O Yoroi – A armadura samurai

Talvez a imagem mais conhecida do “bushi”, como é chamado o guerreiro medieval japonês, é a do samurai vestido com uma rica armadura, colorida e ornamentada. Ao contrário de sua congênere européia, de aspecto gótico e pesado, a “o-yoroi”, um dos nomes pelo qual é denominada a armadura japonesa, não parece ser óbice aos movimentos do “bushi”. A riqueza de materiais com que suas partes são produzidas e o esmero com que foram construídas lhe conferem ao mesmo tempo flexibilidade e resistência. As armaduras antigas, produzidas antes do século XVI, eram chamadas de: o-yoroi, kachu, haramaki, do-maru etc. Já as produzidas após este período, eram geralmente conhecidas como gusoku.

Pelos textos japoneses sobre a armadura japonesa, principalmente na parte em que se orienta a forma exata de sua composição, tal como a maneira correta de sua vestimenta, observa-se que o “bushi” começava vestindo a tazuna ou fundoshi (roupa de baixo), de preferência de linho branco ou algodão, sendo esta forrada ou não, de acordo com a atual estação.

Os Bushi de alta patente vestiam robes suntuosos por cima da roupa de baixo, como os vários Yoroi hitatare. Os bushi de classe inferior vestiam apenas a roupa mais funcional, chamada hadagi.

Por cima disto, vestia-se a roupa “shitagi”, que lembrava o kimono do dia-a-dia, preso à cintura pela obi – faixa que era enrolada duas vezes em volta do corpo e amarrada na parte da frente, sendo que alguns a preferiam amarrada nas costas.

Este último método não era recomendado pela maioria dos veteranos, porque era difícil amarrar a obi sob a armadura, se ela se afrouxasse no campo de batalha.

Por cima, o bushi de patente de atendente do marechal, “kyushu” ou “kosho”, vestia uma calça cerimonial típica ou “hakamá”. A maioria dos bushi vestia um par de “hakamá” similar, mas um pouco menor e mais curta, chamada de “Kobakama”.

Os guerreiros de classe mais baixa vestiam uma versão menor delas, chamada de “matabiki”, geralmente enfiada por debaixo da camisa.

Os bushi então vestiam um par de “tabi”, com uma divisão para o dedo maior.
Elas eram feitas de algodão (Mobien tabi), ou couro curtido (Kawatabi).

Por cima, geralmente vestia-se a “Kiahan” ou “habaki”, que vestia a parte referente à canela, e era feita de linho ou algodão forrado ou não.
Eram geralmente amarradas na panturrilha para impedir a fricção contra a proteção que se vestia sobre ela. Nós pés, o bushi de nível mais alto vestia uma espécie de sandália de pele característica, forrada com seda ou brocado, de nome “kegetsu”, “Kutsu” ou “Tsuranuki”. Possuía solado de couro grosso e o lado superior de pele de urso. Existiam vários estilos e modelos dessas sandálias, mas não mantinham relação com a patente ou nível hierárquico.

Clássicos como o “Gempei seisuiki”, por exemplo, nos dizem que “quando Kuro Yoshitsune, durante a guerra contra Kiso Yoshinaka, foi ao palácio Ho-o, ele vestiu ‘kuma no kawa no tsuranuki’, que são sandálias de pele de urso”. E os que o seguiam, vestiam sandálias de ‘ushi no kawa’, que eram feitas de couro de vaca.
Em períodos posteriores, guerreiros de patente menor vestiam sandálias “waraji”, de vários materiais como cânhamo, talos de mioga, fibras de palma e algodão.
Usualmente levavam um par extra na cintura.

Seus oficiais geralmente vestiam sandálias feitas de pequenas lâminas de couro ou ferro. As pernas, do joelho até o tornozelo, vestiam proteções chamadas de “sune ate” ou “shino zutsu”, geralmente moldadas em ferro ou couro na parte da frente e atadas atrás. Algumas peças eram feitas apenas de metal.
Em tempos antigos, cavaleiros montados costumavam vestir estas proteções com uma lâmina na parte de trás, para proteger contra ataques de espadas ou alabardas.

