lendas japonesas, presentes tanto no budismo como no xintoísmo. (fonte: Morte Súbita Inc)

Feliz Kodomo-no-Hi!

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O correspondente aos meninos do Hinamatsuri* acontece no dia 5 de maio. Durante os anos de ocupação pós-guerra, o nome do festival foi mudado de Tango no Sekku (Dia dos Meninos) para Kodomo-no-Hi (Dia das Crianças), mas continuou sendo celebrado da mesma forma e somente para os meninos.

Em todo o país, famílias com filhos homens hasteiam, neste dia, sobre um mastro de bambu, o Koinobori, que é uma carpa colorida de tecido ou papel. Quando o Koinobori é visto tremular junto ao céu azul tem-se a impressão de estar vendo uma carpa nadando contra a correnteza. O Koinobori representa o Dia dos Meninos, e a carpa é um símbolo de força, persistência, bravura e sucesso. Esse peixe consegue nadar e subir correntezas e cataratas sem a ajuda de ninguém, e numa fábula chinesa, a valente carpa se transforma num dragão no final da escalada. Os atributos que a carpa simboliza parecem virtudes militares (persistência, coragem, sucesso), e de fato, ela está em algumas lendas que falam de guerras ocorridas num período remoto, tanto é que nos santuários do deus da guerra, Hachiman, são distribuídos amuletos em forma de carpa.
A prática de hastear o Koinobori surgiu no século XVII entre os plebeus urbanos, que resolveram apresentar uma alternativa ao costume dos samurais de exibirem suas armas e armaduras no Dia dos Meninos. Além de ser mais simples, a carpa de tecido simbolizaria os mesmos valores pretendidos pelos guerreiros sem ser tão ostensivo. As duas formas de celebrar a data foram mantidas por muito tempo. Mesmo atualmente, além do Koinobori no lado externo da casa, os meninos devem expor dentro de suas casas, miniaturas de bonecos de guerreiros, com armadura, arma e capacete.
Os alimentos associados a esta data são o chimaki (bolinho de arroz embrulhado em folha de bambu) e o kashiwa mochi (bolinho de arroz recheado com massa de feijão doce e embrulhado em folhas de carvalho).
É costume também colocar essências ou folhas de íris na banheira (ofurô) nesse dia. Acredita-se que o forte aroma de íris afaste os maus espíritos, e além disso, íris chama-se shõbu no Japão, que é foneticamente igual a shõbu, que significa luta. Assim, os antigos samurais ligavam essa planta à sorte na guerra ou batalha.
Os costumes mudam com o tempo e hoje é possível ver famílias hasteando o Koinobori para suas filhas. O Dia dos Meninos, que agora é o Dia das Crianças, é o último feriado da seqüência chamada de “Golden Week*” pelos japoneses da atualidade, ávidos por um descanso prolongado. Em tempo de paz, o Koinobori continua colorindo o céu e “nadando”, mas num outro contexto.

* Dia 29 de abril – aniversário do Imperador anterior, dia 1º de maio – dia do trabalho e dia 5 de maio dia das crianças.

SEKKU Momo no Sekku e Tanga no Sekku são dois dos cinco “Sekku” originários da China, ainda celebrados no Japão. Durante o período Edo, tais festivais foram estabelecidos para marcar a passagem do ano, e são sempre simbolizados por uma flor ou planta. 

*Hina Matsuri : dia das meninas(3/3)

Kodomo no Hi (こどもの日) é o quarto de 4 feriados nacionais no espaço de 7 dias que compõem o Golden Week (Semana Dourada). Originalmente conhecido como Tango no sekku, este feriado é um dia reservado para celebrar o “Dia das Crianças”, embora seja destinada principalmente aos meninos. Para as meninas foi designado o Hina Matsuri (Festival das Bonecas) no dia 3 de março.

O Hina Matsuri é tradicionalmente marcado por uma exposição de bonecas, transmitidas de mãe para filha há gerações. Já no caso do Kodomo no Hi, são usados bonecos de guerreiros samurais, juntamente com flâmulas de carpas que são penduradas nos jardins e quintais das casas chamadas de koinobori.

O Koinobori (鯉幟) significa literalmente “Subida das carpas” e a dimensão dos kois pode variar de alguns centímetros a vários metros.. As carpas simbolizam a força e a determinação no folclore japonês e é destinada ao filho mais velho.

Além do koinobori e bonecos de samurais, as famílias enfeitam o interior de suas casas com miniaturas de capacetes, armaduras, espadas, arcos e flechas representando os heróis Kintaro [金太郎], Shoki [鍾馗] e Momotaro [桃太郎].

Símbolos de Kodomo no Hi

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Koinobori: a carpa é peixe cheio de energia, força e persistência, pois nada contra a correnteza para desovar. Segundo a lenda, uma carpa nadou contra a cachoeira e ao chegar ao topo, transformou-se em dragão.

Kintaro: é o nome de criança de Sakata no Kintoki, um famoso samurai da Era Heian, conhecido pela sua força ainda quando menino. Dizia-se que ele montava ursos, em vez de cavalos.

Shoki (Zhong Kui): figura mitológica chinesa. Tradicionalmente conhecido como exterminador de fantasmas e espíritos malignos.

Momotaro: herói do folclore japonês que, com a ajuda de um cachorro, um macaco e um faisão, destruiu os demônios da ilha de Onigashima.

Shobu, a íris japonesa, também tem uma forte ligação com a data. Pelo seu formato se assemelhar a uma espada, no século XII, folhas desta planta eram colocadas na banheira para que o banho do garoto lhe proporcionasse um espírito aguerrido.

Comidas típicas no Dia dos Meninos

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Os pais servem aos filhos chimaki, bolinhos de arroz embrulhados em folhas de bambu, e kashiwa mochi, bolinhos de arroz recheados com anko e envoltos em folhas de carvalho. O bambu, por resistir às intempéries e o carvalho, por só perder suas folhas antigas quando as novas surgem, representam força e prosperidade. E para beber, Shobu-sake: folhas de íris picadas misturadas ao sakê.

Música símbolo de Kodomo no Hi

Koinobori uta (Canção das Carpas)

Yane yori Takai koinobori.
Okii magoi otoosan wa.
Chisai higoi wa kodomotachi.
Omoshiro soni oyideru.

irakanano namito kumono nami
kasanarunamino nakazorawo
tachibanakaoru asakazeni
takaku oyoguya koinobori

hirakeruhiroki sonokuchini
funewo monoman samamiete
yutakani furuu obireniwa
mononi dousenu sugataari

Outros feriados do Golden Week
• 29 de abril: Showa no Hi (Dia do Showa)
• 03 de maio: Kenpou-Kinenbi (Dia da Constituição)
• 04 de maio: Midori no Hi (Dia Verde)
• 05 de Maio: Kodomo no Hi (Dia das Crianças)

Fontes: sites cultura japonesa (texto em azul) e japão em foco (Texto em verde)

Os seis níveis de formação no Aikido

Os seis níveis de formação no Aikido
Artigo interessante de Esteban Martinez com sua compreensão sobre obtenção do estado de shugyo por meio do aikido.  Agradecemos a Esteban, que gentilmente autorizou a tradução e publicação de seu artigo.

seis-estagios-de-treinamento
Em Zen e artes marciais há este conceito conhecido como Shugyo. Eu já ouvi muitas definições de Shugyo. Na verdade, cada corpo pode, de uma forma ou de outra, chegar a sua própria interpretação do que Shugyo é.

