Diferença entre desporto e artes marciais

O desporto e as artes marciais são duas formas de conhecimento que apresentam algumas diferenças na sua essência. Saiba quais são as principais diferenças entre desporto e artes marciais e conheça os objetivos e as motivações de cada um.

O que é arte marcial primeiramente…

Inicialmente, a prática das artes marciais passava pela aquisição dos melhores métodos de combate para serem utilizados em pleno campo de batalha e era também uma forma de autodefesa contra militares, assassinos ou ladrões.

Estas são as artes marciais conhecidas no Japão por koryu.

A partir de certo momento elas foram idealizadas para fins artísticos e formativos, onde seus praticantes buscavam obter desenvolvimento corporal, espiritual, ético, moral e intelectual.

Esse processo pôde ser observado no Japão, em meados do século XIX durante a Era Meiji e influenciado uma transformação das artes marciais. Veremos que com o processo de modernização da Era Meiji, os samurais perderam o prestígio e a função que desfrutavam na sociedade japonesa tradicional. Em parte foram assimilados à nova burocracia e estrutura estatal, mas em sua grande maioria foram substituídos pelo exército tendo em vista o monopólio do uso legítimo da força pelo Estado, instauração do capitalismo no país e a centralização do poder nas mãos do imperador.

No início do século XX,  mais ainda, as artes marciais de uma forma geral mudaram radicalmente os seus fundamentos e passaram a ter uma presença mais espiritual e introspetiva na mente de todos os seus praticantes.

O termo “Do” que está presente em várias disciplinas marciais, como o Judo, Karate-Do, Taekwondo, Aikido, Kendo, entre outras, significa arte e método e é por isso que todas as modalidades marciais são uma referência no desporto mundial, pois cultivam a ordem e um método de ensino disciplinado dos seus elementos.

A prática das artes marciais e do desporto

Ao contrário do que se difunde hoje, nas escolas e academias; na maioria das Artes Marciais, ou pelo menos as orientais, não oferecem um perfil meramente desportivo.  As vezes por aspectos de marketing ,sistemas de lutas desportivas atuais, que nunca tiveram, ou já não tem, o desenvolvimento integral do conceito de artes marciais original ,  seja arte militar (koryu) ou de desenvolvimento do praticante(Gendai Budo), se conclama assim. Embora não seja. Podemos dizer que temos lutas que são sistema somente de defesa pessoal, como krav maga, outros meramente desportivos, como boxe.  Alguns cultivam o lado desportivo e de defesa pessoal concomitantemente, embora não outros aspectos das artes marciais.

Por outro lado, a prática do desporto tem como objetivo último a competição entre os seus praticantes. Trata-se de uma filosofia que tem como intenção trabalhar das capacidades e habilidades individuais, de modo a que a vitória seja sempre alcançada da forma mais justa e honesta possível.

As principais diferenças entre o desporto e as artes marciais

Existem várias diferenças que afastam o desporto das artes marciais. Das mais importantes, evidenciam-se as seguintes:

Os objetivos

Um dos objetivos das artes marciais passa por aprender/praticar as técnicas e as habilidades de combate necessárias para que a preparação e a defesa pessoal nunca fiquem comprometidas. A sua finalidade revela todo um caminho que um praticante deve percorrer, pois é essa a maneira correta de melhorar a sua condição física e espiritual.

Por outro lado, no desporto, um dos objetivos principais passa pela realização de todo o tipo de treinos, de modo a conseguirem vencer os outros praticantes. A vitória é um dos objetivos máximos a conquistar.

As regras

Atualmente, as artes marciais e o desporto estão interligados entre si pelas regras desportivas que os seus praticantes seguem e respeitam. Elas são definidas para a segurança de todos e é por isso que as competições são divididas por sexo, idade, peso e classes, de modo a que sejam o mais equilibradas possível. Por exemplo, a competição de Taekwondo não permite que sejam aplicados socos na cabeça, assim como outras artes marciais têm medidas específicas que visam proteger a integridade física dos seus praticantes.

No entanto, a existência das regras distingue um combate de competição de uma luta pela própria vida. A prática do desporto é justa e equilibrada, contudo, quando se trata de lutar pela vida, a justiça deixa de ter um valor absoluto e todos querem ter uma vantagem em relação aos demais. Quando se trata da defesa pessoal, a ameaça não surge necessariamente do mesmo sexo, peso ou classe e as artes marciais aqui são treinadas para serem aplicadas como medidas de prevenção contra todos. As artes marciais trabalham a sobrevivência e estão dispostas a cumprir as “regras de rua”, isto é a inexistência de regras, ao passo que no desporto, existem regras que todos têm obrigatoriamente de cumprir.

Assim sendo, as artes marciais incluem vários exercícios que se destinam a manter a segurança de todos os indivíduos, mas é sempre uma simulação de um combate real.  De acordo com a arte, seu período histórico e desenvolvimento, ela dará mais enfase as praticas militares mais letais, e tenderão a ser mais efetivas para combate real, ou ao caminho de desenvolvimento do indivíduo. Algumas somente esse segundo ponto, caso do Iaido por exemplo. As artes marciais  Japonesas do Gendai Budo, como via de regra usam o termo Do – caminho em sua denominação.  Mas ainda não são como o desporto, pois neste, permite-se que um praticante tire o melhor proveito das regras, sem nunca ter de se preocupar com o que poderia acontecer se estas fossem diferentes.

A formação moral

Um dos métodos principais das artes marciais passa pelo desenvolvimento das capacidades físicas de um praticante e um bom treino inclui o respeito, a honra, a integridade e o cumprimento do código de ética e moral dessa modalidade.

Por exemplo, no código moral de ética do Aikido, surge a ideia de que esta modalidade é apenas para ser utilizada como autodefesa e essa é uma máxima seguida e respeitada por todos.

O desporto nem sempre respeita a formação moral nas suas modalidades, ao passo que as artes marciais fazem-no por natureza.

A seleção dos praticantes

No desporto, se alguém quiser entrar como titular numa determinada equipe, é preciso que seja escolhido para começar a jogar com os demais. Nas artes marciais, se alguém tiver vontade e interesse começa logo a “jogar” e a aprender com os outros, sem necessitar de ser selecionado, pois todos têm as mesmas oportunidades.

As artes marciais refletem assim a existência de várias comunidades, onde os mais fracos são fortalecidos e não se escolhem apenas os melhores ou os mais aptos. No final, fortes ou fracos, são todos glorificados.

As classificações

A classificação geral no desporto é um ranking onde se contabiliza o número de vitórias e derrotas dos praticantes. Quantas mais vitórias tiverem, melhores desportistas serão. Nas artes marciais, a classificação geral está relacionada com o tempo, crescimento e desenvolvimento de cada um, pois a aprendizagem de uma arte marcial envolve uma longa caminhada e o cumprir de uma sucessão de etapas.

Não estamos entrando no mérito do que é melhor. Sistemas de defesa pessoal como Krav Maga são bons. Artes marciais são boas e práticas desportivas são boas. Cada uma com sua particularidade e adequadas ao que se destinam.

Tameshigiri

Tameshigiri (試し斬り,試し切り,试斩,试切) é a arte japonesa de corte de teste em alvo. O kanji literalmente significa ” teste de corte “( kun,yumi :ためしぎりtameshi giri). Esta prática foi popularizada no período Edo (século 17) para testar a qualidade das espadas japonesas e continua até os dias de hoje.

Origens

Durante o Edo período, apenas espadachins mais qualificados foram escolhidos para teste de espadas, de modo que a habilidade do espadachim não foi uma variável na forma como houve o corte da espada. Os materiais utilizados para testar espadas variou muito. Algumas substâncias foram wara (palha de arroz), Goza (a camada superior de tatami esteiras), bambu e folhas finas de aço.

Além disso, houve uma grande variedade de cortes utilizados em cadáveres; e criminosos condenados ocasionalmente, Desde o tabi-gata (corte do tornozelo) até o O-kesa (corte diagonal de ombro a anca oposta). Os nomes dos tipos de cortes em cadáveres mostra exatamente onde no corpo o corte foi feito. Espadas antigas ainda podem ser encontrados hoje que tem inscrições em sua nakago ( espiga ) que dizem coisas como, “cinco corpos com Ryu guruma (corte de quadril)”.

Além de cortes específicos feitos em cadáveres, foram os cortes normais de esgrima japonesa, ou seja, para baixo na diagonal (Kesa-giri), diagonal para cima (Kiri idade ou Gyaku-kesa), horizontal (Yoko ou Tsuihei), e em linha reta para baixo (Jodan -giri, Happonme, Makko-giri, Shinchoku-giri ou Dottan-giri). Estes cortes seriam então cortar nos cadáveres (ex:. Um espadachim faria um corte Jodan-giri em 3 corpos nos quadris A inscrição seria então “, três corpos Ryu guruma”).

Nos tempos modernos, a prática de tameshigiri tem vindo a concentrar-se em testar as habilidades do espadachim, e não a da espada. Assim, espadachins, por vezes, usam os termos Shito (试刀, teste de espada) e Shizan (试斩teste de corte, uma pronúncia alternativa dos caracteres para tameshigiri) para distinguir entre a prática histórica de espadas de teste e da prática contemporânea de testar um de corte capacidade. O alvo mais utilizado atualmente é o Goza ou tatami de palha Para ser capaz de cortar vezes consecutivas em um alvo, ou para cortar vários alvos em movimento, exige que um seja um espadachim muito habilidoso.

Alvos de hoje são normalmente feitas de wara ou Goza, ou empacotados ou enrolada em forma tubular. Eles podem ser embebidos em água para adicionar a densidade do ao material. Esta densidade é aproximada a da carne. Verde bambu é usado para aproximar do osso.

Uma vez que o alvo é Goza nesta forma tubular, que tem um padrão vertical quando esta verticalmente em um suporte-alvo, ou na horizontal, quando colocados sobre um suporte-alvo horizontal (ou dotton Dodan). Esta direcção afeta a dificuldade do corte.

A dificuldade de corte é uma combinação da resistência do material-alvo, a direção do ginterior do alvo (se houver), a qualidade da espada, o ângulo da pá (hasuji) no momento do impacto, e o ângulo da oscilação de a espada (tachisuji).

Ao cortar um alvo de palha que está na vertical, o mais fácil é o corte diagonal para baixo. Isto é devido a uma combinação do ângulo de impacto do corte contra a corrente (aproximadamente 30-50 graus em relação à superfície), o ângulo diagonal para baixo do swing, e a capacidade de utilizar muitos dos grupos principais do músculo e de rotação do corpo para auxiliar no corte.

Em seguida em grau de dificuldade é o corte diagonal para cima, que tem o mesmo ângulo, mas trabalha contra a gravidade e utiliza os músculos ligeiramente diferentes e rotação. O terceiro problema é o corte reto para baixo, e não em termos de material a cortar, mas, em termos de o grupo de músculos envolvidos. O corte mais difícil destes quatro cortes básicos é a direção horizontal (contra um alvo vertical) que é diretamente perpendicular ao interior do alvo.

Há uma série de espadachins que recentemente bateu recordes neste campo de tameshigiri, Toshishiro Obata detém o recorde de Kabuto Wari, ou corte do capacete, para seu corteem um Kabutoaço (capacete). Toshishiro Obata também detém o Ioriken batto jutsu – registro velocidade de corte de 10 cortes em 10 alvos ao longo de três rodadas. Seus tempos são 6,4, 6,4, e 6,7 segundos respectivamente.