A maioria destas proteções, contudo, era feita de lâminas longitudinais dobráveis com as lâminas centrais cobrindo o joelho.
Todas geralmente incluíam uma proteção de couro “abumi zure” na parte de dentro para proteger contra o atrito. O joelho geralmente era protegido por uma espécie de cuia de metal abaulada que se chama “hiza yoroi kakuzuri”, que era parte integral da armadura ou uma peça separada.
Existem duas variedades desta espécie de joelheiras: yamagata e Juwa ga shira.

A parte superior das pernas era protegida pelo haidate, peça semelhante a um avental, sendo que a parte de cima era geralmente coberta com lâminas pequenas – Kozane – feitas de ferro, couro ou osso de baleia.
Esse avental partido no meio era esticado com cordas chamadas tsubo-no-o, que eram enroladas na cintura e amarradas na parte da frente.
Manuais antigos recomendavam que, para remover o avental quando se atravessava um rio ou pântano, era recomendado que se amarrassem as cordas do lado de fora do “Do” – parte que protege o tronco.
Havia outros tipos de proteções do quadril do guerreiro, assim como nos guerreiros europeus, que eram feitas com lâminas de metal enlaçadas com cordas de couro e seguras com uma pesada trama de seda ou couro chamada de “ita-haidate”.
Outras, construídas com lâminas de metal menores e mais leves amarradas com seda e chamadas de “igo-haidate”, eram preferidas pelos guerreiros montados, por serem mais flexíveis que o modelo usual.
Uma peça de armadura usada pelos homens da infantaria nos tempos de guerra, ou pelo bushi sob suas calças em tempos de paz, era chamada de “kussari kiahan” ou “kiahan suneate”, e cobria a perna inteira. Armadura do Período Momoyama

O guerreiro então vestia luvas – “yugake”, feitas de pele, e de preferência não-forradas e às vezes com um pequeno buraco na palma da mão.
Sobre elas, para proteger seus braços da mão até o ombro, ele vestia mangas justas feitas de seda, couro ou um outro tecido que tivesse consistência, cobertas com lâminas adicionais de metal.
A manga da armadura, chamada de “Kote Tegai” era protegida principalmente do lado externo por uma série de metais, que começava por uma lâmina “Kamori Ita”. Ela cobria o ombro sob a outra proteção da região, chamada de “sode”.
Duas cordas pesadas atavam a lâmina de cima ao peito e uma terceira atava a outra manga da armadura.

A parte superior do braço era protegida por outra grande lâmina de metal – a “gaku no ita” – enquanto o cotovelo era coberto por uma lâmina circular e côncava – “hijigane”.
O braço também era protegido desde a altura do cotovelo ao pulso por uma longa lâmina “ikada” ou por uma série de tiras de metal longitudinais. Às vezes, ela se apresentava encaixada em uma só peça de metal, furada e moldada, à qual era atada ao pulso uma outra peça que tinha por função proteger as costas da mão.
Essa peça era forrada com couro e possuía uma curvatura de forma que se ajustasse aos dedos do guerreiro. Nas armaduras antigas, peças para os dedos e anéis eram acopladas umas às outras por uma pequena corrente. Mais tarde, pesadas luvas de couro eram vestidas.

A porção interna do braço, que requeria menos proteção que a área externa, era coberta com um tecido pesado, ou o próprio couro, entremeado com seda ou tiras de couro. Entretanto, sua defesa era mais baseada nas habilidades do guerreiro de que propriamente pelas peças da armadura, uma vez que essa área se tornava exposta quando os braços eram levantados para aplicações de golpes com a espada.
Existiam técnicas que se tornaram famosas no Yari Jutsu e no Kenjutsu por visarem atingir essas áreas expostas e vulneráveis da armadura contra adversário em combate.

Havia uma quantidade fantástica de tamanhos, tipos, formas e materiais que o bushi podia selecionar para essa importante vestimenta. Um exemplo são as mangas da armadura coberta por uma malha feita de anéis e correntes de metal (kusari gote). Os braços eram, em seguida, protegidos por placas (tetsu gote). Havia um tipo de manga que protegia o braço cobrindo-o com uma larga placa (como um sode adicional), atada ao ombro (tsugi gote). Outras eram formadas por escamas sobre o bíceps (gaku no ita); outras ainda alternavam faixas dessas placas com a malha de metal (oshi no gote), ou eram totalmente feitas da malha à qual eram amarradas fortes placas de vários tipos (shino gote, echu gote, awase gote).

