Conheça bem o seu inimigo!

Aspectos Técnicos da Arte

Existe muita controvérsia no meio do Aikido sobre como enfrentar a velocidade de ataque de um karateka. Como você prepara os seus estudantes para enfrentarem estes ataques? Entrevistando Karl Geis – por David Russell- (Esta entrevista foi conduzida por e-mail, durante um período de 2 semanas. O texto foi escrito por Karl Geis. As perguntas elaboradas por David Russell. O artigo foi revisado por Nicholas Lowry e apareceu, originalmente, no Aikido Journal on Line). RUSSELL: Existe muita controvérsia no meio do Aikido sobre como enfrentar a velocidade de ataque de um karateka. Como você prepara os seus estudantes para enfrentarem estes ataques? KARL GEIS: Eu creio que um bom começo está em definir o que é um artista marcial. Existem basicamente 3 formas de nos defendermos de um ataque e todas três são eficientes se forem individualmente usadas como originalmente concebidas. Temos a possibilidade de força contra força, como no Karate, no boxe, no Taekwondo e em outras artes traumáticas. Uma Segunda forma está nas artes corpo-a-corpo, como o Judo, a Luta Livre, etc…Por último, temos as artes de esquiva, como o Aikido e algumas formas de Jujutsu, etc…Percebemos que as três artes são mutuamente excludentes. Por exemplo, é dificil se agarrar e bater ao mesmo tempo. É difícil se esquivar e se agarrar ao mesmo tempo, assim como é difícil bater e se esquivar ao mesmo tempo. Com base nos princípios acima, a minha definição de um artista marcial é a de uma pessoa que estuda exclusivamente uma destas três idéias. Ao estudarmos uma arte desta forma, o nosso subsconsciente aprende rapidamente como reagir a praticamente todas as formas possíveis de ataque. Se misturarmos estas artes, contudo, coisas estranhas acontecem. Por exemplo, se o nosso subsconsciente aprendeu a bloquear com a mão esquerda e bater com a direita ao defender um soco de direita, a nossa resposta será instantânea. Contudo, se tivermos estudado como evitar o soco, o nosso subconsciente se confunde e retorna a decisão para a mente consciente. A diferença está em que o subconsciente toma uma decisão em 1/25 de segundo, enquanto que a mente consciente toma a mesma decisão em ¾ de segundo, ou seja, aproximadamente 18 vezes mais rápida. Todo e qualquer artista marcial que verdadeiramente internalizou a sua arte não cometerá o erro de ser seduzido pelo jogo do adversário. Isto é, se lidarmos com um soco de acordo com um artista marcial, estamos perdidos. Se, contudo, lidarmos com o mesmo soco, sendo inconveniente com o nosso atacante…Na minha opinião, a melhor forma de conseguir isto é não nos colocando onde os artistas marciais costumam se colocar. O atacante, desta forma, se verá forçado a enfrentar uma situação desconhecida para ele e terá que ajustar apropriadamente a sua estratégia. De qualquer jeito, a pessoa que está usando o movimento como uma parte da sua defesa não se fere e, em geral, tem bastante tempo para mudar o seu posicionamento. É um fato notório que qualquer um que ataque um karateka, um boxeador, um lutador de Taekwondo ou de qualquer outra arte traumática está assumindo um risco e pode se dar mal. Contudo, quando examinamos as fraquezas, assim como as forças, de qualquer arte traumática, descobrimos muitos furos na armadura. Se usarmos a nossa arte sobre estes “buracos” de fraqueza, descobriremos que podemos controlar a situação com uma grande facilidade. Quais são as fraquezas das artes traumáticas e como podemos utilizar estas fraquezas contra elas? As lutas traumáticas treinam sob certas regras. Uma vez que o modo sob o qual treinamos ensina ao nosso subsconsciente como reagir em uma “luta real”, tais regras programam os seus lutadores de uma maneira que nos permite explorar as suas fraquezas. Em primeiro lugar, evite lutar próximo – faça com que ele venha à sua procura! As regras das artes traumáticas exigem que os oponentes se enfrentem. Esta é uma regra necessária ou não haverá luta porque um adversário evasivo é difícil, se não impossível, de atingir sem um enorme esforço da parte do atacante. É por isto que um árbitro é necessário ou não haverá luta. Devemos ficar atentos a este esforço extraordinário e contra-atacar quando o oponente estiver concentrado em um ataque. Em segundo lugar, cubra as suas mãos! As regras de uma luta traumática não permitem que se segure as maõs do adversário ou qualquer parte do seu corpo, porque, quando assim fazemos, o boxe acaba e a luta livre começa. De um modo geral, lutadores traumáticos, como uma modalidade, não lutam agarrados. Também se exige um árbitro para que os lutadores não fiquem em “clinch”. Qualquer lutador traumático de valor lhe dirá que é virtualmente impossível evitar que um oponente hábil consiga um “clinch”. Em terceiro lugar, mantenha-se em movimento em direção a zonas seguras. Aprendemos, na década de 60, que os artistas traumáticos não se saiam bem contra os boxeadores e as regras do Karate Profissional e do Kickboxing foram mudadas, exigindo que um lutador chutasse um determinado número de vezes por round. Esta foi uma regra necessária para manter o valor do esporte e da sua imagem. Em quarto lugar, faça com que ele se mova! Se você observar um artista traumático executando um kata, você ficará impressionado com a sua velocidade. No entanto, ao assistirmos uma luta, fica dificil saber qual o estilo ou modalidade do lutador porque, adivinhe!, você não vê a posição do cavalo, etc…Todos