Historicos europeus de Artes Marciais reconstrucionistas no âmbito do “teste de corte” prazo, participar em exercícios similares com várias espadas europeus . Enquanto o conjunto de tatami de palha e bambu verde (embora raramente), e especialmente a carne são os alvos preferenciais de corte, outras substâncias são usadas devido a ser mais baratas, e muito mais fáceis de obter: “macarrão” de piscina , cabaças diversas (abóboras, etc), garrafas de plástico cheia de água, alvos sintéticos ou de barro molhado.

Configurações de alvo

Os alvos podem ser colocados em diferentes configurações:

   1. Mais frequentemente, não existe uma posição única sobre a qual um único alvo é colocado na vertical.

  2. A segunda configuração envolve vários alvos no lugar verticalmente em um carrinho de comprimento (um yoko-narabi).

   3. Uma terceira configuração envolve múltiplos alvos colocados horizontalmente sobre um tipo diferente de suporte chamado Dodan ou dotton.

  4. A quarta configuração envolve objetivos individuais (# 1) ou múltiplos (# 2), cada um em estantes separadas.

   5. Uma quinta configuração (particular para Goza laminado) envolve vários alvos enrolados juntos para criar um alvo mais espesso e mais denso. Isto pode ser utilizado nas configurações anteriores (# 1, # 2, # 3)

5 lições do aikido para os negócios

Por Pedro H. Souza*

O aikido é uma arte marcial japonesa que se preocupa com a resolução de problemas através da harmonização das circunstâncias. Sua dinâmica tende a representar a interação entre as pessoas e os desafios que enfrentam, trazendo como resultado, além de um excelente esporte, uma filosofia abrangente, de aplicação prática no ambiente de negócios e na vida pessoal. Conheça 5 princípios, entre tantos outros, que são ensinados pelo aikido.

O princípio do Ukemi
Todo negócio é baseado em ciclos de expansão e recessão, e assim cair é parte de um processo natural. Através do chamado ukemi, rolamento executado diante da queda, o aikido ensina que a mesma energia que lhe derrubou pode ser usada para coloca-lo em pé novamente. Significa reconhecer e avaliar a circunstância, se posicionando e agindo para aproveitar as adversidades ao seu favor.

Continue andando
O movimento de andar é composto por momentos de desequilíbrio, no qual um dos pés está pendendo a cair para frente, e de equilíbrio, quando ele finalmente encosta o chão. Para o aikido, continuar andando é a chave para manter-se em pé. Ou da mesma forma, só é possível derrubar o concorrente ao impedir que ele finalize o próximo passo. O que não necessariamente falamos é somente focar derrubar outra empresa, ou outra pessoa: não se esqueça de olhar para si, e continuar andando.

Na adversidade não recue
O ser humano tem como tendência natural dar um passo para trás quando diante de uma situação adversa. O aikido inverte essa lógica, fazendo com que os seus praticantes se aproximem ainda mais do oponente, de forma estratégica, dominando a adversidade. Ainda mais importante do que enfrentar as dificuldades é enfrentá-las de modo inteligente.

Não crie resistência, se adapte
Diferente de tantos outros praticantes de artes marciais, o aikidoista não se opõe ao adversário, criando resistência aos seus golpes. De fato, ele se adapta à circunstância, canalizando a energia despendida pelo oponente em seu favor, fazendo com que “o ataque saia pela culatra”.

Se você precisa fazer força, está fazendo errado
É uma tendência natural tentar atingir resultados através da força e da insistência, algo que pode ser considerado até mesmo um axioma do pensamento ocidental, mas que na prática não se justifica. Para o aikido, forçar um situação significa se opor ao fluxo de energia predominante, perturbando a harmonia do movimento e limitando as suas chances de sucesso. Uma analogia bastante esclarecedora seria a do movimento realizado pelo rio. Ele é capaz de despender uma grande quantidade de energia por adaptar seu movimento ao fluxo natural, sem insistir contra as pedras ou mesmo negar sua essência líquida e indefesa.

Pedro Henrique Souza é palestrante, autor de “Stakeholding, a próxima ciência dos negócios” e CEO da Hëd River, auditoria e consultoria especializada em Marketing e relação com stakeholders.