Shugyo muitas vezes é simplesmente definido como o nível máximo ou final de treinamento físico e mental.
É a palavra “final” que me traz para o que estou escrevendo hoje. Isto significa que Shugyo não se entende e sustenta por si só, mas é melhor compeendido pela etapa final de uma escada.
O erro que a maioria dos estudantes fazem é se voltar para o Shugyo diretamente como objetivo, em vez de se concentrar em cada grau de formação. Pode-se esperar para chegar ao Shugyo depois de experimentar todos os graus de formação.
Um passo de cada vez.
Alguns instrutores dizem aos alunos que eles podem experimentar Shugyo por participar em seminários de fim de semana. Isso pode ser verdade. No entanto, isso só será uma experiência Shugyo de fim de semana. Em outras palavras, é um Shugyo superficial – alcançado somente através do empenho de formação para um fim de semana.
A fim de mergulhar profundamente na experiencia do Shugyo e experimentar o mais profundo nível de treinamento físico e mental, o shugyo precisa transcender o tatame e estar em nossas vidas diárias.
Na literatura Chozen-Ji (a Temple Rinzai Zen em Honolulu) Shugyo é explicado através da analogia de forjar uma espada do ferro bruto. Fogo, água e ferro são os instrumentos. O bater do martelo uma e outra vez para criar a ponta é nossa experiência diária alcançada através dos seguintes graus de formação:

1.    KEIKO – Keiko traduz como “prática”. É o período de tempo gasto em repetir uma atividade ou habilidade para adquirir proficiência. Isto acontece indo para o dojo e tendo aulas todos os dias. Na verdade, aulas no dojo são conhecidos como “keiko”. No Shodo voce está praticando os exercícios. Desenha Kanji após Kanji, movimento após movimento, por nenhuma outra razão do que praticar para ficar melhor neste.
2.    RENSHU – Renshu traduz-se como “formação”. Ao contrário da prática, a formação centra-se sobre a ação de compreender o ensino, a fim de desenvolver uma habilidade particular. Durante o treinamento chegamos a compreender o porquê das coisas. Eu acho que os seminários de fim de semana e workshops estão situados neste nível. Eles oferecem uma oportunidade única para os estudantes mergulharem na formação. Normalmente os alunos saem dos seminários com uma compreensão mais profunda da arte.
3.    KUNREN – Kunren é traduzido como “disciplina”. Esta é a experiência que fornece o treinamento mental e físico. Portanto, este nível só pode ser alcançado depois de passar alguns anos praticando e formando-se nos estágios anteriores. A fim de desenvolver a disciplina os alunos precisam estar comprometidos com o desenvolvimento de sua arte. Eles já encontraram o caminho e é que os motiva a continuar o sua caminhada.
4.    Tanren – Tanren traduz como “forjar” ou “melhorar”. A experiência adquirida através de anos de prática e treinamento irá ajudá-lo a avançar gradualmente e de forma constante. Deve-se sempre manter o Shoshin ou mente de principiante, e estar motivado para sempre avançar e melhorar a si mesmo.
5.    Kufu – Kufu não tem uma tradução directa em Inglês. Ele pode ser traduzido como trabalhar sob intensa concentração ou foco profundo. Eu gosto de pensar de Kufu como “trabalho duro” ou “confusão”. Este é o nível em que você não para. Este é o ponto de não retorno. Você tem anos de prática e formação. Você desenvolveu a disciplina para continuar a sua formação e melhorar a si mesmo em uma base diária. Agora você está trabalhando duro para continuar este caminho, acelerando a cada dia e, talvez, começar a passar para os outros o que você aprendeu.
6.    Shugyo – Como Kufu, Shugyo não tem uma tradução direta. Este último nível, o mais profundo, ultrapassa as fronteiras físicas e mentais. Você supera a compreensão intelectual e você pode incorporar a sua prática em sua vida diária.
As artes marciais não têm significado se o que você aprende fica no dojo. Por que praticar Shodo se a sua experiência termina no momento em que você lavar a tinta das cerdas do pincel? Leve tudo isso com você em sua vida. Faça uso dele. Não saia em busca de Shugyo, experimente e viva. Mas entenda que você não pode chegar ao Shugyo antes de passar os outros níveis; é uma progressão natural.
Abraçe ela.


Esteban Martinez

Assim se define e apresenta:
“Eu cozinho, treino no aikido e faço caligrafia japonesa. Eu acredito na integração das artes literárias e marciais.”

AIKIDO NO BRASIL

Como começou o aikido no Brasil:

Este é um ponto polêmico: Segundo relatos e os registros no próprio texto relacionados aqui no blog, o introdutor do aikido no Brasil seria Nakatami Sensei. E não como sempre ouvimos e reproduzimos, Kawai Sensei em SP. Alguns falam sobre Nakami Sensei ser o pioneiro, para lhe fazer justiça, pois muitos novos não conhecem sua bela historia. Outros (ex-alunos quase sempre), devido a desentendimentos com Kawai Sensei, dada a sua personalidade forte, querem apontar erros na sua trajetória, sem muitas vezes poder se orgulhar da sua tampouco.  Pessoalmente acredito que não invalida nenhum dos trabalhos e rendo humildemente a minha homenagem a estes dois pioneiros. Tive inclusive a oportunidade de conhecer Nakatami Sensei embora não tenha, como faixa branca, ( naquela época em laranjeiras no aikido Rio de Janeiro), a oportunidade de conversar com ele. Com Kawai Sensei pude não só conversar, e ouvi-lo, mas treinar com ele e ser seu representante, com muita honra, no Rio de Janeiro muitos anos depois. Agradeço aos dois. Ele permitiram estarmos aqui.

O fato é:

Temos dois núcleos de aikido originais, criados em paralelo no Rio de Janeiro e em São Paulo, por dois grandes Sensei.

saiba mais da historia deles.

Kawai Sensei

Nakatami Sensei

Nakatani Sensei no Brasil

Artigo de Santos Sensei – DOJO AIZEN BRASILIA*1

Gratidão ao Pioneiro Nakatani

Nakami Sensei jovem quando começou o aikido no Brasil.
Foto de Pedro Gavião, carioca, fotógrafo, praticante de aikido, já falecido. Foto doada para Santos na década de 80 (a original está no Aizen Dojo).

ANTES DA CHEGADA AO BRASIL: 

Teruo Nakatani nasceu na cidade de Uryu, em Hokkaido, em 29 de Julho de 1932.

( Nome em japonês da cidade natal de Nakatani Sensei e localização no GoogleMaps : 雨竜町 [うりゅうちょう] Uryü-chö)

Praticou Judô no curso secundário. Continuou a praticar Judô, todavia, uma lesão no ombro, na prática do alpinismo, encerrou sua carreira no Judô. Em Tóquio, Ingressa na Universidade Meiji, no curso de economia. Trabalhou numa fábrica de equipamentos navais. Nesta época, filiou-se e militou no sindicato de trabalhadores, que reivindicavam melhores condições trabalhistas, por isto Nakatani foi parar na “lista negra” dos empregadores. Demitido, não conseguiu arrumar mais emprego devido à lista negra. Importante ressaltar que as condições econômicas no Japão, na década 60 eram muito difíceis.

Sensei Nakatani conta, que em certa ocasião, estava pensativo num templo, em Tóquio, imaginando como arrumaria emprego. Perdido em seus pensamentos, começou a conversar com uma pessoa que estava no local. Era Hiroshi Tada, extraordinário mestre de Aikido. Dele, Nakatani escuta o conselho para buscar no Aikido o alento para aqueles tempos difíceis. Resolve visitar a Hombu Dojo e ingressa no Aikido, aonde chegaria a 2º Dan da faixa preta.

Além de Aikido, Nakatani praticou Karate, no grupo de estudos de Sensei Tempu Nakamura nele também lutava o mestre Hiroshi Tada.

Nesta época de Nakatani na Hombu Dojo foram seus contemporâneos Hiroshi Tada, Yamada, Yasuo Kobayashi, Koichi Tohei, Tamura, e Chiba. As aulas eram ministradas pelo Doshu Kisshomaru. O fundador do Aikido, Morihei Ueshiba, lecionava na turma de 6:30h, da manhã. Nakatani treinava durante o dia, mas participava do treino matinal. Ele conta que o Fundador discorria sobre filosofia durante meia hora, depois treino, não havia aquecimento.

Certificado de Shodan de Teruo Nakami sensei

Nakatani, em 1960, já graduado faixa preta, pelo O-SenseiA, desempregado decide emigrar.