acabam se tornando um kickboxing normal. Porque ? Porque todas as artes traumáticas eficientes no ringue devem operar sob os mesmos princípios e regras e se manterem usando as mesmas técnicas, não importa como se chamem. Socos e pontapés extremamente rápidos são possíveis a partir de uma base estacionária, mas esta velocidade cai drasticamente quando o atacante precisa se mover, ao mesmo tempo em que tenta chutar ou socar um alvo móvel. Tudo se torna muito difícil e muito, muito, arriscado. Em quinto lugar, nunca se agarre com um especialista nesta área. Há um grande número de grandes lutadores traumáticos que não tem o menor interesse em se envolver com um especialista em luta agarrada no solo. Este é um ponto que, realmente, foi estabelecido pelos irmãos Gracie. Em sexto lugar, empurre o rosto do oponente com a sua palma da mão! Em geral, os lutadores traumáticos não estão acostumados com ataques com a palma da mão. É bem entendido que não costumamos empurrar coisas com os nós dos nossos dedos. E os boxeadores provavelmente deixariam de usar tanto os socos, se pudessem bater com a palma das suas mãos. O ser humano gera muito mais força, batendo com a palma da mão, sempre que possível, que usando os punhos ou os nós dos dedos. Em sétimo lugar, aprenda instintivamente a distância necessária para evitar um soco ! Um soco ou um pontapé são instrumentos muito delicados, os quais tem, normalmente, pouca penetração e exigem distâncias curtas. Isto, é claro, é a base para eficiência das artes traumáticas. O uso dos punhos limita, necessariamente, a distância de penetração efetiva de um soco. Em oitavo lugar, aprenda a atacar sempre em movimento! O uso de pontapés contra um oponente que não inicia o primeiro ataque é muito difícil. Quem quer usar um pontapé, não pode se movimentar muito ao mesmo tempo e, portanto, precisa parar a cada instante em que chuta e um alvo continuamente em movimento frustará a maior parte das suas tentativas de chutar. Por outro lado, se você está se movendo, enquanto ele soca ou chuta, você terá muitas oportunidades para atacar. Em nono lugar, mesmo o aikidoka com pouca prática, além de treinar constantemente movimentos de esquiva, tem também a opção de chutar (embora muita gente ignore isto). No judo, nós temos o ATEMIWAZA (técnicas traumáticas), embora estas técnicas não sejam executadas em um contexto de Força contra Força. Elas são mantidas como uma reserva, para serem usadas quando o adversário ataca com um chute e se encontra em um momento rápido de desequilíbrio, às vezes em um pé só
. O Atemiwaza de Judo é uma forma “suave” de chutar ou socar, compatível com os princípios elementares do Aikido, isto é, com a nossa ênfase em precisão e oportunidade, em oposição à força e deve ser usada apenas em caso de fraqueza técnica profunda. Estas técnicas suaves são muito eficientes quando usadas contra partes do tornozelo, joelho, canela ou coxa. Usadas contra um atacante, em momentos específicos do ataque, podem provocar consequências catastróficas, de imediato ou a longo prazo. Em geral, as regras da maior parte das lutas traumáticas não permitem ataques abaixo da linha da cintura. Desta forma, o seu treinamento de defesas contra este tipo de ataque é, geralmente, deficiente. Todos os meus mestres sempre me ensinaram que o que você pratica é o que você fará durante uma competição. Existem outras armas que você pode empregar e que o tornarão um alvo muito improvável de ser escolhido. Prefiro não divulgar estas idéias por razões éticas. Em outras palavras, não é que não tenhamos algumas armas de longa distância. Apenas as usamos de uma forma diferente e em oportunidades diferentes dos lutadores traumático; quando estamos em uma zona de segurança; e quando podemos usá-las em conjunto com a movimentação de esquiva compatível com o nosso estudo do Aikido. Todos percebem que uma arte traumática não pode ser desenvolvida sem as restrições acima citadas. Todas aquelas proibições devem ser obedecidas na prática ou no treinamento ou a competição se transformaria em uma luta-livre ou num vale-tudo, etc…Infelizmente, praticar continuamente sob tais condições, evitando as técnicas perigosas de uma determinada arte, leva invariavelmente o praticante a se sentir seguro quando o caso é bem outro. DAVID RUSSELL : qual o contexto filosófico que você sente como importante quando você lida com outras artes? KARL GEIS: ÉTICA: Ser sincero consigo mesmo. Nunca devemos subestimar a arte do outro. Nunca me esqueço que, ao descobrir uma fraqueza em outra arte, eu descubro, ao mesmo tempo, uma força. As pessoas tem uma tendência a desvalorizar a outra arte, sem uma análise mais criteriosa. Proceder desta forma em um combate real é uma falha imperdoável. Todos os grandes generais da História sempre alertaram para o mesmo princípio básico: CONHEÇA BEM O SEU INIMIGO! Nunca presuma, sem antes testar a sua teoria. Existem muitas técnicas que, teoricamente, são muito poderosas mas, na maioria das vezes, elas são inúteis. Lutadores de Jiu-jitsu nem sempre se saem bem contra lutadores de judo. No entanto, lutadores de Jiu-Jitsu praticam muitas técnicas perigosas, enquanto que os judoka só treinam as técnicas seguras. Uma técnica perigosa tem que ser treinada com extrema precaução. Por outro lado, uma técnica segura pode ser treinada até que a sua execução se torne super-rápida e muito mais eficiente, com a vantagem adicional de, teoricamente, não machucar ninguém permanentemente.