Ele também usava uma pequena proteção para o antebraço, coberta com as placas e malha, e depois com um tecido rústico (hansho gote). Essas mangas eram muito específicas de acordo com o tipo de propósito marcial desejado. Por exemplo, havia mangas especiais (yu gote) feitas de seda e brocado, sem qualquer proteção pesada, que eram vestidas aos pares, a partir dos ombros. Eram mais utilizadas pelos arqueiros, que precisavam de liberdade de movimentação para manejar seus arcos e flechas. Em certas ocasiões, os arqueiros usavam apenas uma dessas mangas, para proteger o braço direito, ombro e boa parte do peito e costas. Eram atadas em volta do corpo. Muitas das mangas de armadura consideradas leves eram usadas em tempos de paz, sendo vestidas sob o quimono, quando o bushi deveria estar preparado apenas para confusões de rua.

As articulações, que geralmente ficavam desprotegidas devido ao vão existente entre as mangas protetoras (kote) e as placas laterais (watagami) do corselete (do), eram reforçadas com camadas de malha de metal, placas e escamas (waki biki). Eram vestidas sob o corselete, separadamente ou ligadas umas às outras por uma faixa de metal (kusari waki biki). Podiam ser apertadas com botões (botan gake), ganchos (kohaze gake) ou cordas (himo tsuki). Um tipo especial de equipamento (manju nowa) combinava os waki biki com um colar e ombreiras.

O elemento central de uma armadura em qualquer país (junto com o capacete, claro) é o protetor de peito (do). No Japão, o estilo desses dois elementos representou e identificou a armadura de vários períodos da história do país – o pré-histórico (tanko, kachu, kisenaga), o antigo (yoroi) e o moderno (gusoku). A maior parte do corpo do bushi era vestida com um corselete feito de largas placas de metal, como os antigos corseletes (kaki yoroi, keiko) do século IV. Havia também corseletes de couro brilhante, forrados e cobertos com faixas de escamas bem atadas com seda ou cordas de couro. Como foi notado anteriormente, o couro era matéria-prima preferida dos confeccionadores de armaduras, e os vários tipos de couro utilizados, assim como os vários tipos de tratamento, originaram uma série de corseletes (kawa tsutsumi), assim como os de couro chinês (kara kawa tsutsumi), couro vermelho (aka kawa tsutsumi)e couro florido (hana gawa tsutsumi). Muitos dos corseletes das classes mais baixas eram feitos de couro preto (sewari gusoku). As placas que o cobriam, por sua vez, utilizavam pele de tubarão (same tsutsumi), casco de tartaruga (Moji tsutsumi) e osso de baleia, criando belas texturas e dando grande resistência à vestimenta.

Havia uma variedade aparentemente infinita de corseletes em uso no Japão em diversos períodos, e eles são divididos em duas categorias principais: a primeira e mais comum engloba as peças compostas por placas ou escamas e amarradas com fortes cordas (do), e a segunda, das peças inteiriças. Os mais recentes, chamados de placa “peito de pombo” (hatomune do) ou placa “peito de santo” (hotoke do), porque simulavam a curvatura do corpo humano, eram muito raros. Cobrindo o corpo do pescoço à cintura, eram usados no Japão dos séculos XVII e XVIII. Aparentemente copiados dos modelos europeus, podiam ter a abertura nas costas, ou nas laterais. Os que possuíam abertura frontal eram pouco comuns. Adotados pelas categorias mais baixas de samurais e seus ajudantes, certos modelos ajustáveis mais simples possuíam inúmeras derivações.

Alguns modelos incluíam dois soquetes aos quais era presa a bandeira da cavalaria. Os samurais de alto escalão vestiam peças adicionais, como a importante “se-ita”, ou “se-ita no yoroi”, que eram placas pequenas que protegiam as articulações dos ombros e parte superior do braço.

As mais antigas eram geralmente feitas de metal ou couro bem grosso, ricamente decoradas com detalhes em metal nas bordas. As mais recentes eram feitas com três placas grossas ou fileiras de escamas sobrepostas, protegidas com couro curtido. Nos últimos corseletes fabricados, os samurais de baixo escalão – que não eram autorizados a vestir as placas protetoras, vestiam proteção menores chamadas de “giyo yo ita”. Eram vários os modelos existentes dessa peça específica.

