Descanse em paz em seu sofá

c-foto-p11Passado o dia dos professores, pensando no que ouvi e vi estes dias, e outras coisas nos últimos tempos, resolvi escrever um texto meu. A tempos só tenho traduzido e/ou reproduzido alguns artigos (mas sempre bons )no site.

Disse Jean Piaget: “Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender.” Como professor de artes marciais sei que é uma verdade. Mas outro desafio é perceber quando você executou adequadamente sua tarefa e quando não; precisando avançar mais como instrutor. Mas não se engane ou fique triste instantaneamente quando você vê seus esforços como sensei não retomando a contento. Pode não ser você. Ou pode ser. Mas não julgue precipitadamente. Aprimore onde necessário, mas separe as coisas.

Muitas vezes você consegue seu intento maior. Despertou a vontade que Piaget fala. Mas se esta não é acompanhada de perseverança do indivíduo, nada acontecerá. Em tantos anos como praticante, e boa parte deles também como instrutor, tenho visto todo o tempo. Já vi muito; e continuo vendo. O que? Muito talento sem a perseverança necessária.

Por vezes os menos talentosos seguem em frente, enquanto outros ficam, pois a perseverança e dedicação é seu combustível.

Hoje me disseram mais uma vez, que os alunos de hoje enxergam em sua maioria, a aula no dojo como serviço. Não é de hoje. Talvez tenha sido sempre assim. Talvez tenha só piorado. Ou não. Mas com certeza não serão estes “contratantes de serviço” que chegarão em algum lugar que talvez sonhem. A não ser que mudem seus hábitos.

Quando vejo esse tipo de atitude me entristeço. Primeiro tento nesta hora achar meus erros no meu “papel inspirador’. Normal. É a tarefa que posso assumir para mim. Depois, constatando as perdas que se fazem de bons alunos. Mas não são minhas perdas na verdade. São do aikido. E são mais ainda perdas pessoais deles. Que as vezes eles mesmos não percebem. E pode ocorrer em diverso momentos. Até em um yudansha.

Na tarefa de ser artista marcial conquistei algumas coisas para mim. Coisas importantes. Para mim, fique claro. O que vim procurar verdadeiramente. Mas está longe de terminar, ou de ser muito, dentro do que considero muito. Mas estou caminhando.

Lamento então aqueles que ficaram, ou ficarão, ao longo do caminho, pela falta de perseverança e visão. Perdem muitas coisas e talvez nem tenham consciência disso. Mas pode ser melhor assim. Se não tem perseverança para continuar talvez seja melhor a ignorância, pois deve ser pior quando sabem o que perdem, e não conseguem avançar.

cropped-dsc00014.jpgEntendo talvez o que um antigo mestre, que tive oportunidade de conhecer entre alguns, disse em sonhar ter as vezes um pequeno dojo, ao invés da já grande organização que tinha. Talvez custeado por ele mesmo. Talvez onde todos treinem livremente e sem despender dinheiro. Sejam apenas alunos convidados. Assim não confundirão com um serviço prestado. E sim como algo que devem desenvolver para si mesmos.

Tem sido uma constante eu repetir boas historias. Não é ser repetitivo, mas enfático rs rs. Tenho guardado um baú de boas histórias para exemplificar, pontuar coisas que considero importantes.

Outra que lembro é que uma vez um ex-aluno que não treinava a uns 3 ou 4 anos, apareceu de repente no dojo; e viu um antigo amigo seu, ainda aluno, em uma graduação bem maior, acho que um yudansha. E ele na época de treino era mais graduado que este. Sempre foi um aluno muito bom e de evolução rápida inclusive, mas parou de repente. Olhou e disse com um ar de tristeza: “eu podia estar nesta graduação hoje…”

treino-3rios-0064.jpgEu apenas disse:  “Não. Seria mais. Faltou treinar apenas.” – disse eu; acho que até com um ar paternal. (pelo menos outro aluno que testemunhou, descreveu que falei desta forma)

Ele nunca mais apareceu infelizmente. Talvez não tenha gostado do que viu e/ou ouviu. Talvez tenha dito para ele ou outros, que não pode treinar por que está com joelho ou outra coisa doendo, que não tem horário… Ou até que o aikido não é bom, ou qualquer coisa que sirva de bengala emocional, para não admitir não ter a perseverança para continuar. Que um verdadeiro artista marcial ou pessoa de sucesso em um projeto precisa ter.

Mas no fundo, pelo seu olhar naquele momento que viu seu amigo seguindo em frente, ele soube. O despertar da vontade no seu amigo se somou a perseverança. E trouxe seus frutos. Quem perdeu foi ele. Uma pena. Descanse em paz em seu sofá.

 

A era do Kobukan Dojo

Por Stanley Pranin
Tradução – Jaqueline Sá Freire (Hikari Dojo – RJ)

Introdução
Em Abril de 1931, Morihei Ueshiba, o fundador do aikido, abriu um dojo particular na área de Shinjuku em Tókio chamada de “Kobukan”. Este dojo serviu como centro das atividades do fundador por mais de uma década e isso é intimamente relacionado com o subseqüente nascimento do aikido, a arte marcial espiritual do Japão.
Durante o período Kobukan, Morihei Ueshiba esteve próximo da elite da sociedade Japonesa, ligado às pessoas mais importantes dos círculos militares, políticos, religiosos e do mundo dos negócios. Apesar de não ter motivação política, Morihei ensinava e interagia com muitos dos líderes daquela época, homens que tinham um profundo respeito por suas incríveis habilidades marciais e que determinariam o destino do Japão quando o país se encaminhava para a guerra no continente e no Pacifico.

Restored by Whitney Hansen on 11/21/01, Paid $30 for job.
Retrato Formal de Morihei Ueshiba tirado dentro do Kobukan Dojo por volta de 1935. restauração fotográfica feita por Whitney Hansen.

Neste curto período de tempo, Morihei trabalhou com um aparentemente impossível horário de aulas que o fazia ir de um lado para o outro por toda Tókio e por Kansai a cada mês. Suas atividades e vitórias durante este tempo são tão numerosas e tão fundamentais para o surgimento do moderno aikido que este tópico merece uma observação cuidadosa. Para isso, proponho dividirmos nosso estudo em duas partes.
A primeira parte nesta edição do Aiki News cobre as atividades de Morihei em Tókio que o levaram a abertura do Kobukan Dojo, a inauguração do dojo, as pessoas que foram mais importantes, a busca pelo sucessor de Morihei, o Budo Senyokai, e expansão da área de Kansai, e finalmente o Segundo Incidente Omoto e suas conseqüências.
A segunda parte a ser publicada na Aiki News 132 vai discutir as associações militares e políticas de Morihei, o aiki budo na Manchúria, o estabelecimento do Zaidan Hojin Kobukai, o Dai Nippon Butokukai e o batismo com o nome de aikido, os uchideshi do período da guerra e a técnica e os sistemas de graduação de Morihei.

As atividades de Morihei de 1925-1931
O Kobukan Dojo foi estabelecido depois de Ueshiba ter passado cerca de seis anos ensinando em vários locais temporários na área de Tókio. Suas ligações com Tókio ocorreram principalmente devido aos esforços do almirante Isamu Takeshita, um entusiasta de longa data por artes marciais. O relacionamento entre Takeshita e Ueshiba começaram como resultado da apresentação de outro oficial da marinha, Sub-almirante Seikyo Asano. Asano era da religião Omoto e começou a praticar Daito-ryu Aiki Jujutsu com Morihei em Ayabe em 1922. Completamente imerso no estudo do Daito-ryu de Morihei, Asano o recomendou a Takeshita, seu colega de classe na Academia Naval de Tókio.

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Almirante Isamu Takeshita (1869-1949), patrono e ávido aluno de Morihei Ueshiba

Takeshita viajou para Ayabe em 1925 para conhecer o budo de Ueshiba, e saiu de lá totalmente convencido de que Ueshiba era um excepcional artista marcial. Após retornar a Tókio, ele fez uma brilhante recomendação a favor de Ueshiba ao aposentado almirante Gombei Yamamoto—que também foi primeiro ministro por duas vezes—e isso levou a uma apresentação publica diante de uma platéia selecionada na residência de Takeshita. Daí em diante, o almirante Takeshita teve um papel ativo na promoção das atividades de Ueshiba na elite da sociedade de Tókio. Morihei fez diversas visitas a Tókio vindo de Ayabe para apresentar seminários. Isso fez com que muitos oficiais militares, oficiais do governo e pessoas abastadas se tornassem devotados ao estilo de Jujutsu de Ueshiba.
Após a mudança de Morihei para Tókio em 1927, ele deu aulas, ajudado por seu sobrinho Yoichiro Inoue, em diversos lugares temporários. Os treinamentos primeiro foram em Shiba, em Shirogane, depois em Mita Tsuna-cho, seguido por Shiba Kuruma-cho, e finalmente, em 1930, em Mejiro. A reputação de Morihei se espalhou de boca em boca até que não cabiam mais alunos nestas pequenas áreas de treinamento. Sob estas circunstâncias, era necessária uma solução permanente.
Logo o círculo dos patronos de Ueshiba juntou doações para construírem um dojo de horário integral. Entre os que contribuíram para os fundos do dojo estava um certo Koshiro Inoue, que era parente de Morihei por casamento. O irmão de Koshiro, Zenzo, tinha se casado com a irmã mais velha de Morihei, Tame no fim de 1800, em sua cidade natal de Tanabe na prefeitura de Wakayama. O casal teve oito filhos e o quarto foi um rapaz chamado Yoichiro. O tio de Yoichiro, Koshiro construiu sua fortuna em Asakusa, em Tókio, em 1890, por volta da época da guerra Sino-Japonesa. Yoichiro— sobre quem ouviremos mais depois – era, claro, também sobrinho de Morihei e seu aluno mais próximo naquele tempo. Yoichiro frequentemente pedia a Koshiro fundos para as atividades de budo de Morihei e os parentes disseram que Koshiro fez grandes doações para a construção do Kobukan Dojo.

Jigoro Kano, Fundador do judo (1860-1938)
Jigoro Kano, Fundador do judo (1860-1938)

Após juntar doações suficientes e com a ajuda da rica família Ogasawara, Morihei conseguiu comprar um terreno no distrito de Ushigome, em Shinjuku. A mudança para Mejiro foi temporária enquanto a construção do novo dojo era completada. Foi durante o período de Mejiro que o fundador do judo, Jigoro Kano, fez uma visita especial para observar uma demonstração de Morihei. Muito impressionado, Kano enviou dois de seus melhores alunos—um dos quais era Minoru Mochizuki— para participarem de um treinamento intensivo com Ueshiba. Outro memorável evento do período Mejiro foi a visita do General Makoto Miura que foi ao Mejiro dojo para desafiar Morihei. Miura tinha sido aluno de Sokaku Takeda uns vinte anos antes, e considerava Morihei um arrivista presunçoso que tinha se afastado do caminho do Daito-ryu. Mas o General ficou indefeso contra a técnica de Morihei e acabou se tornando seu aluno por muito tempo e seu apoiador.
A abertura do Kobukan Dojo
Antes de descrever a grande abertura do dojo de Morihei em Tókio, devemos mencionar que um evento bastante incomum aconteceu bem antes da cerimônia de inauguração. 0 instrutor de Daito-ryu jujutsu de Morihei, o famoso Sokaku Takeda, deu um seminário no novo dojo de 20 de Março a 7 de Abril de 1931. Isso é sabido por que há uma anotação com o nome de Morihei e seu selo nestas datas no livro de registros de Sokaku (eimeiroku). Certamente, Sokaku sabia com antecedência sobre a abertura do dojo particular de Morihei porque os dois mantiveram correspondência através dos anos. Mas nenhuma das circunstâncias desta visita ao Kobukan Dojo nesta ocasião são conhecidas. Sokaku visitou Morihei periodicamente de 1920 até meados de 1930, às vezes sem nem avisar. O relacionamento entre os dois ficou difícil quando Morihei se lançou como instrutor de budo. Morihei tinha sido certificado como instrutor de Daito-ryu aikijujutsu em 1922, mas os arranjos financeiros entre os dois permaneceram um tanto vagos e isso foi um ponto de discórdia. Por todo esse período de sua carreira, Morihei avançou no processo de modificar as técnicas do Daito-ryu para que se tornassem movimentos mais fluidos, menos parecidos como jujutsu, que caracterizariam seu aikido.

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Anotações do livro de registros de Sokaku Takeda datado de 7 de Abril de 1931.


A cerimônia oficial de abertura ocorreu no fim de Abril de 1931, após Sokaku ter deixado Tókio e foi recebido por muitos dignitários, inclusive vários oficiais de alta patente do exército e da marinha. Existe uma rara foto em grupo que preserva um registro das pessoas presentes naquela ocasião. Entre as pessoas presentes estavam o almirante Isamu Takeshita, General Makoto Miura, sub-almirante Seikyo Asano, Almirante Sankichi Takahashi, Dr. Kenzo Futaki, Harunosuke Enomoto, e o Comandante aposentado Kosaburo Gejo. Alguns dos uchideshi e alunos de Morihei que estavam presentes, entre eles Yoichiro Inoue, Hisao Kamada, Minoru Mochizuki, e Hajime Iwata. A esposa de Morihei, Hatsu e seu filho Kisshomaru também estavam lá. Uma caligrafia horizontal pintada por Onisaburo Deguchi— mentor espiritual de Morihei — em que se lê “Ueshiba Juku” está colocada no tokonoma do dojo. Esta mesma caligrafia foi colocada na parede da primeira escola de Morihei, o “Ueshiba Juku,” localizado na residência de Ueshiba em Ayabe no início dos anos 20.

Grande inauguração do Kobukan Dojo, Abril de 1931. Na fila, terceira a partir da esquerda, Hatsu Ueshiba, Kisshomaru Ueshiba; sentados ao centro, Morihei Ueshiba, Almirante Seikyo Asano, Almirante Isamu Takeshita, General Makoto Miura.
Grande inauguração do Kobukan Dojo, Abril de 1931. Na fila, terceira a partir da esquerda, Hatsu Ueshiba, Kisshomaru Ueshiba;
sentados ao centro, Morihei Ueshiba, Almirante Seikyo Asano,
Almirante Isamu Takeshita, General Makoto Miura.

A área de treinamento do Kobukan Dojo consistia de um espaço de 80 tatamis e a estrutura também alojava a família de Ueshiba e a área em que viviam os uchideshi. Kisshomaru disse que cerca de 20 uchideshi podiam ser acomodados no dojo ao mesmo tempo. A estrutura funcionou por muitos anos e sobreviveu aos bombardeios dos tempos de Guerra de Tókio quando a maioria dos prédios das redondezas foram queimados, graças aos esforços de Kisshomaru. Ele funcionou como dojo-quartel general da Aikikai até 1968, quando o prédio foi demolido para dar lugar ao atual Aikikai Hombu Dojo. A atual residência da família Ueshiba é no local que foi anteriormente ocupado pelo Kobukan Dojo.
Após a abertura de seu dojo, Morihei recebeu a visita de líderes da religião Omoto. Hidemaro Deguchi e sua esposa Naohi— a esposa e o genro de Onisaburo— fizeram diversas visitas ao Kobukan nesta época. Uma foto comemorativa de uma destas visitas ainda existe e é interessante notar que a caligrafia colocada no tokonoma foi trocada após a cerimônia de abertura. Vários trabalhos de Hidemaro, um hábil calígrafo, foram colocados em demonstração, certamente em homenagem aos importantes visitantes da Omoto.
Treinamento no novo dojo

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Visita de Naohi e Hidemaro Deguchi da religião Omoto ao Kobukan Dojo, 1931. Fileira frontal, no centro: Naohi Deguchi, Hidemaro, e Morihei Ueshiba

O novo dojo foi muito utilizado, e normalmente havia aulas em duas manhãs e tres tardes no dojo, e os uchideshi tinham a oportunidade de praticar em outros horários durante o dia. Os instrutores eram relativamente poucos e consistiam, frequentemente, de pessoas que tinham sido instruídos por ao menos dois importantes professores. Outra fonte de alunos, especialmente entre os uchideshi, eram pessoas com conexões com a Religião Omoto.

Demonstração de Morihei no Kobukan Dojo, c. 1931
Demonstração de Morihei no Kobukan Dojo, c. 1931

O estilo de ensinar de Morihei tinha muita ação e poucas palavras. Ele executava as técnicas em rápida sucessão com quase nenhuma explicação. Seu método de ensino não era nada sistemático. Yoshio Sugino, o famoso mestre de Katori Shinto-ryu, que estudou no Kobukan Dojo por cerca de dois anos, começando em 1931, descreveu como era a aula dada pelo fundador:
“Ueshiba Sensei, diferentemente dos instrutores presentes no Aikikai Hombu Dojo, ensinava as técnicas mostrando os movimentos rapidamente, apenas uma vez. Ele não dava explicações detalhadas. Mesmo quando lhe pedíamos que mostrasse novamente uma técnica, ele respondia, ‘Não. Próxima técnica!’ Apesar de ele nos mostrar tres ou quatro técnicas diferentes, ele queria ver a mesma técnica várias vezes. Acabamos tentando “roubar” as técnicas dele”. [de uma entrevista ao Aiki News em 1984]
Estas são as lembranças de um dos primeiros uchideshi de Morihei, Hisao Kamada:
“Sensei usava com freqüência o termo ‘irimi’. Esta é uma técnica que não existe no judo. Acredito que ela vem do Daito-ryu aikijujutsu, mas não conheço muito sobre Daito-ryu. Ueshiba Sensei sempre dizia, “Você deve entrar dentro do seu parceiro de treinamento. Entre dentro dele e leve-o para dentro de você!”. Ele começava com ikkajo, nikajo, e suwariwaza. Eu acho que ele não usava o termo “kukinage” (kukinage: literalmente, “arremesso pelo ar”; uma popular técnica do judo naquele período). Havia técnicas como o yonkajo, mas estas eram formas de treinamento do corpo. Mas creio que quando as usamos como técnicas aplicadas (oyowaza), se torna uma questão de espírito. O básico ia até gokajo, e depois disso havia técnicas aplicadas”. [de uma entrevista ao Aiki News em 1981]
Os jovens uchideshi davam o ritmo do treinamento e a prática era intensa. Havia muito poucas mulheres treinando naquele tempo. Uma que se destacava era Takako Kunigoshi, que era uma jovem estudante da arte. Ela é lembrada principalmente por seu importante trabalho ao rascunhar trezentos desenhos usados no manual de treinamento Budo Renshu publicado em 1933.
Esta forma “antiquada” estereotipada de ensinar também foi descrita pelo Sr. Kunigoshi:
“Não importa o que lhe era perguntado, acho que ele sempre tinha a mesma resposta. De qualquer forma, ninguém lá conseguia compreender as coisas que ele dizia. Acho que ele estava se referindo a assuntos espirituais, mas o significado de suas palavras estava além de nossa compreensão. Depois, perguntávamos uns aos outros, ‘Mas sobre o que o Sensei estava falando?’”
O “onipresente” sobrinho de Ueshiba, Yoichiro Inoue

Yoichiro Inoue, Tanabe, c. 1946
Yoichiro Inoue, Tanabe, c. 1946

Nenhuma discussão sobre este período das atividades de Morihei estaria completa sem a freqüente menção ao papel de seu sobrinho Yoichiro Inoue. Inoue, que era 19 anos mais jovem que Ueshiba, passou parte de sua infância em Tanabe e em Hokkaido, crescendo no ambiente da família Ueshiba. Ele treinou com Sokaku Takeda tanto quanto seu tio e se estabeleceu em Tókio por volta de 1925, antes da vinda de Ueshiba de Ayabe. Desde muito jovem, Yoichiro auxiliava seu tio como seu parceiro de treinamento e de demonstrações. No início, em Tókio especialmente, Yoichiro dava aulas como representante de Ueshiba e substituía o fundador, que estava doente com freqüência.
Inoue aparece nas fotos que restaram da época do Kobukan e sua importância para o desenvolvimento do aikido não pode ser subestimada. Mas quis o destino que ele se afastasse do tio logo após o Segundo incidente Omoto, que ocorreu em Dezembro de 1935. Apesar de ambos se apresentarem juntos ocasionalmente em demonstrações depois disso, eles se afastaram e apenas se encontraram raramente depois da segunda Grande Guerra. Apesar de sua ligação e de seus laços de sangue, as mágoas entre Morihei e Yoichiro nunca deixaram de existir e eles não conseguiram mais trabalhar juntos. Os livros escritos sobre a história do aikido ignoraram as contribuições de Inoue quase completamente e omitiram a menção ao relacionamento familiar que existe entre as famílias Ueshiba e Inoue.
A busca por um sucessor
Desde antes do período Kobukan, uma das preocupações de Morihei foi a busca por um bom sucessor, a quem ele pretendia casar com sua única filha, Matsuko. Existem várias histórias curiosas sobre diversos candidatos da área das artes marciais com quem Morihei discutiu sua idéia. Entre eles se incluem Kenji Tomiki, Minoru Mochizuki, e Yoshio Sugino. Parece que antes os Ueshiba e a família Inoue pensaram na possibilidade de que Yoichiro poderia se casar com Matsuko, apesar de eles serem primos em primeiro grau. Na verdade, isso era uma prática comum na época anterior à Guerra, e parece que mesmo Morihei e sua esposa Hatsu, ambos de Tanabe, eram primos distantes.