Comece no “vazio”

Contribuição de Chris Colón

Tradução Jaqueline Sá Freire – Hikari Dojo

Já foi dito que antes de poder encher seu copo, você deve esvazia-lo primeiro. Este, em alguns aspectos, foi o tema central de Hiroshi Ikeda Shihan durante sua visita ao Columbus Aikikai de 3 a 5 de Outubro de 2003.

Ikeda Sensei enfocou uma série de temas que se inter-relacionavam em suas aulas, e eu tentei reunir o espírito destes temas abaixo. O Sensei enfatizou o quanto o Aikido envolve fazer varias coisas ao mesmo tempo, e, por isso, falar sobre as coisas individuais que um praticante de Aikido deve fazer em elementos simples não é fácil. Mesmo assim, vou tentar fazer o melhor possível, apresentando o tema abrangente de EVITAR LUTAR CONTRA SEU PARCEIRO

EVITANDO LUTAS

Para evitar uma luta, estas são as cinco coisas que você deve fazer:

·  Pratique reconhecer o momento certo. Quando você age no momento certo, as técnicas são fáceis. Quando você está atrasado, as técnicas são difíceis.

·  Encontre o lugar mais fácil. Todos têm um lugar para se mover, que faz com que o movimento seja fácil. Isso é difícil de ser ensinado, porque cada pessoa tem que aprender para onde se mover de acordo com seus corpos. Isso requer um estudo paciente.

·   Relaxe. O relaxamento melhora a velocidade, a mobilidade, a eficiência e a sensibilidade. Isso também atrai seu parceiro para seu movimento durante a técnica.

·  Mantenha a mente aberta. Relaxar a mente também ajuda a relaxar o corpo. Quando sua mente está vazia de preconceitos, é mais fácil ver o que está acontecendo e entender qual é a resposta necessária.