Conduzindo um dojo de Aikido

O ALTOS E BAIXOS DE CONDUZIR UM DOJO DE AIKIDO

O mundo revela-se um lugar um tanto quanto holístico, como um holograma ou uma imagem fractal. A forma do todo é repetida em cada um dos seus fragmentos. Assim, o que experimentamos na subcultura do aikido é geralmente verdade para a sociedade como um todo. Essa é uma das várias boas razões para explorar o aikido em todos os aspectos.
É claro que o aspecto mais importante do aikido é seu treino, no tatame. Isto só pode ser feito em um dojo, logo temos que ter um dojo de aikido para que possamos realmente explorar seu potencial. Todos nós fomos sortudos em achar um, ou então teríamos ido jogar boliche.
Com o passar do tempo, para alguns de nós torna-se necessário assumir a responsabilidade por esse dojo. Para outros, não há outra maneira de continuar treinando aikido, a não ser iniciar seu próprio dojo. Não hesite em fazê-lo quando a necessidade chegar!
No nosso universo a sobrevivência e o desenvolvimento são realizados por regeneração. Na escala modesta do aikido, isso é feito por alunos novos ao ingressar no dojo, e por alunos antigos partindo para iniciar seus próprios dojos.
A aprendizagem do aikido, a partir do primeiro ukemi em diante, é uma luta poderosa. Conduzir um dojo é um desafio tão grande quanto. Não há nenhum atalho, e se houvesse, seria tão sem graça e chato como ver Paris apenas em cartões postais. Você tem que fazê-lo de verdade, como todo seu esforço, pois se não, não terá sido feito.
Eu iniciei alguns dojos, e tenho testemunhado o início e o desenvolvimento de alguns outros. Aqui estão algumas coisas que essas experiências me ensinaram. Talvez sejam de utilidade, se você está no mesmo processo.
VOCÊ QUER PARCEIROS DE TREINAMENTO
Você sabe porque você precisa de um dojo: você simplesmente quer parceiros para treinar. Talvez você tenha assumido um dojo, quando o seu ex-professor partiu, ou iniciou um novo dojo porque você se mudou para outra cidade, ou precisava de uma mudança, porque queria explorar o aikido em uma direção diferente que a de seu dojo – seja qual for o caso, você precisa de um dojo porque você precisa de companheiros de treinamento para que sua prática de Aikido continue.
Nunca se esqueça disso. Isso é razão suficiente para ir adiante e começar um novo dojo, não importa quanto problema isso traga. Isto também te serve de guia, uma bússola, que irá ajudar em todas as escolhas que você precisará fazer durante a formação e gestão de um novo dojo. As escolhas que funcionarem bem com seu estilo de treino são boas, as outras são ruins. É claro que devemos ter uma perspectiva maior do que apenas a próxima aula, mas no fundo, você tem que querer treinar no dojo e desejar que o próximo treino aconteça logo, se isso não acontecer, algo está errado.
Então, não hesite em iniciar o dojo e a sua formação, de acordo com suas próprias preferências no aikido. Se você prefere um certo estilo de aikido, permita que o dojo seja dedicado a ele. Se você gosta de um clube pequeno, com apenas alguns membros que são amigos próximos e iguais, então se atenha a isso e não se preocupe em tentar fazer o dojo crescer. Quanto mais o dojo concorda com você, mais você concorda com ele, e então você será um líder inspirado.
Conseqüentemente, se por algum motivo o dojo se desenvolver em algo que não combina muito bem com você, não hesite em deixá-lo. Você pode encontrar um outro dojo do seu agrado, ou iniciar um novo. Pode não ser o dojo mudando, mas você. A mudança é uma força fundamental do mundo. Não espere que as coisas sejam do mesmo jeito ano após ano, mas espere que as coisas mudem. Essa é a única maneira que você tem para se adaptar.
Ainda assim, até chegar o dia em que você sentir que deve deixar o dojo, enquanto você liderá-lo: deixe que suas preferências pessoais o governem.
A PRIMEIRA GERAÇÃO
Quando um dojo é iniciado a partir do zero, a sua primeira geração de membros é da maior importância. Eles definem o caráter do dojo. Se for formado por um monte de pessoas alegres, felizes tanto em treinar quanto com a companhia uns dos outros, então o dojo com certeza será um sucesso. Vai sobreviver e prosperar.
Isto não é nenhum mistério, mas lembre-se do seu significado. Para que isso aconteça, você tem que se esforçar bastante para juntar um certo número de pessoas no exato momento em que você está iniciando o dojo, então você tem que ser ousado e fazer com que o treino regular seja condizente com a maneira como você quer treinar aikido – mesmo que isto signifique excluir pessoas que não tenham a vontade, ou a habilidade, de se adaptar a isso.
Não mude o seu estilo de aikido ou o sistema do dojo para atrair um grande número de pessoas que nunca gostariam de treinar aikido do jeito que você quer. Isso só leva a problemas e conflitos, e pode muito bem acabar com a fragmentação do dojo, ou com seu fechamento.
Quando um dojo é iniciado, ele se transforma facilmente em um clube forte de mentes homogêneas. Eles formam o núcleo sólido do dojo – uma força que supera até mesmo o poder do líder do dojo. Quando você começa um dojo, você é capaz de decidir muito sobre como ele vai ser, mas uma vez que esse clube de membros iniciais é formado, ele tem muito mais força para influenciar o líder do que o líder para influenciá-lo.
Portanto, tome cuidado em como o primeiro grupo de membros é formado. Faça o que puder para manter os que você realmente quer que sejam parte dele e até mesmo tente afastar aqueles que você sente que são contrários ao que você quer que o dojo seja.
Não se preocupe com pessoas deixando o dojo depois de um curto período, se não gostaram de lá. É muito melhor um pequeno dojo onde os membros se sentem ligados e em acordo, que um grande, onde todo mundo se sente como estranhos.
Com certeza o dojo não será da forma como você o imaginou. Assim que o grupo começa a dar forma a si mesmo, é o grupo que realmente lidera o dojo, não você. Isso é uma coisa boa, desde que você também esteja preparado para algumas surpresas e é o que torna a aventura excitante. Faça o que puder com a formação inicial do dojo, então esteja preparado para dar um passo para trás por pouco tempo, para ver o que acontece.
Não existe forma de eu enfatizar o suficiente a importância da fase inicial de um dojo, suas primeiras semanas e meses. Se você estiver preparado e conseguir tratar deste período de forma satisfatória, o resto vai ser muito mais fácil do que caso você não tivesse se preocupado.
Por exemplo, considere cuidadosamente como promover o seu dojo. Não enfatize o aspecto de defesa pessoal, se esta não é sua vontade. Não use mídias ou fóruns que, principalmente, atraiam pessoas de uma atitude que está longe de ser o que deseja. Nas demonstrações, tente não demonstrar uma maneira de fazer Aikido que difere muito do que você gosta nos treinamentos.
Não hesite em deixar seus membros suarem tanto no tatame quanto fora dele. Envolva-os no trabalho. Deixe-os sentir como pioneiros, uma vez que é essencialmente o que são. Eles não precisam ser mimados – muito pelo contrário. Eles querem sentir-se envolvidos e essenciais no processo de formação do dojo.
De qualquer maneira, aqueles que não podem se envolver no calor, você não os quer como membros. Qualquer um que espere apenas pagar a taxa e depois ser servido, não está apto para participar de um dojo. Por outro lado, pessoas que contribuam para   trabalho do dojo com rostos sorridentes estão aptos, mesmo que eles tenham dois pés esquerdos e nunca aprendam a diferença entre omote e ura.
Quando você tiver a primeira geração de membros do seu dojo, faça o treinamento intenso, se esforce para que vocês também passem grandes quantidades de tempo juntos fora do tatame, leve-os como você para seminários, traga outros professores de aikido para o seu dojo, para que eles possam conhecê-los e se sintam conectados com o mundo do aikido como um todo. Não se preocupe se está fazendo coisas demais. No período inicial de um dojo não existe isso de “fazer coisas demais”. Muito não é o bastante. Não mire nada que não ultrapasse o “demais”. Deixe que sua perseverança seja o único limite.
Normalmente, a pioneira primeira geração de membros de um dojo é a que tem o maior vigor e determinação. Além disso, você também estará ansioso para ter membros num nível em que você possa , treinando com eles, desenvolver seu próprio aikido. Seja impaciente para desenvolvê-los até este nível e além dele.
O PERÍODO DE FIXAÇÃO
Você provavelmente vai manter a sua primeira geração de membros por vários anos, e eles vão parecer insaciáveis. Todos treinarão duro, e todos estarão dedicados ao dojo e a sua formação, como se nada mais na vida realmente importasse. Você vai se divertir bastante.
O dojo vai se estabelecer e obter as suas características durante estes primeiros anos. Sua estrutura fica sólida e suas rotinas são estabelecidas. Essas coisas não precisam ser trabalhadas previamente. É realmente melhor se elas são formadas ao longo do caminho, para que elas se adaptem bem ao caráter do dojo.
Portanto, evite estabelecer um sistema de graduação detalhado com antecedência. Quando seus alunos forem progredindo em graduação, você estará preparado para perceber o que é necessário para o próximo passo. Desta forma seu sistema de graduação será muito mais relevante e viável do que caso você o tivesse preparado de antemão.
Isso também é verdade se você usar um sistema de classificação exterior, por exemplo, o do Aikikai Hombu Dojo ou do estilo de Aikido que deseja pertencer. Você não pode permitir-se mudar as atuais exigências técnicas no sistema, mas você ainda tem liberdade no modo de aplicá-las – o que enfatizar e o que você considera como menos importante, o que em particular você procura em cada graduação, o que você espera além do que é pedido no sistema de classificação e assim por diante. Qualquer sistema de classificação deve ser mais ou menos adaptado ao que está sendo praticado no dojo. Não hesite em adaptá-lo, na medida em que sinta a liberdade. Caso contrário, seu grupo corre o risco de se tornar nada mais que uma máquina.
Nunca se esqueça que a graduação é secundária, enquanto o treinamento é primordial. A graduação deve refletir como o Aikido é treinado em seu dojo. Ela não deve, de forma nenhuma, forçar o treinamento a um molde, para o qual as aulas são pouco mais do que uma preparação para o próximo exame.
Eu recomendo que você faça do exame um evento divertido, em intervalos regulares, mas não dê a ele uma importância tal, como se fosse o objetivo do treinamento. Não é. O treinamento é o objetivo do treinamento. É treinando que você melhora seu aikido e você não treina para receber graduação maiores, você treina para melhorar seu aikido.
Ainda assim, trate o exame com cuidado e se certifique que os membros sintam respeito e confiança no seu sistema. Na verdade, eles vão exigir isso.
Quanto à programação do dojo, você também deve estar pronto para se adaptar. A primeira geração de membros vai querer treinar tanto quanto possível, mas é importante também que eles realmente sejam capazes de ir a todas as aulas. Encontre uma maneira de fazer isto possível, ou em breve haverá dois níveis de associação: os que sempre treinam, e aqueles que não podem fazer isso. Bem, talvez você queira que seu dojo consista apenas deste ultimo grupo, então vá em frente. Mas eu aposto que assim você terá um dojo composto principalmente de adolescentes e pessoas em seus vinte e poucos anos, sem família e possivelmente sem emprego. Este tipo de dojo tem vida curta.
Como regra geral: deixe que o dojo se organize de uma forma que agrade a maioria – se não todos – dos seus membros de primeira geração. Se seu dojo é um clube, ele precisa de uma diretoria e outros componentes organizacionais. Este é um assunto delicado. Quais dos membros devem estar na diretoria? É natural que todos os membros da primeira geração se sintam como iguais e isso é uma coisa maravilhosa. Isto pode ser facilmente estragado dando a alguns deles funções e títulos que os ponham acima dos demais.
Um clube deve ter estatutos, uma diretoria, reuniões anuais, e assim por diante. Mas durante os primeiros anos, é melhor tratar essas coisas com pouca ênfase, sempre que possível, mesmo que isso signifique alguma negligência. Algumas decisões precisam ser tomadas pela diretoria, ou pela reunião anual, mas elas devem ser livremente discutidas entre todos os membros com antecedência, de modo que todos se sintam envolvidos no processo de decisão.
Não deve haver surpresas vindo da diretoria. Suas decisões – bem como aquelas tomadas na reunião anual do clube – devem ser unânimes. Se não forem, no período de fixação do clube, há um risco de que algo dê errado. Na verdade, logo que uma votação formal é necessária, é motivo de consideração.
Normalmente, quem começa um dojo se torna seu presidente. Inicialmente, isto é difícil de evitar, mas tem uma séria desvantagem: implica em uma especial importância para quem é o presidente. Deste modo, faz com que a diretoria, e todas as questões organizacionais, estejam acima dos membros regulares do clube.
Se um dos membros regulares é feito presidente, o título perde um pouco da ênfase, mas há outros riscos. Esta pessoa pode não se comportar devidamente. Aquele que é eleito como presidente deve estar convencido da insignificância do título. Uma boa regra geral é que o presidente deve ser escolhido entre os membros que não querem o cargo e deve se ter certeza de não escolher alguém que esteja ansioso por ele.
Isto é verdade para toda a diretoria e qualquer outro compromisso no clube. Procure aqueles que precisam ser convencidos a aceitá-lo e evite aqueles prontamente voluntários.  As reuniões da diretoria deverão ser poucas e o mais informais possíveis. É melhor que as reuniões anuais do clube sejam feitas no tatame, imediatamente após uma sessão se treino. E lembre-se de deixar que todos os membros participem da discussões de assuntos que são importantes para o dojo, sempre que a decisão precisar ser feita formalmente.
Uma regra de ouro no dojo, especialmente durante seus anos de formação, é: Vamos ter todos envolvidos em tudo.
PRÓXIMA GERAÇÃO DE MEMBROS
É claro que o dojo necessita de outros membros que não sejam os da primeira geração, mas eles costumam revelar-se muito mais difíceis de se encontrar e manter do que os membros iniciais. São os membros da primeira geração que estão no caminho, sem saber.
Eles participaram na formação do clube, do qual eles também fazem parte. Os membros pioneiros do dojo estão intimamente ligados, transformando o dojo em algo semelhante a uma família. Não é fácil para os novos membros, mais tarde, serem aceitos como iguais nesta comunidade fechada.
Isso raramente demonstrado de forma direta. Na maioria dos casos nem os velhos nem os novos membros estão conscientes disso. Ainda assim, isso resulta em muitos novos membros deixando o dojo, enquanto a maioria dos membros da primeira geração continuam, aparentemente para sempre.
Semelhante a uma família, a única maneira de ser plenamente aceito em um clube onde os membros da primeira geração dominam, é através do convite e a ajuda de um deles. O núcleo de um clube é o seu círculo íntimo e enquanto a primeira geração está quase intacta o círculo interno é o clube inteiro. Se nenhum deles faz um esforço para que novas pessoas participem, o clube continuará a ser constituído apenas de seus membros de primeira geração.
No Japão, existe o sistema de Sempai e Kohai, o que pode ser traduzido como estudantes seniores e juniores (respectivamente). Ele existe em todas as partes da sociedade japonesa, também em seus dojos. Quando alguém se junta a um dojo japonês, essa pessoa rapidamente encontra apoio e orientação através de um dos membros seniores. Essa pessoa será sempai do novato – para o resto de suas vidas. O novato é kohai em relação ao seu sempai.
É um sistema limpo, resolvendo o problema do restrito círculo interno. O sempai, que é um respeitado membro do círculo, garante que o kohai possa entrar, e os outros seniores do dojo o aceitam, em respeito ao sempai.
Com algumas modificações, este sistema pode ser usado também em um dojo fora do Japão.
Ele começa com o líder do dojo. Normalmente isso significa o é o diretor – o sensei, para usar o termo japonês. Se o professor mostra interesse em novos membros, os alunos irão certamente fazer o mesmo. Ainda assim, o professor não pode se preocupar com os iniciantes até um ponto em que os alunos mais antigos começam a ser negligenciados. Em tal dojo é melhor ser um novato do que ser avançado – uma situação que rapidamente deteriora o dojo. A principal preocupação do professor são os alunos avançados, mas esses por sua vez, devem sentir a responsabilidade de cuidar dos recém-chegados.
Isto é facilmente conseguido se os alunos seniores começam a dar aulas aos iniciantes, ou pelo menos ajudar o professor de maneira significativa. Muita coisa no dojo, senão tudo, se resume a ensino. Portanto, se os alunos seniores estão envolvidos no ensino de recém-chegados, certamente irão fazer todo o possível para as pessoas ficarem e continuarem a sua formação.
Eu penso que este é exatamente o ponto nesta questão. Um dojo consegue atrair novos membros se presta atenção em cada um dos elos da corrente, dos membros mais velhos aos mais novos, mas isto tem que ser feito respeitando o fato que a prioridade para o membros mais antigos é essencial para um dojo. Como no Japão, você nunca pode se transformar no sempai do seu sempai, não importa que graduação você possua ou quão rapidamente seu aikido se desenvolva. A prioridade pelos membros mais antigos deve ser reconhecida e não podemos nos privar disso.
Um dojo onde o respeito pelos membros mais antigos é ignorado perderá a sua estabilidade, de modo que nem os mais antigos, nem os mais novos se sentirão confortáveis nele. Por outro lado, a hierarquia não precisa ser seguida tão rigorosamente. A diretoria não precisa ser formada apenas pelos membros mais antigos do clube, nem as aulas precisam ser dadas apenas por eles. No entanto eles devem ser considerados e respeitados, de uma forma maior do que é necessária aos ingressantes.
O iniciante deve ter um desejo de se tornar um membro antigo no futuro e, portanto, não será de modo algum contra um sistema de hierárquico baseado em tempo de treino. Isto acontecerá enquanto à dinâmica de aceitar novos membros como seniores à medida que o tempo passa, continue.
ADEUS À PRIMEIRA GERAÇÃO
Depois de algum tempo isso estará prestes a acontecer: a primeira geração de dissolve. Se eles eram jovens no início, eles se casam, têm filhos, um trabalho exigente, e assim por diante. Por alguma razão, o dojo vai perder seus pioneiros um após o outro.
Começa com um ou dois deles. Embora a perda seja sentida, o dojo e seu círculo íntimo permanecem intactos. Mas, em seguida, outros vão, em um ritmo crescente, e de repente todos, a não ser por alguns poucos, desapareceram no mundo fora do dojo. Mesmo que a primeira geração fique intacta por, digamos, cinco anos ou mais, todos eles podem ter ido em um ano.
Eu descobri que este é um processo que se acelera, O círculo se quebrou, os laços se afrouxam e assim a primeira geração de membros sentem que sua comunidade é uma coisa do passado. Eles seguem para outras coisas na vida.
Além disso, quando a primeira geração já não é a maioria no dojo, os remanescentes podem se sentir um pouco isolados ou até mesmo rejeitados, como políticos que não conseguem votos suficientes para permanecer no cargo. Membros que entraram mais tarde começam a tomar o controle. Bom, é um tipo de aposentadoria, tão inevitável quanto é natural.
O único membro remanescente pode acabar sendo o líder fundador do dojo. Se a primeira geração era formada de amigos próximos, quase como irmãos, o líder do dojo pode se encontrar em uma situação muito solitária. É como perder seus amigos após o colegial. É triste.