Kiyoshi Nakakura, filho adotivo de Morihei Ueshiba, conhecido como “Morihiro Ueshiba,” 1932
Kiyoshi Nakakura, filho adotivo de Morihei Ueshiba, conhecido como “Morihiro Ueshiba,” 1932

Finalmente em 1932, Kiyoshi Nakakura, um dos principais kendoka do Japão e aluno de Hakudo Nakayama, concordou em se casar com a filha de Morihei. Os arranjos foram feitos com Morihei e Nakayama como intermediários. A cerimônia ocorreu naquele ano e Nakakura foi adotado pela família Ueshiba, assumindo o nome de “Morihiro Ueshiba”. O fundador não apenas tinha um sucessor, mas este era um grande espadachim que estimulou seu crescente interesse pelo estudo da espada.
Nakakura permaneceu no Kobukan Dojo por cerca de cinco anos. Devido a sua presença, um grupo de kendo foi formado dentro do Kobukan, chegando a participar de competições. Mas, Nakakura, que antes de tudo era um kendoka, achou muito difícil dominar as sutilezas do jujutsu de Morihei, e gradualmente percebeu que não seria um sucessor adequado. Seu casamento terminou em 1937, quando Nakakura retornou para o mundo do kendo.
Apos esses fatos, o problema de quem poderia suceder Morihei novamente se tornou uma questão em aberto. Muitos acreditaram que seu sobrinho Yoichiro se tornaria o sucessor, devido ao longo período na colaboração da divulgação do aikibudo e seus laços de família com Morihei. Mas o filho de Morihei, Kisshomaru, começou o seu treinamento em meados da década de 1930 e gradualmente começou a ser o parceiro de seu pai, especialmente em demonstrações de espada. Quando Morihei se afastou para Iwama em 1942, Kisshomaru, que naquela época era um estudante da Universidade de Waseda, assumiu como líder (dojo-cho) do Kobukan Dojo. Quando o fundador faleceu em 1969, Kisshomaru formalmente sucedeu seu pai como Segundo Doshu.
Outras atividades educacionais
O Kobukan era uma base fixa para Morihei em suas atividades anteriores à guerra, mas ele estava constantemente em movimento. Quem estudar a vida do fundador durante estes anos—e mesmo em sua última década—nota a grande freqüência de suas viagens pelas áreas de Tókio, Kansai, e Wakayama.
As obrigações de Morihei em Tókio por si só o mantinham extremamente ocupado. Além de ensinar no Kobukan Dojo, ele dava aulas e fazia demonstrações em diversos lugares, em clubes, e em certas ocasiões, em residências. Mas suas principais atividades externas envolviam aulas em diversas instituições militares. Estas posições importantes lhe vieram devido a sua grande rede de contatos entre oficiais de alta patente do exército e da marinha.

Morihei dando aulas na escola do Exército Toyama, c. 1931. Ueshiba é o oitavo sentado a partir da esquerda.
Morihei dando aulas na escola do Exército Toyama, c. 1931.
Ueshiba é o oitavo sentado a partir da esquerda.

Apesar de ser difícil indicar as datas especifica e as circunstâncias de sua carreira como instrutor militar, oferecemos abaixo uma lista de aproximada de seu trabalho:
Colégio do grupo Naval (Kaigun Daigakko), c. 1927-1937, através de seus contatos com os Almirantes Isamu Takeshita e Sankichi Takahashi.
Universidade do exército (Rikugun Shikan Gakko)
Escola de Policia Militar (Kempei Gakko), datas desconhecidas, apresentado pelo General Makoto Miura.
Escola de Toyama (Rikugun Toyama Gakko), c. 1930-?, Possivelmente através de uma conexão com o General Miura.
Escola de espionagem de Nakano (Rikugun Nakano Gakko), c. 1941-1942, através de uma conexão com o General Miura.
Além disso, registros de datas desconhecidas de breves períodos na escola naval de Engenharia (Kaigun Kikan Gakko), na escola Naval de Comunicações de Yokosuka (Kaigun Tsushin Gakko), e na escola Técnica de Torpedos (Kaigun Suirai Gakko).
Os cargos de ensino em escolas militares aqui anotados cobriram o período de 1927 a 1942, quando Morihei se afastou para Iwama. Um olhar na lista acima apresenta uma evidência bastante convincente das extensas ligações de Morihei a personagens militares da ala direita e com suas atividades. Discutiremos mais esse assunto, na segunda parte.
Deve ser notado que com todas essas enormes responsabilidades de ensino, o fundador era forçado a contar com um grande grupo de assistentes para responder por todas essas atribuições. Yoichiro Inoue era o mais antigo desse grupo e compartilhava os deveres de instruções durante os anos iniciais em Tókio, mas como estabelecimento do Budo Senyokai, as atividades de Yoichiro mudaram para a área de Kansai. Assim Morihei teve que usar o apoio de seus principais uchideshi—pessoas como Hisao Kamada, Kaoru Funahashi, Shigemi Yonekawa, Tsutomu Yukawa, e Rinjiro Shirata.
Estabelecimento do Budo Senyokai
Apesar de Morihei ter se distanciado fisicamente da Religião Omoto com sua mudança para Tókio em 1927, ele ainda manteve estreitas ligações com os membros e com os líderes da seita. Em Agosto de 1932, com o apoio de Onisaburo Deguchi, foi criada uma associação para a promoção das artes marciais chamada Dai Nippon Budo Senyokai. Onisaburo já tinha antes criado numerosas organizações auxiliares sob a sombra da Religião Omoto, em uma tentativa de executar tarefas especificas para a propagação da seita. Essa associação foi feita sob medida para apoiar os esforços de Morihei para desenvolver seu budo e também serviu ao propósito de demonstrar o papel patriótico da Religião Omoto.

Morihei Ueshiba, Sumiko Deguchi, e Onisaburo posam diante da bandeira do Dai Nippon Budo Senyokai. de pé, à direita, está Aritoshi Murashige
Morihei Ueshiba, Sumiko Deguchi, e Onisaburo
posam diante da bandeira do Dai Nippon Budo Senyokai.
de pé, à direita, está Aritoshi Murashige

Morihei foi indicado como primeiro conselheiro do Budo Senyokai. Foram estabelecidas ramificações por todo o Japão e as sessões de treinamento ocorriam nas instalações da Omoto, mesmo em localidades distantes como a vila de Iwama na prefeitura de Ibaragi. Ao mesmo tempo, a existência do Budo Senyokai em Iwama trouxe ao Kobukan Dojo Yonekawa e Akazawa, dois dos uchideshi mais valorizados por Morihei.
O quartel general oficial da associação foi estabelecido em Kameoka, na sede administrativa da Religião Omoto, mas o grande dojo que foi aberto na cidade de Takeda, na prefeitura de Hyogo, logo se tornou o centro de treinamento verdadeiro. Vários dos uchideshi de Morihei do Kobukan Dojo de Tókio foram enviados para Takeda em várias ocasiões para treinamento intensivo e para ajudarem nas aulas. Yoichiro Inoue também teve um papel significativo como instrutor nas filiais do Budo Senyokai nas áreas de Kanto e Kansai.
Kisshomaru se lembra dos atritos que ocorreram entre os alunos de Morihei de Tókio e certos crentes da Omoto de “sangue quente”—particularmente membros do Showa Seinenkai (Associação da juventude de Showa)—que praticavam no Takeda dojo. Isso cresceu até se tornar uma rivalidade entre o Kobukan Dojo e a escola de Takeda [De Aikido Kaiso Ueshiba Morihei, pp. 223-223]

Treinamento no Budo Senyokai Takeda dojo na Prefeitura de Hyogo. à esquerda, de pé, Kiyoshi Nakakura; sexto a partir da esquerda: Morihei Ueshiba, Gozo Shioda, Kisshomaru Ueshiba, Hatsu Ueshiba. O terceiro de pé a partir da direita é Kenji Tomiki. Sentado em Segundo a partir da esquerda: Rinjiro Shirata, Tsutomu Yukawa
Treinamento no Budo Senyokai Takeda dojo na Prefeitura de Hyogo.
à esquerda, de pé, Kiyoshi Nakakura; sexto a partir da esquerda:
Morihei Ueshiba, Gozo Shioda, Kisshomaru Ueshiba,
Hatsu Ueshiba. O terceiro de pé a partir da direita é Kenji Tomiki.
Sentado em Segundo a partir da esquerda: Rinjiro Shirata, Tsutomu Yukawa

Yoichiro falou sobre o tipo de jovens da Omoto que treinaram no Takeda dojo do Budo Senyokai, somando seu ponto de vista:
“Inicialmente nós ensinávamos em Ten’onkyo em Kameoka. Eu dava aulas, mas como você sabe, aqueles praticantes de artes marciais eram todos causadores de problemas. Eu não conseguia controlá-los sempre que ia lá. Então falei com o Reverendo Deguchi sobre o problema. Ele disse: ‘Inoue, porque você não se livra deles mandando-os para Takeda?’ Para dizer a verdade, eles foram todos chutados para fora de Kameoka! Eles dizem que isso aconteceu porque o dojo foi construído em Takeda, mas essa não é a verdade. Eles foram mandados para Takeda por serem tão egoístas..” [de Aikido Masters, editado por Stanley Pranin]
Um total de 75 dojos afiliados foram eventualmente criados, dando um grande impulso aos esforços de Morihei para divulgar seu aiki budo através do Japão. Parece que algumas ramificações chegaram a ser estabelecidas no continente, e que Yoichiro e Aritoshi Murashige deram seminários na Manchúria sob ocupação Japonesa e na Korea em 1933, em conexão com o Budo Senyokai.Outras artes marciais eram também praticadas em certa extensão dentro da organização, em particular o kendo. Na verdade, Hakudo Nakayama era o consultor de kendo do Budo Senyokai, e isso se deve, sem dúvida, a sua amizade com Morihei. Mas a prática do aiki budo de Morihei era o ponto central das atividades desta organização.

A expansão para Osaka
Um dos efeitos da criação do Budo Senyokai foi o fortalecimento da rede de dojos de Morihei na região de Kansai. Coincidentemente, a pedido de Mitsujiro Ishi, na primavera de 1933, o escritório de Osaka do jornal de Asahi contratou Morihei para que ele desse aulas regulares no dojo do jornal. Ishii tinha treinado por algum tempo com Morihei em Tókio no final da década de 1920, durante o período de Mita Tsuna-cho e tinha um alto posto no escritório do jornal Tókio Asahi.
O inicio dos treinamentos no escritório do jornal Osaka Asahi foi simultâneo com a ocorrência de diversos ataques violentos por facções políticas ao jornal devido às suas posições políticas. Ishii fez arranjos para que Morihei desse aulas no jornal para que os empregados adquirissem habilidades de auto-defesa para serem usadas em caso de emergência.

O grupo do jornal de Osaka Asahi, c. 1935. Sentados da esquerda para a direita: Mitsujiro Ishii, Kenji Tomita, Takuma Hisa, Morihei Ueshiba, Hatsu Ueshiba, Kiku Yukawa. De pé, a partir da esquerda: Yoshitaka Hirota, Yoshiteru Yoshimura, Tsutomu Yukawa
O grupo do jornal de Osaka Asahi, c. 1935. Sentados da esquerda para a direita:
Mitsujiro Ishii, Kenji Tomita, Takuma Hisa, Morihei Ueshiba,
Hatsu Ueshiba, Kiku Yukawa. De pé, a partir da esquerda:
Yoshitaka Hirota, Yoshiteru Yoshimura, Tsutomu Yukawa

A figura principal no dojo do jornal de Asahi News era Takuma Hisa, que antes tinha trabalhado no escritório de Tókio como diretor de segurança. Em 1933, Hisa foi promovido e transferido para Osaka e assim foi uma escolha lógica para supervisionar o dojo de Asahi, devido ao seu histórico e seu amor pelas artes marciais.
Morihei então passava uma semana de cada mês— alguns registros dizem duas semanas – em Osaka, dando aulas no dojo de Asahi e em outros lugares que surgiram na mesma época. Vários uchideshi do Kobukan Dojo logo foram encaminhados para Osaka. Entre estes estavam Tsutomu Yukawa, que se casou e se estabeleceu em Osaka por volta de 1934, Kaoru Funahashi, Shigemi Yonekawa, e Rinjiro Shirata. Como nesta época Yoichiro Inoue estava próximo, em Kameoka, ele provavelmente foi o primeiro dos assistentes de Morihei a ensinar em Osaka.
Assim, pelos meados da década de 1930, Morihei estava ocupado indo e vindo entre Tókio e Osaka e, como vimos, ele teve um grande número de dojos afiliados através do Japão, devido às suas operações no Budo Senyokai.
Em Junho de 1936, diversos eventos levaram Sokaku Takeda a liberar Morihei de seus deveres como professor do dojo do jornal de Asahi. Quem estiver interessado nos detalhes deste episódio pode buscar meu artigo intitulado Remembering Takuma Hisa, publicado no Aiki News 129. Apesar do fato de não mais dar aulas no jornal de Asahi, Morihei continuou suas visitas regulares a Osaka, dando aulas em outros lugares, com a supervisão de seus uchideshi. Por um tempo, Morihei chegou a manter uma residência em Osaka, e ele e sua esposa passavam bastante tempo lá.
O Segundo Incidente Omoto
Em 1935, as autoridades do governo Japonês ficaram cada vez mais irritadas com as atividades ampliadas da Religião Omoto, que tinha surgido como uma fênix das cinzas da brutal repressão de 1921, conhecida como o primeiro Incidente Omoto. A seita tinha então cerca de dois milhões de adeptos e estava rapidamente ganhando influência. Além das muitas atividades domésticas da seita que incomodaram o governo, Onisaburo estava fortemente envolvido nos acontecimentos na Manchuria e apoiava uma nação independente sob as ordens de Pu’yi, o “Ultimo Imperador” famoso pelo filme. Além disso, Onisaburo era suspeito de desviar grandes somas de dinheiro para diversas causas de direita, incluindo as atividades de Mitsuru Toyama e de Ryohei Uchida. Falaremos mais sobre o assunto posteriormente.

Onisaburo em Matsue, um dia antes de sua prisão.
Onisaburo em Matsue, um dia antes de sua prisão.