·  Seja primeiro um principiante, depois se torne um expert. Entenda que todos devem se aproximar de cada momento como um principiante, para depois experimentar e se divertir com esse momento – ou mesmo falhar e aprender o que funciona e o que não funciona. A maestria vem com o tempo e o esforço. Eventualmente, você fará todas essas coisas que se inter-relacionam de uma só vez. Entretanto, o Sensei falou sobre cada um desses cinco assuntos em detalhes.

Pratique reconhecer o momento certo.

As artes marciais lidam com lutas. O momento certo é se mover desde o inicio dos exercícios até o momento da luta.

A diferença entre você atingir seu parceiro ou ser atingido por ele é se mover no momento certo.

Não espere que seu parceiro o atinja. Vá em frente e avance para seu parceiro até o ponto de contato, e encontre o lugar mais fácil para desequilibrá-lo.

Encontre o lugar mais fácil

Encontrar o lugar mais fácil para fazer a técnica é uma das coisas mais difíceis de ensinar no Aikido. O corpo de cada pessoa é diferente, então você deve descobrir em que ponto fazer a técnica fica mais fácil para seu corpo. Isso significa que você deve ter a iniciativa de descobrir esses pontos.

Descobrir o “lugar mais fácil” quanto ao ponto de contato é o que realmente desequilibra seu parceiro e o que determina como o movimento vai acontecer. A pegada ou o golpe determinam para onde seu parceiro vai. Se você não encontra o “lugar mais fácil” durante a pegada ou o golpe, você não vai desequilibrar seu parceiro.

No “lugar mais fácil”, pequenas mudanças na sua postura poderão manter seu parceiro preso firmemente no lugar em que está acontecendo o movimento, e o impedirão de escapar.

Para os iniciantes, o “lugar mais fácil” para se mover é aonde lhes é ensinado, com movimentos largos. Com o tempo, entretanto, os alunos mais avançados devem tentar fazer movimentos menores, eficientes e relaxados, para conseguir achar o “lugar mais fácil”.

Relaxe

Como já foi dito, o relaxamento melhora a velocidade, a mobilidade, a eficiência e a sensibilidade. Em resumo, o relaxamento nos ajuda a estabelecer e a usar a conexão com nosso parceiro para nos tornarmos um só corpo. Somente com o relaxamento você consegue direcionar seu parceiro.

Nós relaxamos quando estamos confortáveis. Isso significa praticar até estarmos confortáveis com nossos movimentos, até que nosso corpo saiba bem o que está fazendo. Um cérebro inteligente é bom, mas um cérebro inteligente com um corpo inteligente (que sabe o que fazer) é muito melhor.

Movimentos rígidos fazem com que seu parceiro lute contra você. Se você relaxa, seu parceiro acha que tem o controle. Se ele não está confortável ou acha que perdeu o controle, ele pode soltar o contato que tem com você antes que você possa fazer a conexão.

Quando você está relaxado, e se move, sua conexão trás seu parceiro junto com você. Então você não move seu parceiro, simplesmente se move.

Sua força não vem de um esforço violento, ela vem do seu movimento giratório e seu peso.

Mantenha a mente aberta

Relaxar a mente ajuda a relaxar o corpo. Se sua mente está preocupada com seus pensamentos, isso interferirá com seus movimentos. Por exemplo, se você acha que precisa segurar seu parceiro depois de desequilibrá-lo, isso prenderá sua mão, que fica “presa” ao lugar que segurou. Essa mão já não está ajudando.

Mas, se sua mente está livre de preconceitos ( i.e. idéias preconcebidas) é mais provável que você consiga ver o que está acontecendo e o que precisa fazer para responder a um ataque. Assim, você se aproxima de seu parceiro com uma mente de principiante, mas sua resposta (que deve ser deliberada) contém sua experiência e sua compreensão.

Seja primeiro um principiante e depois um expert.

Ir com cuidado no inicio é muito bom para os principiantes, porque assim eles podem aprender a forma e treinar uma boa postura. Depois que a forma e a postura estejam estabelecidas, o aluno deve treinar para ficar relaxado mesmo quando o parceiro luta contra ele.

Os movimentos iniciais servem para estabelecer uma conexão, para tornar a operação mais fácil para o aluno. Com o tempo, o aluno deve tomar a iniciativa para tornar a operação mais realística e ao mesmo tempo manter-se relaxado, manter o fluxo do movimento e o controle.