O que você pode fazer? Isto acontece com qualquer um que dá inicio a um dojo, então deveria haver uma solução. Não há, até onde eu sei. Mas podemos tirar algum conforto disso. Os amigos que você fez continuam pelo resto da vida, mesmo que você não os encontre tão frequentemente. Vocês sempre terão memórias em comum para compartilhar. Mesmo que muitos deles parem de praticar aikido, eles continuarão a valorizar o que aprenderam através dele. Eles ficarão felizes em admitir que tiveram uma experiência muito rica, assim como aconteceu com você.
Ainda assim, o maior conforto está no que ficou e no que está por vir. Existem alunos iniciante para serem desenvolvidos até avançados. Sempre haverá ingressantes cujo talento ainda está para ser descoberto e cultivado. Para eles você será mais um pai do que um irmão. A cadeia não tem fim.
Pense nisso: o que mais lhe encanta – o aikido você foi capaz no passado, ou o aikido você espera conseguir no futuro?
Eu pensei que seria.
Quando a primeira geração de membros desaparece, o que tende a acontecer de forma muito inesperada, o número de alunos no seu dojo, provavelmente, diminui de forma substancial. Não apenas há um número menor de membros, mas mais importante: existe uma grande lacuna entre os membros avançados. Talvez você tenha sido deixado sem nenhum yudansha, faixa preta, e provavelmente você não terá membros com os quais você possa treinar no nível que estava acostumado
As pessoas se vão, nós sabemos disso e podemos aceitar o fato. Mas um dojo em que você sente que deve começar tudo de novo – é uma coisa difícil. Assim, algumas vezes acontece que o líder fundador do dojo se vai, pouco depois que a primeira geração de alunos.
Se for isso que você realmente quer fazer, então faça. Mas não até que você ter tentado seriamente persistir. Você tem que dar o seu dojo uma segunda chance, para o bem dos membros restantes, e daqueles que ainda virão. Se existe uma grande lacuna, de modo que quase todos os membros restantes são de um grau muito menor do que a primeira geração, então você precisa começar por admitir para si mesmo que você não tomou o cuidado adequado na renovação do dojo. Você não fez o suficiente para fazer os iniciantes bem-vindos, ou para assegurar que estavam recebendo um treinamento bom o suficiente para que eles pudessem se desenvolver como deveriam. Você tem que pensar em maneiras de melhorar neste aspecto.
A próxima coisa que você precisa fazer é garantir que os membros mais antigos que permaneceram no dojo sejam considerados o núcleo do dojo, assim como a primeira geração era antes deles. O truque aqui é fazer com que eles se sintam desta forma. Quando os atuais veteranos se sentirem no lugar dos antigos, eles irão ajudar a manter o dojo funcionando. E provavelmente, eles o farão se sentir motivado.
Uma boa forma de se fazer isso é fazer mudanças no dojo e envolver os alunos seniores nelas. Dado a mudança de gerações, o dojo necessitará de mudanças também. Seja audacioso, faça disso uma forma de renascimento. Se os alunos avançados participarem do processo, eles se tornarão a primeira geração deste dojo renovado. Você pode acabar descobrindo que esta nova geração mostra tão entusiasta, apaixonada e persistente quanto à primeira geração. E você irá se divertir novamente.
Aprenda com o processo. Então você vai fazer melhor da terceira vez r – e da quarta, e da quinta…
APRENDA ENSINANDO
Se você é o líder fundador de um dojo, o mais provável é que você seja seu principal instrutor também. Como você deve esta bem ciente ao ensinar seus alunos de aikido, a maior inspiração no treino de aikido é o processo de aprendizado. Alunos praticam visando a perfeição. Sem a perspectiva de aperfeiçoamento, o treino se torna um mero exercício corporal – isto pode ser necessário, mas não é muito divertido. O professor também precisa sentir que está melhorando, ou se tornará apenas um trabalho – com pouco, ou nenhum, dinheiro vindo dele. Sendo assim, quem ensina o professor?
Os alunos ensinam. É um fato, não apenas uma agradável afirmação democrática. Colocando isso de forma mais geral: você aprende ensinando.
Quando você explica aos alunos exatamente como uma técnica de aikido funciona e como ela deve ser feita, você deve conhecê-la mais do que em qualquer outro momento da sua vida, não importa quantas vezes você a tenha feito na aula de professor. Você tem que mostrá-la também, o que o deixa cada vez mais consciente de seus detalhes e do que a compõe, ajudando a desenvolvê-la e refiná-la. Você deve executar a técnica em alunos de diferentes habilidades e tempo de experiência e ajudá-los enquanto eles tentam aplicá-la em você. Isto faz com você esteja sempre examinando e modificando sua técnica.
Ensinar aikido é uma das melhores formas de aprendê-lo. Todo aluno treinando em dupla nos treinos regulares acaba percebendo isso. Ao ajudar um ao outro eles aprendem a técnica mais rapidamente e melhor do que aprenderiam sem está comunicação durante o caminho – o ensino mútuo.
O professor responsável pelo dojo aprende muito apenas com suas aulas regulares, mas isso não é o suficiente. Se você quer que seus alunos melhorem, que eles continuamente ultrapassem cada uma de suas limitações, você precisa fazer isto também. Para tanto, você precisa algumas vezes aprender como um aluno.
Vá a seminários! Experimentar outros professores não apenas revitaliza seu aikido e te dá novas idéias de como modificar suas técnicas. Também te a chance de ver outro professor trabalhando e assim você aprende mais sobre como ensinar.
Convide outros professores para dar aula no seu dojo! Isto te dará os mesmos benefícios de quando você viaja para algum seminário – e alguns mais. Você tem a chance de ser um aluno como os outros, no seu próprio dojo. Será relaxante e também uma lição de humildade, seus alunos irão se deliciar com isso e se tornarão menos formais com você. Não se preocupe com autoridade e respeito – estas coisas são automáticas. A única maneira de não tê-las é se esforçar de mais para consegui-las.
Além disso, quando você convida um outro professor para o seu dojo – ou traz seus alunos com você para um seminário em outro lugar – os alunos têm a oportunidade de aprender mais do que você pode lhes dar. Não precisa ser melhor ou mais avançado, ou qualquer coisa assim, ele só precisa ser diferente do que você ensina. Dá-lhes a oportunidade de desenvolver seu aikido a um ponto onde você pode realmente aprender com eles. O ideal de um professor é que seus alunos sejam capazes de ultrapassá-lo. Mas faça-os trabalhar por isso, através de seu próprio desenvolvimento contínuo, ao mesmo tempo em que você faz todo o possível para ajudá-los e inspirá-los em seu progresso.
Quando você tem um processo de aprendizagem mútua acontecendo em seu dojo, você e seus alunos se divertem na aula. É preciso se divertir.
O Budo algumas vezes é considerado de forma muito séria, drenando toda a alegria, assim a única coisa que resta é disciplina e desconforto. Ninguém aprende nada em tal ambiente e ninguém realmente gosta. Se você pretende continuar ensinando e quer que seu alunos, não apenas continuem treinando, mas que de fato aprendam, você precisa fazer todo o processo divertido. Você, o professor, precisa gostar das aulas – isto é mais importante do que os alunos gostarem, mas eles vão gostar se você gostar.
Dê a si mesmo a liberdade de ensinar de maneira que você possa desfrutar, perseguindo direções que o atraem, fazendo as aulas de um jeito que o faça ficar desapontado quando o tempo acaba – muito mais cedo do que você estava preparado. Não se preocupe se isto parece um pouco egoísta da sua parte. Se você não está gostando, ninguém vai estar.
No entanto, preste atenção em duas coisas: Orgulho e preguiça.
O orgulho faz com que você evite ensinar técnicas das quais não está seguro. Ao invés disso, você enche suas aulas com técnicas que você domina. Como com a prática vem à perfeição, você certamente irá aprimorar técnicas que você já conhece muito bem, mas o resto do seu aikido se arrisca a deteriorar. Você realmente não aprende muito com isso. A preguiça é um veneno de ação lenta. No início funciona de forma quase igual ao orgulho: você evita técnicas em quem não se sente confortável, por uma razão ou outra, e passa tempo demais nas que você sente facilidade. Lentamente, isto te leva a fazer cada vez menos, como um todo, nas suas aulas. Um professor preguiçoso também evita ir a seminários ou convidar outros professores ao dojo. Novamente, você não aprende muito desse forma.
Sendo assim, o aprendizado é a chave. Enquanto você está aprendendo e melhorando, você está se divertindo e tudo está bem.
PROFESSOR DE PROFESSORES
Em seu Livro dos Cinco Anéis, o famoso samurai Myamoto Musashi escreveu: O professor é a agulha e os alunos são a linha. Como professor você lidera os estudantes para que eles avancem, sendo o espírito de aperfeiçoamento a razão para tudo. A agulha vai primeiro, mas é a linha que permanece.
Leva-se uma vida – ao menos – para aprender como ensinar. Provavelmente, não a nada mais grandioso na cultura humana, sendo assim, vale a pena gastar o tempo de uma vida aprender isso.
Ao longo do caminho, você terá alunos que permanecerão por diferentes períodos de tempo e cada nova geração do dojo te dará a chance de reformar e renovar a forma como você ensina. Use a oportunidade. Questione e revise a forma como você ensina, desde sobre os detalhes de como você apresenta uma técnica na aula ou como você corrige o trabalho de pernas de um iniciante, até a uma perspectiva maior de como levar alunos ao nível de Shodan e além – até o ponto em que seus alunos estarão prontos para serem os instrutores de seus próprios dojos.
Nós devemos nos empenhar para que nossos alunos se tornem melhores do que nós mesmos. Mas o aikido não é uma competição. Não há realmente nada do tipo, de um aikidoca ser melhor do que outro. Nós somos diferentes e isso é tudo. Uma melhor meta para um professor de aikido, se é que deve ter alguma, é cultivar seus alunos até que eles cheguem ao ponto de se tornarem professores – se tornar um professor de professores. Isso vai tomar algum tempo. Entretanto, um professor não pode hesitar em deixar seus alunos partirem. Ainda pode haver uma enorme quantidade de coisas que aluno ainda pode aprender de seu professor, mas uma vez que tenha chegada à hora, o professor deve deixá-lo ir mesmo assim. Se aluno tiver atingido a competência para ser o principal instrutor de seu próprio dojo, provavelmente será hora para isso.
Há um ditado japonês que diz: Mesmo para uma pedra, três anos. Significa que mesmo se você quer aprender algo simples como sentar em uma pedra, levará três anos para aprender. Por outro lado, após três você pode sentar em uma pedra.
Uma aplicação japonesa para o ditado é que leva três anos para que um aluno perceba o que pode ser aprendido de cada professor, sendo assim não há motivo para trocar de professor antes deste período. É claro, se depois de três anos você descobre que há ainda muito a aprender de seu professor, você será sábio em permanecer com ele (a). Mas estará tudo bem se você decidir procurar outro.
Eu fico lisonjeado e um pouco surpreso quando as pessoas permanecem como meus alunos, mesmo tendo se passado três anos. Eu mudo minha atitude em relação a elas, esperando que elas assumam cada vez mais uma responsabilidade pessoal para o seu contínuo aperfeiçoamento no aikido. Neste ponto elas devem tomar algumas iniciativas próprias, como visitar outros dojos, ir a seminários, talvez tentar treinar alguma outra arte, adicionando alguns ingredientes ao seu próprio treino.
Também, aos que permanecem por mais de três anos, eu considero que foram permanentemente mordidos pelo bicho do aikido. Eles até podem parar de treinar aikido, mas o aikido continuará em suas mentes e corpos, efetivamente aperfeiçoando suas habilidade de uma forma sutil. Eles começaram um processo neles mesmos que não irá parar só porque ele não praticam mais aikido no tatame. E um dia, é bem possível que eles voltem ao tatame.
Possivelmente você pode dividir o desenvolvimento dos alunos de aikido em um certo número de estágios. Caso possa, penso que deveria ser assim:
1 – O estágio de Iniciante.
O budo tradicional diz que este estágio dura até que o aluno chegue ao nível de faixa preta, mas isto é um exagero. Eu diria que dura de um a dois anos, dependendo de quão intenso é o treinamento e de quão talentoso é o aluno.
Aqui, o ensino deve conter dois elementos: o treino do básico do aikido e uma ocasional demonstração do que o aikido pode se tornar a longo prazo. Sem uma devida quantidade do primeiro, o aluno nunca ficará seguro de sua técnica e sem o último, qualquer aluno talentoso perderá o interesse no aikido.
2 – O Estágio Intermediário
Este estágio começa quando o estudante quando o aluno se sente confortável com as técnicas de rolamento (ukemi) e consegue executar as técnicas básicas do aikido sem muita hesitação. A partir deste ponto o aluno se desenvolve de forma muito rápida e precisa treinar frequentemente e com vigor.
Eu penso que este é o momento em que ele deve começar a usar o hakama, mas nesse ponto os dojos diferem grandemente. Alguns não permitem o uso antes do nível shodan, outros tem regras diferentes para homens e mulheres – o que eu acho ridículo. A regra mais comum para os dojos fora do Japão é permitir o uso do hakama a partir do terceiro kyu. Caso aconteça mais tarde, temo que toda a boa influência que o uso do hakama pode ter na postura e na circularidade dos movimentos é perdida. Alunos que tem que esperar tanto pelo hakama já estão tão acostumados com seus hábitos que seu uso não os ajudará a corrigi-los.
Nesta etapa os alunos precisam treinar bastante para desenvolver-se rapidamente para a próxima fase. Eles começam a sentir os estudantes avançados, por isso devem receber o apoio para tornar-se rapidamente avançado. Não há praticamente nenhum limite para o quanto eles podem ser estimulados, ou o que eles podem realizar proezas.
Este é um período muito intenso no desenvolvimento de ninguém aikido, e é cheio de memórias intensas que mantemos para sempre. Eles ainda precisam trabalhar em seus fundamentos, certamente, mas eles também precisam descobrir o quanto eles já aprenderam – até para mostrar, ocasionalmente. Eles sairão de fininho, em tais momentos, se o professor permite que ele ou não. De qualquer forma, o professor deve trabalhar duramente para manter esses estudantes desafiados, ou eles vão se cansar – ou sair em um momento posterior, quando os desafios à sua capacidade e perseverança são inevitáveis.
Neste estágio os alunos precisam treinar o suficiente para que possam se desenvolver rapidamente para o próximo estágio. Eles começa a se sentir como alunos avançados, sendo assim eles devem ter o suporte para que rapidamente se tornem alunos avançados. Não há realmente nenhum limite para o tanto que eles podem ser estimulados ou qual talento eles podem desenvolver.
Este é um período muito intenso no desenvolvimento de qualquer um no aikido e é cheio de memórias intensas que se manterão para sempre.
Eles continuarão precisando treinar o básico, claro, mas eles também precisam descobrir o quanto eles já aprenderam – e, eventualmente, precisam mostrar isso. Eles irão arranjar esses momento, quer o professor permita ou não. De qualquer forma o professor precisa se esforçar para manter os alunos desafiados, ou eles ficarão entediados – ou irão embora com o tempo, quando os desafios a suas habilidades e perseverança se tornarem inevitáveis.
3 – O Estágio Avançado.
Este nível se inicia normalmente quando o aluno atinge o nível de shodan, ou imediatamente antes disso. A graduação em si não é um indicador confiável, porém o aluno chegou a um nível de habilidade inquestionável. O aluno também adquiriu um nível de autoridade em seu aikido. O aluno avançado esta familiarizado com a maior parte das técnicas e confortável em ensiná-las aos outros.
Provavelmente está é a melhor indicação que um aluno atingiu o nível avançado: a habilidade de ensinar a outros as técnicas de aikido. Em comparação, o aluno em nível intermediário pode ser capaz de ensinar algumas das técnicas, mas raramente tem a paciência de fazê-lo e normalmente esquece pontos importantes enquanto o faz. O aluno de nível intermediário está muito mais interessado em aprender e fazer do que em ensinar. É no estágio avançado o interesse do aluno em ensinar começa e cresce. Sendo assim, é interessante que seja dado a estudantes neste nível a oportunidade de ensinar, paralelamente ao seu próprio treinamento.
Para um desenvolvimento contínuo, o aluno avançado precisa reexaminar suas técnicas, mesmo que ele as possa fazer de forma competente e confortável. Eles aprendem isso por estarem ensinando, mas também por causa do intensivo trabalho do professor para com eles. O professor de alunos avançados deve estar apto para enfrentar as altas demandas, para que os alunos não se acostumem com as habilidades que já tem, mas continuem melhorando.
O refinamento do aikido é feito por revisão. Os alunos avançados devem questionar o que eles aprenderam. Eles devem se atrever a abandonar as soluções em que eles confiaram até agora, assim eles estarão abertos para o contínuo desenvolvimento, mesmo que isto signifique uma mudança no que eles conheciam tão bem para algo que os faça sentir como iniciantes novamente.
É claro, é necessário um professor de nível avançado para conseguir manter seus alunos de nível avançado aprendendo, para desafiá-los e inspirá-los. O professor deve ser realista sobre o que ele pode ensinar a um aluno. Normalmente isto pode ser medido pelas graduações de “Dan” – e isto deve ser feito com cuidado – você deve perguntar a si mesmo em qual graduação de Dan você se sentiu confortável para liderar seus alunos. Sua própria graduação pode ser uma indicação, mas isto está longe de ser infalível.
Qualquer que seja a sua graduação e qualquer que seja a graduação que seu aluno chegue, virá um dia em que você terá que admitir que não tem muito mais para ensiná-lo. É hora de o aluno seguir em frente – ou procurando outro professor, ou iniciando seu próprio dojo. É melhor que o aluno faça as duas coisas, se possível.
4 – Estágio de Professor.
Isto acontece quando o aluno está mais do que competente para ter seu próprio dojo, se tornar o instrutor principal dele e tomar para si a responsabilidade do desenvolvimento dos seus próprios alunos, desde o nível de iniciante até os níveis avançados. Esta competência normalmente é atingida no 4? Dan, mas novamente – a graduação por si não é um medida garantida.
Desde ponto em diante o estudante é responsável por seu futuro desenvolvimento. Certamente, o estudante pode ter um professor que, através de instruções, guie seu desenvolvimento e o ajude em grande medida, no entanto a responsabilidade continua a ser do estudante. O professor ajuda, mas não mais lidera.
Se um aluno neste nível não tem a vontade, ou não consegue, achar um novo professor ou de dar início ao seu próprio dojo, a atmosfera no dojo fica densa, como se o dojo estivesse pequeno demais. E ele está. Muitos professores em um dojo faz com que surja o risco de que ele se divida em grupos separados, dando início a todo tipo de conflito.
Você ainda pode fazer com que isso funcione, caso aos professores seja dada responsabilidades bem definidas e separadas, mas não é fácil. Todos terão a necessidade de ensinar e de fazer isso da maneira que eles preferem. E isso é difícil de conseguir tendo-se apenas um dojo.
Se o instrutor principal do dojo for de fato muito avançado, até o alunos que chegarem ao nível de professor podem escolher permanecer e continuar seus estudo com este professor, como se nada tivesse acontecido. Mas algo aconteceu, sendo assim os instrutor principal deve tratá-los de forma diferente, mais como convidados de honra do que como alunos. Eles também devem se esforçar bastante para utilizarem suas habilidade de ensino em outro lugar, mantendo, ou não, seu treinamento em seu dojo original. Essa é a verdadeira dívida que você tem para com seu professor: ensinar a outros.