Em volta da cintura, o bushi vestia um cinto (uma-obi) feito de linho ou tecido, com ornamentos na frente. Quando ele cortava as pontas desse cinto e jogava fora a bainha de sua espada, que ele geralmente carregava presa ao cinto, sua intenção de morrer no campo de batalha era claramente manifesta aos seus inimigos e a natureza desesperada de sua luta era enfatizada.

Os ombros do bushi dos altos escalões eram protegidos nas laterais por duas grandes e características proteções (sode), cada qual feita de pequenas escamas arranjadas em várias faixas, firmemente amarradas com corda de seda, sobre um forro de metal ou couro. A escama do topo em ambas era sempre de metal maciço, fundida e ricamente decorada. Essa peça da vestimenta variava muito de acordo com a posição do guerreiro.

Uma outra placa adicional era amarrada em volta do corpo para proteger tanto o peito como as costas do indivíduo. À esquerda da vestimenta, o bushi punha então o suporte para qualquer tipo de espada que preferisse (koshi ate), para portar suas duas espadas (daisho), tanto a pequena ‘wakizashi’ como a longa ‘tachi’. Em tempos mais antigos, uma espada adicional era carregada, chamada ‘nodachi’, geralmente maior e mais pesada que a ‘katana’ original. A ‘nodachi’ era carregada nas costas.

Seu uso, que já havia sido universal em campo de batalha, tornou-se raro durante o período Tokugawa.

O pescoço do bushi era protegido por uma espécie de colarinho frontal (nodowa) feito de escamas ou pequenas peças firmemente amarradas juntas em forma de U. Essa peça parece ter sido elaborada no século XVI a partir de um colar antigamente vestido sob o ‘do’ e amarrado a um suporte chamado ‘eri-mawari’. No período Tokugawa, entretanto, era vestido sobre a armadura em uma grande variedade de estilos.

Bibliografia: Ratti, Oscar. Segredos do Samurai, As artes marciais do Japão Feudal. 1973

Ego e ilusão

“Aqui se ensina o verdadeiro AIKIDO”, “Venha praticar um Aikido de Nível Internacional” “Não se deixe enganar” – Afirmações que simbolizam o Ego associado a ilusão.

Recebo vez ou outra e-mails que trazem tais afirmações, fico pensando: O AIKIDO, é mutável, é flexível, o que acham que querem dizer com isso?

Acho que tipos de afirmações como essas são, ou ilusões e devaneios do autor, ou meios de propagandear e captar novos seguidores, de preferência cegos. Não existe verdade absoluta nas artes marciais, nada é dogmático, sendo assim não há o que se falar em verdadeiro ou falso. Outro mito sendo criado ou propagandeado é o do Aikido de Nível Internacional. O que é isso? Tenho treinado por quase 20 anos aikido e somando experiência anterior de arte marcial já passa disso. Treinei com muitas pessoas de diversas experiências e formas. Participei de dezenas de seminários. Conheço muitos dos que tem alardeado esse seu “aikido inter” e sei que tem muito discurso nessa historia. Muitos Sensei que tem um Dojo pequeno, e que não fazem propaganda alguma, tem muito mais a oferecer. Tenho preocupação apenas com os incautos que possam cair nessa falácia, mas não posso fazer muito. Eu mesmo já caí em algumas. Quando chega alguém em meu Dojo interessado, eu sempre falo para voltar algumas vezes e visitar outros lugares… Após isso ele decide. Acaba sendo um primeiro teste para o candidato. Aikido exige percepção e esta percepção neste momento já pode se manifestar e ele escolher o Aikido mais adequado para ele. É claro que podemos errar na nossa inexperiência. Torço para que depois acordem e acertem. Eu mesmo tenho 5 ou 6 hoje que erraram na primeira escolha e depois apareceram por lá no nosso Dojo. Não encontraram a única salvação mas o que lhe é mais adequado. E estão até hoje; entre eles já temos faixas-preta. Outros devem ter ido para lugares de meus amigos de outras organizações e lá estão muito bem. Não existe escolha verdadeira, mas a mais adequada. E acredito que nível internacional não é exclusividade de uma organização( se isso existir ) e se eles realmente o tiverem. “Apenas observem bem e escolham”, digo aos novos candidatos e aos alunos antigos do Aikido. Não preciso falar mais que isso. Somente mostrar a minha proposta e a minha forma de passar o pouco que sei aos alunos. E todos devem assim o fazer. Desconfie de quem fala demais aos quatro ventos. É assim que se vende o pão-de-açucar ou um terreno na lua….
Se observarmos vídeos antigos e atuais veremos que os alunos mais próximos de O Sensei, executavam e/ou executam técnicas repassadas pelo fundador de forma diversa, ou seja, já foi observado movimentos como ikyo, nikyo, sankyo, e outros, sendo executados de diversas maneiras, lógico dentro de um princípio fundamental. Todos de alto nível técnico. Sem única forma, sem única solução. Sem fanatismo.