As ações agressivas da Showa Shinseikai, uma nova organização estabelecida por Onisaburo em Julho de 1934, podem ter sido a “gota d´agua” para o governo Japonês. Pessoas proeminentes como Toyama, Uchida, políticos importantes, oficiais do exército e da marinha, e muitos líderes do mundo dos negócios e outros campos estiveram presentes na imponente cerimônia inaugural do Shinseika, feita em Tókio. A organização apoiou a ampla meta de “amor e união universal” (jinrui aizen) e de promover o “Sagrado pensamento Imperial”.
Ao descrever o propósito do Shinseikai um ano após sua fundação, Onisaburo escreveu:
“O Showa Shinseikai é a mudança da ordem de “espirito subordinado à carne” para “corpo subordinado ao espírito”, um novo recomeço que o coloca em um caminho glorioso de acordo com os princípios dos céus …. O espírito familiar do amor verdadeiro se expandirá ao estado para que nasça um brilhante Japão, baseado no espírito de uma grande família, e isso se difundirá mais até cobrir toda a humanidade e toda a criação terrena”. [de Deguchi Onisaburo Kyojin, por Kyotaro Deguchi]
No final de 1935, as autoridades imaginaram um plano secreto para destruir a religião de uma vez por todas. Um ataque surpresa em larga escala foi lançado contra os centros da Omoto em Ayabe e em Kameoka antes do amanhecer em 8 de Dezembro de 1935. Onisaburo, sua esposa, Hidemaro Deguchi, Uchimaru Deguchi e muitos outros líderes da Omoto líderes foram presos.
Morihei, também, estava entre os líderes da Omoto a quem as autoridades planejaram prender. Naquele momento ele estava em Osaka. Ele foi avisado sobre o desbaratamento da seita por seu aluno, o Chefe de Policia de Osaka Kenji Tomita, e foi mantido em segurança e escondido. Rinjiro Shirata, que tinha sido uchideshi da Kobukan, e estava dando aulas em Osaka na época, descreve este episódio em uma entrevista de 1984:
“O quartel de policia de Kyoto mandou uma ordem para a Policia de Osaka para a prisão de Morihei, porque ele era um membro da liderança da Religião Omoto. Foi súbito, mas houve um aviso com antecedência. Um homem chamado Kenji Tomita, que era Chefe da Polícia de Osaka, e era um ardente admirador de O-Sensei. Ele acreditava que seria impossível que O-Sensei fosse acusado de lesa majestade, e apesar de ser membro da Religião Omoto, ele devotava sua vida ao budo. Mesmo assim, a policia de Kyoto disse que se a policia de Osaka não prendesse Ueshiba Sensei, eles enviariam seus próprios oficiais de Osaka para prendê-lo.”
Ueshiba Sensei foi imediatamente avisado. Havia um jovem chamado [Giichi] Morita, que era chefe da estação da Policia de Sonezaki, que era grande admirador de O-Sensei. Ele protegeu Ueshiba Sensei em sua própria casa até que a tempestade se abrandou. A policia veio de Kyoto a sua procura, mas como ele estava na casa do chefe de policia, não conseguiram encontrá-lo, nem em Tókio, em Osaka, ou em Wakayama! “
De volta a Tókio, as autoridades também atacaram o Kobukan Dojo de Morihei, em conexão com a supressão da Omoto. Kiyoshi Nakakura lembra o que aconteceu:
“A esposa de Ueshiba Sensei, Hatsu, também estava lá [em Osaka]. Eu estava em Tókio. Kisshomaru também estava lá. Havia no Ueshiba Dojo santuários dedicados a deidades da Omoto e muitas caligrafias emolduradas feitas pelo Reverendo Onisaburo Deguchi penduradas nas paredes. O Sr. Ueshiba as considerava muito valiosas. Mas, mesmo assim, eu as tirei das paredes e as queimei. Os uchideshi estavam surpresos e me perguntaram se isso era uma atitude certa. Mas isso não tinha nada a var com certo ou errado. Pendurar ou guardar estas coisas era um ato de lesa majestade. Se a esposa do Sr. Ueshiba estivesse presente, acho que eu não teria sido capaz de fazer isso. Só pude fazer isso porque não havia ninguém lá.”
Conseqüências do Segundo Incidente
O Segundo ataque ao santuário foi feito com a determinação de “desaparecer inteiramente com a Omoto” e teve conseqüências para Morihei, profissionalmente e pessoalmente. A rede do Budo Senyokai de dojos afiliados foi imediatamente desfeita, apesar de aparentemente alguns grupos terem continuado o treinamento, se mantendo ocultos. Morihei não podia mais se associar abertamente com os seguidores da Omoto, nem deixar a vista imagens ou símbolos ligados à religião. O incidente e suas conseqüências causaram grande abalo a Morihei e à sua vida, que tinha sido centrada na Omoto por cerca de 15 anos, e ele tinha grande estima por Onisaburo.
Morihei sofreu muito em um nível pessoal, pois muitos dos lideres da seita consideraram muito estranho que Morihei escapasse da prisão, tendo em vista sua alta posição dentro da religião e por sua liderança do Budo Senyokai. Eles o viam como um “Judas”, um traidor da causa da Omoto. Esta reação de parte dos líderes da Omoto talvez também estivesse relacionada à rivalidade que existia dentro doTakeda dojo do Budo Senyokai entre os uchideshi do Kodokan Dojo e os praticantes da Omoto.
Até mesmo seu próprio sobrinho,Yoichiro culpou Morihei por não ter compartilhado o destino dos corajosos líderes da Omoto que foram aprisionados; alguns deles foram torturados. Surgiu um distanciamento em seu relacionamento, e mesmo com suas ocasionais associações no ano de 1942, foi isso o que eventualmente os distanciou.

Principais alunos do período Kobukan

Noriaki Inoue, Prefeitura de Wakayama, 1902-1994

Yoichiro Inoue
Yoichiro Inoue

Noriaki Inoue era sobrinho de Morihei Ueshiba, e foi criado junto com a família Ueshiba, primeiro em Tanabe e depois em Shirataki, Hokkaido. A maior parte do treinamento de Inoue em artes marciais ocorreu sob a tutela de Morihei Ueshiba em Hokkaido, Ayabe, e em Tókio. Inoue trabalhava em Tókio como instrutor assistente de Ueshiba, começando nos meados da década de 1920, continuando através do período de criação do Kobukan Dojo. Posteriormente, de 1932 a 1935, ele foi instrutor do Budo Senyokai, localizado em Kameoka. Inoue também ensinou aiki budo em várias localidades de Osaka.
Inoue se afastou de Ueshiba Sensei após os eventos do Segundo Incidente Omoto, e depois disso eles se encontraram em raras ocasiões. Ele deu aluas de forma independente depois da Guerra, em Tókio, chamando sua arte no início de aiki budo. Depois ele mudou o nome para Shinwa Taido, e, depois, para Shinei Taido. Ele permaneceu em atividade, ensinando um pequeno número de alunos até pouco antes de seu falecimento, em 1994.

Kenji Tomiki, Prefeitura de Aikita, 1900-1979

Kenji Tomiki

Kenji Tomiki
Kenji Tomiki

Tomiki começou seu treinamento com Morihei em 1926 em Ayabe, e continuou no final da década de 1920 e no início dos anos 30 em Tókio. Após se tornar professor, Tomiki passou a usar suas ferias de verão e de inverno para treinar em Tókio com o fundador. Por ter boa educação e ser um bom calígrafo, Tomiki também ajudava com as diversas tarefas administrativas no Kobukan. Por exemplo, ele editou o manual técnico Budo Renshu em 1933.
Tomiki se mudou para Shinkyo, Manchuria, aonde ensinou no Daido Gakuin e na academia de Treinamento da Policia Militar, e depois na Universidade de Kenkoku. Ele recebeu o primeiro 8o dan de Morihei em 1940. Preso na Manchúria no final da Segunda Guerra mundial, Tomiki ficou detido na União Soviética por tres anos antes de ser repatriado em 1948.
Em 1949, Tomiki entrou para a faculdade da Universidade de Waseda, aonde ensinou judo e depois aikido. Ele também deu aulas no Aikikai Hombu Dojo do início até meados dos anos 50. Posteriormente, Tomiki criou um sistema de aikido competitivo conhecido como “Aikido Kyogi” ou como “Tomiki aikido”. Ele continuou a refinar seu sistema em sua sede na Universidade de Waseda até sua morte, em 1979.

Hisao Kamada, Prefeitura de Wakayama, 1911-1986

Hisao Kamada

Hajime Iwata
Hisao Kamada

Hisao Kamada nasceu em uma família de seguidores da Omoto. Ele entrou para o dojo particular de Morihei Ueshiba em Sengakuji, Takanawa, em 1929. Ele era um dos uchideshi mais antigos do Kobukan Dojo, aonde tinha funções religiosas. Em 1932, Kamada foi enviado como instrutor para o Budo Senyokai em Kameoka e em Takeda.
Kamada entrou para o exército Imperial Japonês em 1933. Após seu afastamento do exército em 1936, ele se mudou para Shanghai, aonde trabalhou com a venda de gelo e foi assistente de Hajime Iwata, que mantinha um dojo lá. Após a guerra não mais praticou o aikido, e viveu em Osaka, aonde trabalhou como comerciante de objetos de couro. Em 1977 se mudou para a cidade de Ueda, em Nagano, aonde faleceu em 1986.

Hajime Iwata, Prefeitura de Aichi em 1909 [também Kazuya e Ikkusai]

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Hajime Iwata

Hajime Iwata entrou para o dojo particular de Morihei Ueshiba em Mejiro em 1930, apresentado pelo Dr. Kenzo Futaki. Ele foi um uchideshi do Kobukan Dojo enquanto estudava direito na Universidade de Waseda. Após se graduar, Iwata se tornou empregado da companhia de Gás de Tókio até 1939, quando partiu para Shanghai, aonde editou uma publicação chamada Toda Shanghai. Em 1940 ele abriu uma filial do dojo de Kobukai, aonde teve a assistência de Hisao Kamada.
Apos a guerra, Iwata retornou para o Japão e depois passou a ensinar aikido na Prefeitura de Aichi. Ele era um 9o dan, e foi um dos poucos instrutores em atividade do período anterior à guerra a dar aulas após a guerra. Iwata também recebeu a medalha do Nihon Budo Kyogikai por suas contribuições às artes marciais.

Minoru Mochizuki, Prefeitura de Shizuoka, 1907

Minoru Mochizuki
Minoru Mochizuki

Minoru Mochizuki começou seu treinamento em artes marciais ainda criança, praticando tanto judo quanto kendo. Ele progrediu rapidamente e em 1925 entrou para o Kodokan, aonde se tornou um judoca de primeira linha. Sob os cuidados de Jigoro Kano, Mochizuki se tornou membro do Kobudo Kenkyukai, uma organização estabelecida dentro do Kodokan para o estudo de artes marciais clássicas, aonde ele praticava Katori Shinto-ryu. Posteriormente, em 1930, ele foi enviado por Kano para estudar aikijujutsu com Morihei Ueshiba. Mochizuki se tornou uchideshi no Kobukan Dojo por um curto período, e depois abriu seu próprio dojo na Cidade de Shizuoka, em Novembro de 1931.
Mochizuki depois passou oito anos na Mongolia, aonde recebeu treinamento em karate. Em 1951, ele viajou para a França para ensinar judo e também aikido, e foi o primeiro a difundir a arte na Europa. Mochizuki criou um sistema marcial composto, chamado Yoseikan Budo, o qual inclui elementos de judo, aikido, karate, e kobudo. Ele escreveu um livro intitulado Nihonden Jujutsu em 1978. Mochizuki recebeu o 10o dan da Federação Internacional de Artes marciais e até recentemente permaneceu ativo em seu dojo particular em Shizuoka. Ele atualmente reside na França com seu filho Hiroo.

Kaoru Funahashi, Prefeitura de Tottori (c. 1913-c. 1940)

Kaoru Funahashi

Kaoru Funahashi
Kaoru Funahashi

Também vindo de uma família de seguidores da Omoto, Kaoru Funahashi entrou para o Kobukan Dojo em 1931. Ele era parente de Morihei Ueshiba. De pequena estatura, ele foi um dos uchideshi mais antigos do dojo e era conhecido por sua habilidade com ukemi. Ele foi um dos modelos que pousou para os desenhos que apareceram na edição de 1933 do manual Budo Renshu.
Funahashi foi ativo como instrutor assistente nas filiais do Budo Senyokai, incluindo um grande dojo em Takeda. Ele também deu aulas em Osaka em meados da década de 30, após o que, deixou de ser mencionado. Funahashi faleceu de uma doença pulmonar por volta de 1940.

Shigemi Yonekawa, Prefeitura de Ibaragi, 1910

Shigemi Yonekawa

Shigemi Yonekawa
Shigemi Yonekawa

Yonekawa entrou para o Kobukan como uchideshi em 1932. Ele deu aulas em diversos lugares como assistente de Morihei Ueshiba em Tókio e em Osaka. Em 1936, Yonekawa era o parceiro de Morihei Ueshiba em uma série de fotografias técnicas tiradas no Noma Dojo. Esta coleção constitui o registro mais completo das técnicas de Morihei Ueshiba de antes da guerra.
Yonekawa se mudou para a Manchuria em 1936, aonde foi assistente de Kenji Tomiki como instrutor de aiki budo. Ele foi chamado para o exército Imperial Japonês em 1944 e participou da ação em Okinawa antes de ser repatriado em 1946. Ele não mais atuou no aikido após a guerra, se estabeleceu em Tsuchiura, Prefeitura de Ibaragi, aonde passou a se dedicar à agricultura.

Tsutomu Yukawa, Prefeitura de Wakayama, 1911-1942

Tsutomu Yukawa
Tsutomu Yukawa

Tsutomu Yukawa entrou para o Kobukan Dojo em 1931, apos se graduar na escola secundária na Prefeitura de Wakayama. Ele tinha experiência em judo e era conhecido por sua grande força física. Por volta de 1934, Yukawa se casou com uma sobrinha de Morihei e se mudou para Osaka. Lá ele ensinou aiki budo no departamento de policia de Sonezaki, e depois teve um dojo particular em Osaka.
Junto com o fundador e Gozo Shioda, ele se apresentou em uma demonstração perante a família Imperial em 1941. Yukawa acompanhou Morihei à Manchuria em 1942. Pouco depois de seu retorno ao Japão, ele morreu tragicamente em Osaka como resultado de uma altercação com um soldado do exército.

Gozo Shioda, Tókio, 1915-1994

Gozo Shioda
Gozo Shioda

Filho de um famoso pediatra, Gozo Shioda entrou para o Kobukan Dojo em Maio de 1932, antes de entrar para a Universidade de Tokushoku. Ele se tornou uchideshi ainda enquanto era aluno universitário e foi assistente de aulas de Morihei Ueshiba em Tókio e em Osaka. Shioda treinou com o fundador até deixar o Japão em 1941. Durante a Guerra, ele trabalhou na China, Taiwan, Borneo, e em Celebes.
Apos a guerra, Shioda passou por um curto período de treinamento com Ueshiba em Iwama. Posteriormente, em 1952, ele começou a ensinar aikido aos empregados da Companhia de aço Nihon Kokan e em vários departamentos de policia. Em 1955, com o apoio de empresários importantes, ele criou o Yoshinkan Aikido Dojo em Tsukudo Hachiman. Shioda inaugurou a Federação Internacional de Aikido Yoshinkai, para depois espalhar para todo o mundo o estilo de aikido Yoshinkan em 1990. Ele é o autor de vários livros técnicos sobre aikido e de uma autobiografia intitulada Aikido Jinsei [Uma Vida de Aikido], publicado em 1985. Shioda tinha a graduação de 9o dan e é o fundador do aikido Yoshinkan.

Kiyoshi Nakakura, Prefeitura de Kagoshima, 1910-2000

Kiyoshi Nakakura
Kiyoshi Nakakura

Kiyoshi Nakakura começou no kendo ainda criança, e entrou para o Daidokan Dojo aos 17 anos com o plano de se tornar um profissional do kendo. Posteriormente, em Janeiro de 1930, ele se mudou para Tókio e entrou para o Yushinkan Kendo Dojo de Hakudo Nakayama. Através de seu casamento com a filha de Morihei Ueshiba, Matsuko, ele se tornou o filho adotivo do fundador do aikido, e foi designado como seu sucessor, sendo conhecido como Morihiro Ueshiba durante os cinco anos que passou no Kobukan Dojo. Posteriormente ele abandonou esta posição e seu casamento, deixando o Ueshiba Dojo para buscar sua carreira no kendo.
Nakakura teve uma carreira longa e muito bem sucedida em kendo de competição e em iaido, até seus setenta anos de idade. Nakakura era 9o dan hanshi em kendo e em iaido, e um dos principais espadachins do Japão. Ele atuou como instrutor chefe de kendo na Universidade Hitotsubashi até seu falecimento.

Aritoshi Murashige, 1895-1964

Aritoshi Murashige
Aritoshi Murashige

Aritoshi Murashige era originalmente um judoca, e também praticante de Katori Shinto-ryu no Kodokan, junto com Minoru Mochizuki. Ele entrou para o Kobukan Dojo por volta de 1932, enviado pelo Kodokan. A ênfase de Murashige era no treinamento com armas, ao invés das técnicas de jujutsu.
Murashige mas tarde se tornou um crente da Omoto, devido à sua associação com Morihei Ueshiba, e participava das atividades da Budo Senyokai. Ele foi então participar do treinamento intensivo no Takeda dojo na Prefeitura de Hyogo, e depois passou a ser instrutor para a organização Omoto. Posteriormente, Murashige ensinou na Manchuria em 1933. Após a Guerra, Murashige ensinou em Burma na década de 50 e depois na Bélgica, aonde faleceu em um acidente de carro em 1964.

Rinjiro Shirata, Prefeitura de Yamagata, 1912-1993

Rinjiro Shirata
Rinjiro Shirata

Rinjiro Shirata entrou para o Kobukan Dojo em 1933, através de ligações familiares com a Religião Omoto. Ele se tornou um dos principais uchideshi de Morihei Ueshiba, sendo seu professor assistente e dando aulas em dojos em Tókio e em Osaka até ser convocado para o exército Imperial Japonês em 1937. Shirata ficou baseado na Manchuria e em Burma durante a Guerra do Pacifico, e após ser repatriado, se estabeleceu em sua nativa Prefeitura de Yamagata.
Após uma pausa em seu treinamento de mais de vinte anos, ele voltou a dar aulas por volta de 1960. Ele assumiu diversos cargos técnicos e administrativos na Federação Internacional de Aikido e viajou para o exterior para dar aulas e para comparecer a reuniões da organização em diversas ocasiões. Em 1984, um manual de treinamento baseado nas técnicas de Shirata foi escrito por John Stevens. Shirata recebeu o 9o.dan e dava aulas em Yamagata até pouco antes de sua morte.

Takako Kunigoshi, Prefeitura de Shikoku, 1911

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Takako Kunigoshi entrou para o Kobukan Dojo em 1933, pouco antes de se graduar na Universidade feminina de Belas Artes do Japão. Uma das poucas mulheres alunas do Kobukan Dojo, ela encarava com seriedade o treinamento e tinha o respeito de Morihei Ueshiba e de seus uchideshi. Uma hábil artista, Kunigoshi fez as ilustrações técnicas para o livro de 1934, Budo Renshu, que era dado aos alunos como uma licença para dar aulas. Posteriormente ela treinou no dojo particular do Almirante Isamu Takeshita por muitos anos e deu aulas de auto-defesa para vários grupos de mulheres.
Após a Guerra, Kunigoshi não estava mais em atividade no aikido. Atualmente ela está aposentada e vive em Ikebukuro, aonde dá aulas sobre a cerimônia do chá Japonesa.

Zenzaburo Akazawa, Prefeitura de Ibaragi, 1919

Zenzaburo Akazawa
Zenzaburo Akazawa

Zenzaburo Akazawa é de uma família de seguidores da Omoto, e entrou em contato com o aiki budo devido à existência de um grupo do Budo Senyokai em Iwama, prefeitura de Ibaragi.Também era parente do uchideshi do Kobukan Dojo, Shigemi Yonekawa. Akazawa entrou para o dojo de Tókio em Abril de 1933, após se graduar na escola secundária. Após um curto período de treinamento no Kobukan, ele passou dois anos e meio em intensivo treinamento em Takeda, Prefeitura de Hyogo, no grande Budo Senyokai dojo. Depois disso, ele retornou a Tókio, aonde continuou como uchideshi até partir para a Manchuria aos 18 anos. Morihei Ueshiba e Akazawa se registraram formalmente na escola Kashima Shinto-ryu em 1937, quando o fundador do aikido se interessou pelo estudo de armas,especialmente o ken e o jo. Akazawa praticou o Kashima Shinto-ryu por cerca de um ano no Kobukan Dojo, quando os instrutores do ryuha ensinavam em visitas semanais.
Akazawa entrou para a marinha Imperial e ficou no mar por tres anos. Durante a ultima parte de seu serviço naval ele foi alistado até o final da segunda guerra mundial para ensinar aikido na Academia Naval em Etajima, na Prefeitura de Hiroshima. O pai de Akazawa ajudou Morihei Ueshiba na compra de terrenos em Iwama e foi importante na construção do Iwama Dojo e do santuário Aiki. Sem mais exercer atividades no aikido, ele vive em Iwama.