tradução livre do texto de sensei Stefan Stenudd

A estrutura do Dojo

Os dojos são entendidos como um lugar de respeito, aprendizado e desenvolvimento dos aspectos morais, e como tal, a organização do espaço obedece a determinadas regras.

Vou apenas falar dos lados do dojo e do seu significado. Mais haveria para dizer, desde a orientação relativamente ao norte, a escolha do asoalho ou a cor dominante, mas isso é um tema que não abordaremos até porque na nossa realidade cultural, temos de trabalhar com os espaços disponíveis.

Basicamente, quando visto de cima, um dojo tem a seguinte disposição:

KAMIZA: É o lado onde se encontra o retrato de O Sensei e/ou o Kamidana (miniatura de um templo, normalmente shinto). Este lado tem o significado da sabedoria, conhecimento, julgamento, etc. É representado pelo elemento água.

SHIMOZA: Oposto a Kamiza, é o lado onde se sentam os alunos por ordem crescente de graduações, no sentido de Shimoseki para Joseki ou seja, quando virados para Kamiza, da esquerda para a direita. Este lado significa o intelecto, a aprendizagem, a vontade. É representado pelo elemento fogo.

JOSEKI: Virado para Kamiza, é o lado direito e o lugar reservado a professores, instrutores e/ou convidados de honra. É o lado superior e significa a virtude, a caridade ou partilha, etc. É representado pelo elemento madeira.

SHIMOSEKI: Virado para Kamiza, é o lado esquerdo e normalmente o lado da porta da sala. É o lado inferior e significa moral, rectidão, integridade, etc. É representado pelo elemento metal.

O centro da sala, teoricamente é onde se senta o sensei, embora possa variar de dojo para dojo. Normalmente o sensei não se senta no centro físico da sala, mas antes, mais próximo do Kamiza. O centro da sala significa a honestidade e é representado pelo elemento terra.