Os iniciantes começam estendendo os braços em grandes movimentos dinâmicos. Isso é bom para principiantes e para aprender uma nova técnica, mas o aluno mais avançado deve sentir que seus movimentos se tornam mais controlados e mais focalizados no seu centro.

Cada nova técnica que você aprende exige que você seja um principiante, não importa o quão bom é seu Aikido. Não se preocupe com isso. Uma nova técnica é como um novo instrumento musical, e achar que você pode tocar violoncelo por ser um pianista é um absurdo. Comece do principio, aprenda o novo movimento, cometa erros, divirta-se, trabalhe com afinco, e a técnica se desenvolverá naturalmente.

Com o tempo, comece a iniciar sua resposta ativamente quando perceber o que seu parceiro está fazendo. Não espere que ele o segure – comece imediatamente para fazer o contato no momento e no lugar escolhidos por você.

Os alunos do Columbus Aikikai gostariam de agradecer a Ikeda Shihan e a todos os visitantes que compareceram ao seminário pelos bons momentos e pela fantástica experiência de aprendizado. Agradecemos especialmente aos que vieram de outros estados, da Pennsylvania, Indiana, e até de North Carolina. Agradecemos pelo apoio e o tempo dedicado que tornaram esse evento um sucesso.

Aikido e Armas: A ultima palavra?

por Stanley Pranin

A discussão sobre a inclusão ou não do treinamento com armas dentro da prática do Aikido é bem grande e com freqüência temos oferecido no Aikido Journal um espaço para quem apóia ou não sua existência. Tenho observado e também participado destas discussões e neste momento desejo propor alguns pontos os quais eu não recordo de serem mencionados anteriormente.Como primeiro ponto, penso que um bom começo seria revisar o que Morihei Ueshiba mencionou a respeito das armas. Sem necessidade de cair em uma grande argumentação histórica a respeito, vou ressaltar alguns pontos. Como temos documentado de forma exaustiva nos últimos dez anos, a maior influência técnica no Aikido é o Daito-ryu aikijujutsu. O mestre de Ueshiba, Sokaku Takeda, era um grande esgrimista e um experto no manejo de armas que passou muitos de seus anos de formação estudando uma grande variedade de armas. Takeda tomou o Jujutsu como fundamento essencial na instrução de suas técnicas, especialmente nos anos nos quais portar espadas estava proibido por lei. O bujutsu de Takeda era inclusivo por natureza e de nenhuma maneira se pode considerar limitado exclusivamente às técnicas de Jujutsu. As técnicas do Daito Ryu estão concebidas sobre os princípios da espada.
Outro fato: de 1942 pelo menos até o final dos anos 50, Morihei Ueshiba passou uma grande quantidade de tempo em seu dojo campestre de Iwama experimentando com o Aiki ken e o Aiki jo. Um dos seus principais alunos desta época , Morihiro Saito foi uma testemunha de primeira mão neste processo e o corpo que alberga o conhecimento que surgiu deste esforço nesta parte da vida pode ser visto hoje em dia no Aikido de Saito Sensei . Uma das críticas contra esta afirmação diz algo assim “O-Sensei simplemente experimentava com as armas na realidade nunca desenvolveu este aspecto do treinamento como uma disciplina completa como seu taijitsu ou as técnicas sem armas”. O problema deste ponto de vista é que o período referido é de cerca de 20 anos. Isto, seria suficiente para um artista marcial
qualificado como Ueshiba para integrar este conhecimento em seu
reinamento. Recorde, também, que em 1937 o Fundador tomou ações para ingressar nas artes clássicas baseadas em armas como o Kashima Shinto-ryu, em seu dojo na Kobukan. Inclusive, se encontra seu juramento de sangue nos arquivos desta escola. Posteriormente, ressaltarei que muitos dos termos técnicos do Aikido se derivam do kenjutsu. Palavras como tegatana, shomenuchi, yokomenuchi, e shihonage claramente refletem um conhecimento da esgrima. Assim mesmo, uma grande quantidade das técnicas que caracterizam o Aikido, como iriminage, se baseiam em movimentos de entradas claras com a espada. De fato o conceito de irimi ou entrar provêem do manejo do sabre. Para ser claro, o estudo e a prática de armas foi una paixão de muitos anos do fundador. Aqueles que sugerirem o contrário são ignorantes da historia do Aikido ou tem algum outro interesse para suas afirmações. De toda forma, é um fato histórico que o fundador do Aikido proibiu a prática do ken e do jo no Aikikai Hombu Dojo com exceção das aulas do Saito Sensei.
Mais que um fator revelador, poderei perguntar me: Deveria ser surpreendente que o Hombu Dojo de hoje tem afirmado publicamente – me refiro as afirmações publicadas do Dojo-cho Moriteru Ueshiba e o 8º dan Masatake Fujita – nas quais se diz que o treinamento com armas não é parte do aikido?. A resposta à pergunta sobre se o aikido inclui ou não o treinamento de armas depende da definição da autoridade a quem você consulte. Não existe um acordo universalmente aceito sobre o que o aikido é técnica ou filosoficamente. Entretanto, o praticante médio observa a seu instrutor imediato como a autoridade final com respeito à arte. Inclusive, uma organização não pode impor seu ponto de vista no conteúdo e nível de treinamento de um dojo a não ser que se adote um rígido esquema de regulamento. Esta aproximação inibe de maneira séria o crescimento e influencia do grupo como já se demonstraram várias vezes.Como exemplo, dentro da organização do Aikikai Hombu – cuja posição oficial, como vimos, exclui o treinamento de armas – professores de renome como Shoji Nishio, Nobuyoshi Tamura, Kazuo Chiba, e Mitsunari Kanai entre muitos outros, incorporam iaido em seu currículo. Nenhuma ação foi tomada para prevenir lhes de fazer isto. Da minha opinião, o debate se concentra em um elemento semântico. No haverá uma resposta satisfatória para a pergunta que relaciona aikido e armas que convença todo mundo.Todas as argumentações no mundo acerca das virtudes e vícios neste tipo de treinamento, não mudaram este fator. Aqueles em que seus professores promovem o treinamento, ou quem, de maneira independente chega a concluir que as armas são um complemento importante ao treinamento no taijutsu, procederão de acordo com suas convicções. Aqueles que foram persuadidos sobre o perigo e como é inadequado frente ao progresso no taijutsu, rechaçaram as armas e herdaram um grupo de prejuízos que lhes servirão para justificar suas posições.É esta a última palavra sobre isto?, duvido, porem espero haver contribuído com umas novas perspectivas no que diz respeito ao debate.