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Morihei Ueshiba 1938

Na primeira parte, vimos o dramático efeito do Segundo Incidente Omoto e suas conseqüências na vida e na psicologia de Morihei Ueshiba. Muitos dos laços que ele desenvolveu por um período de 15 anos foram instantaneamente rompidos ou afastados devido a perseguição do governo Japonês contra a Religião Omoto. Após um período escondendo-se na casa do chefe de polícia de Sonezaki, Morihei foi capaz de retornar à sua vida e às suas atividades.
Algumas coisas mudaram. O interior do Kobukan Dojo tinha sido esvaziado de todos os trabalhos de caligrafia e dos símbolos da Omoto, que foram removidos ou destruídos, e não ocorriam mais visitas dos dignitários da seita Omoto, que costumavam vir em anos anteriores. A rede do Budo Senyokai foi desmantelada, mesmo parecendo que alguns grupos mantinham o treinamento, apesar de estarem afastados do publico. Morihei Ueshiba continuou com seus compromissos como professor em diversas instituições militares e também com suas visitas regulares à área de Osaka aonde vários de seus alunos davam aulas, e aonde ele também tinha dojos afiliados.
Ocorreu outra mudança dramática na vida de Morihei nesta época, e que não teve nada a ver com o Segundo Incidente Omoto. Em Junho de 1936, Sokaku Takeda apareceu no jornal Asahi em Osaka dizendo ser o professor de Morihei, e Sokaku acabou assumindo as aulas no lugar de Ueshiba. Vários eventos confusos cercam este incidente, e eu cobri o que é conhecido em detalhes em meu artigo Remembering Takuma Hisa*. Apesar da perda de tal posto de prestígio ser potencialmente um problema, Morihei ainda tinha uma forte presença em Osaka, e continuou a dar aulas lá com regularidade até seu afastamento para Iwama. Por volta desta época outro golpe contra Morihei foi a partida de vários de seus melhores assistentes. Shigemi Yonekawa se mudou para Manchúria, aonde ajudava Kenji Tomiki. Rinjiro Shirata foi chamado para o serviço militar em 1937. Kaoru Funahashi desapareceu de cena por volta desta época, e pouco se sabe sobre o que lhe aconteceu. Zenzaburo Akazawa também partiu para a Manchúria como assistente do General Toshinari Maeda. Kiyoshi Nakakura e a filha de Morihei terminaram seu casamento no mesmo ano, deixando a questão da sucessão de Morihei no limbo. Mas talvez a maior dificuldade tenha sido o fato de que o Kobukan Dojo e as outras escolas afiliadas estavam perdendo cada vez mais jovens para os esforços de Guerra, deixando poucos alunos nos dojos.

*Nota: Em breve colocaremos também este post a disposição no site do ganseki.

 O jovem Gozo Shioda c. 1935
Gozo Shioda

Entre os principais alunos de Morihei que permaneceram estava Gozo Shioda. Shioda era filho de um rico pediatra e amava as artes marciais. Como ainda era estudante, o jovem Shioda pode continuar o treinamento no Kobukan por um longo tempo, depois que os outros instrutores do Kobukan foram chamados ao serviço militar. Shioda prosseguiu, e se tornou uma figura importante no desenvolvimento do aikido após a Guerra como fundador da escola Yoshinkan de Aikido. O filho de Morihei, Kisshomaru, começou a praticar regularmente em meados de 1930 e frequentemente ajudava nas demonstrações de seu pai com espada. Kisshomaru também passou cerca de um ano estudando na escola de espada Kashima Shinto-ryu quando os instrutores desta escola clássica faziam visitas semanais ao Kobukan Dojo a partir de 1937.

A frágil saúde de Morihei
Uma palavra sobre a saúde frágil de Morihei deve ser dita aqui. Kisshomaru menciona isso na biografia de 1977 sobre seu pai e atribui a condição de Morihei aos efeitos nocivos de uma disputa bizarra de beber água salgada em 1925 da qual Morihei participou quando vivia na comunidade Omoto. Aparentemente, alguém que se denominava um “Praticante de Bramanismo” estava desafiando Onisaburo para uma disputa e Morihei assumiu o lugar dele bebendo grandes quantidades de água salgada.
É claro que é apenas uma especulação que esta combinação de fatores levou Morihei a estar frequentemente doente, mas sua frágil saúde é frequentemente comentada pelos discípulos de Ueshiba de antes da guerra. Seu sobrinho, Yoichiro Inoue, mencionou que frequentemente dava aulas no lugar de Morihei no início do período de Tókio, devido às doenças de seu tio. Gozo Shioda conta como Morihei esteve muito doente com icterícia em 1941 quando foi feita uma demonstração perante a família imperial.
Mas mesmo sem estes testemunhos, seria uma simples questão de dedução de que Morihei estava frequentemente doente, observando-se a constante e às vezes dramática mudança em seu peso que são visíveis nas fotos existentes do fundador.
Devemos lembrar que Morihei viajava constantemente por Tókio e também para a área de Kansai a cada mês. Seus hábitos alimentares e seu sono eram irregulares e isso certamente tinha um efeito negativo em sua saúde. De fato, um olhar cuidadoso sobre suas fotos deste período revelam que Morihei envelheceu rapidamente entre os anos de 1935 a 1940. Pouco antes do Segundo Incidente Omoto, podemos vê-lo em sua melhor forma, com um elegante bigode de estilo Kaiser. As fotos de 1938 e posteriores revelam que ele ficou com os cabelos brancos e envelheceu a olhos vistos. Sem dúvida foi uma combinação de fatores que contribuíram para sua saúde se debilitar.

As associações de direita de Morihei
Tendo antes descrito os eventos do Segundo Incidente Omoto, este é um momento oportuno para trazermos o assunto das extensas associações de direita de Morihei e o significado delas. Este tópico recentemente foi comentado por vários escritores ocidentais. Até recentemente, os historiadores do aikido têm mencionado as diversas associações militares e políticas de Morihei principalmente buscando demonstrar que ele era visto com grande apreço pelas elites do Japão do pré-guerra.
É certo que este é um assunto delicado, pois se dizemos que o fundador do aikido apoiava ativamente as causas militaristas, o aikido como uma arte marcial “espiritual” seria questionado. Por outro lado, toda a subcultura das artes marciais do Japão foi ligada a acontecimentos políticos e militares, desde os primórdios da história conhecida. Assim, em um sentido mais profundo, como poderia Morihei Ueshiba não se envolver com atividades da direita, tendo em vista sua profissão e os tipos de pessoas com que ele se associava diariamente? Toda a questão é muito complexa, assim eu vou tentar oferecer informações relevantes sobre o assunto.

O início dos contatos com a direita
A maioria das associações de Morihei com a direita podem ser vistas desde seu envolvimento com a Religião Omoto, o que começou por volta de 1920. Por exemplo, sua conexão com o tenente Comandante Seikyo Asano, um crente da Omoto e um dos mais antigos alunos de Morihei em Ayabe, seria a base para a criação de uma grande rede de contatos com oficiais da marinha de altas patentes. Depois disso, a partir de meados da década de 20, quando Morihei se estabeleceu em Tókio, suas conexões cresceram até incluir muitos oficiais importantes do exército e da polícia.Nas muitas fotos que ainda existem das décadas de 20 e de 30, é comum se ver oficiais uniformizados junto com Morihei e seus alunos.

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Onisaburo Deguchi, Mitsuru Toyama, e Ryohei Uchida c. 1923

É claro que o mentor de Morihei, Onisaburo Deguchi, também estava envolvido na política e mantinha muitos contatos com pessoas da direita. Entre estes estavam Mitsuru Toyama e Ryohei Uchida, figuras chaves na famosa Sociedade Dragão Negro e em outras organizações da direita. As atividades de Toyama e Uchida envolviam a Manchúria e a Mongólia. Muitos de seus esforços tinham a intenção de minimizar os avanços dos russos a estas regiões, pelos interesses coloniais dos Japoneses sobre o continente. Estas pessoas famosas estavam por trás das agressivas atividades do exército Guandong (Kantogun) que depois levariam a guerra contra a China e a Rússia.
Expedição da Mongólia
Com as atividades de Onisaburo “por trás dos panos” e por seu envolvimento com pessoas como Toyama e Uchida, seria tolice imaginar que sua mal sucedida expedição à Mongólia em 1924 não teria uma dimensão política por trás da meta de fachada de estabelecer uma “utopia religiosa”. Uma pessoa inteligente e politicamente astuta como Onisaburo certamente tinha consciência dos planos secretos dos grupos Japoneses que operavam no continente, e provavelmente até trabalhava juntamente com eles. Não devemos esquecer que Morihei Ueshiba era um dos homens escolhidos para acompanhar Onisaburo em sua viajem secreta para a Mongólia. Certamente Morihei estava “por dentro” destas manobras políticas e militares desde o inicio de sua carreira.
A rede de contatos de Morihei de pessoas da direita posteriormente se ampliou através das associações e atividades de seus alunos. Para mencionar vários exemplos, Yoichiro Inoue, Kenji Tomiki, Gozo Shioda, e Zenzaburo Akazawa tinham muitos contatos, que incluíam pessoas de altas colocações nos meios militares e políticos, alguns dos quais certamente eram também pessoas associadas a Morihei. Isso é apenas um reflexo dos tempos, e dos círculos em que estas pessoas das artes marciais transitavam.
Aulas em instituições militares
De um ponto de vista ocidental, o aspecto mais problemático das atividades de antes da guerra de Morihei são seus vários contratos para dar aulas em instituições militares. Na primeira parte, documentamos seu envolvimento com o Colégio Naval, com a Universidade do Exército, a Escola de Policia Militar, a Escola Toyama, e a Escola de Espionagem Nakano, entre outras. O que vem em mente é em que extensão, se isso ocorreu, as atividades do fundador nestes círculos vão além da instrução de habilidades e estratégias marciais? Certamente Morihei interagiu com o pessoal e os alunos destas instituições e se manteve a par dos eventos. Mas se Morihei estava envolvido de alguma forma com a infindável intriga politica que constantemente desestabilizava a politica Japonesa, aonde estão as evidências?
Existe um curioso episódio que pode ser mencionado a esse respeito que pode sugerir um papel desconhecido de Morihei nos acontecimentos politicos da época. Kisshomaru publicou uma antiga foto, sem data, no Moriheiden em 1977, comemorando uma visita ao Kobukan Dojo de um dignitário estrangeiro, com aparência de Chinês. O visitante é chamado apenas de “Tokuo” e não é dada nenhuma informação sobre o significado desta visita.
Com um pouco de pesquisa descobriu-se o fato de que o nome chinês de Tokuo era Principe Teh Wang (1902-1966), e ele ficou do lado das autoridades Japonesas em Mongólia na década de 30. Teh Wang alimentou certo nível de unidade politica entre os lideres tribais da Mongólia e a declarou uma nação independente chamada Meng Chiang em Dezembro de 1937. Este governo foi apoiado pelos interesses Japoneses no continente e todo o ambiente foi lembrado em Manchukuo, pela fama de Pu-yi, o Ultimo Imperador. Teh Wang reinou em sua capacidade simbólica até 1945.
Assim, o Príncipe Teh Wang visitou o Japão em 1938 e recebeu uma audiência perante o Imperador Hirohito de acordo com seu papel como chefe de estado estrangeiro. Na mesma visita, Teh Wang também fez uma visita cortês ao Kobukan Dojo de Morihei Ueshiba. Ao menos duas fotos deste evento ainda existem, uma das quais mostramos aqui.

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Visita do Príncipe da Mongólia Teh Wang, Almirante Isamu Takeshita, Morihei Ueshiba; ajoelhado atrás de Teh Wang está Gozo Shioda; também presentes estão Aritoshi Murashige e Hatsu Ueshiba

Que significado deve ser dado a esta visita não está claro. Além do Príncipe da Mongólia e de Morihei, um oficial do exército que está presente é o Almirante aposentado Isamu Takeshita. Outras pessoas identificadas na foto são a Sra. Ueshiba, Gozo Shioda, Kenzo Futaki e Aritoshi Murashige. Seria interessante saber mais detalhes das circunstâncias desta visita real, mas ao julgar pela presença de vários jovens usando keikogi, podemos acreditar que Morihei fez uma apresentação para o Imperador.

Indicações sobre a forma de pensar de Morihei
As evidências circunstanciais do envolvimento de Morihei em atividades de direita são um “terreno montanhoso”, mas devemos pausar por um momento para examinarmos as indicações da forma de pensar do fundador neste estágio de sua vida. Neste ponto, é útil um artigo que se diz ser dele, publicado na revista Budo, um informativo de 1932 do Budo Senyokai, que discute o papel do budo na sociedade moderna.
Vamos primeiro considerar estes comentários que colocam Morihei de acordo com a retórica que prevalecia na época, em apoio ao “Modelo Imperial”.
“…o verdadeiro papel das artes marciais Japonesas é se tornarem as principais artes marciais no mundo como parte do continuo processo de criarmos um “modelo imperial” para todo o mundo. O Japão é o líder do mundo, o modelo para o planeta, e bem do mundo é a grandeza do Japão. O Japão é o modelo para o mundo perfeito. Só quando este espírito for completamente compreendido se entenderá o verdadeiro significado das artes marciais Japonesas”.
Este tipo de retórica é muito típico daquele período, mas é um tanto surpreendente vê-la em um informativo da Omoto, considerando-se as freqüentes atitudes anti-governamentais da seita. Mesmo assim, como vimos, Onisaburo tinha nas mãos muitas “cartas” políticas que envolviam facções da direita, portanto não devemos nos surpreender por estas palavras refletirem a política da seita também. O texto foi escrito na verdade por uma pessoa influente da Omoto, chamado Bansho Ashihara, com base nas anotações tiradas de palestras e conversas com Morihei. É possível que ele tenha tomado liberdades e tenha adicionado coisas para “embelezar” o texto. Aparecem outros artigos sob o nome de Morihei em diferentes edições do informativo.
As evidências sugerem que Morihei, na maior parte do tempo, apoiava a politica imperialista do Japão. Mas, ao mesmo tempo, ele abraçava os pontos de vista da Religião Omoto e suas inclinações espirituais naturais fizeram com que ele visse o budo como um caminho para a auto–realização a serviço do kami celestial.
Na verdade, encontramos trechos de outro artigo de Morihei publicado no informativo que capturam a essência do budo de maneira mais espiritual usando termos que antecipam a linguagem usada pelo fundador depois da guerra:
“Após ter atingido certo nível no treinamento do “Caminho da Espada”, você deve sentir as intenções de seu inimigo para atacar antes que a lâmina comece a cortar para baixo. Eu tive a experiência de sentir uma “idéia-bala” de uma polegada, de cor branca, e ouvi seu zunido ao voar m minha direção antes que a verdadeira bala tivesse sido disparada. Mas no verdadeiro budo, apenas prever a intenção do inimigo não é suficiente. O verdadeiro caminho do Kami é equipar seu ser interior com o poder para mover o inimigo de acordo com a sua vontade…”.
Em resumo, meu ponto de vista atual sobre esses assuntos é que o apoio de Morihei ao militarismo Japonês tinha certa ambivalência. É claro que seu alto posicionamento na sociedade dependia do fato de ele ter um papel ativo no apoio do militarismo e das causas políticas, ao menos na aparência. Contrabalançar isto era o profundo desejo de Morihei nos assuntos espirituais e no treinamento ascético. Apesar de haver todos os tipos de manobras políticas a sua volta, nunca vi um documento ou ouvi falar de um episodio sobre o fundador ter algum tipo de papel ativo em causas políticas.
Ele anteviu a derrota do Japão muito antes que isso ficasse aparente. Lembre-se que entre as previsões de Onisaburo no Reikai Monogatari estavam histórias sobre “navios-aves dos céus” e que reinaria a destruição sobre o Japão. Talvez a maior evidência, para a infelicidade de Morihei com os esforços de guerra, seja seu retiro total para Iwama no auge da guerra, em 1942. Certamente este é um assunto a ser reiteradamente observado conforme surjam novas informações sobre o ponto de vista de Morihei.

O Estabelecimento de uma presença de ensino na Manchúria

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Posando na frente do salão Shimbuden Budo da Universidade de Kenkoku Sentados ao centro: Kenji Tomiki e Morihei Ueshiba; de pé, o segundo a partir da esquerda, Hideo Oba; o segundo a partir da direita: Shigenobu Okumura

Nas décadas de 1920 e 1930 os Japoneses desenvolveram uma massiva presença na Manchúria e obtiveram o completo controle político em 1932 quando foi estabelecida a nação Manchukuo. Vimos que Yoichiro Inoue visitou a Manchúria em 1933 e então Kenji Tomiki se mudou para Shinkyo (atualmente Changchung) em 1936 quando começou a ensinar no Daido Gakuin, bem como aos membros do exército Guandong e a agência da família Imperial. Com a abertura da Universidade Kenkoku em 1938, Tomiki se juntou à equipe de professores e dava aulas de judo e aikibudo.
Tomiki convidou Morihei a dar aulas na universidade em 1939. Durante essa estadia, Morihei se encontrou com o famoso lutador de sumo Tenryu—que na época estava aposentado—e que tentou testar a força do velho homem. Tenryu ficou muito impressionado com a maestria de Morihei e recebeu permissão para retornar para Tókio para estudar por tres meses no Kobukan Dojo. Este encontro com Tenryu foi mais um episódio em que Morihei demonstrou suas habilidades marciais impressionantes. Neste caso, seu parceiro era uma pessoa famosa no mundo do sumo por sua força física. Este foi o princípio de uma amizade duradoura entre o fundador e Tenryu, e este se tornou um grande aliado para as organizações Aikikai e para o Yoshinkai de Gozo Shioda após a segunda guerra.

Da esquerda para a direita: Kisshomaru Ueshiba, Zenzaburo Akazaka, Tenryu. na ponta direita: General Makoto Miura, Kobukan Dojo 1939
Da esquerda para a direita: Kisshomaru Ueshiba, Zenzaburo Akazaka, Tenryu.
na ponta direita: General Makoto Miura, Kobukan Dojo 1939

Parece que Morihei fazia visitas anuais à Manchúria durante o verão de 1939 a 1942. Ele se tornou conselheiro de artes marciais para a Universidade Kenkoku e dava seminários e demonstrações com a assistência de Tomiki. Morihei era reconhecido como um dos maiores instrutores de artes marciais pelas delegações Japonesas que visitaram o continente. Isto é confirmado pela posição central, sentada, em diversas fotos de grupos tiradas na Manchúria durante este período. Sua ultima visita foi em 1942, quando ele novamente participou de uma grande demonstração, e diz-se que ele fez uma viagem fora do roteiro para Beijing, que pode ter tido razões políticas, de acordo com a biografia de Morihei escrita por Kisshomaru.
Como informação extra, notamos que um dos alunos de Kenji Tomiki na Universidade Kenkoku era um jovem chamado Shigenobu Okumura. Ele treinou com Tomiki e com Hideo Oba por vários anos na universidade e também visitou o Kobukan Dojo durante suas férias. Okumura foi muito importante para a organização Aikikai depois da guerra e continua ativo como shihan 9o dan.
A Criação do Zaidan Hojin Kobukai
Em 1939, vários dos principais apoiadores de Morihei começaram a criar uma estrutura de corporação sem fins lucrativos para o Kobukan Dojo. Disso resultou a aprovação oficial do Zaidan Hojin Kobukai em 30 de Abril de 1940. Kisshomaru dá o credito a Yoji Tomosue, do Ministério da saúde, que facilitou a aprovação oficial, e um homem de negócios, chamado Shozo Miyazaka, que fez uma contribuição de 20,000 Yens para a nova fundação. O primeiro conselheiro era o Almirante reformado Isamu Takeshita, com o General Katsura Hayashi como vice conselheiro. Entre os membros estavam o Conde Fumimaro Konoe, o Conde Toshitame Maeda, Takuo Godo, Kinya Fujita, Kozaburo Okada, Kenji Tomita, e Kenzo Futaki, bem como outras pessoas conhecidas.
A existência da Fundação Kobukai deu ao dojo uma identidade legal e facilitou o controle das finanças e as tarefas de organização. Esta organização foi desfeita no fim da guerra mas foi reativada como Zaidan Hojin Aikikai, que recebeu a aprovação oficial em 1948.