Nakatani procura a prefeitura municipal para tirar o passaporte. Nesta repartição é informado e convencido a emigrar para o Brasil porque as firmas japonesas estavam investindo no Brasil e tinham preferência em contratar emigrantes japoneses qualificados. (vide Ficha Consular de Qualificação)B

Kisshomaru Ueshiba o autoriza a divulgar o Aikido no Brasil.

CHEGADA AO BRASIL:

Depois de uma viagem de quase dois meses no navio misto de carga e passageiros, o BoissevainC, chegou ao Brasil, pelo porto de Santos, no dia 06 de Novembro de 1960, o introdutor oficial, formado, em Tóquio pelo Hombu Dojo*2. Clique para ampliar.

Teruo Nakatani, aos 28 anos de idade, chegou ao Brasil pelo porto de SANTOS em 6 de Novembro de 1960 no navio a Vapor Holandês BOISSEVAIN que partiu de YOKOHAMA sob o comando de L.RADEMAKER, da companhia transportadora ROYAL INTEROCEAN LINES.
Quase 3 meses depois, três dias antes do Carnaval de 1961 
(calendário) , Nakatani mudou-se para o Rio de Janeiro. 

Ficha de imigração de Teruo Nakatami. Clique para ampliar.

Em novembro, dezembro e janeiro, ficou em São Paulo procurando oportunidade de emprego, sem perspectiva, decide ir para o Rio de Janeiro, aonde chega três dias antes do Carnaval de 1961.

Logo, é contratado para trabalhar na empresa japonesa Ishikawajima do Brasil, na zona portuária do Rio.

COMEÇA O AIKIDO NO BRASIL:

Shihan Ogino
Na foto Ogino Shihan do Judo: Em outubro de 1961, recebe ajuda do Sensei Ogino, que possuía um dojo de 100 tatames, no Hospital dos Servidores, na zona portuária do Rio. Sensei Ogino cede um horário para prática de Aikido na academia.

Em Outubro de 1961, Teruo Nakatani ministra a 1a. Aula de Aikido em território brasileiro, no dojo na Avenida Venezuela, Cais do Porto, onde funcionava o hospital do IPASE, da Associação dos Servidores, e hoje se chama Hospital dos Servidores do Estado – HSE.

Ali, começam a praticar Aikido, seus primeiros alunos que são praticantes de Judô da academia. Muitos poucos, na verdade.

Academia Medhi - site - foto
Foto histórica no site da Academia Mehdi Judô. Nakatani Sensei é aquele com óculos, em pé, no centro da foto.

Logo em seguida, sob convite do Sensei George Mehdi, do Judô, Nakatani vai iniciar uma turma na academia George Mehdi, em Ipanema.

Jornal do Brasil – 26-Fev-1965, pag 17 - George Mehdi lança aikidô no Brasil para ensinar a mais moderna luta japonesa
Jornal do Brasil – 26-Fev-1965, pag 17 – “George Mehdi lança aikidô no Brasil para ensinar a mais moderna luta japonesa.” Clique para ampliar.

NOVO ESPAÇO PARA O AIKIDO:

Logo após seu início na academia Mehdi, Nakatani Sensei incentivado pela divulgação do Aikido, procura outro local para treinamento.

José Maria Ribamar Santos Martins, praticante de judô na academia Mehdi e na academia do Sensei Nagashima (Praça da Bandeira), com a ajuda do secretário da Associação de Faixas Pretas do Rio, conseguem espaço e horários para o Sensei Nakatani ministrar aulas de Aikido as segundas, quartas e sextas-feiras, das 21:00 h às 22:00 h. A academia da Praça da Bandeira foi o primeiro local de prática regular do Aikido no Rio de Janeiro.

NASCE A ASSOCIAÇÃO CARIOCA DE AIKIDO

O crescimento do número de alunos faz com que Nakatani, em 1969, mude para R. Barata Ribeiro nº. 810 sobrelojas e 2º andar – Copacabana que acabou se transformando na Associação Carioca de Aikido. Os primeiros faixas pretas de Aikido no Rio de Janeiro foram:

  • José Maria Ribamar Santos Martins,
  • Mark Berler,
  • Eduardo Adler,
  • Carlos Infante,
  • Oswaldo Simon (O Guru) – o 1o. faixa preta de Nakatani Sensei,
  • Otávio Oliveira,
  • Luís Augusto Paraguaçu,
  • Pedro Gavião,
  • Sinati,
  • Getúlio,
  • Waldemar
  • e depois George Prettyman (Copacabana)

Conta-se que foi uma época dourada para o Aikido do Rio de Janeiro.

Havia um Segundo local de prática de Aikido, no Rio, no clube Caiçara (Lagoa) onde as aulas eram dadas pelo Guru, primeiro faixa preta de Nakatani.

Nakatani sensei, no Rio, morava na Ladeira Saint Roman, subida para o Morro do Pavão.

Certa noite, quando regressava para casa, Nakatani decidiu encurtar o caminho e entrar no Túnel da Barata Ribeiro para chegar em casa mais cedo.

Nakatani, ainda mal informado, não sabia que caminhar pelo túnel a noite era perigoso, pois os ladrões, em dupla, assaltavam os pedestres dentro do túnel depois corriam para o Morro do Cantagalo para fugir e se esconder. Ao ser assaltado, dentro do túnel da Barata Ribeiro (Túnel Prefeito Sá Alvin), Nakatani reagiu e desarmou um ladrão com kotegaeshi, imobilizou o outro e todos foram parar na Delegacia. Mesmo com a discrição do Nakatani, dizendo que não sabia de nada, o fato foi manchete nos jornais do Rio, na época.

Participa de notícias da semana sobre esportes, aparece como ator coadjuvante em filmes nacionais da época como “O Diamante Cor-de-Rosa”, com Roberto Carlos, aonde Nakatani representa o papel do Gênio Samurai

Eis que uma lesão no joelho faz com que Nakatani deixe o Aikido, pois não podia mais praticar em seiza. Além disso, seu espírito de empreendedor lhe obriga a se dedicar a sua firma de ar-condicionado, tem projetos de instalação de equipamentos e prazos a cumprir, tudo lhe toma o tempo.

Aeroporto de Brasília - Junho/1975 Ichitami SHIKANAI, Yasuo KOBAYASHI, COLOMBO, Teruo NAKATANI, J.M.R.S. MARTINS, Rosalino José GALI, CARLOS LÚCIO Menezes
Aeroporto de Brasília – Junho/1975
Da esquerda oara a direita: Ichitami SHIKANAI, Yasuo KOBAYASHI, COLOMBO, Teruo NAKATANI, J.M.R.S. MARTINS, Rosalino José GALI, CARLOS LÚCIO Menezes

Assim, Nakatani procura, no Japão, primeiro na Academia Central, depois o mestre Yasuo Kobayashi, seu colega de Universidade, para que indicasse uma pessoa para ocupar o seu lugar no dojo do Rio. Então, em junho de 1975, chega ao Rio, acompanhado por Yasuo Kobayashi, o prof. Ichitami Shikanai, com 28 anos, terceiro grau de Aikido, primeiro grau de Jodô e segundo grau de Iaidô.

A linhagem do mestre Nakatani, continuou na responsabilidade do mestre Ichitami Shikanai, mestre José Maria Martins, mestre Bento, mestre Adélio, mestre Pedro Paulo, mestre Santos, mestre Nelson T e outros, hoje possui ramificações em diversos Estados do Brasil como (RJ, MG, DF, GO, PA, RO, e SP).

Nakatani Sensei tem filhos e netos brasileiros.

F. DOS SANTOS – 5o. DAN – AIKIKAI – AIZEN DOJO-CHO

Referências:

  • Dados dos arquivos pessoais do autor;
  • Parte da entrevista concedida por Nakatani Sensei em 2009 na cidade de Brasília, por ocasião da entrega do 6o. Dan a Martins Sensei. Entrevistador João Rego, Cinegrafista Giampiero Mandaio;
  • Conversas e correspondências com personalidades da época;
  • Pesquisa documental de Mário Coutinho Jr.