Estas características, nas suas linhas mais gerais são comuns a todos os dojos. No entanto, os significados podem depender da escola, da arte marcial em questão, ou mesmo de quem interpreta as raízes culturais que deram origem a estes termos.

Kamidana e Kamiza

神坐 KAMIZA e 神棚 KAMIDANA

Kamidana

Kamiza. O Tokonoma das artes marciais

Entrando em qualquer Dôjô de artes marciais, deparamos com uma pequena prateleira (神棚 Kamidana) em um lugar de honra, que denominamos 床の間 Tokonoma (ou 神坐 Kamiza de forma mais específica nas artes marciais).

Tokonoma

Tokonoma

O Tokonoma (espaço no Tatami) tem sua origem no inicio do período Muromachi (século XIV-XVI), foi também chamado de 押板 Oshiita e é basicamente um espaço na parede onde são pendurados 掛け物 Kakemono (Pintura em papel), colocado 香 Kaori (incenso), 生け花 Ikebana (arranjo de flores), 行灯 Andon (abajur de papel) e outros arranjos artísticos. O espaço é comparado a nós ocidentais como uma sala de espera, porém comsentimentos culturais diferentes.

Podemos distinguir claramente um local diferenciado no ambiente Marcial classificado como Kamiza ou “acento divino” onde é visto o 神殿 Shinden ou pequeno templo e pequenos objetos juntos sobre uma prateleira chamada de Kamidana, literalmente traduzido como: “prateleira divina”. Cada item desse altar tem um simbolismo concreto dentro da tradição japonesa do 神道 Shintô (“Caminho dos Deuses” uma forma primitiva da espiritualidade japonesa).

Ofuda

No Shinden é guardado o 御札 Ofuda (amuleto) ou Shinpu taima(神符) que protege nosso treinamento.

A maneira de preparar um Kamidana pode seguir um padrão ou ser pessoal, mas devem incluir alguns objetos como:

As 燈明 Tômyô (Velas) simbolizam a luz universal da energia cósmica, da qual nos somos pequenos fragmentos ou 香 Kô (Incenso).

Shimenawa

Kamiza com o kamidana e a Shimenawa acima

A 注連縄 Shimenawa (corda torcida) que é a identificação de um lugar Sagrado. O Shimenawa, de acordo com o 古事記 Kojiki, foi usado pela primeira vez para impedir que a a deusa do sol Amaterasu retornasse a caverna e assim, salvando o mundo da noite eterna.

O 鏡 Kagami ou espelho que tem o significado no Shintô de revelar sem preconceito o verdadeiro aspecto de qualquer pessoa ou objeto refletido. É também representado no conceito chamado 神心神眼 Shinshin Shingan (Olhar e coração divino). O espelho possui de acordo com o 風水 Fusui ou Feng Shui, o poder de conservar as energias positivas presentes em um espaço e redirecionar as negativas de modo a beneficiá-las.

Kagami

O espelho também é um dos três objetos sagrado ou 神器 Shinki da tradição do Shintoísmo (os outros dois artigos são a espada e a jóia). O espelho também fez um papel importante na mitologia de Shintô.  Conta à lenda que a deusa do sol 天照 Amaterasu mergulhou no mundo da escuridão depois de se refugiar em uma caverna desgostosa pelas atitudes invejosas do seu irmão, deus da tempestade que saqueava a terra.  Os outros deuses não puderam a persuadir de sair do seu esconderijo até que um espelho foi pendurado à vista de Amaterasu em uma árvore.  Assim a deusa foi intrigada pela imagem refletida da sua bonita face que a fez sair da caverna trazendo o amanhecer e devolvendo a luz para o mundo.

Os pequenos ramos de 榊 Sakaki (ou qualquer planta perene) simbolizam nosso lugar dentro da Natureza e também a vida.

A 水 Mizu (água) o 米 Kome (arroz) e o 塩 Shio (sal) representam os três elementos para sustentar a vida. Também representa nossa voluntariedade e disponibilidade para o sacrifício, em ordem a alcançar o crescimento em nossa busca pessoal. O arroz também representa a pureza e o sal, assim como a água têm o poder de limpar o que for impuro. O 酒 Sake (bebida feita da fermentação do arroz) é outro elemento simbólico no Shintô e também é oferecido no Kamidana.

O Kamiza preferencialmente deve estar orientado a Leste, lugar onde nasce o Sol e provem à luz, a geradora da vida.

Devemos sempre lembrar que esse local é para recordar simbolicamente o legado histórico de todos os ensinamentos transmitidos durante séculos ate nossos dias. Nossa primeira reverência (礼 Rei) ao entrarmos no 道場 Dôjô é dirigida para este local, de forma que devemos sentir toda a energia dos mestres e praticantes que puseram os segredos das artes marciais ao nosso alcance e ainda continuam fazendo. Assim, ao expressarmos nossas reverências ao Kamiza, estaremos mantendo uma ligação com os espíritos (Kami) que se encontram neste lugar mágico de progressão denominado Dôjô.

Todas estas regras de cortesia e reverências não são somente maneiras de educação, mas, através do gesto tratamos de conectar com essas energias que se movem em nossa volta. Por exemplo, quando saldamos a um companheiro de prática, tratamos simplesmente de comunicar-lhe nosso respeito com um evidente propósito de “conexão”.

Se pensarmos no momento de realizar a reverência em: “O espírito que há em mim, saúda o espírito que existe em ti”, concluímos a evidência de que é a mesma divindade que existe em ambos. Isso nos recordará da conexão com as forças da Natureza, a gratidão para nossos mestres e a responsabilidade que assumimos com a tradição e para poder descobrir as chaves que regulam nosso potencial de crescimento espiritual.

Uchi Deshi

Primeiro gostaria de salientar algumas diferenças óbvias dos diversos significados da palavra Uchi Deshi,(que hoje é usada com tanta ligeireza, que quase toca a leviandade)…

Uchi Deshi “estudante interno” e verdadeiro “aprendiz” no sentido tradicional da palavra, de instrutor profissional, esse Uchi Deshi com o treino formal e tradicional, morreu realmente com os O´Sensei do passado. O verdadeiro Uchi Deshi tinha um treino extremamente duro, normalmente de 35 horas por semana mínimo, não só fisíco como mental e psicológico, tinha que ser o primeiro a começar e o último a terminar (e a comer), tinha que tratar diàriamente do Dojo, limpar o chão, os vestiários, limpar o pó, limpar o jardim, varrer a entrada do Dojo e o passeio da rua em frente da casa, tinha que servir o Sensei e os Senpai, não podia falar senão fosse interpelado, em viagem tinha que carregar a bagagem, verificar os WC antes do Sensei entrar, tinha que verificar o quarto do hotel antes do Sensei se acomodar, tinha que impedir que alguém se atravessasse pela frente do Sensei, tinha que dar massagens quando o Sensei tinha dores de costas, ombros, etc. Tinha igualmente que coordenar os cursos, assistir o Sensei e ajudar os participantes, era no entanto, companheiro e confidente do Sensei. Esse era o treino do Uchi Deshi mais do que ser “aluno interno”, era mais “discípulo interno”. Dizia-se que: “uma vez Uchi Deshi… sempre Uchi Deshi” pelo fato de poucos atingirem o nível de Sensei e que uma parte desse treino fica para sempre gravado na personalidade e caráter do “aluno interno”.

Hoje, a tradição do Uchi Deshi continua , mas é agora muito mais Soto Deshi (aluno externo) com algumas tarefas no Dojo, a nível de burocracia, atender visitantes, coordenar estágios, enviar cartas, organizar encontros, enfim ajudar nas tarefas extra, não vive no Dojo e normalmente não tem tarefas de limpeza e manutenção do Dojo, esta é a norma de hoje do Uchi Deshi no Japão e pelo Mundo, por último há o “título” de Uchi Deshi, que é atribuido hoje em dia por alguns Mestres, com o respectivo Diploma, em treinos de fim de semana ou ao final de um Gashuku… é pois necessário não confundir os diversos significados, níveis de dificuldade, a profundidade e seriedade do ensino tradicional baseado no esforço, abnegação e entrega total do Aluno, Mestre e Dojo, que dão conteúdo á função tradicional do Uchi Deshi de épocas passadas.

Agradeço a Nambu Sensei a oportunidade que me deu em Paris de 1967~1970, de ser o seu Uchi Deshi e por todo o ensinamento que me transmitiu, de forma simples e sem exotismos” ou “maestralidades”.

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Ainda mais agradeço ao meu falecido Mestre e amigo Hyabuchi O´Sensei, pela portunidade rara, na época, (1971~1973) de me ter aceitado como Uchi Deshi, numa

altura em que um Ocidental, nem era aceite como aluno dos Dojos de Iaido, fora de Tokyo, e como “aluno interno” era totalmente impensável e para muitos totalmente  “inaceitável”…

Autor: Sensei Alex Da Costa ( Iaido )

Faro, Algarve, Portugal

Dojo tradicional: elementos e aspectos da montagem

Texto de Walter Amorim Sensei

Baseado no texto do shihan James Herndon: A dojo guide; Elements of a Traditional Dojo.

shihan James Herndon tem um texto interessante que explica cada um dos elementos tradicionais que compões um dojo. Em cima deste texto, e agregando minha experiência pessoal, passo a vocês minha ainda limitada visão sobre este assunto: Montar um dojo tradicional. É realmente necessário e possível ter um? Depende. A meu ver para fazer um bom trabalho não é necessário um dojo tradicional e ao mesmo tempo, no caso do aikido, é necessário. Como assim? O que é um dojo tradicional afinal? Quando falamos que um dojo é tradicional lembremos que pode  estar falando do aspecto mais conceitual e metodológico, do que do aspecto amplo de se ter realmente um dojo tradicional em sua filosofia, estrutura e condução.

Vamos ao nosso caso específico aqui no Brasil: Muitos dojos na verdade são em espaços de academia – muitas vezes mistos – e não compõe a atmosfera e estrutura necessária a se criar um dojo tradicional. Não são dojos e sim salas de luta na verdade. É diferente. A Ganseki Kai em sua essência é um grupo de aikido tradicional. Sua academia central é o Ganseki Dojo. Mas, por hora pelo menos, não temos um local com um dojo construído nos moldes tradicionais e poucos locais são assim no Brasil. Temos projeto de um de nosso dojos sede ou não, no futuro ter esta característica. Mas não é simples como veremos. E se não for possível não invalidará o caminho que temos trilhado.

Vamos explorar um pouco mais o que é a montagem de um dojo tradicional. De forma geral, os alunos têm conhecimento da disposição geral de um dojo. Mas certos elementos que são encontrados em um dojo tradicional podem ser examinados e discutidos para um melhor conhecimento.

O Kamidana

Exemplo de arrumação de dojo de karate. No joseki o Hata na parede.

O kamidama vem da tradição xintoísta e não só está presente nos dojos, como também nas casas japonesas. Fora do Japão muitas vezes não é utilizado por certo distanciamento natural ou proposital, do caráter xintoísta desta tradição.