Sangue novo no Kobukan

Tohei Koichi, c. 1953
Tohei Koichi, c. 1953

Havia alunos possivelmente brilhantes entre os novos alunos que entraram para o Kobukan Dojo a partir de 1940. O mais conhecido deles é Koichi Tohei, que teve um importante papel no desenvolvimento do aikido depois da guerra no Aikikai antes de formar sua própria escola independente em 1974. Tohei era aluno da Universidade Keio ao entrar para o Kobukan Dojo e fez rápidos progressos. Ele treinou por um ano e meio, chegando a ser assistente do fundador em tarefas de aulas externas antes de ser convocado pelo exército em 1942 e enviado para a batalha.
Outra importante figura que teve importância após a guerra foi Kisaburo Osawa, que entrou poucos meses depois de Tohei em 1941. Osawa tinha cerca de 30 anos quando começou, e costumava ser assistente de Minoru Hirai, que era diretor de Assuntos Gerais no Kobukan. Muitos anos depois Osawa foi dojo-cho do Aikikai Hombu Dojo como assistente especial do Segundo Doshu Kisshomaru Ueshiba.
Fizemos uma curta menção a Minoru Hirai (1903-1998). Hirai entrou para o dojo por volta de 1939 e assumiu o posto de diretor de assuntos Gerais em Janeiro de 1942. Ele trabalhou principalmente na área administrativa e teve um papel fundamental na escolha do nome “aikido” como veremos abaixo. Hirai estabeleceu seu próprio dojo depois da guerra e chamou seu sistema de Korindo.

Morihei Ueshiba & Kanshu Sunadomari c. 1960
Morihei Ueshiba & Kanshu
Sunadomari c. 1960

Outro jovem que deve ser mencionado entrou para o dojo em 1942. Ele era Kanshu Sunadomari, vindo de uma família de devotos da Omoto. Morihei tinha conexões com o irmão mais velho de Sunadomari, Kanemoto, desde os tempos de Ayabe na década de 1920. Acredita-se que Kanemoto escreveu a primeira biografia de Morihei Ueshiba, publicada em Fevereiro de 1969, apenas dois meses antes da morte de Morihei. Kanshu começou seu treinamento em 1942 e foi chamado pelo exército em 1943. Como aconteceu com Tohei, o jovem Sunadomari era chamado para assistir Morihei em aulas externas, como na escola de espionagem Nakano, apesar de ser jovem e inexperiente. Kanshu estabeleceu o Manseikan dojo (que atualmente é independente), em 1954 em Kumamoto, Kyushu, e sempre esteve em atividade.

Dai Nippon Butokukai e o “batismo” com o nome de aikido
Existe muita confusão quanto a questão de como o aikido finalmente recebeu este nome. A maioria das pessoas pensa que Morihei decidiu sozinho o nome “aikido” e que o termo resume sua visão espiritual do budo como forma de auto–desenvolvimento e busca da paz mundial. Apesar do risco de parecer iconoclasta, devemos esclarecer que a idéia da palavra “aikido” realmente surgiu como resultado de uma decisão burocrática tomada em 1942 dentro do Dai Nippon Butokukai, uma organização “guarda-chuva” que tinha a tarefa de regulamentar as artes marciais. A palavra apenas é a contração ou simplificação do termo “aiki budo” que era usado para descrever a arte de Morihei. Como o Butokukai ficou sob o controle do governo, havia uma tentativa de unificar a nomenclatura com nomes como judo, kendo, karatedo, etc. “Aiki budo” não se enquadrava totalmente neste padrão e a forma curta “aikido” foi sugerida e aceita como um termo genérico para agrupar o jujutsu ryuha histórico.

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Minoru Hirai c. 1946

A pessoa que representava o Kobukan Dojo nesta época era Minoru Hirai. Ele deu uma descrição deste processo com as seguintes palavras:
Foi muito difícil criar uma nova seção no Butokukai naquele tempo. O Sr. Hisatomi propôs a criação de uma nova seção, incluindo artes para lutes reais baseadas nas técnicas do jujutsu. As técnicas de yawara (uma forma alternativa de jujutsu) são compreensíveis e também incluem o uso do ken e do jo….
Houve uma discussão dentro do Butokukai sobre a escolha do nome para esta nova seção. Foi discutido muitas vezes nas reuniões do comitê de Diretores, e particularmente nas seções de judo e kendo. Também tivemos que considerar todas as diversas artes incluídas quando tentamos achar um nome que incluísse tudo. Decidimos selecionar um nome inofensivo para evitarmos atritos entre as diferentes artes marciais.
O Sr. Hisatomi rejeitou esta proposta e explicou que “aikido” seria um nome melhor que “aiki budo” para esta divisão, porque daria melhor a idéia de “michi” ou caminho. Ele propôs que o nome “aikido” fosse usado como termo para designar um budo abrangente e eu concordei com ele. Em outras palavras, o termo “aikido” seria um termo amplo que cobriria também outras coisas. ….
O termo chave “aiki” dentro deste contexto, naturalmente, se origina do “Daito-ryu aikijujutsu,” nome criado em 1922 em Ayabe, quando Sokaku Takeda passou seis meses na casa de Morihei dando aula a seguidores da Omoto. As várias explicações sobre o significado de “aikido” que falam da união ou encontro do ki com o do oponente e que possuem idéias filosóficas são inovações de depois da Guerra.

A evolução técnica de Morihei antes da guerra
Vamos dar uma olhada mais atenta nas técnicas da era do Kobukan Dojo. Começando no final da década de 1920 até meados da década de 1930, Morihei periodicamente esteve em contato com Sokaku Takeda. Sokaku ia a Tókio em muitas ocasiões e dava seminários e recebia pagamentos de Morihei. Os primeiros alunos do fundador, como Tomiki, Takeshita, Kamada, e outros se referiam à arte que estavam aprendendo com Morihei como “Daito-ryu”. Morihei ainda fazia parte do mundo do Daito-ryu nesta época.
Vimos como a abertura do Kobukan Dojo em 1931 foi imediatamente precedida de uma visita de Sokaku. Como agora ele tinha seu próprio dojo, uma programação constante de aulas e o forte apoio da Omoto e de Onisaburo Deguchi, Morihei começou a evoluir se afastando dos métodos tradicionais do Daito-ryu. No inicio da década de 1930 o termo “aiki budo” passou a ser usado e esta mudança de nomes certamente era um sinal de seu afastamento do Daito-ryu. Felizmente, um tesouro de material que sobreviveu deste período nos permite traçar o desenvolvimento técnico de Morihei.

Budo Renshu
Um manual de treinamento incomum foi publicado pelo Kobukan Dojo em 1933 com a autoria atribuída a Morihei. Este manual consiste de cerca de 166 técnicas apresentadas sob a forma de desenhos. Cada técnica inclui em media duas ou tres ilustrações. As ilustrações foram feitas por Takako Kunigoshi, um aluno entusiástico do Kobukan e aluno de uma escola de arte. Kunigoshi adorava desenhar e quando os membros do dojo viram seu talento, ela foi encorajada a desenhar de forma sistemáticas posições principais de cada técnica como uma forma de preservar a arte de Morihei. Este manual foi distribuído para certos alunos adiantados e colaboradores de Morihei e aparentemente era usado para complementar os rolos Hiden mokuroku modificados que Morihei distribuía nesta época como forma de graduação.

Paginas do Budo Renshu, publicado em 1933
Paginas do Budo Renshu, publicado em 1933

As técnicas contidas no Budo Renshu correspondem em parte às técnicas de Daito-ryu aikijujutsu dos Hiden mokuroku, o primeiro nível do currículo do Daito-ryu. “Moritaka Ueshiba” está listado como autor do manual, mas Kenji Tomiki declarou em uma entrevista de 1978 para a Aiki News que na verdade ele editou o texto do livro. Esta afirmação é apoiada pela existência de um cartão do início de 1930 que aponta Tomiki como “Jonin Kanji” (lit., “Secretario Permanente”) do Kobukan Dojo. De qualquer forma, está claro que o atual texto não foi escrito pelo fundador.
Uma versão bilíngüe do Budo Renshu baseada em uma tradução por Larry e Seiko Bieri foi publicada em 1978. Isto incluiu reproduções dos desenhos de Kunigoshi e o texto original Japonês. Desde então foi reimpresso.

Fotos do Noma dojo
Em 1935, um singular desenvolvimento ocorreu, o que nos traz fotos claras das técnicas de Morihei neste estagio de sua careira. Um famoso kendoka chamado Hisashi Noma—amigo do filho adotivo de Morihei Kiyoshi Nakakura— usou sua câmera Leica para tirar mais de 1,000 fotos de Morihei demonstrando técnicas. Hisashi, filho do famoso fundador da Kodansha, Seiji Noma, tinha vencido o troféu de kendo no torneio Imperial de Artes marciais (Tenranjiai) no ano anterior e tinha recentemente se tornado aluno de Ueshiba.

Fotos tiradas no Noma Dojo em 1935. Uke: Shigemi Yonekawa
Fotos tiradas no Noma Dojo em 1935. Uke: Shigemi Yonekawa

As fotos mostram Morihei fazendo centenas de técnicas de aikijujutsu, das básicas às avançadas. O uke de Morihei nestas fotos é Shigemi Yonekawa, um de seus favoritos uchideshi. As fotos de Noma estão repletas de chaves complexas e imobilizações e possuem muitas das características do Daito-ryu aikijujutsu.
As pessoas que descreveram o estudo de Morihei do Daito-ryu aikijujutsu como breve e superficial deveriam explicar como ele poderia ter um conhecimento tão profundo das técnicas do Daito-ryu. O controle, o posicionamento, o perfeito equilíbrio, atenção a detalhes, e muitas outras sutilezas reveladas nas fotos do Noma Dojo refletem uma profunda maestria do Daito-ryu.

O filme do jornal Asahi
De todos os documentos que restaram do período anterior à Guerra, talvez o mais importante seja o filme de 1935 de Morihei feito no jornal de Asahi em Osaka. Este filme foi feito no formato 16mm e tem cerca de 14 minutos. Morihei demonstra muitos suwari-waza, hanza handachi (hanmi handachi), tachi-waza, múltiplos ataques, e técnicas de espada e juken. Seus parceiros são Shigemi Yonekawa e Tsutomu Yukawa.Também há uma curta aparição de Takuma Hisa e de Rinjiro Shirata.
A maioria das técnicas preservadas neste filme são de nível avançado e são feitas em estilo fluido, aumentando de ritmo até um espetacular ataque múltiplo. Ficamos impressionados pela modernidade de muitas das técnicas e pelo estilo “ki no nagare” da execução. O impacto visual e sonoro deste filme é tremendo é uma janela para as maravilhosas técnicas de Morihei naquele período. A influencia das técnicas de Daito-ryu neste filme é menos obvia se comparada às técnicas encontradas no Budo Renshu e nas fotos do Noma Dojo, sendo que estas foram feitas quase ao mesmo tempo em que o filme de Asahi.

Experimentos com armas
Em 1937, Morihei trouxe instrutores da escola Kashima Shinto-ryu para darem aulas no Kobukan Dojo. Ele chegou se inscrever na escola Kashima e seu nome se encontra no registro do ryuha junto com seu juramento de sangue (keppan). Aparentemente em meados dos anos 30 Morihei estava fazendo experimentos com a espada e considerava o estudo desta arma como um ponto central para maestria do taijutsu.

Ultima parte do keppan com os nomes de Morihei Ueshiba e de Zenzaburo Akazawa
Ultima parte do keppan com os nomes de
Morihei Ueshiba e de Zenzaburo Akazawa

Apesar de ser de conhecimento geral, deve ser dito que Morihei recebeu um diploma (menkyo) do Yagyu Shinkage-ryu de Sokaku Takeda em Ayabe em 1922. Qual o tipo de treinamento que ele recebeu sobre o uso da espada é desconhecido. Posteriormente, a partir do final da década de 1920, Morihei entrou em contato com pessoas como Kosaburo Gejo, do Yagyu Shinkage-ryu e amigo do Almirante Takeshita, que visitava com freqüência as sessões de treinamento de Ueshiba. Morihei também teve uma duradoura amizade com Hakudo Nakayama, famoso no mundo do kendo, e assim teve contato com espadachins de alto nível.
Posteriormente Kiyoshi Nakakura foi adotado pela família de Ueshiba, e Morihei autorizou a construção de um clube de kendo dentro do Kobukan Dojo. Poucos dos uchideshi, como Shirata, Hashimoto, e Funahashi, também tiveram aulas de kendo com Nakakura, assim o treinamento de espada era uma regular ocorrência no dojo.
No filme de 1935 do jornal de Asahi há uma demonstração bastante espontânea de espada, como um kata, que sugere que ele estava no processo de experimentação. Também no manual técnico chamado Budo, de 1938, há várias técnicas de espadas em par e técnicas de desarmamento de espadas. Assim, as bases para o estudo intensivo de Morihei do aiki ken e do jo em Iwama durante e depois da Guerra foram criadas durante o período Kobukan.

Budo
Outro importante legado técnico do período anterior à Guerra é o manual de treinamento chamado simplesmente de Budo, publicado em 1938, novamente sob o nome de “Morihei Ueshiba”. Este livro foi compilado pelo Príncipe Kaya, que tinha se tornado aluno de Morihei. Kayanomiya, como ele era conhecido, era oficial do exército e depois se tornou Superintendente da escola do exército Toyama, de 1942 a 1943.
Budo contém 50 paginas e é dividido em duas partes: um ensaio sobre a “Essência das Técnicas”, e uma segunda parte que apresenta 50 técnicas demonstradas por Morihei através de fotografias. O material inclui exercícios preparatórios, técnicas básicas, técnicas de desarmamento de facas e espadas, formas de espadas contra espadas, técnicas com baionetas falsas, e exercícios finais. Budo é o único trabalho escrito em que o fundador aparece em pessoa demonstrando técnicas.

Budo, publicado em 1938
Budo, publicado em 1938

De um ponto de vista técnico, Budo oferece numerosos pontos de vista sobre as tecnicas de Morihei de antes da guerra. Primeiro, ele dá um panorama das tecnicas que Morihei considerava básicas e a forma como eram executadas em meados dos anos 30. As técnicas mostradas representam uma transição entre o Daito-ryu aikijujutsu que Ueshiba aprendeu de Sokaku Takeda e o moderno aikido. Diversas técnicas básicas são muito semelhantes às que Morihei ensinava em Iwama depois da Guerra e que ainda são praticadas no Ibaragi Dojo de Morihiro Saito. Pessoas que viram o manual Budo se surpreendem com o grande numero de tecnicas feitas com armas. Cerca de um terço do manual apresenta técnicas executadas com o uso de facas, espadas, lanças e baioneta. Como vimos, Morihei sempre foi fascinado com a pratica com armas—particularmente o ken e o jo—e o uso destas armas formaram uma parte significante de seu treinamento pessoal.
Uma edição em inglês de Budo traduzida por John Stevens foi publicada pela Kodansha em 1991. Inexplicavelmente, não surgiram versões em Japonês e assim os aikidokas Japoneses desconhecem em sua maioria a existência deste importante documento histórico.

O sistema de graduação de Morihei anterior à guerra
Morihei tratou a questão de graduação de formas diferentes em sua longa carreira como professor. No início, seus certificados de graduação seguiam o modelo do Daito-ryu aikijujutsu. Ele gradualmente se afastou desta prática antes de finalmente adotar o moderno sistema de graduação de dan, por volta de 1940.
As amostras mais antigas de certificados dados por Morihei são os dois makimono de Minoru Mochizuki. Ambos são datados de Junho de 1932. o titulo do primeiro é “Daito-ryu Aiki Bujutsu” e seu conteúdo é idêntico ao do “Daito-ryu Aiki Jujutsu Hiden Mokuroku” dados por Sokaku Takeda como primeiro nível de proficiência do Daito-ryu. O segundo é chamado de “Hiden Ogi”, o makimono dado ao próximo nível mais alto da tradição Daito-ryu. Ambos os makimono trazem a assinatura de “Moritaka Ueshiba, aluno de Sokaku Takeda” e um selo em que se lê “Aikijujutsu.”

Parte final do certificado Hiden Mokuroku dado a Minoru Mochizuki por Morihei Ueshiba
Parte final do certificado Hiden Mokuroku dado a Minoru Mochizuki por Morihei Ueshiba

Como Mochizuki, um artista marcial extremamente talentoso, tinha treinado com Morihei por poucos meses a partir do final de 1930, estes certificados eram certamente uma expressão da simpatia que o fundador tinha pelo jovem, e um gesto de apoio no princípio da carreira de Mochizuki como professor, em um dojo independente em Shizuoka.
Provavelmente Morihei começou a dar este tipo de makimono do tipo do Daito-ryu no final dos anos 20 após se estabelecer em Tókio. Começando com pessoas como o Almirante Isamu Takeshita, Kenji Tomiki, e depois seus alunos principais e apoiadores, Morihei distribuiu um número desconhecido de “hiden mokuroku” provavelmente até meados dos anos 1930. ele gradualmente mudou as referencias no final destes documentos eliminando a menção ao “Daito-ryu aikijujutsu” e usando formulas como “Aioi-ryu Aikijujutsu” para se referir à sua arte. É difícil escrever em termos detalhados sobre este processo pois, pelo que eu sei, nenhum destes makimono estão accessíveis ao publico. O autor só viu um destes diplomas que parecem do Daito-ryu e um fragmento de um segundo. Vários alunos de Morihei de antes da guerra mencionaram estes diplomas, portanto sua prevalência não é questionável.
Alguns destes alunos de antes da guerra, como Akazawa, Kunigoshi, Bansen Tanaka, e outros se lembram de Morihei oferecendo seu Budo Renshu de 1933 e o livro Budo de 1938 como comprovantes de graduação também. O primeiro continha ilustrações tecnicas sob a forma de ilustrações, enquanto que o outro incorporou fotografias. Talvez, para algumas pessoas, estes livros publicados de forma privada podem ser considerados o equivalente moderno dos antigos e clássicos rolos de transmissão.
em 1940, Morihei começou a dar certificados de dan através do recém criado Zaidan Hojin Kobukai. Existem fotos de ao menos dois destes documentos de antes da guerra, um de Kenji Tomiki, de 8º dan, e um certificado de 6º dan para Shigemi Yonekawa que reproduzimos abaixo.

certificado de 6º dan dado a Shigemi Yonekawa datado de 3 de Novembro de 1940
certificado de 6º dan dado a Shigemi Yonekawa
datado de 3 de Novembro de 1940

tendo em vista o constante êxodo dos homens para o serviço militar que deixou poucos alunos no Kobukan Dojo, é improvável que muitos destes certificados de dan de antes da guerra tenham sido distribuídos.