Notas de Walter Amorim:

*1 Somente rearrumamos o texto para colocar as figuras ao longo do texto; ao ínves de colocadas em anexo como Santos Sensei originalmente fez.

*2 Este é um ponto polêmico: Segundo relatos e os registros no próprio texto relacionados aqui, o introdutor do aikido no Brasil seria Nakatami Sensei. E não como sempre ouvimos e reproduzimos, Kawai Sensei em SP. Pessoalmente acredito que não invalida nenhum dos trabalhos e rendo humildemente a minha homenagem a estes dois pioneiros. Tive inclusive a oportunidade de conhecer Nakatami Sensei no antigo dojo do aikido Rio de Janeiro em laranjeiras, embora não tenha, como faixa branca naquela época, a oportunidade de conversar com ele. Com Kawai sensei pude não só conversar, ouvi-lo, mas treinar com ele e ser seu representante, com muita honra, no Rio de Janeiro muitos anos depois. Agradeço aos dois. Eles permitiram estarmos aqui. W.A.

Para mais informações contatar Santos no Aizen Dojo Brasília.

Entrevista com Sensei Teruo Nakatani.

Teruo Nakatami Sensei - anos 60
Teruo Nakatami Sensei – anos 60

Texto extraído do site da associação martins de Aikido, que gentilmente autorizou a reprodução da entrevista. Para a justa divulgação da historia do aikido no Rio de janeiro dos primeiros tempos e da vida de Teruo Nakatami Sensei, introdutor do aikido em terras cariocas.

Transcrição da entrevista com Teruo Nakatani – Versão FINAL – 01-Maio-2014.
Entrevista realizada em 2009, quando Nakatani Sensei, aos 77 anos, estava em  Brasília-DF, por ocasião da entrega do 6o Dan para Martins Sensei.
Entrevistador: João Henrique Gaeschlin Rêgo // Filmagem: Giampiero Madaio // Transcrição do video: Mário Coutinho Jr.
Data e Local: ano de 2009 // QI 27 – Lago Sul – Brasília/DF
Data e Local: QI 27 – Lago Sul – Brasília/DF

1) Em que cidade o senhor nasceu?
Uryu
*NT: 雨竜町 [うりゅうちょう] Uryuuchou

2) É no interior do Japão?
Sim.

3) A quantos quilômetros de Tóquio?
Acho que mil, mil e poucos quilômetros. Fica no norte do Japão. Numa ilha. Mas, no Japão tudo é ilha, na verdade. A ilha maior é Honshu, depois ao norte é Hokkaido, a segunda ilha. A terceira, acho que é Kyushu.

4) Os moradores da ilha viviam da agricultura?
Ah, naquela época havia agricultura. Mas antes era caça.

5) Em que ano o senhor nasceu?
Em 1932.

6) Quando e como foi o seu primeiro contato com as artes marciais?
Comecei treinando Judo na época em que estava no científico. Naquele tempo, o Judo era a arte marcial mais comum. Na época do meu científico, a prática de espada estava proibida. Antes, treinava-se mais espada, Kendo. O Japão perdeu a guerra e as forças de ocupação proibiram a prática do Kendo. Por isso, o Judo era a única arte marcial popular.

7) O senhor treinou Judo e Kendo durante quantos anos?
Eu treinei Judo durante três anos. O Kendo foi por pouco tempo. Porque era proibido, né? Somente nos anos cinquenta que essa arte foi liberada, dez anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.3

8) Onde o senhor fez o científico?
Asahikawa. Asahikawa era base militar, do 7º Batalhão do Exército Imperial do Japão. Hoje é diferente.4

9) E como o senhor conheceu o Aikido?
Eu conheci Aikido quando entrei na faculdade.

10) O senhor fez faculdade em Tóquio?
Sim, em Tóquio. Foi no segundo ano de faculdade que comecei Aikido. Até então, eu treinava Judo. No primeiro ano de faculdade, eu ainda treinava Judo. Depois, ao praticar alpinismo em montanha, eu machuquei o ombro esquerdo. Então, não dava para treinar Judo. Eu praticava escalada, subia montanha, climbing.

11) O senhor chegou a praticar Karate também?
Eu praticava Karate, depois é que descobri o Aikido.

12) O senhor praticou Karate durante quanto tempo?
Não sei… Em um grupo de filosofia de tipo de Ioga, havia um pessoal que ensinava Karate. Dentro desse grupo, conheci Tada, que era 6º Dan de Aikido naquela época. Ele também fazia Karate. Eu conheci Aikido com ele e aí entrei.

13) Foi o Sensei Tada que lhe convidou para treinar Aikido?
Não, ele é que estava fazendo. Eu não sabia o que era Aikido. Aí fui lá, gostei e na hora entrei.

14) E como foi sua primeira aula?
Entre o Aikido de hoje e o daquela época há pouca diferença. Lembro que comecei, acho que foi no final do ano, quando é muito frio. Em Tóquio, chega a menos 2 ou 3 graus. Lembro que, em 1 hora de aula, o fundador falava do espírito por quase 30 minutos, então eu tremia de frio. Isso foi mais ou menos durante um ano e meio, depois ele não apareceu mais. Em seguida, o filho dele assumiu a turma. Aí, então, passei a dominar bem as técnicas.

15) O Sensei Kisshomaru substituiu o fundador nos treinos?
Não foi somente ele. Os principais alunos do fundador também davam aula. Era assim. Na segunda-feira era aula do filho, Kisshomaru. Na quarta ou quinta, aula do Tohei. Nos outros dias, quem dava aula era Tada, 6º Dan; Kobayashi, que era 3º Dan; e Tamura, 5º Dan. Cada um tinha seu horário de aula. A aula da manhã era de 6h30 e às 7h30. Era a primeira aula do dia. A segunda aula, eu acho que era das 8h às 9h. A terceira aula era às 15h ou às 14h.

16) Quanto tempo o senhor treinava por dia?
Uma hora por dia, à noite. Eu comecei à noite.

17) Aí, no último ano…
Eu treinava quase o dia todo. Como eu havia recebido o seguro-desemprego e não estava trabalhando, então eu treinava o dia todo.

18) O senhor pode nos explicar qual foi o motivo do recebimento do seguro-desemprego?
Por dois anos trabalhei para uma firma de plásticos que durante a guerra fabricava medidor de torpedo. O meu chefe era coronel, e ele controlava essa firma durante a guerra. Depois da guerra, ele entrou na firma como chefe de departamento. Aí trabalhei como subordinado dele. Na época, na minha faculdade Meiji, o meu departamento era meio de esquerda e tinha muitos professores de esquerda, gente de esquerda. E isso me influenciou bastante. Então, quando comecei a trabalhar na firma, não existia sindicato. Assim, eu e mais dois criamos um sindicato. Por ter criado o sindicato, eu não podia ficar mais na firma e não conseguia arranjar emprego por ter sido colocado em lista negra. Então, durante o tempo em que estava com o seguro-desemprego e procurando trabalho, eu treinava Aikido o dia inteiro. Sempre estavam lá o Tohei, Tamura, Kobayashi, Noro. Eu estava sempre treinando com essas pessoas.

19) Isso era no dojo central, no Hombu Dojo?
Hombu dojo, prédio antigo. Dojo antigo, eu acho que com uns 80 tatames. Dojo pequeno. Uma casa de madeira. Naquela época, essas pessoas sempre estavam lá. Havia Sugano, Chiba… Depois, mais tarde, entrou o Saotome. E Yamada também estava lá nessa época.

20) O Yamada era o seu contemporâneo?
Mais ou menos na mesma época. Ele era aluno também.

21) Durante quanto tempo o senhor treinou no Hombu Dojo?
Acho que foram cinco anos.

22) O senhor chegou a 3º Dan?
Não. Segundo.
*NT: Sensei Nakatani recebeu o 2º Dan em Tóquio e o 3º Dan no Brasil.