O Sensei variou seu Aikido ao longo do tempo e teve alunos com diversas características em variadas épocas. Na minha visão a essência do aikido bem praticado varia pouco mesmo se executado com mais vigor ou não. O que se vê hoje em dia é: vários Dojos, tendo uma visão sobre o autêntico AIKIDO, o que fica difícil de explicar. Até mesmo O Sensei variava suas técnicas e suas formas, pois diz-se que ele tinha o entendimento que cada momento é único, e baseado nisso, o movimento tomava outra forma, sem no entanto perder o seu princípio de Flexibilidade e Conexão dos movimentos entre Tori e Uke no momento e sempre adaptado a situação.

No Japão onde o fundador começou tudo isso a cada dia um mestre incorpora novos conhecimentos e descobrimentos na sua bagagem muitas e muitas vezes indo além de somente o aikido. Assim como fez o fundador que foi um notável praticante de artes marciais. Estamos nos aqui tentando fazer o mesmo mas com a dificuldade da distância e do conhecimento menor em relação aos grandes mestres. Tudo é mutável e mesmo assim alguns se agarram a suas tábuas da lei e em alguns casos de pretensão e/ou ilusão extrema tentam ser referencias a outros. Um amigo contou a seguinte historia: Um professor antigo viu-o treinando e começou a colocar uma série de críticas na sua forma. Na época retornava de longo período afastado, ouviu calado os comentários e na época treinava com outro professor. Hoje sei que ele não só é muito mais graduado como este “crítico” já pediu, e pede, várias vezes que este faça demonstrações e aulas especiais para seus alunos. Realmente ele tem uma ótima condição técnica, superior ao professor que o criticou tanto. E tenho minhas dúvidas se já não o tinha mesmo no passado. Acredito que o que mudou foi que terminou a ilusão do pretensioso amigo que resolveu se render a verdade do tatame e deixar os discursos ufanistas de lado.

Treinando com seriedade, com sinceridade, buscando o estudo e compreensão das técnicas, com certeza nos aproximaremos do tão sonhado Aikido que um dia vislumbramos para nós quando pisamos nos primórdios no tatame, logo nos primeiros anos. Possivelmente conseguiremos até mais do pensávamos.

Seminário Seki Shihan – 45 anos de Aikido


No primeiro final de semana de Setembro foi realizado o seminário dos 45 anos de Aikido no Brasil com a participação de Seki Shihan, um dos grandes expoentes dentro do Hombu Dojo e do aikido mundial atualmente. O Ganseki Dojo, como membro integrante da União Sul Americana participou da demonstração de Aikido dos dojos presentes. Sem dúvida um evento muito importante, onde pudemos conhecer mais a respeito deste grande Sensei, e a expressão de suas técnicas. Sensei Seki mostrou sua forma direta, rápida e precisa. A qualidade técnica de Seki Shihan era esperada. O Ganseki Dojo esteve bem presente e todos que lá estiveram puderam evidenciar que a orientação técnica no nosso dia-a-dia está bastante alinhada com o que se pretende para o desenvolvimento futuro da União e das diretrizes do Hombu Dojo. Parabéns a todos os participantes que estiveram na demonstração e aqueles que, embora não participassem da demonstração, estiveram no seminário desfrutando dos ótimos ensinamentos e na demonstra por desfrutarem desta grande oportunidade de aprendizado. Outras virão…