Final da era do Kobukan Dojo: afastamento para Iwama

A era do Kobukan Dojo realmente termina com o afastamento de Morihei para Iwama, na Prefeitura de Ibaragi no final de 1942. esta foi uma época difícil, não apenas para o fundador, mas para todo o Japão, pois a maioria das cidades estava sofrendo ataques aéreos freqüentes que tornava o simples ato de se viver uma vida normal uma impossibilidade.
Morihei estivera preparando Iwama como um retiro no campo e ficava lá sempre que sua agenda permitia. Sua saúde tinha novamente piorado, por causa do acumulo do stress das pressões de sua vida pessoal e devido às condições relativas à guerra, qualquer que seja a combinação de fatores que causou a fragilidade de suas condições físicas e psicológicas, sua saúde precária o forçou a se retirar para Iwama no final de 1942. ele indicou seu filho Kisshomaru, que ainda era estudante na Universidade de Waseda, para assumir a administração do Kobukan Dojo, assistido por Minoru Hirai.
Morihei raramente deixava Iwama nos 13 anos seguintes, e pôde concentrar sua energia em curar seu corpo, em atividades agrícolas, meditação e treinamento. Ele tinha bastante tempo para si pela primeira vez em muitos anos, para explorar sua arte e sua natureza espiritual. Apesar da mudança de Morihei para Iwama ter assinalado o final da era do Kobukan Dojo, isso abriu o caminho para o desenvolvimento da forma moderna de aikido que difundiu para o mundo a arte marcial espiritual do Japão.

Superando. Evoluindo.

DSC_9886Um texto que escrevi em 2008 com alguma repaginação. E ainda super atual. Vamos a ele:

Em cima de uma ideia de um texto que li em algum lugar, eu escrevi este. Era só para complementar algumas coisas, mas mudei tanto, coloquei tanta coisa diferente, que virou  outro texto. Com o aikido é assim também depois de um tempo: A mesma receita dá outro sabor.
Espero que gostem. Espero que o paladar de vocês apreciem “o gosto deste texto”.

 No AIKIDO, regularmente, são realizados exames para que cada um de seus participantes nos  mais diversos níveis executem suas técnicas para atingirem um estágio superior, prática comum acredito eu, em todas as artes marciais modernas.
Quando são verdadeiramente dedicados, os alunos atingem um bom resultado. Eles tem a confiança baseada no trabalho duro. Em cima de metas determinadas individualmente por ele e pelo professor.
O interessante disso é que, por mais que conheçamos sobre determinado assunto, quando este é posto a prova, nós nos sentimos desafiados e aí surge o temor, o nervosismo e a ansiedade… …isto ainda com um sentido de se ter a responsabilidade de fazer bem feitos os movimentos que  determinarão o aparente sucesso ou fracasso de todo o treinamento realizado. Queremos ser bem avaliados, muitas vezes por nosso orgulho ou muito vezes pela gratidão que temos com nosso Sensei. De mostrar retorno a tudo que ele nos tentou passar. Alguns Sensei merecem, outros não, é verdade. Alguns praticantes são agradecidos outros não.
Mas será que estamos preparados para o caminho que virá? Muitos vão tomar conhecimento do problema depois que de fato ele existir. Não querem sofrer por antecipação. Eu estes dias falei a um aluno que somente até a faixa verde, eu pensei ainda no exame como uma meta a ser alcançada. Depois, (até por que este demorou por problemas profissionais), eu aguardei a azul sem mais pensar se iria chegar ou não. Apenas treinando. Fazendo o que gosto. Na hora que o professor chegava e dizia: Vamos treinar para o exame, eu pensava então: Tá bom, o que tenho dúvida? Vamos lá… O processo, não o produto. Entretanto a verdadeira dedicação é necessária..
Existe o outro lado: A pessoa encara o treino como uma ginástica laboral, aula de aeróbica, ou algo despretensioso qualquer. A arte marcial exige mais que isso pois é mais complexa e de maior resultado também em sua vida normalmente. Essa visão é muito simplista.
Outros ficam com medo de se machucar e dizem: “Eu vou mais devagar, não vê estes mestres e graduados como estão todos machucados, com problemas nos joelhos etc?” Só tem um detalhe: Nem sempre acontece, muitas vezes não. E qual a atividade física que não tem risco e deixa algum risco ou sequela possível? Me lembro da palestra do nosso Oscar, do Basquete, que disse: Só minha esposa é que sabe como acordo de manhã e que dores carrego pelo treino constante durante tantos anos… Entretanto todas adoram quando eu estou nas quadras, apareço na mídia, ganho títulos para o Brasil.. As pessoas gostam muito do glamour, mas do trabalho árduo quantas estão dispostas? Quantas pessoas sentaram para assistir aulas e quantas chegaram para treinar, super entusiasmadas, mas ao ver o quanto tem que se dedicar acabam arrefecendo? Algumas após um mês, após um ano, dois… … ou quando chegam na faixa preta.
Repito sempre: Aikido está disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Aumentando a abrangência: Arte Marcial, em linhas gerais, é disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Ou mais ainda: PERSEVERANÇA está ao alcance de todo mundo… Mas não é para todo o mundo! No final, o caminho de tudo, arte marcial e outros, passa pelo nível de perseverança. Isto determina vencedores e vencidos. Não falo em relação a um ou outro mas em relação a vida.

 A QUESTÃO DA REFERENCIA:
Muitas pessoas ainda não têm consciência de que, quando se gradua em uma arte marcial ou em qualquer atividade, nós nos tornamos uma referência, passamos a ser avaliados constantemente e de forma diversa, sejam por nossos pares ou por aqueles que virão posteriormente. A cobrança, principalmente para aquele que ensina é exaustivamente testada nos mais diversos níveis, sejam estes técnicos ou teóricos, o que obriga o praticante a se preparar mais e mais, fazendo dele um eterno Sensei e Sempai de si mesmo. Espero que me entendam.

 E quando este resultado não é atingido, como nos portaremos? Já vi pessoas que abandonaram tudo, outras ficaram inconformadas transferindo a culpa de seu resultado para outras
pessoas. Algumas começam a treinar de forma semi-motivada e algumas, com mais tranqüilidade, absorveram o resultado e buscam polir as arestas. É interessante que o fator “reprovação” esteja presente, nem que dentro de nós mesmos, e seja uma constante na vida do praticante. Ser melhor a cada dia e ajudar outros a se desenvolverem se faz necessário para o desenvolvimento marcial, pois polimos o nosso espírito nas dificuldades, nas agruras de um treinamento. Meu professor dizia, e sempre repito, para chegar ao paraíso é preciso passar pelo purgatório. Alguns alunos acham o treino forte, pesado, mas não tem ideia do que já passamos e como isto determina o bom praticante e o praticante não tão bom… E é interessante que também são estes muitas vezes aqueles que admiram tanto a técnica dos grandes shihan, sem ter a mínima vontade de passar pelo 1/3 do treino que eles passaram. Como os fãs do Oscar que querem ser eles sem passarem pelos dores e sacrifícios de um treino…

 SUPERAR LIMITES:
Aprendemos a superar os limites vencendo inicialmente a nos mesmos, encarando nossas fobias e desafiando as nossas preguiças e dificuldades. Por quantas vezes, quando chega a hora de ir para a academia, nos sentimos aquela preguiça, pensamos “ah, só faltarei hoje, que mal fará?”, ou, “será que vou ter que repetir aquela técnica novamente?”, (como se o praticante a domina-se perfeitamente). Outra versão é aquele que não vai a seminário pois acha, (ou diz, como forma de desculpar-se a si mesmo) que tudo é igual.
Alguns não gostam de técnicas de armas ou de determinada técnica Tai jutsu, pois acham que já sabem. Tenho, e tive, muitos alunos que acham que é só uma coreografia a ser executada com velocidade. E você que conhece um pouco mais a estrada olha por um outro do aspecto: É como se visse um jogador de sinuca profissional e um amador lado a lado em uma mesa: Os instrumentos, técnicas são as mesmas, mas a precisão e a efetividade são algo muitas vezes tão dispares como o mar e a montanha. Enfim, começamos superando em nossa mente estas pequenas dificuldades de entendimento, que se não superadas se tornarão grandes, transformando-se em um obstáculo ao crescimento. Uma das primeiras ações é acorrentar o ego.

 Os nossos limites são estabelecidos por nós mesmo. Pelo controle do ego, pela perseverança e no conhecimento interno, dosando empenho com maestria e racionalidade, superando cada obstáculo, sorvendo o conhecimento adquirido com tranquilidade e sabedoria. Acatando nossos limites, mas sem indolência. Sendo verdadeiramente sinceros com nós mesmos e com a arte. Que é difícil, mas tem muito o que nos oferecer.

 Está frio e chuvoso. Muitas faltarão por causa da chuva. Ficarão em casa vendo VIDEOS, Talvez um VIDEO de luta; ou um jogo de basquete na TV a cabo, quem sabe? “Há se luta-se assim…” “Há se joga-se como esse cara.. Como ele faz isso!?” A resposta está no dojo, na quadra ou onde quer que voce pratique de forma verdadeira para alcançar o próximo nível, mais do que faixa, mais do que medalha, de vida.

 Walter Amorim imagem

 Quem somos

Os Sete Princípios do Bushido

shogun-2-total-war-headerO Bushido (武士道) ou “Caminho do Guerreiro” é uma espécie de código de conduta que era levada muito a sério pelos samurais. Se trata de regras baseadas em princípios morais na qual o guerreiro samurai tinha o dever de segui-las a todo custo, não só no campo de batalha como também em sua vida diária.

Embora a maioria dos samurais seguissem o Código de Conduta Bushido, havia aqueles que não respeitavam os princípios básicos e com isso traziam desonra e má reputação sobre ele e sua família. Um samurai sem honra era uma coisa imperdoável e a única forma de lavar a sua honra era através do Harakiri (Ritual de Suicídio).

O Código de Conduta Bushido foi formado e influenciado pelos conceitos do Budismo, Xintoísmo e Confucionismo. E o mais interessante é que apesar desse conceito ser muito antigo, ele ainda é válido para os dias de hoje e pode ser útil para todas as pessoas do planeta. Incorporando esses princípios no nosso dia a dia, podemos nos tornar com certeza “seres humanos” melhores!

Conheça os 7 Princípios do Bushido
1. 義 Gi – Justiça, Retidão e Honestidade

Seja honesto em todas as suas relações. Acredite na Justiça, não a que é dada pelos outros, e sim na sua própria justiça. Para um autêntico samurai não existem tons de cinza em relação à honestidade e justiça. Só existe o certo e o errado. E pra ser justo é necessário fazer o julgamento correto em relação à tudo em sua vida.

2. 勇 Yuu – Coragem, Bravura heroica

Um samurai deve ter coragem heroica. Viver é arriscado e perigoso e esconder-se como uma tartaruga se esconde em sua concha não é a maneira mais adequada de viver. Devemos aprender a viver a vida ao máximo, intensamente. Substitua o medo pelo respeito e cautela. A coragem heroica não é cega, ela é inteligente e forte.

3. 仁 Jin – Compaixão, Benevolência

Através de um treinamento intenso o samurai torna-se rápido e forte, porém ele usa essas habilidades para fazer o bem para as pessoas e tem compaixão por elas. Amor, amizade, solidariedade e nobreza de sentimentos são considerados como os maiores atributos da alma. Ajude seus colegas em todas as oportunidades que houver.

OLYMPUS DIGITAL CAMERA4. 礼 Rei – Respeito, Polidez e Cortesia

O Samurai não tem nenhuma razão para ser cruel. Não há necessidade de provar a sua força. Um samurai é cortês até mesmo para com os seus inimigos. Se não fosse assim, ele não seria melhor do que qualquer animal. Um samurai é respeitado não só por sua coragem, mas também pela forma como eles tratam os outros.

5. 诚 Makoto – Honestidade, sinceridade absoluta

Mentir é um ato considerado covarde e desonroso e portanto quando um samurai diz que vai fazer tal coisa, é como se ele já tivesse feito. Nada no mundo conseguirá impedi-lo de concretizar o que disse. Um samurai não precisa dar a sua palavra e nem precisa prometer nada. Quando um samurai fala, é porque ele vai agir.

4412486. 名誉 Meiyo – Honra, Glória

O verdadeiro samurai só tem um juiz de sua honra, e este juiz é ele mesmo. As escolhas que você faz e como você trabalha para obtê-las são um reflexo de quem você realmente é. Você não pode se esconder de si mesmo. Muitas das nossas decisões são influenciadas pelos outros, o que nos faz parecer hipócritas.

Dizemos muitas vezes o que os outros querem que digamos, vemos o que os outros querem que vejamos. Ouvimos o que os outros querem que ouçamos. O valor da nossa dignidade pessoal está implícito na palavra honra. “Desonra é como uma cicatriz em uma árvore que o tempo, em vez de curar, só ajuda a aumentar.”

7. 忠 Chuu – Dever e Lealdade

Um samurai é extremamente leal àqueles que estão sob seus cuidados. Por quem ele é responsável, ele permanece fiel. Suas palavras e suas ações pertencem à você, assim como todas as consequências que se seguem a partir delas. “A palavra de um homem deve ser como sua impressão digital: Você deve levá-la aonde quer que vá”.

Seguir o bushido é dar ênfase à lealdade, fidelidade, coragem, justiça, educação, humildade, compaixão, honra e acima de tudo, viver e morrer com dignidade”. Quando aplicamos esses princípios em nossa vida conseguimos melhorar nosso potencial humano. Pra finalizar, uma frase do samurai Miyamoto Musashi:

“A vida de alguém é limitada, porém a honra e o respeito duram para sempre”.

Publicado em Japão em foco

A importância do Meishi (Cartão de Visita) no Japão


A importância do Meishi (Cartões de Visita) no Japão
O Japão é um país cheio de formalidades e uma muito presente na cultura japonesa é a troca de meishi (名刺), uma espécie de cartão de visita, especialmente no mundo dos negócios. O meishi faz parte da etiqueta japonesa, mas sua importância vai muito além, pois é considerado praticamente uma extensão da alma de uma pessoa.

Engana-se quem pensa que o meishi é apenas um pedaço retangular de papel com algumas informações. Em uma sociedade como a japonesa que preza pela hierarquia social, o meishi desempenha um papel que define a posição de um japonês dentro da sociedade.

E a entrega do meishi também é regida por uma grande formalidade. Jamais deve ser entregue apenas com uma mão. O ideal é que o meishi seja entregue com ambas as mãos (polegar para cima e os demais dedos para baixo) e com as informações voltadas para cima para facilitar a leitura de quem vai receber.

Por esta razão, devemos ter muito cuidado para não tampar as informações com os dedos, permitindo assim, que o receptor possa ler as informações direto das mãos do proprietário do cartão. Tanto para entregar como para receber, é necessário se curvar (ojiji) como forma de educação e respeito mútuo.

Outras dicas de etiqueta realacionado ao meishi

Se uma pessoa entregar o meishi e você também ofertar o seu, é recomendável que entregue seu cartão de visita em um nível abaixo ao recebido. Esse ato é visto como forma de mostrar educação, despretensão e humildade. E ao aceitar o meishi, você deve agradecer formalmente ou dizer “Hajimemashite“.

Quem recebe o meishi deve mostrar interesse em ler o cartão e guardá-lo de forma cuidadosa. Evite enfia-lo no bolso de qualquer jeito ou deixa-lo esquecido em qualquer lugar. Isso é uma gafe, pois o meishi é uma apresentação pessoal e devemos demonstrar o mesmo cuidado e respeito que temos pela pessoa.

Ou seja, mostrar desinteresse pelo meishi é visto quase como uma ofensa, pois é como se estivesse tratando a própria pessoa com indiferença. Também não devemos escrever no verso de um cartão de visita japonês e nem devemos ficar brincando com o cartão, especialmente na frente de quem o ofertou.

O ideal é que se segure o cartão por algum tempo, caso estivermos em pé, para depois o colocarmos sobre a mesa ou se preferir, para guarda-lo na carteira. Há quem prefira guardar os cartões em uma caixinha ou uma carteira específica para esse fim, o que é bem comum no mundo dos negócios no Japão.

Outro detalhe não menos importante é a organização hierárquica dos cartões na hora de guardá-los. Segundo a etiqueta japonesa é importante que o cartão de uma pessoa de maior status esteja acima das demais. Ou seja, os cartões devem ser guardados na ordem de status, do menor para o maior.

Como são os cartões de visita japoneses?

Normalmente, os cartões são simples, na cor branca e com as informações da pessoa em preto escritos com uma fonte simples, se sobressaindo apenas o logotipo da empresa. No caso de profissionais liberais ou donos de restaurantes ou lojas, o meishi pode conter fontes diferentes e cores mais vivas.

O Meishi tem normalmente o tamanho padrão, embora cartões um pouco maiores estejam ganhando popularidade. Antigamente, os cartões de visita oferecidos pelas mulheres, chamadas de Sangō, tinham bordas arrendondadas e eram menores do que dos homens, mas atualmente caíram em desuso.

Um meishi deve conter informações básicas como o nome da empresa impresso em letras grandes, o cargo ou posição da pessoa dentro da empresa, juntamente com seu nome e sobrenome. As informações são escritas em japonês, mas podem eventualmente estar acompanhadas por romaji.

Outras informações que não podem faltar em um meishi é o endereço, número de telefone e número de fax. Hoje em dia, não é incomum um Meishi conter também um código de barras bidimensional (código QR), para que o website da empresa possa ser acessado em dispositivos móveis como tablets e Smartfones.

Ofertar as pessoas com um cartão de visitas ou negócios não é algo incomum em outros países, porém acredito que não seja um procedimento padrão tal como é no Japão, e ainda por cima tão cheio de formalidades. Desta forma, é importante conhecermos esse ritual, para não cometermos nenhuma gafe.

Referência e imagens: Metalcards

10 anos Ganseki

O ano de 2015 é um ano muito importante para o nossa associação. Este ano, de fato, marca o décimo aniversário da fundação da nossa escola!

LOGOEm 17 de julho, próximo passado foi a data de nosso aniversário. Pensei em fazer alguma comemoração depois do treino, mas existem muitos alunos viajando, então preferi aguardar.

Temos já confirmado o nosso seminário em novembro com Dutra Sensei, um amigo e mentor, e nessa data podemos nos reunir com alegria e comemorar. Embora a comemoração para mim seja a cada treino, a cada aluno que participa e participou deste projeto, desta ideia. Esta ideia que tivemos há 10 anos atrás, quando decidimos que, além do que tínhamos feito ao longo de 5 anos de ensino e 15 de prática naquela época, poderia ser feito algo mais com novo objetivo. De conseguirmos criar uma boa alternativa de treino para os amantes do aikido. Tecnicamente e que não viesse atrelado a questões que, a meu ver, não tem a ver com a filosofia da arte.
logo_gansekiMuitos foram chegando. Muitos permanecem até hoje. Alguns não. Mas todos construiram essa historia. Neste ano muitas boas noticias foram chegando: novos alunos, novas turmas, novos dojos do grupo, nova sede. Além de ter recebido minha promoção a Yondan; o que agradeço a Yamada Sensei e me deixa grato e honrado, não só pela promoção em si, mas sempre pensando em quem está me promovendo. Um motivo de muita felicidade os resultados que conseguimos alcançar a cada dia, a cada ano, em cada etapa e em cada treino. Agradeço a todos. Se a Ganseki Kai segue a cada dia com mais força é resultado da união de todos. E da força de cada um. Não só de mim.