POLINDO O ESPELHO, QUEBRANDO PEDRAS

Por DENNIS HOOKER
Trad. Jaqueline Sá Freire (Hikari Dojo- Instituto Takemussu Rio de Janeiro)

Há vários anos eu passei por uma cirurgia grande, relacionada a uma doença crônica. Tive que tomar medicamentos que me fizeram ganhar 50 lbs de peso em dois meses. Meu corpo não respondia a comandos normais. Fiquei severamente deprimido, pronto a desistir da vida. Meus alunos, alguns dos quais eram mais velhos que eu, compreenderam o perigo, e se juntaram para me dar uma passagem de avião para um seminário que estava sendo dado por meu sensei. Eles me levaram para a outra cidade e para o Dojo (um deles ficou comigo durante o vôo). Alguém me ajudou a me vestir e me levou ao tatame. Eu escutei e observei enquanto o sensei ensinava.

Por várias vezes, jovens aikidocas se aproximaram e me convidaram para treinar, mas eu educadamente recusava. E por várias vezes ouvi pessoas falando sobre mim. “Se ele não quer treinar”- eles diziam – “ele deveria sair do tatame. Quem esse cara pensa que é?” No final do seminário eu só conseguia sorrir dessas palavras. Eu sabia porque estava lá, e sabia o quanto ganhei.

Compaixão, amor e compreensão nos ajudam muito, especialmente se não sabemos o que está acontecendo a nossa volta. A qualquer momento, sem saber, podemos estar presenciando uma luta de vida ou morte. Nestes momentos, uma palavra gentil, um toque ou um sinal de compaixão podem ser a manifestação do valor marcial que é a chave da vitória de algumas pessoas.

Tendo em vista a condição física, alguns de nós podem estar treinando ou “no vale” ou “na montanha”. Não temos o luxo de treinar em um platô.