Entretanto, você não seguir a tradição xintoísta não significa, no entanto, que você deva abolir o kamidama. Ele também é um lembrete do significado por trás da busca do caminho. Principalmente nas artes que utlizam o termo DO – caminho. Ou seja: A meu ver não precisamos nos tornar adeptos diretos do xintoísmo para utilizar em nosso dojo tradicional um kamidama. Se não, já começa a não ser tão tradicional. Um dojo leva adiante certa tradição (ou ryu ha) e o kamidana contém objetos e / ou símbolos pertinentes a esta tradição particular. Muitas vezes, na tal sala de luta, substituímos o kamidama por uma simples foto do fundador.

O cumprimento:

Quando nos curvamos e cumprimentados o kamisa estamos apresentando o respeito a herança de sua arte.

No Brasil, tenho escutado alguns integrantes de outras artes dizerem: “Não me curvo a objetos ou pessoas mortas!” (apesar de dizer que sua arte é tradicional e utilizarem nome em japonês) Ou ainda: “Minha religião não permite me curvar!”. É uma questão delicada, ainda mais se envolve religião, mas eu pessoalmente não entendo. E eu digo que, se vou a uma sinagoga ou mesquita ou a um mosteiro ou igreja anglicana, não acho justo chegar lá e querer contestar a tradição deles e não utilizar kipa, ou qualquer outro objeto ou ritual. É uma questão de respeito não só a religião, mas até a tradição e cultura ali desenvolvida. Outro exemplo fugindo mais da religião: A maioria dos pratos na culinária chinesa é servido em pedaços em tamanhos próprios para serem comidos ser cortar. Tradicionalmente, a cultura chinesa considera o uso de facas e grafos à mesa como uma coisa bárbara, uma vez que esses são vistos como armas. Também não é considerado cortês fazer que o convidado tenha trabalho de cortar sua própria comida. Como nesse caso costumes então não é somente questão só de religião, mas muito mais de tradição. Pessoalmente não entendo então como pode querer arte marcial japonesa e não comprar o “pacote completo”…  Seguir um caminho tradicional exige um grau de desprendimento. Não adianta querer dizer que sou tradicional somente quando isto me importa “em termos de propaganda”. Tem um caso de um conhecido meu, instrutor do grupo ao qual pertencíamos, que se recusou por anos a cumprimentar o kamisa de forma tradicional se curvando. Dizia que na sua religião não era possível. Isto no período que permanecemos vinculados a um mestre estrangeiro, mas ocidental. Este reclamava, mas aceitava isso. Quando ele, o instrutor, se separou deste e passou a representar na cidade um mestre filho de japoneses, logo depois vi este mesmo instrutor tranquilamente cumprimentando como todos os outros. Parece que foi convencido…   …ou segue a tradição ou não fica no instituto…

Curvando-se ao Joza e seu kamidana associado, não é um sinal de significado religioso ou submissão. É um lembrete de uma obrigação e o compromisso voluntariamente sendo retomado de seguir o caminho. Sensei Gaku Homma uma vez explicou que o numero de palmas e outros elementos mostram ligação ou não com o aspecto religioso. 2 palmas são um cumprimento mais ligado a questão da tradição. 3 palmas é que já é uma saudação de caráter xintoísta. Verão algumas vezes 4 palmas! Parece-me que é ligação com budismo ou a oomoto. Isto é algo que não posso afirmar com certeza e não foi conversado neste ponto com Homma Sensei na época. O Sensei e alguns mestres de hoje como Saito Hitorira fazem o cumprimento com oração ao Deus do aikido. Mas isso nunca foi exigido pelo O-Sensei. E uma palma pode? Ou usa 2 no mínimo, ou só se curva e cumprimenta. Uma palma é para chamar a atenção durante o kihon e terminar a técnica para passar à próxima.

Alternativamente, em vez do kamidana, você encontra fotos do fundador do ryu ou seu mestre atual, a quem os praticantes vinculam uma relação com a sua contribuição para a arte.

O Hata

O hata é a bandeira do estilo ou da associação representada no dojo. Ou simplesmente a bandeira do dojo em particular. A idéia deve ser que há uma identificação clara com uma arte, estilo, associação ou país. Mas deve haver discrição. Se chegar a um local e receber a mensagem ou impressão de que você entrou numa sala de espera das Nações Unidas, você provavelmente já entrou em um lugar errado para a prática de budo. Deve ser encontrado pendurado no Joza, abaixo ou de lado do kamidana.

Dojo Kun

O Dojo kun pode se dizer que compreende o lema ou slogan do dojo e de seus membros. É composto por uma lista de preceitos ou princípios, dos quais cada membro deve estar ciente e seguir. Ele fica normalmente pendurado em forma de “kakemono”, em um lugar de destaque no Joza, geralmente acima ou ao lado kamidana.

Um exemlpo de Dojo Kun: O conhecido dojo kun da JKA (Japonesa Karate Association), encontrado no Joza do Dojo Central em Tóquio.

Exemplos do dojo kun ou lemas podem ser:

– Vigor e honra ou;

– Esforço, Cortesia e Paciência;

– ou ainda: A mente, a técnica, o corpo.

(eu gosto de todos eles)

Ou ainda, um conjunto ou outro, criado pelo fundador do ryu, ou seu shihan, ou ainda o Dojo cho (instrutor chefe do Dojo), representando um lembrete para o praticante, da etiqueta necessária quando se treina em qualquer forma de budo.

O Nafuda Kake

Geralmente na shimoza, encontra-se nafuda kake, uma exposição de placas de madeira com nome, que indicam posição e status dos membros do dojo. Não é incomum ter placas de kyu separadas das placas de dan no nafuda. Este método de rastreamento do membro serve como uma fonte de motivação e cria assim um forte sentido de ligação entre os membros. Falamos disso em artigo anterior específico sobre nafuda kake.

Nafuda geralmente são construídos a partir de madeira clara, como abeto ou pinho. Eles podem permanecer naturais, sem qualquer forma de verniz ou acabamento. Uma escova especial é usada para escrever nomes no nafuda, acrescentando autenticidade e beleza para eles. Em muitos casos, na parte de trás das placas nafuda, informações relativas à formação e promoção do respectivo membro são gravadas. Isto permite uma rápida revisão do histórico de treinamento membros. As placas podem ser reutilizadas, quando um aluno sai, simplesmente lixando a placa de identificação de madeira, no entanto possuidores de dan, devem ser geralmente mantidos desde a realização do exame de faixa-preta em caráter permanente. Não importam se foram. Fazem parte da historia.

É preciso tempo e atenção para manter um nafuda kake. Mas esse esforço é um investimento na criação de um ar de seriedade, aspecto tradicional e propósito no dojo. Um dojo não é nada mais que seus membros.

Outras características menos tangíveis:

Dentro do dojo, alguém pode ver e tocar no chão, no hata, no kamidana, no dojo kun, no nafuda kake. Mas são esses todos elementos que você encontraria em um dojo? Certamente há algo mais, que não pode ser tocado, mas sentido. Indo nesse sentido o japonês fala do termo wabi sabi.

É um conceito importante e falamos sobre isso em outro artigo especifico sobre Wabi Sabi.

Sobre esse conceito poderíamos falar também, de forma mais coloquial, como um sensei meu de outros tempos, ocidental, falava,: O dojo está bom. Gostei do lugar. Tem boa energia. O falecido Donn Draeger, em um trecho de seu livro The Martial Arts and Ways of Japan (Vol. II) descreve de uma forma interessante, mas não menos importante o espírito do dojo tradicional:

O dojo é austero, um lugar humilde de dignidade natural e tranqüila. Pode ser uma sala especialmente construída, espaçoso ou simplesmente uma pequena área, mas adequada e  interna. Sempre a limpeza e a ordem predominam. Na medida em que existe uma ligação do dojo com os elementos espirituais e físicos do budo clássico, a base da sua construção não deve entrar em conflito com essa relação. Wabi sabi, naturalidade, rusticidade e simplicidade (mas não sem um elemento de design) são a sua tônica.

Para capturar esse sentimento exige-se atenção aos detalhes. O dojo deve exalar um perfume da natureza, no que diz respeito à sua concepção e construção. Painéis de madeira são preferíveis ao bloco de concreto ou parede seca pintada. Isso adiciona “calor psicológico”. Superfícies pintadas devem ser em tons terra, em vez de em cores brilhantes ou berrantes. O efeito desejado é o de baixar o tom das emoções em vez de excitá-los. Espírito calmo deve permear no dojo.

Uma das características mais difíceis de explicar, e adotar, são a aparente falta de aquecimento e equipamentos de refrigeração. Este é um tema polêmico. Pelos nossos padrões ocidentais, isso pode parecer grosseiro. Mas, sob a concepção oriental de que o dojo é um spa de saúde, então você chegar a um acordo com a filosofia de treinamento nos elementos da natureza. No inverno, o calor deve vir de atividade corporal; Por outro lado, no verão, a transpiração é permitida para ter o seu efeito sobre o corpo, um efeito de resfriamento natural. Para muitos isso é cruel, mas nunca se deve esquecer que, no caráter marcial, muitos cuidados para o corpo enfraquecem o espírito. A noção de treinamento austero (shugyo) é essencial para forjar um espírito indomável (fudoshin), o objetivo do treinamento do budo. Aqui podemos discorrer sobre nossa experiência, opinião e concepção ao longo de muito tempo:

Vez ou outra alguém reclama do excessivo calor e pergunta se não poderíamos ter ar condicionado na academia. (e lembrem-se que na cidade do Rio de Janeiro podemos hoje chegar a temperaturas de 42º graus no alto verão!) É engraçado que logo outros que escutam falam que acham um absurdo isso. Alguns defendem que não deveria haver nem ventiladores no dojo!

Na minha visão, principalmente em um clube ou academia, nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Ar condicionado, que existe em certos lugares inclusive, realmente acho demais, pois passamos a não agüentar treinos sem ele. Não fica tão saudável, pois ficamos tendo que nos enclausurar em uma sala sem contato com o exterior. Sem ventilador seria interessante em um treino específico, e não como regra, para yudansha e nessa de condição de moldar o espírito e melhor condicionamento. Mas lembre-se que é uma questão opcional e não acho que treinar ou não com ventilador iria impedir de você adquirir a tenacidade como artista marcial. Outro dia vi a seguinte historia: Alguém em um treino de kenjutsu machucou o pulso por uma imprecisão do iniciante com quem treinava. Foi ao instrutor e pediu para parar por um momento e colocar gelo no local. O “instrutor” exclamou “Isto é guerra! Como você quer parar?! Estou cansado disso! Não paramos mesmo machucados!” Um exagero evidente, com uma boa dose de delírio e misturado com uma pitada de má vontade. Resultado: Um ótimo aluno (sei disso por que também treina aikido) que saiu de lá.  Como comentei, duvido que em guerra mesmo, esse Instrutor se sai-se bem, apesar de todo esse “misancene ou mise-en-scéne”.