As Origens da Artes Marciais Tradicionais – Kobudo

Alguns estudiosos estimam que as escolas tradicionais de artes marciais japonesas, referidas como ryuha, tiveram início no final do período Heian. Contudo, estes sistemas de combate não se especializaram em um tipo particular de arma, como arco, espadas, lanças, etc. Ao invés disso, buscaram um currículo abrangente que integrava treinos de diferentes armas. Ao longo do tempo as escolas se compartimentalizaram e por volta do período Muromachi ao período Edo , surgiram aquelas onde os guerreiros podiam se devotar a treinos ascéticos de apenas uma arma em especial. Entretanto, as escolas dedicadas ao Kyujutsu (Arco e Flecha) e Bajutsu (Equitação de Guerra) remontam a épocas anteriores a esta compartimentalização. A partir do século XV percebe-se o florescimento de estilos de Kenjutsu (Arte da Espada), Sojutsu (Arte da Lança) e Jujutsu (Arte da Imobilização do Oponente), porém estes não se estabeleceram como Ryuha até a Era Keicho (1596-1615).
Kashima e Katori são bem conhecidas como sendo importantes regiões de onde as escolas tradicionais de artes marciais surgiram. Situadas no mesmo lado da região Otone, na parte Leste do Japão, ambas, Kashima Shrine e Katori Shrine são lugares sagrados onde divindades associadas à destreza e bravura militares são reverenciadas. Logo, é natural que as artes marciais japonesas tenham tradicionalmente florescido nestas áreas. É frequentemente dito no Japão que “as ciências militares (Heiho) vieram do Leste”, o que em essência se refere a Kashima e Katori. Artes marciais ryuha representativas da região são a Kashima Shinto-ryu e Katori Shinto-ryu.
No início do período Muromachi, um número de notáveis guerreiros criou suas próprias ryuha. Alguns exemplos são Chujo Hyogonosuke (?-1384), fundador da Chujo-ryu; Aisu Iko (1452-1538), criador da Kage-ryu e Iizasa Choisai (1387-1488) fundador da Katori Shinto-ryu, a qual foi posteriormente desenvolvida por Tsukahara Bokuden (1489-1571). Todos foram grandes guerreiros renomados por suas exemplares habilidades militares. Eles percorriam os campos desafiando outros guerreiros a fim de testar e aprimorar suas técnicas numa prática conhecida como musha-shugyo. Estas práticas, consequentemente, serviam para promover suas próprias ryuha, as quais derivaram em outras escolas que se espalharam pelo país.
Na metade do período Tokugawa, com a solidificação do sistema de territórios, os senhores de cada uma destas regiões (han) competiam para empregar hábeis instrutores de artes marciais de várias ryuha. Eles procuravam os melhores instrutores para ensinar artes militares aos guerreiros que os serviam, o que eventualmente deu origem a algumas ryuha em localidades seguras. Alguns lordes proibiam as ryuha de se propagarem fora de seus territórios, fazendo destas propriedades exclusivas. O número de ryuha proliferou enormemente, e ao final do período Edo estimava-se a existência de 52 escolas de Kyujutsu, 718 escolas de Kenjutsu, 148 escolas de Sojutsu e 179 escolas de Jujutsu (algumas eram as mesmas escolas, porém com nomes diferentes). Muitas ryuha espraiaram-se pelo Japão, entretanto, um número de filiais, facções e imitações deixaram de funcionar, restando apenas seus nomes. A despeito das questões sobre linhagens autênticas, estima-se que em torno de 500 destas ryuha tradicionais ainda existam hoje em dia.
Como se pode observar no gráfico exposto, muitas das ryuha que sobreviveram até hoje, não necessariamente vieram ou permanecem na mesma localidade em que estão situadas atualmente. Por outro lado, existem algumas ryuha cujas sucessoras permaneceram no local de origem através das gerações. Destas, as mais famosas são a Kashima Shinto-ryu, Tenshin Shoden Katori Shinto-ryu, Jigen-ryu, Takenouchi-ryu, Ogasawara-ryu Kyubajutsu, Maniwa Nen-ryu, Taisha-ryu e Owari Yagyu Shinkage-ryu. As linhagens destas ryuha são genuínas, e são celebradas até os dias de hoje como sendo representativas das escolas tradicionais de artes marciais japonesas.

( Texto original de Nippon Kobudo Kyokai – Associação das Artes Marciais Tradicionais Japonesas – coletado de The Spirit of Budo)
Tradução: Daniele Probstner. Edição Final: Walter Amorim Sensei

Mapa em alta resolução

As Sete Verdades Do Bambu

Depois de uma grande tempestade, o menino que estava passando férias na casa do seu avô, o chamou para a varanda e falou:

Vovô, corre aqui !