23) Naquela época existia exame?
Havia exame.

24) Era o Kisshomaru quem fazia o exame?
É isso aí. Era ele que fazia o exame, no dia marcado. Todo mundo ia lá e fazia demonstração. Aí ele que dava a nota.

25) O aquecimento, as práticas parecem com as de hoje?
Penso que não há muita diferença. Quase sempre havia ginástica de aquecimento, né? Acho que por cinco minutos mais ou menos, depois começava.

26) Eu queria que o senhor falasse um pouco mais sobre as aulas do Mestre Ueshiba.
Ele aparecia sempre de manhã, na primeira aula.

27) O senhor frequentou mais as aulas do período noturno?
Não. Eu iniciei à noite, mas, às vezes, eu ia à primeira aula. A primeira aula era sempre o criador que estava fazendo. Durante um ano, acho, ele que fez a primeira aula.

28) O que O-Sensei tentava transmitir para vocês?
Ele falava mais sobre filosofia.

29) Ele não praticava?
Não. Mais ou menos por meia hora, ficava falando coisas de filosofia, depois começava a treinar.

30) Ele comandava o treino sozinho?
Não. Naquela época, o assistente dele sempre era Tamura.

31) Como foi o começo do Aikido no Brasil?
Comecei o Aikido no Brasil por causa de Ogino, um professor de Judo. A academia dele era no Hospital dos Servidores. Era grande, acho que tinha quase cem tatames. Era muito grande.
Eu conheci Ogino, e ele me convidou para o seu dojo dizendo que eu saíra do Japão há quase um ano e que devia continuar a treinar para não esquecer o que aprendi. Então
comecei a dar aula na academia dele. Isso foi no final de 1961. Fiquei com Ogino nos anos de 1962 e 1963.
Depois, durante a revolução de 1964, eu acho que já estava com George Mehdi, não tenho certeza. Acho que fiquei dois ou três anos com Ogino. Depois, uma pessoa me apresentou a Geroge Mehdi do Judo na academia de Ipanema. Então ele me convidou para a academia dele e comecei a dar aulas. George Mehdi fazia muita propaganda para mim. Daí o Aikido se expandiu.6

32) No começo, lá no Hospital dos Servidores, quem eram os seus alunos?
Não me recordo de todos os nomes. havia poucas pessoas, uns sete ou oito alunos. Um deles vinha do Judo, apontado pelo Ogino para que fosse também o meu uke. Era um português de nome Lopes.

33) Seu primeiro aluno?
Havia várias pessoas, mas não lembro todos os nomes. O meu primeiro aluno foi Lopes, que era faixa preta de Judo. Ele era também o meu assistente (uke) quando eu mostrava a técnica.

34) Quando o senhor começou na academia do Mehdi, os alunos aumentaram?
Aumentaram. Várias pessoas.

35) O senhor lembra-se de alguns alunos que entraram naquela época?
A primeira lista se perdeu. Não sei onde está. A segunda lista eu deixei com Shikanai. Ele é que a tem.

36) Lembra-se do Guru?
É, havia Guru, George Prietman… Havia lista de presença que eu não estou achando. Não sei onde está. O problema são as cartas, várias cartas de Kisshomaru. Eu lembro que devem ser 20 ou 25 cartas de Kishomaru para mim.

37) Entre o senhor e Kisshomaru?
Ele sempre escreveu para mim, perguntando como eu estava etc., etc. E essas cartas e documentos acho que Adélio jogou fora depois que saí da academia da Barata Ribeiro, em Copacabana.

38) Todas as cartas? O senhor as deixou com ele?
Mais ou menos metade delas eu tinha em casa. Essas o Shikanai ainda tem. As mais antigas foram as que deixei na academia de Copacabana.

39) O senhor não tem mais essas cartas?
Não. Eu as perdi. E eu estou triste porque perdi.

40) O senhor as deixou com Adélio e Sensei Shikanai?
Não, não. Na academia de Copacabana, quando estava funcionando, todos os documentos do Japão estavam juntos lá. Também, durante dois ou três anos eu não conseguia encontrar o Adélio por causa do meu trabalho. Eu quase não ia lá à academia de Copacabana.

41) Depois da academia do Mehdi o senhor foi para onde?
Barata Ribeiro, em Copacabana. Na academia de George Mehdi acho que fiquei quatro ou cinco anos.

42) E na Praça da Bandeira?
Praça da Bandeira foi depois da Barata Ribeiro. Essa aula era mais tarde.
*NT: Fala do período, e não da localização geográfica.

43) A última academia que o senhor ensinou foi na Barata Ribeiro?
Na Barata Ribeiro. Na Praça da Bandeira, eu acho que eu ia lá uma vez por semana, por causa do trabalho. Naquela época meu trabalho era muito complicado, então eu não podia ir ao Aikido.

44) E quem o ajudava nas aulas?
Naquela época era Adélio. E outro era Pompílio, que também aJudou um pouquinho. O Adélio tinha uma loja na frente da academia. Por isso que ajudava. Porque outra pessoa não havia. E por isso chamei Shikanai, pedindo ao Kobayashi para mandar alguém.

45) Em que ano parou de dar aula?
Acho que no meio do ano 73. Já estava afastado das aulas.

46) O Adélio não era faixa preta?
Sim. Já era faixa preta.

47) O senhor foi para o Japão para procurar um substituto?
Sim. Pedi para Kobayashi. Kobayashi era da minha mesma faculdade.

48) Quem o Sensei Kobayashi mandou?
Kobayashi escolheu Shikanai. Aí quando ele, Shikanai, chegou, entreguei a academia na hora, daí quase não fui mais à academia.7

49) E os seus alunos continuaram treinando também?
Sim. Continuaram treinando.

50) E por que o senhor não escolheu um aluno para ser seu substituto?
Não havia pessoa disponível para ensinar. Todo mundo tinha trabalho, cada um tinha seu negócio. Pessoa livre, possível, era muito pouca gente. O único acho que era Adélio. Outro era Pompílio, que acho que estava aposentado. Só esses. O restante não tinha condição para ensinar. Não era falta de capacidade para ensinar, não. As pessoas trabalhavam, cada um tinha seu negócio. Então não tinham condições de assumir uma academia.

51) Fale um pouquinho do filme que o senhor foi convidado para fazer. Quem eram os seus alunos que lhe convidaram para fazer o filme?
Naquela época, o diretor do filme era Roberto Farias. O irmão dele é Reginaldo Farias. Reginaldo Farias acho que era 1º Kyu. Então, devia fazer mais ou menos dois anos que ele estava treinando.

52) Foram eles que o convidaram para fazer o filme?
Não. No filme era, como se diz, para eu ensinar espada, primeiro, para o artista. Depois eles me colocaram no lugar dele. O coitado do ator foi mandado embora. Eu nunca fiz teatro.8

53) Como é que foram as filmagens? O senhor viajou para filmar?
Eu fui a Israel. A vantagem é que por dois meses eu viajei pela Europa, só.

54) O senhor gostou de filmar?
Sim. É outro tipo de trabalho.

55) Como é que o senhor conheceu o Sensei Martins?
Ele entrou na turma da Praça da Bandeira quando várias pessoas do Banco do Brasil se matricularam. Havia algumas delas na Barata Ribeiro (Copacabana), mas a maioria estava na Praça da Bandeira. Montei outra turma por sugestão de Pompílio. Mas eu não podia ir. Então perguntei aos alunos quem poderia ir. Guru disse que podia. Então deixei com ele. Naquela época eu já tinha firma e não tinha condições para ensinar Aikido.9

56) O seu primeiro aluno que se tornou faixa preta foi o Guru?
Sim. Depois de Guru acho que foi o Carlos Infante. Depois, acho que Eduardo, e depois entraram Marcus e Paraguassu. Depois vários outros entraram.

57) Os exames eram na academia?
Sim.

58) Por que o exame do Sensei Martins foi realizado em Campos do Jordão?
Foi um Gasshuku. Vários fizeram exame ali.