Nossa associação tem caráter tradicional no sentido de buscar o desenvolvimento técnico e se direcionar ao caminho conforme a essência que acreditamos do budo. Sem modernidades ou resumos de técnicas exagerados. Mas sem, como dizia Homma Sensei, fantasiar que está no Japão Feudal. Nossa idéia de montagem de um verdadeiro dojo tradicional, em seus elementos básicos conforme aqui citados, passa por primeiro termos um local exclusivamente dedicado a prática ou com atividades ou outras artes que respeitem ou sigam estes elementos. Um dojo tradicional também fica muito bem em uma local que possa se ter algum contato com a natureza de alguma forma. Nem sempre possível. Um dojo tradicional também é interessante que tenha um pé direito alto. Não só por que é bom para o treino de armas no caso do aikido, mas por que facilita a ventilação e circulação de energia. Um dojo tradicional é interessante que tenha um ambiente mais tranqüilo somente com o som dos kiais, das armas se chocando ou do som da natureza. Já treinei em um dojo no centro de São Paulo que era dentro do campus de uma universidade e colado ao lado na subida de uma mata ou bosque.  Você via pela janela as plantas e dava a impressão de estar em uma floresta. Outro local tinha um riacho ao fundo e praticamente sem paredes. Dei aula em um treceiro local na parte do fundo de uma academia também quase sem paredes. Meia parede e alicerces. Muito bom também. São excelentes situações. Mas já vi outros locais que mesmo fechados ou uma sala sem elementos da natureza presentes tinham uma energia e clima muito melhores que alguns desses “abertos”. O dojo é feito pelos seus membros e eles transformam o local. Mas um bom grupo em um bom local, fica sim, excepcional. E será um dojo de sucesso onde as pessoas gostaram de lá estar.

Por isso que ao mesmo tempo em que observamos os elementos tradicionais, estejamos atentos que a moldagem do espírito vai muito além do que simplesmente ser um instrutor intolerante ou “mala”. Do que um dojo bem construído.

Aspectos técnicos filosóficos e materiais devem ser observados conjuntamente para construir um dojo tradicional. O sucesso em uma montagem e manutenção de dojo desses não é uma coisa simples. Novamente demanda, e muito, das pessoas participando ativamente destes 3 pontos; treinando, vivendo o caminho e contribuindo materialmente com sua criação e subsistência.

Outro último aspecto que quero observar é a questão do dojo Cho. Ser líder de um espaço como esse é uma tarefa que, aparentemente, pode ser para qualquer um, mas não é. Em situações mais comuns, da mesma forma que ocorrem em academias, o dojo Cho não mantém ou cria o espírito que é preciso para se manter um dojo tradicional. Lembram daquela coisa que falei lá na frente? Um dojo tem que ter energia, e está vem das pessoas, por meio da chama criada pelo dojo cho que atrai as pessoas e o bom clima de treino.

O dojo é representativo das lutas da vida. Para superar a adversidade requer força de caráter forjado por formação de mente, bem como do corpo. Muitos velhos métodos de treinamento foram melhorados e foram desenvolvidos recentemente com equipamentos, aumentando assim a eficácia da formação. Mas um dojo, acima de tudo, é um local de iluminação. A iluminação é uma jornada que tem lugar na mente, e a mente não pode ser enganada com babados e decoração bonita. A rota mais direta de auto-realização é através de auto-confrontação. Os elementos de um dojo tradicional nos faz lembrar constantemente do que é a jornada. Lembremos do significado de dojo: local do caminho.

Sentido de ter a faixa preta e o que se quer de cada Dan

Se é um desafio de compreensão e dicernimento do aikido, estabelecer critérios de avaliação para os alunos kyu em geral; o que dirá quando falamos de dan. Até por que muitos dos dan ainda estão por vir e somos razoavelmente recentes nestes nível. (Embora seja preta desde 2001 e com 22 anos de prática considero-me ainda em início comparando com meus modelos, meus mestres. )

Arrisquei a escrever mais sobre os shodan de meu proprio punho; e utilizei em uma segunda parte um texto que recebi das mãos do rokudan Claude Walla a alguns anos atrás, que traduziu da Federação Francesa de Aikido. Utilizo como linha base destacando-se que no shodan somam-se os conceitos.

Vejamos:

Minha compreensão e o que espero de meus pretas mais novos:

Shodan:
Seja qual for a razão, a obtenção da faixa preta ainda representa uma significante evolução em habilidades técnicas e habilidades competitivas para a maioria dos praticantes de todo o mundo. Contudo, como todos os praticantes graduados com Shodan rapidamente aprendem, isto também representa um passo inicial (o verdadeiro passo. o começo verdadeiro) no caminho para uma consciência superior e um grande aperfeiçoamento, seja técnico ou moral, e que pode levar uma vida inteira de dedicação. Deve saber as técnicas com ritmo, respiração; controlando o Uke sem precipitação, entretanto não deve exitar. Tudo o que foi feito até aqui foi só preparação… O candidato já deve ajudar durante a aula como multiplicador, não só corrigir, mas ajudar a se verificar se os alunos compreendem o que se quer de cada um, e da equipe do dojo como um todo. Ele deve ver se os alunos compreendem a etiqueta do dojo, a etiqueta geral do aikido e o que se quer de cada movimento; atuando como agente disseminador destes princípios dentro do dojo.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS PERSPECTIVAS TÉCNICAS, MORAIS E ESPIRITUAIS DO AIKIDO
C.S.G.A/FFAAA ( traduzido por Claude Walla)

SHODAN

SHO é o início, o que começa.
O corpo começa enfim a responder aos comandos e a reproduzir as formas técnicas. Começa-se a ter idéia do que é o Aikido. É necessário então esforçar-se para praticar ou demonstrar, lentamente se necessário, mas unindo-se a precisão e a exatidão.

NIDAN

Ao Trabalho do 1° Dan acrescenta-se rapidez e potência ao mesmo tempo que  se demonstra maior determinação mental.   Isto se  exprime no aluno pela sensação de ter progredido. Os examinadores devem sentir este progresso constatando uma clareza na maneira de se apresentar e na condução do trabalho.

SANDAN

É o início da compreensão do Kokyu ryoku. A entrada na dimensão espiritual do Aikido. A delicadeza, a precisão e a eficácia técnicas começam a manifestar-se. É então possível transmitir estas qualidades.

YONDAN

Neste nível tecnicamente avançado, começa-se a prever os princípios que regem as técnicas. É possível conduzir mais precisamente os  praticantes no caminho traçado pelo Fundador.

GODAN

A arte respeita os princípios e o espírito, começando a se  separar  da forma, não fica mais preso ao aspecto externo da técnica. Novas soluções técnicas aparecem em função das situações.

ROKUDAN

A técnica é brilhante, o movimento é fluido e potente. Deve impor-se como uma evidência àquele que o olha. A potência e a disponibilidade físicas, bem como a pureza mental unem-se sem ambiguidade no movimento e exprimem-se também na vida diária.

NANADAN

O Ser desembaraça-se das suas ocultações e aparece sob a sua verdadeira natureza; manifesta seu verdadeiro eu. Livre de qualquer fixação, prova a alegria de viver aqui e agora.

HACHIDAN

Para além da vida e a morte o espírito claro é aberto, capaz de unificar os contrários, sem inimigo, ele não briga. Sem combate, sem inimigo, é o vencedor eterno. Sem obstáculo é livre, livre na sua liberdade. O Sensei dizia “Em face do inimigo basta que eu me mantenha de pé sem nada mais”. A sua visão engloba e harmoniza a totalidade. Mas nada pára por aí. Mesmo  a água mais pura pode apodrecer numa lagoa; não se deve jamais esquecer o espírito do iniciante que realiza o seu primeiro passo.

O que se quer em cada Kyu

Abaixo um resumo do que se quer verificar por meio dos kihons em cada faixa segundo nossa ainda limitada compreensão do aikido e como seguimos na instrução na Ganseki.

Faixa branca – 6o  kyu
As faixas brancas, no sentido filosófico, podem ser mais apropriadas para refletir a pura inocência e virtude dos iniciantes. Não se conhece com certeza, nem mesmo os primeiros passos que terão que ser dados. Comumente não conseguem entender o nome das técnicas, limitando-se a decorar os primeiros nomes.

Faixa Amarela – 5o  kyu
Os primeiros passos começam a ser identificados: Começa-se a ter a noção das técnicas mais básicas, divindo-as em omote e tenkan, sabendo-se efetuar de forma rudimentar este omote e tenkan, bem como a fazer os primeiros rolamentos. O entendimento sobre a nomenclatura das técnicas começa a aparecer. Também, da mesma forma, os primeiros rolamentos são aprendidos.

Faixa Roxa – 4o  kyu
As faixas roxas(4º kyu) aumenta a compreensão das técnicas mais básicas e a postura correta começa a aparecer nestas técnicas. Os rolamentos começam a ser, no mínimo, efetivos para movimentos de média e pouca velocidade do Nague. A compreensão da nomenclatura das técnicas mais comuns de treino é praticamente completa.

Faixa Verde – 3o  kyu
Importante marco, pois é a metade do caminho para se chegar ao início do aprendizado do aikido. (O Aikido começa na faixa preta). Nas técnicas básicas começam a apresentar o controle do Uke, sobretudo nas imobilizações, utilizando o quadril, maai e outros princípios. Na postura, embora não esteja totalmente reta, não se apresenta o erro de colocar a cabeça muito a frente. Como Uke se percebe que a pessoa sabe acompanhar muito bem em movimentos de média velocidade e/ou forma, e em alguns movimentos de velocidade e/ou forma mais avançada. Os movimentos do Aikido estão incorporados na forma mais básica em seus reflexos. Começa a demonstrar a dedicação pelo Aikido. Entende a maioria da nomenclatura das técnicas.
Não deve haver mais erros sobre o que é Omote e Ura, posições das mãos ou ritmo e respiração. Começa a ter as primeiras habilidades no manejo do Jo e bokken, principalmente o primeiro, conforme é orientado pelo instrutor.

Faixa Azul – 2o Kyu
Nas técnicas básicas apresentam razoável controle do Uke, utilizando quadril e maai e outros princípios com algumas alhas. Nas técnicas avançadas começam a entender e tentar aplicar os princípios e buscar sua efetividade. Como Uke, se percebe que a pessoa sabe acompanhar perfeitamente movimentos de média velocidade e/ou intensidade, e acompanha sem problemas quase que todos os movimentos de velocidade e/ou intendidade mais alta. Tem que saber agora diferentes formas de cada técnica. No randori começa a ter melhor noção de trabalho com os ukes, saindo sempre do meio deles. Entende a grande maioria da nomenclatutra das técnicas. Começa a ter razoáveis habilidades no manejo do Jo e bokken, principalmente o primeiro. Dependendo do que aconteceu até o momento, o ego deve ser controlado intensamente.

Faixa marrom (1º kyu)
Nas técnicas básicas apresentam o controle do Uke, utilizando quadril e maai e outros princípios com certa efetividade. Nas técnicas avançadas começam a aplicar os movimentos com falhas, mas com diferentes formas de cada técnica sem parar para pensar. Como Uke se percebe que a pessoa sabe acompanhar perfeitamente movimentos de alta velocidade e/ou intensidade, apenas alguns poucos movimentos muito difíceis, até para yudanshas são difíceis. No randori começa o trabalho com os ukes de forma mais efetiva e com variedade, saindo do centro e efetuando técnicas em Irimi, tenkan, abaixando com variedade. Entende a maioria da nomenclatutra das técnicas. Tem as primeiras habilidades solidificadas no manejo do Jo e bokken, principalmente o primeiro( sobretudo suburis), e atende ao programa de progressão técnica. Dependendo do que aconteceu até o momento, o ego deve ser controlado ainda mais intensamente, para não ter maiores problemas quando da promoção a preta, fato comumente causador de aumento dos egos, até mesmo pelo tipo de assédio/tratamento dos kyus abaixo.