Walter Amorim

Yabusame, herança do Japão medieval

423px-Samurai_on_horsebackDesde o século 19 os samurai japoneses eram todos especialistas no yabusame. Yabusame (流鏑馬) – Disparo de flechas enquanto a cavalo – combina as habilidades essenciais de tiro com arco e hipismo guerreiro. Ele tem suas origens no início da Era Kamakura, onde samurais eram treinados para que eles pudessem melhorar suas habilidades com o arco e flecha.  Além disso, essa técnica ajudou os samurais a ter foco e atirar sem medo e com precisão no calor das batalhas pois trabalha a concentração, disciplina, agilidade e técnicas de respiração. Desta forma, se tornou a marca de um verdadeiro samurai e acabou se consolidando como uma arte marcial. É desenvolvido em um ritual religioso concebido para agradar os deuses, e hoje em dia é muito mais uma competição cerimonial, realizada geralmente em santuários e especialmente para os visitantes estrangeiros, como foi por exemplo para o príncipe Charles e Ronald Reagan.  O Yabusame é muito mais do que um esporte. É uma das mais divinas artes marciais praticadas no Japão, um ritual tradicional que tem origens bem antigas. Durante os festivais onde são exibidos, uma grande multidão se aglomera, pois para os japoneses esse é um espetáculo que traz emoção e sorte para quem assiste.  As pinturas de Yabusame figuram em alguns dos templos mais impressionantes do Japão e são uma representação histórica de brilho, de cor, velocidade e habilidade.

shogun-2-total-war-headerOs participantes usam trajes medievais e elaborados de caça, transportando duas espadas e um arco quase tão alto como eles mesmos. Depois de terem sido abençoados, e controlado seus cavalos com seus joelhos, galopam a toda velocidade ao longo de um percurso de 250 jardas de comprimento e atiram três flechas sem corte em três metas – as setas assobiam enquanto voam batendo em um alvo, que quando acertam, explode com confetes. A coisa toda leva menos de 20 segundos, mas é absolutamente espetacular. O prêmio é um pano branco simbólico – não há dinheiro para mudar de mãos durante o yabusame, e mesmo os professores do esporte não pode receber pagamento em dinheiro, sua recompensa é simplesmente honra e renome.  E para incentivar novos praticantes para essa arte marcial, existe diversas escolas financiadas pelo governo japonês que oferece aulas gratuitas.

Bater os três alvos em um percurso razoavelmente curto é muito difícil e para um praticante ser capaz de fazê-lo com perfeição, precisa de muitos anos de treinamento. Por causa disso, estima-se que a quantidade de praticantes nos dias atuais é bem pequena.

yabusame_horse_archery_2Hoje em dia, há alguns eventos realizados em algumas partes do Japão como Tsurugaoka Hachiman-gu em Kamakura e Santuário de Shimogamo em Kyoto (durante a Aoi Matsuri no início de maio), Samukawa, na praia de Zushi e outras localizações. As apresentações e competições ocorrem em várias datas no decorrer do ano, mas especialmente durante a primavera, ou seja em abril e maio. em Kamakura, cerca de uma hora de Tóquio, no Tsurugaoka Hachimangu Shrine, cada 3º domingo de abril, terceiro domingo de julho, e em 16 de Setembro. Para chegar lá, pegue a linha de Yokosuka de Estação de Tokyo, ou a linha de Shonan-Shinjuku da estação de Shinjuku e saia em Kamakura.

Uma das escolas mais famosas dessa arte é a “Escola Takeda Tiro com Arco”. O Estilo Takeda tem sido destaque em filmes de samurais clássicos como Akira Kurosawa, ” Sete Samurais “(1954) e” Kagemusha “(1980). Toshirō Mifune, um ator famoso de muitos filmes de samurai, aprendeu as técnicas de Yabusame nessa escola.

 

Técnicas de aikido

Abaixo as técnicas básicas de aikido mais conhecidas e outras que treinamos e não costumam estar em kihon para promoção de faixas em geral. Alguns nomes em japonês são poucos difundidos as vezes, então fiz uma “tradução” bem simples e não exata. Ao longo do tempo colocamos mais e melhores explicações conforme a necessidade.

Kogeki waza (Ataques)

  • Ago ate
  • Choku zuki
  • Mune zuki
  • Shomen uchi
  • Yokomen uchi
  • Shomen tsuki
  • Mae geri
  • Yoko geri
  • Mawashi geri
  • Hiza ate (golpe de joelho)

Katame waza (Imobilizações)

  • Dai ikkyo
  • Dai nikyo
  • Dai sankyo
  • Dai yonkyo
  • Dai gokkyo
  • Hijikime osae
  • Kaiten osae (ude garami)

Shintai (Deslocamentos)

  • Tenkai ashi
  • Irimi tenkan
  • Koho tenkan
  • Mawate

Nage waza(Projecções)

  • Aiki otoshi
  • Irimi nage
  • Kaiten nage
  • Kokyuho
  • Kote gaeshi
  • Kokyu nage
  • Sumi otoshi
  • Juji garami
  • Koshi nage
  • Kubi ate mae kokyu Nage (golpe no pescoço com projeção)
  • Shiho
  • Tenchi nage
  • Ude kime nage
  • Ushiro kiri otoshi
  • Shiho nage

Torite

Agarramentos

  • Ashidori
  • Katatedori
  • Kosadori
  • Katatekosadori
  • Katadori
  • Ryokatadori
  • Ryotedori
  • Ryotemochi (ou morote dori ou katate ryotedori)
  • Tekubidori
  • Ushirodori
  • Ushirokatadori
  • Ushirokatatedori

Ukemi waza (Técnicas de quedas)

  • Mae ukemi
  • Ushiro ukemi (ou koho ukemi)
  • Yoko ukemi
  • Mae kaiten ukemi (ou mae kaiten)
  • Ushiro hanten ukemi
  • Ushiro kaiten ukemi (ou ushiro kaiten)
  • Yoko hanten ukemi
  • Yoko kaiten ukemi (ou yoko kaiten)
  • Mae yoko kaiten
  • Mae ushiro kaiten
  • Tobi koshi (queda usada p Koshi nage)
  • Tobi ukemi (queda alta rolando no ar)

Aikido sem Shu e Ha

Importante artigo de Homma Sensei sobre, entre outras coisas, a atuação dos “mágicos do KI” e sua preocupação quanto ao fato destes quererem relacionar seus shows a algo do aikido.

Shuhari traduz-se aproximadamente como “aprender primeiro, desprender e separar do aprendizado, e finalmente transcender dele”.

shu (守) “proteger”, “obedecer” – sabedoria tradicional – Fundamentos de aprendizagem, técnicas, formas.

ha (破) “desprender”, “divagar” – romper com a tradição – Se destacar das próprias ilusões

ri (離) “deixar”, “separado” – transcendência  / já não existem as técnicas ou  das proverbio, todos los movimentos são naturais sem agarrar-se a forma, transcender o físico.

Não existem técnicas ou dogmas, todos os movimentos são naturais, tornando-se uno com o espírito em paz sem se apegar a formas; transcendendo o físico.

Me foi mostrado um vídeo interessante recentemente por um de nossos alunos procedente de Itália, graduados na sede da Nippon Kan no programa de uchideshi.

No vídeo, o manifestante se apresentou como “um aluno do falecido Morihiro Saito Shihan e o último uchideshi do Fundador do Aikido, Morihei Ueshiba”. Ele passou a dizer que, após a morte do Fundador, ele continuou a servir Shihan Morihiro Saito como seu aluno.

O objeto do vídeo era “Toate” ou “jogar técnicas sem tocar”. Estas foram as técnicas para jogar as pessoas sem tocá-las e foram introduzidas no vídeo como “gokui ou o maior maestria interior do Fundador”. O vídeo no You Tube ligado a outros vídeos de famosos Shihan de Aikido (instrutores de alto nível) na realização de uma apresentação no “All Japan Aikido”. Esta associação deu um ar de legitimidade ao vídeo de Toate e ligando as suas técnicas ao Aikido. Como o vídeo estava jogando do site sem edições, você podia ouvir no vídeo sons de risos da platéia onde foram realizadas estas técnicas.

Nos primeiros anos da década de 70 nos Estados Unidos viu-se um aumento do interesse em “mágicos, místicos” das artes marciais como descrito por exemplo na série de TV de sucesso “Kung Fu”, estrelado por David Carradine.

A partir do início dos anos 70 houve também um estilo de Aikido que alegou a desenvolver misteriosa e magicamente o potencial humano. Este estilo foi ensinado como uma prática que iria resolver problemas de trabalho e de relacionamento e curar doenças humanas. Ele ainda alegou melhorar a própria capacidade de golfe, no caso de você estar precisando de um pouco de ajuda com o seu jogo!

No momento da sua introdução, a filosofia deste estilo de Aikido era bastante sedutora e reivindicou muitos poderes misteriosos. Havia um monte de coisas, no entanto, sobre este método que pode ser desafiados e postos em dúvida.

Havia muitas manifestações usadas para vender a potenciais alunos sobre a magia deste estilo de Aikido. Uma manifestação popular era “o braço inflexível”. Nesta demonstração, o braço da demonstração não pode ser dobrado com a força de muitos homens. Em outra demonstração, um manifestante se coloca horizontalmente, levantado do chão entre as s duas extremidades pés e ombros) Quando alguém se sentava em cima, o corpo do manifestante não dobrava.

Naqueles dias, provavelmente a demonstração mais usada às vezes era chamada de “âncora humana”. Nesta demonstração, um manifestante pediu um par de voluntários para levantá-lo do chão, segurando-o pelos braços e empurrando-o para cima. O demonstrador é levantado facilmente para o ar, ajudando os voluntários endurecendo seu corpo e levantando-se para cima. O manifestante, em seguida, falou sobre o poder de Ki e pede aos voluntários para levantá-lo novamente. Desta vez, o manifestante não pode ser levantado do chão. Explica que este é o resultado da realização de “ki Power” e a ilusão deste misterioso milagre nasceu.

Na realidade, essas manifestações são apenas truques da física. Se o manifestante relaxa totalmente e dobra os joelhos, é muito difícil levantá-lo, especialmente a partir do ângulo em que os braços estão sendo agarrados. Estas performances usado para me lembrar dos vendedores de óleo de cobra e magos que eu costumava ver em carnavais quando criança …

Você também tem que lembrar que, no início dos anos 70 não havia computadores pessoais ou internet e o nosso nível de acesso à informação era limitado. Mesmo pessoas inteligentes e educadas ficavam presas por estas performances e as manipulações mentais usadas sobre eles para vender essas técnicas.

Na década de 70 eu estava familiarizado com todas as técnicas de Ki mágicos usados por esses estilos de Aikido, mas eu não estou familiarizado com o que esses estilos que estão ensinando agora nesta era muito diferente.

Soube pela primeira vez desses truques do meu professor em 1976. Ele até tinha um manual secreto que tinha sido distribuído aos instrutores para ensinar-lhes como executar essas manifestações. O manual deu instruções sobre a forma de organizar as manifestações, controlar as mentes das pessoas na platéia e persuadi-los a se juntar a classe. Na época, por um curto tempo, eu até mesmo pensei que isso poderia ser uma boa abordagem, até que eu percebi que este método não era o ensinamento de shugyo (prática) que foi ensinado pelo Fundador.

Eu decidi, em vez de escrever sobre como essas demonstrações de Aikido místicas e ilusões foram realizados em meu primeiro livro, Aikido for Life, que foi publicado pela primeira vez há 25 anos. Aikido for Life está ainda em versão impressa e foi traduzido e publicado em 7 idiomas diferentes ao redor do mundo. Você pode ler Aikido for Life on-line no site da Nippon Kan

Quando escrevi este livro, alguns Aikidoka comentou que o Aikido de Gaku Homma não tem Ki.

Isso não era verdade. Não nego a existência de Ki, mas eu acho que nós precisamos acordar do engano das ilusões que foram criados em torno do conceito de Ki. Quanto mais você se concentrar em encontrar Ki creio eu, menos chances você terá de encontrá-lo. Na verdade buscando uma ilusão baseada em mal-entendido pode torná-lo mais difícil saber quem você é no mundo e ser capaz de ver fora de si mesmo. Anos atrás, quando o uso desses métodos estavam no auge, alguns alunos e até mesmo alguns instrutores veio ao meu dojo que tinha aparentemente completamente caído nesta ilusão e interpretação mágico de Ki. Ele foi um pouco desconcertante e culto como, e eu não poderia ajudar, mas pergunto como se poderia compreender a realidade e Ki a partir desta percepção.

Nos velhos tempos, outra manifestação popular era o “teste de Ki”, que foi realizada durante aiki taiso (exercícios de aikido). Para este teste Ki, os alunos estão com suas mãos na frente deles como eles costumam fazer durante os exercícios de torção do pulso. O instrutor pára-los e diz-lhes para não se mover enquanto ele empurra-los de suas mãos. Os alunos que não se movem são elogiados e os estudantes que perdem seu equilíbrio são feitas para se sentir culpado ou inadequada para mover. Os alunos que se moviam nos dito que se eles estavam a dominar a sua Ki através da prática destas técnicas, eles não se moviam. O instrutor, em seguida, executa o teste novamente e, milagrosamente, o aluno não se move. Louvor é agora utilizada como o instrutor anuncia para o público que o aluno tenha agora realizar seu Ki.

Se você iniciar a sua prática no pressuposto de uma ilusão, sua jornada na prática será distorcida. Estas abordagens de ensino Ki nos Estados Unidos na década de 70 ganharam em popularidade e, em seguida, foi diminuindo em apenas alguns anos. Em última análise, muitos dos instrutores de alto nível que usaram esta abordagem do teste de ki, do braço inflexível , abandonaram este método e se separam de organizações que trabalhavam em torno este método.

Eu tenho ensinado como as técnicas do braço inflexível e o corpo inabalável são realizados em seminários sempre em minhas dissertações. A resposta a aprendizagem de como se fazem esses truques são geralmente risos. Eu acho que ser honesto sobre estes métodos é bom para a validade do nosso shugyo ou a prática do Aikido real.

Como que eu não tinha visto demonstrações do uso do Ki em muitos anos, eu pensei que a ilusão da energia do Ki havia diminuído. Não é assim, ao que parece.

***

Hoje, tem havido um surgimento de uma nova geração de instrutores que vão além de truques simples, como o braço inflexível. Esta nova geração de instrutores estão realizando um novo nível de técnicas “mágicas” com manifestações de Toate (jogando sem tocar) ou Kyo Mei (jogando pela vibração mental e energia mentais) manifestações. Alguns desses instrutores alegam também que essas técnicas foram as últimas realizações do Fundador Ueshiba no fim de sua vida.

Este novo fenômeno de “jogar as pessoas sem tocá-los” foi destacada pela primeira vez em um show de comédia por um instrutor de dança da famosa atriz japonêsa Kaoru Yumi na televisão japonesa.

Surpreendendo  seu público, as pessoas mal entenderam que aquilo era Aikido já que Kaoru Yumi e seu instrutor de dança ambos tinham faixas pretas em Aikido. Em última análise, o instrutor de dança tornou-se independente do Aikido e levou a associação dessas técnicas TOATE de Aikido para uma arte de respirar chamada OO. Mas então, no entanto, era um pouco tarde demais já que muitos instrutores de Aikido já tinham embarcado na onda do Toate e estavam usando o nome do Fundador Ueshiba para vender sua nova magia.

Minhas opiniões sobre técnicas Toate e Kyo Mei referem-se exclusivamente à prática do Aikido; Eu não julgo ou tenho uma opinião sobre alguém praticando outra arte marcial.

Alegando que Toate ou Kyo Mei está de alguma forma relacionada com os últimos ensinamentos do Fundador Ueshiba é uma alegação completamente falsa.

Os movimentos do Fundador em seus últimos anos podem ser chamados de movimentos livres. Eu sei porque eu vivi com o Fundador durante seus últimos anos. Ele usou um estilo de movimento livre não porque fosse de alguma forma mágica como os instrutores TOATE reivindicam; seus movimentos eram simplesmente os de um homem muito idoso. A livre circulação que ele usou em suas últimas manifestações também foi o mesmo movimento que ele usou todas as manhãs em suas cerimônias de oração pessoais no Santuário Aiki em Iwama.

Quando o Fundador praticava a livre circulação, era o nosso trabalho como seus alunos e como seus uke seguir os movimentos do Fundador e fazer o ukemi adequado. Qualquer estudante suficientemente perto d o Fundador para ser seu uke movia-se com profundo respeito; trabalhando a sua maior capacidade de reagir aos gestos do fundador e realizando o melhor de sua capacidade.

Eu ajudei o fundador durante as demonstrações onde o Fundador demonstrou que ele não podia ser empurrado por estudantes, empurrando-o com as mãos na testa. Eu devia estar na posição mais próxima do fundador com a minha mão sobre a sua cabeça ou seu quadril e com outros estudantes empurrando atrás de mim. Durante essas manifestações eu nunca empurrei com força o Fundador e contive o esforço dos outros estudantes que empurravam minhas costas com toda a minha força.

Esta relação entre o Fundador e seus alunos não tinha nada a ver com a capacidade do Fundador de jogar as pessoas sem tocá-los; e tinha tudo a ver com o respeito a um grande mestre.

Os shihan (instrutores sênior) desses dias que eram próximos ao Fundador sabiam muito bem que as manifestações do Fundador e seus alunos eram cooperativas. Entendia-se que os ukes do Fundador sempre se moveriam como dirigidos por gestos do Fundador por respeito a um grande homem, mas frágil, homem de idade avançada. Nenhum dos shihan jamais falou disto publicamente na época, o que agora parece ter sido um erro grave. Este silêncio parece ter encorajado esta falsa impressão que o Fundador tinha algum tipo de poder mágico.

Técnicas de onde as pessoas são jogadas sem ser tocadas não foram demonstrados pelo Fundador. Algumas pessoas disseram que “técnicas” sem contato realizadas pelo fundador eram sua transformação, realização ou compreensão final. Isso é absolutamente falso e essas “técnicas” pertencem apenas a esta nova geração de instrutores que afirmam possuir estes poderes mágicos.

Hoje, esses instrutores Toate ficar no meio de um círculo de estudantes e com um movimento de sua mão fazer todos os seus alunos cairem. Ninguém nunca viu o Fundador demonstrar qualquer coisa, mesmo remotamente relacionada a isso, e não há instrutores vivos hoje que ficavam em torno do Fundador em seus últimos anos.

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Em seus últimos anos em Iwama, havia apenas duas pessoas que cuidavam do Fundador em uma diariamente. Um era Kikuno Yamamoto e a outra pessoa era eu mesmo. Era o nosso trabalho lavar o corpo do Fundador, arrumar seu cabelo, massagear suas pernas e corpo, esfregar sua dentadura, servir as refeições e ler para ele seus livros  da Omoto Kyo à noite.