59) Era um Gasshuku conjunto com sensei Kawai?
Sim.

60) Foi o Sensei Kawai quem organizou esse Gasshuku?
Sim. Ele quem convidou, porque era em São Paulo.

61) Por que o senhor parou de treinar Aikido?
O motivo foi meu trabalho. O trabalho não dava condição, porque até sábado e domingo eu tinha trabalho. Era obra em construção civil. Então, às vezes trabalhava sábado e domingo. E às vezes até de noite. Esse foi um motivo. Outro motivo foi que começou o reumatismo a voltar, no joelho direito. Então, com dor no joelho não dá para dobrar, para sentar, não dá para ficar de seizá. Esses dois motivos eu lembro.

62) O senhor sentiu falta dos treinos?
Ah, eu senti falta! Eu tinha 40 anos de idade. Agora já faz quase 40 anos desde que parei o Aikido.

63) Quais os conselhos que o senhor daria para os alunos de hoje?
Hoje, tem que ser um tipo de esporte para a saúde. Saúde para, quando ficar velho, poder continuar. Não é para forçar. Suave. Quando ficar velho tem que ser suave para continuar. Isso aí é bom.

64) Qual a importância de se treinar o suwari-waza?
Isso aí. É importante o suwari-waza para fortalecer o quadril, que é o principal. Várias pessoas não gostam, mas o principal é o quadril. Para fortalecer isso aí, é boa ginástica o suwari-waza.

65) Quais as técnicas que devem ser mais praticadas?
Tá tudo na forma, mas importante é continuar. No meu caso, o joelho não dava para sentar. Então, para a pessoa que ensina, se não pode sentar, não dá.

66) Qual o conselho que o senhor nos daria para nós transmitirmos para os nossos alunos?
Isso aí eu não sei como é. Penso que hoje a gente tem que fazer pela saúde. Saúde é importante para a ginástica ou alguma coisa. Então, às vezes fazer ginástica sozinho não é interessante. Então, com os dois parceiros combinando, um joga, depois o outro joga. Isso aí é boa ginástica.

67) O senhor acredita nos ensinamentos do mestre Ueshiba? Essa ligação do lado material com o lado espiritual que o Aikido proporciona?
Ele falava mais do corpo humano, como é ligado com Deus. Por isso é sempre o pensamento mais importante, o pensamento de como se usa o corpo. Isso ele falava muito.

68) O senhor acredita nisso?
Acredita em quê? Tem que acreditar, né? Porque ele, o Fundador, naquela época, como artista marcial, era muito forte também. E isso aí não é só o pessoal do Aikido que fala. Outros, lutadores de Kendo, lutadores de Karate, várias pessoas o respeitavam. Por isso, algumas pessoas falam que a única pessoa que conheceu Aikido foi somente ele. O corpo dele era completamente fora do comum.

69) Existiam práticas complementares aos treinos? Vocês treinavam no mar, nas cachoeiras?
O treino na cachoeira descende de Buda. Buda treinava no frio para o espírito ficar mais forte. Com isso, embaixo de cachoeira, treinamos o espírito também. Veio daí.
O treino no mar, acho que o primeiro que iniciou isso foi o Karate. O Karate que chuta dentro do mar. O mar é muito forte, não dá para… Esse treinamento começou, acho que foi o sul do Japão que começou isso. Aí aumentou, e várias lutas começaram também.

70) O senhor treinava exercícios de respiração e de ki?
Sim. Ki e respiração. Falava-se muito isso também. O criador sempre falava isso aí.
 
71) Da outra vez que esteve aqui, o senhor me contou que, naquela época, na sua cidade, vocês não tinham médico e que, se alguém se machucasse, vocês sabiam fazer massagens?
O lugar em que nasci é uma cidade de seis mil habitantes, mais ou menos. Não tinha médico. Este dedo [mostra o dedo indicador que perdeu uma falange] também daria para salvar, mas não havia médico. Se houvesse médico, salvaria o dedo. Isso foi na época de criança, quando o acidente ocorreu.

72) E se alguém se machucava no treino, como é que vocês faziam?
Isso aí o pessoal do Judo sabe mais ou menos.

73) Era o Shiatsu que vocês faziam?
Não, não. Curar osso, consertar osso. Às vezes é este osso que sai [mostra a articulação do cotovelo]. O pessoal do Judo sabe colocar no lugar.

74) Há mais alguma coisa que o senhor queira dizer?
Sim. Só das datas que não estou bem certo. Porque cheguei em 1960, né? Foi em 6 de novembro de 1960, isso aí é certeza. Depois do primeiro carnaval, vim para o Rio, por causa de mudança. Depois, acho que no fim do ano ou início do outro ano, por aí… Estava quente naquela época em que comecei a ensinar Aikido na academia.

75) Então o senhor começou a ensinar em 1961? Final de 1961?
Em 1961 ou início de 1962. Depois de um ano, eu comecei.10

76) Está muito bom, Sensei. Muito obrigado pela entrevista. As suas palavras são muito importantes para a memória do Aikido.

entrevista_nakatani1 João Henrique Gaeschlin Rêgo é brasileiro, carioca de nascimento e brasiliense de coração. Formado em direito pela UnB (1994), é atualmente servidor público. Pratica Aikido desde 1992. Seu professor de Aikido sempre foi Martins Sensei. Atualmente é 4º Dan de Aikido Aikikai.
 
2 A transcrição original passou por algumas adaptações de linguagem – grande parte delas já sugerida desde a primeira versão, como notas de interpretação à transcrição literal – a fim de que a leitura ficasse mais fluida, com o cuidado de não incorrer em perda ou distorção das falas e informações constantes da entrevista. Além disso, mantivemos nesta versão várias notas referentes a dados históricos criteriosamente pesquisados pelo Sr. Mário Coutinho.

3 – O Japão, quase dois anos antes do início da 2ª Guerra Mundial já estava na sua 2ª Guerra Sino-Japonesa, que começou oficialmente em 7 de Julho de 1937, com o Incidente da Ponte Marco Polo. A 2ª Guerra Mundial começou oficialmente em 1º de Setembro de 1939, quando a Alemanha Nazista invadiu a Polônia.

– Na tarde do dia 15 de Agosto de 1945 (horário japonês), o Imperador Hirohito anunciou a rendição incondicional do Japão pelo rádio. Esta data é conhecida como o Dia da Vitória sobre o Japão e marca o fim da 2ª Guerra Mundial.
– Em 8 de setembro de 1951 foi assinado o Tratado de Paz de São Francisco, que marcou o fim da ocupação pelos Aliados, e após sua ratificação, em 28 de abril de 1952, o Japão voltou a ser um Estado independente.
– A 2ª Guerra Mundial durou quase 6 anos. Mas para alguns japoneses pode parecer mais longa, pois o país já estava em conflito com a China bem antes.
– O período no qual houve a proibição da prática de várias artes marciais durou quase 7 anos. A prática de Kendo foi liberada oficialmente em 1952, quando sensei Nakatani estava com 20 anos de idade. A 2ª Guerra Mundial terminou em 15 de Agosto de 1945 (quando sensei Nakatani tinha 13 anos de idade, aproximadamente).

4 O 7º Batalhão ficou em Asahikawa 旭川市(あさひかわし) até Março de 1944. Localiza-se ao norte de Asahikawa, em Hokkaido, o aeródromo militar do exército japonês, denominado Asahikawa Air Field (ICAO: RJCA).

5 Tada Sensei começou Aikido na Aikikai em 4 de Março de 1950 (aos 20 anos de idade), quase 5 anos após anúncio da rendição incondicional do Japão às Forças Aliadas das 2ª Guerra Mundial. Dois anos depois que as forças de ocupação deixaram o Japão, Tada Sensei tornou-se instrutor na Aikikai em 1954 (aos 25 anos de idade). Em 1957 ele foi promovido para 6o. Dan (aos 28 anos de idade). Com 40 anos de idade, em 1969, Tada Sensei foi promovido para 8º Dan.