Me explica como esta figueira, árvore frondosa e imensa, que precisava de quatro homens para abraçar seu tronco se quebrou, caiu com vento e com chuva, e…

…este bambu tão fraco continua de pé ?

Filho, o bambu permanece em pé porque teve a humildade de se curvar na hora da tempestade. A figueira quis enfrentar o vento. O bambu nos ensina sete coisas. Se você tiver a grandeza e a humildade dele, vai experimentar o triunfo da paz em seu coração.

A primeira verdade que o bambu nos ensina, e a mais importante, é a humildade diante dos problemas, das dificuldades. Eu não me curvo diante do problema e da dificuldade, mas diante daquele, o único, o princípio da paz, aquele que me chama, que é o Senhor.

Segunda verdade: o bambu cria raízes profundas. É muito difícil arrancar um bambu, pois o que ele tem para cima ele tem para baixo também. Você precisa aprofundar a cada dia suas raízes em Deus na oração.

Terceira verdade: Você já viu um pé de bambu sòzinho? Apenas quando é novo, mas antes de crescer ele permite que nasça outros a seu lado (como no cooperativismo). Sabe que vai precisar deles. Eles estão sempre grudados uns nos outros, tanto que de longe parecem com uma árvore. Às vezes tentamos arrancar um bambu lá de dentro, cortamos e não conseguimos. Os animais mais frágeis vivem em bandos, para que desse modo se livrem dos predadores.

A quarta verdade que o bambu nos ensina é não criar galhos. Como tem a meta no alto e vive em moita, comunidade, o bambu não se permite criar galhos. Nós perdemos muito tempo na vida tentando proteger nossos galhos, coisas insignificantes que damos um valor inestimável. Para ganhar, é preciso perder tudo aquilo que nos impede de subirmos suavemente.

A quinta verdade é que o bambu é cheio de “nós” ( e não de eu’s ). Como ele é ôco, sabe que se crescesse sem nós seria muito fraco. Os nós são os problemas e as dificuldades que superamos. Os nós são as pessoas que nos ajudam, aqueles que estão próximos e acabam sendo força nos momentos difíceis. Não devemos pedir a Deus que nos afaste dos problemas e dos sofrimentos. Eles são nossos melhores professores, se soubermos aprender com eles.

A sexta verdade é que o bambu é ôco, vazio de si mesmo. Enquanto não nos esvaziarmos de tudo aquilo que nos preenche, que rouba nosso tempo, que tira nossa paz, não seremos felizes. Ser ôco significa estar pronto para ser cheio do Espírito Santo.

Por fim, a sétima lição que o bambu nos dá é exatamente o título do livro: ele só cresce para o alto. Ele busca as coisas do Alto. Essa é a sua meta.

Padre Léo – Livro “Buscando as coisas do Alto

Saito Sensei

No meio dos bosques de Iwama ecoavam gritos (kiai) do treino de Ueshiba O’Sensei. Os aldeões evitavam seguir os caminhos que atravessavam o bosque temendo os ruídos de combate. Em 1946, o jovem Saito aventura-se a ir ao Dojo e pede licença para assistir a um treino. No final, O’Sensei convida-o a atacá-lo. Apesar do seu conhecimento de Judo, Karate e Kendo, o jovem é projetado ou imobilizado em cada ataque.
A partir desse dia torna-se aluno de Ueshiba O’Sensei, assistindo e contribuindo para o nascimento do Aikido. Passou a viver no Dojo e serviu com extraordinária dedicação o Fundador até à morte deste. Tal é a devoção para com o Mestre, que no próprio dia do seu casamento acompanha O’Sensei deixando a sua esposa em casa.
Em 1969, morre em Tóquio o Grande Mestre com a cabeça pousada nas mãos de Saito Sensei, que o acompanhou até ao último instante. Por vontade do seu único mestre, Saito Sensei torna-se reitor da escola de Iwama, conhecida como Aiki-Shuren Dojo, onde viveu a ensinar os princípios filosóficos e técnicos originários e a codificar as técnicas de seu mestre.
Agricultor, continuou a sua vida como a viveu com seu mestre durante 23 anos: conjugando o trabalho da terra com a prática diária do Aikido.