Perto do fim de sua vida, o Fundador sofria com o que foi chamado de rei kai monogatari ou o que chamaríamos hoje sintomas de senilidade. Ele perdia a paciência e começava a gritar sobre os problemas que haviam acontecido há muito tempo ou ia passear no jardim após a meia-noite. Estávamos com medo de suas explosões repentinas de raiva e preocupados depois que ele começava a vagar, seguindo-o de perto, até que vinha de volta.

Quando o Fundador perdia a paciência não havia nada que pudéssemos fazer, a não ser esperar e por causa de sua importância, ninguém poderia desafiar seu comportamento. Hoje, com todos os avanços no cuidado ançiãos,  acho que o Fundador teria recebido tratamento médico e psicológico muito melhor para sua condição do que naqueles dias.

Foi uma grande surpresa para mim quando eu mais tarde li em biografias de vida do Fundador que suas explosões de raiva foram “inspiradas por Deus” ou que os Kamisama (deuses) estavam falando através dele. Este era inacreditável e não é certo na minha experiência.

O falecido Morihiro Saito Shihan e sua esposa também estavam lá para cuidar do Fundador, mas eu e Kikuno san, que vivemos junto com o fundador e sabiamos que tipo de vida que ele levava em seus últimos anos. Kikuno san e eu estávamos ambos com menos de 20 anos de idade e Fundador estava muito solitário nesses últimos anos. Muito poucas pessoas vieram visitar o Fundador em Iwama, e aqueles que vieram deixavam uma garrafa de saquê como um presente para o fundador e um tamagushi (doação) para o santuário com a família Saito. Eles perguntavam sobre o humor do Fundador e saiam rapidamente se o Fundador estava irritado naquele dia. Ninguém queria arriscar enfrentar sua ira, visitando-o em um mau dia e a maioria das pessoas apenas se hospedaram. Pensando daqueles dias agora, eles foram dias muito difíceis, de fato.

Eu tenho uma boa memória de uma noite a noite antes da esposa do Sr. Sunao Sonoda, o ex-ministro da Saúde japonês e esposa de Kanshu Sunadomari Sensei estavam vindo para visitar o Fundador. O Fundador estava tão animado como criança e à noite foi delicioso. Infelizmente, as noites como esta eram poucos e distantes entre si em seus últimos dias.

Eu tenho uma boa memória de uma noite antes justamente da noite em que a esposa do Sr. Sunao Sonoda, o ex-ministro da Saúde japonês e a esposa de Kanshu Sunadomari Sensei vinham visitar o Fundador.  O Fundador estava tão animado como criança e à noite foi deliciosa. Infelizmente, as noites como esta eram poucas e distantes entre si em seus últimos dias.

Perto do fim de sua vida, mesmo os shidoin (instrutores juniores) e shihan da sede da Aikikai em Tóquio eram cautelosos nas visitas do Fundador. Houve muitas vezes quando eu os avisaria na sede da Aikikai em Tóquio para que soubessem que o Fundador estava chegando sem aviso prévio somente para ser ordenado para detê-lo. Quando o fundador vinha para a sede da Aikikai em Tóquio até mesmo seu próprio filho, muitas vezes fuga para evitá-lo; temendo que ele iria perder a calma e entregar uma “mensagem dos deuses” a qualquer um que se coloca-se em seu caminho.

O shidoin mais jovem e até mesmo o mais velho shihan, sênior na sede da Aikikai não passarom todo o tempo com o fundador durante seus últimos anos em Iwama. No final de sua vida, o Fundador transferiu de volta para a sede da Aikikai em Tóquio onde passou seus últimos dias, mas ele estava muito doente e sob os cuidados dia e noite. Em verdade nenhum shidoin ou shihan teria tido a oportunidade de aprender qualquer última transformação ou realização final do Fundador naquele momento.

Mesmo os estudantes que praticaram em Iwama dojo durante os anos finais do Fundador não passavam tempo com ele que não fosse durante a prática. Prática do Fundador era muito tranquila, onde apenas os sons suaves de pés deslizando no tatami podiam ser ouvidos. Nenhuma queda abrupta, batendo o tapete, ou mesmo kiai eram permitidos. Os alunos deixavam o dojo em silêncio após a prática através da porta que foi designada apenas para os alunos, e eles nunca estavam envolvidos com o Fundador fora da hora da prática. Nenhum estudante teria tido a oportunidade de receber qualquer tipo de “ensino transformador segredo” do Fundador, pois os únicos estudantes que estavam envolvidos com a vida do Fundador fora a hora da prática foram eu e Kikuno san.

Eu sei de um vídeo antigo que foi feito da prática do Fundador em Iwama, em que no vídeo você pode ouvir o som de kiai durante a prática. Essas cenas de treino foram, no entanto, escritas pelo diretor para dar o efeito dramático e não refletem a prática real. Neste vídeo, você também pode ver o Fundador com sua esposa na frente do shomen, ou altar, que fica na frente do dojo a beber chá. Isto nunca teria acontecido com base no protocolo religioso do Fundador e também foi roteirizado pelo diretor. Havia uma cena no vídeo onde o Fundador estava indo para o Santuário Aiki a rezar que foi filmado em no meio do dia. O diretor queria uma sensação mais misteriosa para a cena, por isso era a minha tarefa balançar recipientes com fumaça ao redor para fazêr parecer mais como uma manhã enevoada bem cedo. Você pode imaginar que, no final deste dia, o Fundador não estava muito feliz …

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watanabe
Watanabe, “um do mágicos”

As reivindicações de qualquer instrutor que ensina Toate como algo que aprendeu com o Fundador como seu último ensinamento de aikido real são completamente infundadas e muito desrespeitosas com o Fundador. Estes instrutores estão fazendo nada mais do que inventar um argumento de vendas para convencer os alunos a se juntar a eles; o mesmo tipo de técnicas que foi usada por instrutores de Aikido antigos que usaram os conceitos de energia Ki. Ambos usam a culpa de potenciais alunos para fazê-los acreditar que eles não estão fazendo jus ao seu próprio potencial ou tendo a capacidade de receber estes poderes do instrutor, a menos que eles se juntem as aulas.

Na mesma página do You Tube, onde um vídeo de demonstração de Toate foi carregado, eu assisti um outro vídeo onde um desses instrutores deToate, que afirmou ser invencível, desafiando outro artista marcial para atacá-lo. Em poucos segundos, o instrutor  de Toate foi levado para o chão e enviado para o hospital …

Mesmo com toda a evidência da falácia dessas alegações de serem capaz de lançar ou mover as pessoas sem tocá-las, as reivindicações continuam e, infelizmente, continuam a ser associado com o fundador do Aikido, Morihei Ueshiba.

O Aikido do Fundador foi baseado em shugyo (prática) e shugyo é baseado no conceito importante de Shuhari. Há fases em nossa prática definidos por Shu, Ha, e Ri. Shu descreve compreensão do nível básico, Há é uma compreensão mais integrada e Ri uma realização definitiva. Deve-se capacitar-se em Shu, depois para Há, e depois para Ri, com uma vida inteira de prática, e cada nível não pode ser realizado sem o outro. (Ver também a definição e integração dos termos no início do artigo como referência). Estes instrutores que afirmam que Toate é o último grande ensinamento do Fundador acreditam que Toate é a Ri do termo Shuhari.

O conceito de Shuhari é um processo de entendimento e você não pode pular sobre Shu e Ha e tentar ensinar sua própria interpretação do Ri, alegando que ele seja do Fundador. Por um lado, Ri não pertence a qualquer pessoa e, segundo, o Fundador nunca teria seguido esse tipo de pensamento. Eu não gosto de ver a reputação do Fundador utilizada desta forma e eu acredito que, se o fundador fosse capaz de ver seu nome associado a esse absurdo que ele estaria com raiva.

A sede da Aikikai tem que posicionar-se contra esses instrutores Toate. Se não o fizerem, esta deturpação continuará se espalhando por todo o mundo. Este tipo de ensino é especialmente perigoso em um mundo onde cada vez mais instrutores de faixa preta não terminam suas próprias técnicas e não tomam ukemi.

Há muitos instrutores no mundo nos dias de hoje, que parecem ter ignorado o processo de aprender a tornar-se instrutores. Eu vi instrutores que só copiam a maneira como eles viram o movimento do Fundador em filmes sem compreender as razões para as variações do Fundador.

Eu vi instrutores imitar a maneira que o Fundador realizaram a técnica Iriminage por exemplo, como um homem muito idoso. Naquela época, o Fundador estendia o seu braço para cima, sem muito contato corpo a corpo para lançar o seu uke e dando alguns passos para frente após a projeção.

O irimi nage que ajudou a gerar a polemica.
O irimi nage que ajudou a gerar a polemica.

É divertido ver este movimento imitado quando, na verdade, o Fundador dava um passo à frente depois da projeção porque na sua idade avançada, ele não era mais capaz de parar a sua própria dinâmica. Como seus alunos, sempre estávamos acompanhando o Fundador de perto durante este tempo para se certificar de que ele não caiu…

Estes instrutores de Aikido que querem saltar sobre a base construída de Shu e Ha e alcançar a realização última de Ri sem todo processo que está em um caminho equivocado. Não há nenhum atalho para o entendimento final, e para tentar vender a “essência” de Aikido; não tem sentido. O Fundador disse que “o Aikido é “misogi waza” ou uma prática em purificação.” Para prosseguir ganho mundanos, em vez de prática, não é o Aikido do Fundador.

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Por muitos anos, não muito tempo atrás, os nossos telefones tinha mostradores e eram discados para operar. Os telefones de hoje são operados por toque ou mesmo comando de voz. Nossas vidas hoje são preenchidas com as conveniências e nosso acesso à informação é praticamente ilimitado. Um resultado de toda essa tecnologia é que nós não observamos, processamos, entendemos e lembramos muito com nossos cérebros; contamos com telefones inteligentes para tirar fotos, vídeos e gravações em seu lugar. Nós não nos importamos como esta tecnologia foi aperfeiçoada, apenas o que é o mais novo e mais rápido e como ela pode beneficiar nossas vidas.

Eu vejo muitos instrutores hoje que não vão concentrar-se sobre o processo da prática. Eles querem pular direto para a celebração de uma vida inteira de prática dedicada; e perceber a essência do Aikido sem trabalhar para isso. Eles ignoram o Shu e Ha em Shuhari. Eles são como os consumidores que querem o mais novo produto ou de ser capazes de “baixar” as respostas sem estudo. Dominar a técnica e a filosofia do Aikido só pode ser alcançado através da prática dedicada ou shugyo. Este novo fenômeno de ensinar somente a “essência” do Aikido sem prática só vai aumentar à medida que a tecnologia se desenvolve em nossas vidas, e eu me preocupo que esse tipo de pensamento vai terminar o processo de shugyo. Acabar com shugyo seria mais um passo em direção ao fim do próprio Aikido.

Assistindo a um vídeo de demonstração do Toate ouvi um comentário de instrutor, “Será que ele realmente tem a gbraduação de sétimo grau de faixa preta? Ele não tem nenhum entendimento ou fundação do movimento básico e técnica. A única razão que ele pode jogar seus alunos é porque eles são bem treinados para rolar”. O instrutor na demonstração estava até usando seu hakama para trás quando ele demonstrou técnicas sem tocar.

Shu-Ha Ri em Aikido é um processo de prática. Hoje instrutores ensinam que existe apenas Ri; fecham os olhos para o aprendizado e a experiência necessários em Shu e Ha para nunca ser capaz de atingir Ri.

Aikidoka jovem! Qualquer um pode fazer essas técnicas “jogar sem tocar” se você tiver um bom uke! Eu costumava ser um uke para o Fundador e realizado em muitas demonstrações com ele. Eu praticava diligentemente para ser um bom uke que significava que eu poderia me jogar! Houve momentos no dojo Iwama durante o dia, quando não havia mais ninguém lá que o Fundador me chamava para a prática privada. Estas foram as práticas informais, e o Fundador até mesmo não usava seu hakama geralmente.

Normalmente, quando alguém pratica movimentos de Aikido sozinho, eles praticam o lado do nage ou jogando. Eu também praticava o lado uke sozinho e praticava levando ukemi sem um parceiro! O Fundador nunca teve que me jogar a sério; Eu era um muito bom uke sozinho.

Eu nunca sabia quando o Fundador podia me chamar de praticar, de forma a estar sempre pronto eu usava o meu keiko gi e a calça sobre minhas calças de rua regulares para estar pronto …  Quando precisasse.

Então, você também pode fazer um vídeo Toate com seus amigos e postá-lo no You Tube. Seja criativo e verá quem consegue fazer o melhor! Se você perceber quão tolo tudo isto é, será um grande passo para mover a sua prática para frente em uma direção melhor.

A maioria dos tsuki soba ou atendentes próximos do Fundador não seguiram com histórias pessoais do fundador. Eu fiz isso porque o Fundador era um grande homem, mas não é fiel à sua grandiosidade para fazê-lo soar como se fosse algum tipo de um Deus.

Meu desejo é advertir aqueles que podem ser enganado por esses instrutores TOATE oportunistas e cheios de falsidade, não só pelos seus créditos, mas da farsa de associar o nome do Fundador com seus esquemas.

É o meu trabalho para soar o alarme para que você saiba.

É minha opinião e minha experiência que o entendimento final do Aikido ou Ri é encontrado apenas através da prática constante; através da repetição repetido de Shu e Ha. Concentre seus esforços na prática todos os dias e não seja influenciado por instrutores que lhe dizem que não há necessidade.

O mais importante para a compreensão do Aikido é para continuar, dia a dia … Shu … e … Ha.

Uma História de Zen

Um dia, havia um jovem unsui (sacerdote em formação) que abordou o roshi (mestre sacerdote) após o zazen da manhã (zen = meditação) para lhe fazer uma pergunta séria. “Onde, onde Roshi e o que você estava fazendo no momento em que você tornou-se iluminado?” Ele respondeu: “Eu vivi neste templo desde que eu tinha 10 anos. Quando eu tinha mais de 80, eu estava andando no jardim do templo, uma noite, a pensar profundamente sobre a minha vida zen. Estava escuro no jardim e eu corri para uma das pedras no jardim, batendo minha canela. “Ouch”! Eu gritei e, naquele momento, tudo muito ficou claro e eu atingia iluminação “.

Na noite seguinte, muitos dos jovens unsui estavam alinhados no jardim em frente à pedra e começaram a bater suas pernas sobre a rocha …

O que levei muitas páginas para tentar explicar neste artigo está escrito bem nesta história muito curta …

Isso é zen.

Escrito por Gaku Homma, Nippon Kan Kancho. 20 de outubro de 2013

NOTA IMPORTANTE: O presente texto apresenta argumentos e opiniões pessoais do autor, Homma Sensei, sem dúvida um grande mestre e de importância imensa no aikido mundial e que tivemos a honra de conhecer. Entretanto não necessariamente reflete ou representa posições oficiais da associação Ganseki, na questão de defender ou contrapor políticas ou declarações do Hombu Dojo no que se refere às suas relações com os envolvidos.

A promoção de 10o dan de Tohei Sensei

Artigo de Stanley Pranin originalmente publicado no Aikijournal. Tradução livre de Walter Amorim. 

“Qual foi a razão para o atraso e que fez Morihei Ueshiba realmente autorizar a promoção 10o dan de Tohei Sensei? “

Koichi Tohei, 1967. Photo cortesia de Jason Hirata para aikijournal

Koichi Tohei Sensei é um dos instrutores mais famosos de Aikido e foi o chefe da equipe de instrutores da Aikikai por muitos anos, antes de deixar a Aikikai. Tohei ganhou fama como um dos pioneiros do aikido, e foi responsável por levar a arte para o Havaí em 1953. Ele também é autor de numerosos livros, primeiros sobre aikido, e que muito contribuíram para o sucesso inicial da arte.
O tema da 10ª promoção de Tohei Sensei dan tem gerado um pouco de controvérsia ao longo dos anos. Parece que houve tempo suficiente que o acesso às matérias-primas é escassa e, portanto, o mil boatos retomaram sempre; e várias especulações foram feitas.

O ponto obscuro tem a ver com o fato de que a “festa de inauguração” para 10 de Tohei Sensei dan foi realizada no dia 16 de outubro de 1970, em um total de 18 meses após o falecimento do Fundador do Aikido, Morihei Ueshiba. Qual foi a razão para o atraso e fez Morihei Ueshiba realmente autorizar promoção décimo dan de Tohei Sensei?
Na verdade, a resposta a esta aparente discrepância é facilmente encontrada consultando a edição de Inverno de 1970 do boletim “Aikido”, publicado pela Aikikai Hombu Dojo, em Tóquio. Parece que Tohei recebeu o seu décimo dan oficialmente pelo próprio Fundador em 15 de janeiro de 1969 na celebração do Kagami Biraki, realizada no Hombu Dojo.
O que aconteceu a seguir explica a confusão. O fundador adoeceu em fevereiro, e faleceu em 29 de abril de 1969. Uma alta classificação – como um prêmio de 10 dan – teria obrigatoriamente que envolver uma festa de congratulações em grande escala. No entanto, devido à passagem de Morihei Ueshiba, e o funcionamento de um ano de luto, era inadequado se realizar qualquer tipo de evento comemorativo para a promoção de Tohei. A festa de congratulações de Tohei também teve que esperar até depois do início oficial da atuação do segundo Doshu do Aikido , o filho de Ueshiba Kisshomaru, e só depois de uma espera de um ano.

Como resultado desta seqüência de eventos, a festa de 10o dan de Tohei Sensei, na verdade, ocorreu em outubro de 1970 no Akasaka Prince Hotel com centenas de convidados presentes, incluindo os grandes expoentes do mundo do aikido e vários amigos de Tohei Sensei de seus anos escolares.

Um retrato famoso do evento, agora quase esquecido, sobreviveu. Nele, Tohei é acompanhado esquerda para a direita pelos seguintes instrutores da Aikikai: Minoru Kurita, Fumio Toyoda, Seijuro Masuda, Koretoshi Maruyama, Sadateru Arikawa, Norihiko Ichihashi, Koichi Tohei, Shigenobu Okumura, Kisaburo Osawa, Shizuo Imaizumi, Masando Sasaki, Akira Tohei , Yoshio Kuroiwa, e Mitsugi Saotome.

Esta foto acima é muito reveladora no sentido de que entre aqueles que aparecem com Tohei são vários instrutores do Hombu que foram os mais próximos aliados dele. Depois Tohei demitiu-se da Aikikai em maio de 1974, vários dos que figuram juntaram-se a Tohei na sua partida. Além disso, destaca-se a ausência do Segundo Doshu e vários dos instrutores do Hombu, hierarquicamente superiores, no “retrato oficial.” Como se costuma dizer, “uma imagem vale mais que mil palavras.”
Espero que isso esclareça qualquer confusão envolvida com classificação de Koichi Tohei Sensei ao 10 dan. Na verdade, não há muito a dizer sobre vários outros professores que receberam 10 dan do Fundador fora dos canais organizacionais normais ou postumamente, mas vamos deixar para outra ocasião.