6 Notícia: George Mehdi lança Aikido no Brasil (Jornal do    Brasil, em 26/02/1965).

7 Passou a academia, imediatamente, ao sensei Shikanai, no instante que ele chegou ao Brasil, em junho de 1975.
 
8 O filme é Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, de 1970. Sensei Nakatani tinha aproximadamente 38 anos de idade.

9 Nakatani, num curto período, tinha duas turmas contemporaneamente: uma na Barata Ribeiro e outra na Praça da Bandeira, mas nesta era Guru o encarregado. Nessa nova turma, sensei Nakatani ia, às vezes, uma vez por semana.

10 Nakatani Sensei recorda bem a data de sua chegada no Brasil, 6 de novembro de 1960. Essa data é confirmada pela lista de passageiros do Vapor Holandês BOISSEVAIN, que aportou em Santos trazendo-o do Japão/Yokohama. Mudou-se para o Rio após o carnaval de 1961.

Treino duro e treino suave

Texto muito interessante de Sensei Santos, de Brasília, que fala muito sobre formas de treino e visões diferentes do nosso mesmo aikido. Que na verdade se complementam.
Muitas vezes alunos ou instrutores novos tem uma visão muito fragmentada e parcial, preferindo uma ou outra forma de treino, o que não é errado em si, mas agindo como se as outras formas fossem erradas ou menos evoluídas. O que gosta do treino mais vigoroso, critica o treino suave, normalmente alertando para sua “pouca eficacia”. Muitas vezes, mesmo que tecnicamente veja haja um trabalho avançado de desenvolvimento da arte, daquele que ele observa treinando suavemente. Coloca afirmações que dão a entender que aquilo para nada serve.
Por outro lado, aquele que gosta de treino suave, critica o treino mais forte, normalmente falando algo como, “…eu não treino assim, pois evoluí.” ou  “alcancei uma nova visão…” ou ainda: “… minha busca é mais nos aspectos evoluídos do aikido…” e outras coisas semelhantes. Nestas afirmações está talvez o primeiro sinal do contrário. Não caminhou  suficiente dentro da arte para perceber o quanto também está limitado em sua visão.
Evidente, como toda arte marcial, que existem treinos ruins. Tentam mostrar algo vigoroso e que é bruto, mal acabado, e sem técnica apurada. Outro treina suavemente, sem eficacia no objetivo que se propõe, apenas fazendo uma caricatura de um verdadeiro treino suave, mas de qualidade técnica duvidosa. A resposta de novo está nas técnicas básicas e na qualidade e dedicação aos treinos, independentemente das formas de treino que se adote. Mas acredito que treinar sempre só de uma forma ou outra, seja o maior perigo para se deteriorar o seu aikido. Imagine se você só treina-se Irimi nague, por que só gosta dele, e abandona-se o shiro nague por que não gosta?   Já discorri muito aqui. Depois faço um texto meu a partir desta ideia. 

Vamos ao texto do Sensei(os pontos grifados são meus):

Treino duro e treino suave

Dos Santos (AIZEN Brasilia)

Sempre após a visita de instrutores japoneses ou intercâmbio de alunos estrangeiros, tem-se agitado a controvérsia entre o método de se ensinar Aikido.

Professores de renome se pronunciam, antagonicamente, em relação aos métodos de uns e outros.

Por exemplo, na Suécia, Holanda, se opta pelo treino suave e lento.

No Reino Unido ocorre o mesmo. Já nuchid4a Irlanda, há tendência de seguir uma linha mais dura e propensa a sobrevivência em situações reais.

Nos Estados Unidos há duas tendências, ou correntes. Em uma se deve seguir a linha do ki e fluir. Noutra , estão os que afirmam que se deve seguir a maneira dura e rápida de Shioda-Sensei, Saito-Sensei , etc.

Para alguns instrutores o método de treinamento parece estar vinculado ao meio ambiente social em que está imerso, o local, a região.

Será mesmo ?

Esta aparente contradição entre o método a ser adotado confunde o público sobre qual a abordagem correta.

Todavia, tanto estilo duro ou o suave tem algo a oferecer aos praticantes. Tudo depende do que cada pessoa quer da arte.

No Japão, nas demonstrações dos mestres Saito-Sensei , Shioda-Sensei, e outros, as técnicas são aplicadas rapidamente e raramente são brandas.

Nos dojos desses mestres o aluno que não consegue aprender logo a complexidade dos movimentos e rolamentos, se afasta desapontado.

Essa‚ é a maneira considerada “tradicional”.

As técnicas funcionam porque o aluno sente a eficiência delas, dolorosamente, quase sempre.

A atmosfera reinante é de um combate real, é evidente, que o aluno estaria vivendo como um praticante dos tempos do Japão feudal na sua maneira de aperfeiçoar habilidades das quais dependeria sua vida e do oponente.

Realmente, uma prática que não deixa dúvidas ao aluno sobre a eficiência de uma determinada técnica.

Todavia, outros grandes mestres assumem a tendência de optarem por um método de ensino mais sutil, apoiando-se na idéia de que a execução de técnicas em ritmo mais lento e suave, leva a uma atmosfera menos tensa.

É a filosofia de dar mais valor as pessoas, do que ao desenvolvimento de uma habilidade de combate, a qual vir com o tempo e a prática, de qualquer maneira.

A questão crucial ‚ que o aluno ocidental quer ser eficiente, tanto quanto possível, no menor espaço de tempo.

A linha de pensamento de alguns sensei‚ a de que não há necessidade de se forçar para tornar-se uma máquina impiedosa de luta, se não estamos em guerra. Segundo esses professores, o que o mundo precisa hoje ‚ é de felicidade.

Daí , a atmosfera criada através de um treinamento agradável, aliado com a eficiência do ensino, seria o objetivo ideal a ser seguido, favorecendo uma compreensão detalhada do Aikido.

Essa questão ‚ é tão importante, que em alguns dojos , se um aluno assumisse uma atitude corporal de combate, ao executar uma técnica ele será repreendido e admoestado para relaxar o corpo.

Na verdade, na essência, as técnicas são as mesmas, o que muda ‚ é a maneira de transmiti-las.

É possível que a única desvantagem concreta, do estilo suave, é o aluno não se preparar emocionalmente para o combate real. Se ele levar um terrível soco ou chute na rua , pode cair em estado de choque ou pavor e então qualquer habilidade técnica ficar perdida.

Mas, também, quantas vezes na vida você precisou entrar em briga corporal com alguém na rua, não é mesmo ?

Além disso, o treino pode assumir características mistas, duro-rápido, duro-lento, suave-rápido, suave-lento.

TREINAMENTO DURO- É o treino de contato, que faz aparecer emoções que geralmente não são reconhecidas numa pessoa durante as atividades do dia a dia. Tais emoções podem ser, por exemplo, uma resposta ao ego humilhado, agressão , insegurança, temor, dor ou mesmo medo do fracasso. Conforme esses traços venham a tona, no ambiente controlado do dojo, o aluno experimenta um fortalecimento do caráter e uma confiança mais solidamente fundamentada na sua capacidade de autodefesa.

TREINAMENTO SUAVE- trata-se de um treinamento que promove a apreciação dos princípios mais sutis da arte, aguçando uma sensibilidade mais apurada no aluno , que tem a oportunidade de perceber como e porque as técnicas funcionam ( sem a preocupação do esforço muscular), através de uma maneira menos opressiva, o que concorre para melhorar acentuadamente o desempenho das técnicas.

TREINAMENTO RÁPIDO- é um treinamento de velocidade que , geralmente, se desenvolve paralelamente ao treinamento duro. Visa despertar o aluno para as falhas de desempenho sob pressão. Sob intenso e rápido assalto de ataque sucessivos, normalmente há um declínio no grau de eficiência das respostas apropriadas de defesa devido ao pânico emocional que se instala. A mira , o equilíbrio e vivacidade ficam prejudicados, principalmente nos iniciantes.