Sentido e nível dos DANs de AIKIDO ( 1º ao 8º)

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS PERSPECTIVAS TÉCNICAS, MORAIS E ESPIRITUAIS DO AIKIDO

SHODAN
SHO é o início, o que começa.
O corpo começa enfim a responder aos comandos e a reproduzir as formas técnicas. Começa-se a ter idéia do que é o Aikido. É necessário então esforçar-se para praticar ou demonstrar, lentamente se necessário, mas unindo-se a precisão e a exatidão.

NIDAN
Ao Trabalho do 1° Dan acrescenta-se rapidez e potência ao mesmo tempo que se demonstra maior determinação mental.
Isto se exprime no aluno pela sensação de ter progredido.
Os examinadores devem sentir este progresso constatando uma clareza na maneira de se apresentar e na condução do trabalho.

SANDAN
É o início da compreensão do Kokyu ryoku. A entrada na dimensão espiritual do Aikido. A delicadeza, a precisão e a eficácia técnicas começam a manifestar-se.
É então possível transmitir estas qualidades.

YONDAN
Neste nível tecnicamente avançado, começa-se a prever os princípios que regem as técnicas.
É possível conduzir mais precisamente os praticantes no caminho traçado pelo Fundador.

GODAN
A arte respeita os princípios e o espírito, começando a se separar da forma, não fica mais preso ao aspecto externo da técnica. Novas soluções técnicas aparecem em função das situações.

ROKUDAN
A técnica é brilhante, o movimento é fluido e potente. Deve impor-se como uma evidência àquele que o olha. A potência e a disponibilidade físicas, bem como a pureza mental unem-se sem ambiguidade no movimento e exprimem-se também na vida diária.

NANADAN
O Ser desembaraça-se das suas ocultações e aparece sob a sua verdadeira natureza; manifesta seu verdadeiro eu. Livre de qualquer fixação, prova a alegria de viver aqui e agora.

HACHIDAN
Para além da vida e a morte o espírito claro é aberto, capaz de unificar os contrários, sem inimigo, ele não briga. Sem combate, sem inimigo, é o vencedor eterno.
Sem obstáculo é livre, livre na sua liberdade.
O Sensei dizia “Em face do inimigo basta que eu me mantenha de pé sem nada mais”.
A sua visão engloba e harmoniza a totalidade. Mas nada pára por aí. Mesmo a água mais pura pode apodrecer numa lagoa; não se deve jamais esquecer o espírito do iniciante que realiza o seu primeiro passo.

C.S.G.A/FFAAA ( traduzido por Claude Walla Sensei)

A vida é um rio – Paulo Roberto Gaefke

“*Liberdade significa responsabilidade, é por isso que tanta gente tem medo
dela*.”
(*George Bernard Shaw*)

Imagine que a vida é um rio, que de um lado da margem está você e do outro,
os seus sonhos.
Muitas pessoas conseguem enxergar facilmente a margem do outro lado do rio
porque colocam seus sonhos em local de fácil alcance, onde podem avistar
sempre. Outros no entanto, colocam seus sonhos tão longe de suas vistas,
desejam coisas tão malucas, que nem com o binóculo mais potente conseguem
enxergar o outro lado.

Para chegar aos sonhos, a vida nos oferece um barco chamado “esperança”
com dois remos. Um dos remos chama-se “fé”, a outra “ação”. Muitos possuem tanta
fé que usam apenas esse remo para alcançar seus objetivos e o barco da
esperança não sai do lugar, fica rodando em volta sem direção e cada vez
mais longe do destino.

Outros, ansiosos e truculentos, acreditando em suas forças, pegam apenas
o remo “ação” e também não sem do lugar, remam, remam e remam até ficarem
cansados e desistirem dos seus sonhos por julgarem impossíveis atravessarem
o rio da vida. Normalmente, têm sempre uma desculpa para seu fracasso, e
quase sempre é culpa de outras pessoas ou das condições do Universo.

Aqueles que são humildes o bastante para aprender a lição, entram no barco
da esperança e pegam os dois remos, unem a fé com a ação e atravessam o
rio várias vezes na sua vida, porque aprenderam que não existe conquista apenas
pela força e nem vitória apenas com a fé.

Pegue seu barco (esperança), junte os remos (fé + ação) e atravesse o rio da vida com mais tranqüilidade. Eu, acredito em você!