Estamos no vale quando estamos com o físico em um nível baixo, quando não temos os atributos físicos necessários para o treinamento vigoroso definido pelo praticante de artes marciais “normal”. Quando estamos no vale, podemos não ser capazes de fazer sobre o tatame o que outros fazem, mas ainda podemos “polir o espelho” trabalhando nossa natureza interior.

Às vezes o professor preparará uma aula para dar ao aluno a oportunidade de polir o espelho. Por exemplo, o professor pode enfocar os detalhes do ataque – a postura, a extensão da energia, como manter o centro. Ou o professor pode focalizar detalhes da técnica, instruindo os alunos a usar a velocidade dentro do possível para manter a maneira correta dentro da habilidade física de cada um. Estudando ataque e defesa desta maneira, podemos aprender a técnica correta. Podemos começa a polir o espelho do Aikido dentro de nós. Podemos trabalhar na exatidão da técnica até que a realidade da técnica seja refletida em nossos corações e corpos, em nossos movimentos, e na harmonia dos relacionamentos com nossos parceiros.

Com freqüência, quando os professores ensinam dessa maneira, eu ouço os jovens leões rugirem. “Não é um treinamento realista!” eles dizem. Mas ao mesmo tempo, vejo alguns antigos guerreiros se iluminando e tendo a oportunidade de polirem o espelho. Este tipo de treinamento ajudou alguns de nós a atravessar o vale, ajudando a preparar o corpo, mente e espírito para a subida de volta à montanha.

No vale, polimos o espelho, mas na montanha, quebramos a pedra – quebramos as pontas ásperas dos egos que ficam como pedras pontudas no centro de nosso ser, causando dor. Quebrar a pedra é trabalhar duro e rápido com nossas mentes fixadas na tarefa que se apresenta.

Podemos quebrar a pedra com segurança, desde que tenhamos passado tempo suficiente polindo o espelho. Como uke e nage, trabalhamos juntos tirando as pontas ásperas. Eu me dou a você e você se dá a mim em total confiança. Eu lhe ajudo neste processo, você me ajuda, e ambos nos tornamos menos ásperos, mais felizes e melhores pelo esforço.

Continuamos a praticar polir o espelho e quebrar a pedra até que o espelho de nosso espírito seja um reflexo perfeito da verdadeira natureza, e a superfície da pedra esteja lisa como o espelho. Só então estamos em harmonia com nós mesmos e com o ambiente.

Então não se aborreça se a prática é dura e rápida, ou se é lenta e exata. Quando a prática parece errada e desconfortável, lembre-se que todos os tipos de treinamento têm uma razão de ser, e se pergunte qual é o verdadeiro valor deste treinamento.

Algumas pessoas que tem muita força física apenas quebram a pedra. Eles se esquecem de polir o espelho, ou não vêem utilidade nisso. Outros apenas dão polimento no espelho, e não consideram importante quebrar a pedra. Eu digo que se deve polir e quebrar com toda a sua energia. Depois você pode perder a capacidade física para quebrar ou a paciência espiritual para polir.

Se pessoas com problemas físicos chegam ao dojo, não pense que eles são menos hábeis que os outros alunos. Você pode descobrir que eles têm na verdade muita força e espírito.Eu tive alunos que não tinham membros e alunos com diversas doenças. Pela minha experiência, apesar deles poderem apenas aprender poucas técnicas, eles entendiam realmente o valor do que aprendiam. Eles compreendem o conceito de polir o espelho e quebrar a pedra, e sabem quando fazer cada uma destas coisas.

Um amigo meu que é professor de Karate tem um tornozelo artificial e pinos de aço no lugar de ossos da perna. Seu joelho tem cicatrizes da cirurgia. Quando o vejo na aula de Aikido sentado em seiza, eu sei que ele paga um preço muito mais alto que os outros alunos no tatame. Como muitos que encontramos no tatame de Aikido hoje, ele passou a juventude quebrando a pedra. Hoje, com humildade, usando a faixa branca, ele vem ao treino de Aikido para polir o espelho. Então eu aviso aos jovens leões que demonstram intolerância com os que não são tão ágeis ou atléticos: quando você pensar que está treinando com um parceiro ruim, você pode de fato ter um guerreiro na sua frente.

Professores: se vocês se interessam, aceitem o desafio de ensinar estas pessoas excepcionais. Pelo que eu entendo, O’Sensei desenvolveu o Aikido para todos, não apenas para que são fisicamente corretos.