Contudo , familiarizados com essa espécie de ritmo, os alunos vão adquirindo autocontrole; a eficiência melhora; e as técnicas afloram mais rapidamente e com maior segurança. O treinamento rápido ‚ um instrumento valioso para desenvolver a autoconfiança para confrontos de rua.

TREINAMENTO LENTO- é um complemento do treinamento suave, provendo um ambiente físico e psíquico seguro para aperfeiçoar a técnica. Isso porque não há ameaça de golpe que possa causar dano verdadeiro, o que permite ao aluno relaxar emocionalmente e compreender o método de combate transmitido.

CONCLUSÃO

Face ao exposto fácil concluir que tanto a escola dura quanto a suave estão corretas na sua maneira de transmissão do AIKIDO.

Da direita para esquerda: Sensei Santos, Sensei Nakatami e Sense Martins. Foto de 2011 quando o Sensei Martins recebia seu 6o dan.
Da direita para esquerda: Sensei Santos, Sensei Nakatami e Sense Martins. Foto de 2011 quando o Sensei Martins recebia seu 6o dan.

Mestre Santos, 70, pratica Aikido desde 1973, iniciou com o prof. Martins (Brasilia), sob a supervisão do sensei Teruo Nakatani. Durante mais de 30 anos foi seguidor do Prof. Shikanai. Já realizou dois estágios, em Tóquio, no Kobayashi-dojo, um deles como aluno residente. É faixa preta 5o.Dan (godan) pela Hombu  Dojo de Tóquio, Japão. Já treinou Aikido em Los Angeles, Lisboa, Buenos Aires, etc. Participa ativamente de Seminarios Nacionais e Internacionais. Também pratica Iaido (ZNKR) e Kenjutsu (Shinto Muso e Katori Shinto Ryu). Autor  do livro “Zen-Budo, um caminho”, em parceria com Mario Coutinho Junior. É o mais experiente e veterano professor de Aikido, em atividade no Aikido, em Brasilia.

Mensagem de fim de ano 2015

grupo1Todo final de ano prometemos muita coisa para se realizar no ano que chega. Mas no balanço do ano vimos que realizamos? Qual a diferença entre realização e sonho? Se você não realiza, daqui a exatamente um ano, estará de novo fazendo as mesmas promessas. E amargando as mesmas frustrações. O mundo é movido a sonhos. Só que mais alguns passos são necessários para a realidade. Sonhos – decisão – ação – realização. Comece hoje, mesmo!

Aliás, projetos nada mais são que sonho com data marcada. Empreender sonhos não é obra do acaso. Requer gestos conscientes.

grupo2Se este ano assim não foi, em 2016, seja diferente. No aikido, se não começou, comece! Se está parado, retorne! Não jogue fora seu sonho. Falando em sonho: Em 2015 fizemos 10 anos.

O orgulho de atingir 10 anos é difícil esconder, afinal falei disso varias e várias vezes! rs …e quis muito enfatizar isso. A alegria de ter todos os meus alunos sonhando e realizando junto comigo esses anos todos! Quando começou o ano, tinha intenção de fazer grandes comemorações. Um grande seminário. Uma grande festa. Algo assim.  Mas a forma de comemoração veio de forma muito mais sutil e agradável…

Varias boas conquistas marcaram nossos 10 anos ao longo de 2015. Sim, fizemos nosso seminário e foi um sucesso a meu ver.
grupo3Mas outras coisas muito legais aconteceram. A chegada de novos alunos e membros do grupo, como sempre. Mas que deve ser comemorada também sempre. Mais uma vez foi marcante essas novas presenças e mostrou a confiança do “sangue novo” no trabalho que conduzimos. Mas “o novo’ e a “mudança” estiveram presentes todo o tempo. Como que para provar que ao completar 10 anos, o grupo se renova, permanece. Apesar das dificuldades e obstáculos.

irimi-nagueEm março, depois de uma demorada negociação com a proprietária do imóvel de nosso dojo central, acabamos por sair desse nosso antigo dojo que estávamos por mais de 2 anos. Nossa primeira oportunidade a frente de um espaço. Depois deste tempo, a contragosto, tivemos que ir para um lugar menor, mas que estava muito melhor conservado em contrapartida. Mas antes de terminar o ano, agora em novembro, nova mudança. O motivo foi que este pequeno dojo rapidamente se tornou muito menor com o crescimento do grupo. Mais após muito trabalho a solução surgiu: Dessa vez fomos para um lugar que juntou o melhor dos dois anteriores: Um bom espaço, lembrando o que tínhamos no velho casarão, em frente ao colégio militar; e a arrumação e conservação ao estilo do dojo menor, que estávamos antes. Até mais conservado ainda. E de novo bem em frente ao colégio militar e bem próximo ao antigo casarão. Considero uma grande vitória para o grupo ter este novo espaço, que amplia conforto e possibilidades.

Ainda lá no início do ano recebemos de Yamada sensei a promoção a 4o dan, com muito orgulho. Uma nova etapa e responsabilidade.

grupo4Também outro fator, é que ocorreram, ao longo do ano, várias visitas de pessoal “de fora”. Pessoas alunas de amigos meus, que foram por estes indicadas. Outros que de férias na cidade, muitas vezes elegeram o dojo para manter seus treinamentos, inclusive até de preparação para exame de yudansha. Isso evidencia a confiança no trabalho. Confiança essa que parece que foi sempre renovada a medida que conseguiram seus objetivos com a visita. A confiança parece que vai se estendendo além do grupo. Agradeço muito e parabenizo a todos que são parte integrante de nosso estudo mantendo o grupo consistente.

Muito bom também ter conseguido que algumas pessoas as quais muito me agradaria  estreitar amizades e trabalho no aikido, fossem aparecendo.

Tivemos novos alunos se graduando, e bem ao ponto necessário, mantendo a fé na renovação e continuidade do trabalho.

Mas o que marca estes 10 anos? No balanço geral estas pequenas conquistas foram solidificando e marcando uma década de trabalho da Ganseki Kai.

trow1 E o que será que nos aguarda em 2016? Tenho conversado um pouco dentro da sansuikai; com os alunos, e com colegas em geral. Esperamos coisas boas no próximo ano. Mas, muito mais do que desejo, temos planejado concretamente, dentro do possível, para que elas aconteçam. Temos sonhos e decisão. Nos empenharemos mais uma vez para a ação ocorrer. E a consequente realização. Temos confiança que os alunos se farão presentes e nos ajudarão.

Continuaremos contando com o trabalho de todos e com a vontade de evolução pessoal de cada um. Só assim também continuará a Ganseki Kai a evoluir e caminhar com sucesso para os próximos 10 anos. Alunos e amigos: Somos todos Ganseki Kai. rs rs

Entraremos em recesso neste dia 22 e retornaremos aos trabalhos no dia 4/1/2016. Domô.

grupo7

Bonenkai

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Um bōnenkai (忘年会, literalmente “esqueça o acolhimento” do ano) é uma confraternização japonesa que ocorre no final do ano e é comemorado geralmente entre grupos de colegas de trabalho ou de amigos. A finalidade da confraternização, como seu nome implica, é esquecer as consternações e os problemas do ano passado, geralmente pelo consumo de grandes quantidades de álcool. Um bōnenkai não ocorre em nenhum dia específico, mas são realizados geralmente em dezembro.

Bonen – Despedida do Ano Velho. Kai – Reunião, Festa. As entidades, as empresas, os amigos costumam se reunir para comemorarem a despedida do Ano que está terminando, para se encontrarem pela última vez do ano, trocar cumprimentos, avaliar o ano e num ambiente de festa bebendo e comendo muito. Alguns começam a realizar o Bonekai, já no fim do mes de novembro, pois em dezembro é comum encavalar muitas festas, que podem ser simples “kais” que são reuniões ou “enkais” que são banquetes. Portanto, são eventos muito comuns na Comunidade Nikkey, herdado da Cultura do Japão que não dá muita ênfase às Comemorações do Natal.