Confrontos e revoltas históricas marcaram o surgimento de uma nova classe social: a dos samurais
A Era Heian marcou o surgimento e a ascensão dos samurais e de seus principais clãs, que entraram para a história do arquipélago com suas lutas e revoltas, episódios nos quais eles mediram forças na luta pelo poder. Essa nova classe passou a integrar a estrutura social da época ao lado da nobreza tradicional.
Surgimento da classe dos bushi (samurai)
Enquanto a nobreza, liderada pela família Fujiwara, levava uma vida de muito luxo e requinte, os senhores rurais, donos de shôen, foram aumentando o seu poder de combate treinando guerreiros primeiro para proteger suas terras da invasão alheia, depois para conquistar novas terras. Esses senhores rurais se tornaram funcionários de kokushi (espécie de governador), administradores rurais ou guardiães das terras, recebendo títulos de nobreza ínfima. Eles passaram a liderar grupos de guerreiros, ou seja, de bushi, que nutriam grande admiração pela vida luxuosa da capital. Assim, os nobres enviados ao interior como kokushi pela corte Yamato recebiam tratamento especial, extremamente respeitoso.
Dessa forma, entre os nobres mandados para o interior como kokushi, surgiram aqueles que preferiram permanecer no campo, mesmo após o término do seu mandato, já que não havia perspectiva de uma vida melhor na capital. Alguns nobres que optaram pela vida rural formavam seus grupos de bushi (samurai), formando tropas de combate e tornando-se seus líderes, iniciando, dessa forma, a criação dos clãs.
A Revolta de Masakado
Em 939, Taira-no-Masakado reuniu os bushi insatisfeitos com os enviados da corte que governavam as suas regiões e voltou-se contra o poder da capital. Declarou-se imperador e iniciou a revolta contra os nobres da capital, atribuindo poderes aos bushi, seus seguidores.
A revolta de Masakado foi contida por Fujiwara-no-Hidesato, outro nobre que tinha se instalando no interior (atual província de Tochigi) e por seu primo, Taira-no-Sadamori. Masakado morreu durante a batalha.
Famílias Minamoto e Taira
Com o objetivo de reconquistar o controle do país e refrear o poder da família Fujiwara, o imperador Gosanjô (1034~1073) criou o sistema de insei, pelo qual foi introduzido o cargo supremo de jôkô, que conferia ao imperador que abdicou o poder de governar em nome do novo imperador. Assim, Gosanjô abdicou do trono em favor de Shirakawa (1053~1129) e tornou-se jôkô, governando o país pelo sistema diárquico. Por não ter nenhum parentesco com a família Fujiwara, Gosanjô conseguiu governar o país livremente ao longo de 43 anos como jôkô de três imperadores, contando com a proteção de Minamoto-no-Yoshiie. Enviada para combater os povos de Ezo, a família Minamoto pediu auxílio aos guerreiros da região leste da ilha principal do Japão, com os quais conseguiu vencer a batalha e criou fortes laços. Para conter o crescente poder dos Minamoto, Gosanjô encarregou também a família Taira do serviço de proteção.
Uma guerra entre as famílias destacou-as no panorama político pela primeira vez na história do Japão, em 1156, com a Revolta de Hôgen. Em 1159, a Revolta de Heiji colocou frente a frente os Minamoto e os Taira na luta pelo poder. A batalha foi vencida pela família Taira, que passou a controlar politicamente o Japão. Em 1168, Taira-no-Kiyomori (1118~1181), chefe da família Taira, ocupou o cargo de ministro, dajô-daijin, tornando-se o primeiro samurai a ocupar tal posição. A família Genji ficou, então, à espera da revanche.
Minamoto-no-Yoritomo da família Genji, que havia sido exilado em Izu-no-Kuni (província de Shizuoka), junto com seu sogro, Hôjô Tokimasa, atacou a família Taira em Izu-no-Kuni, mas foi derrotado. Porém os comandantes de guerreiros da região de Kantô juntaram-se a Minamoto-no-Yoritomo. Seu irmão, Yoshitsune, conhecido por sua bravura, também saiu de Ôshu-Hiraizumi (província de Iwate) e passou a lutar ao lado de Yoritomo, que conseguiu, lentamente, instalar-se em Kamakura.
Acometido por uma febre alta, Kiyomori faleceu pedindo, em seu leito de morte, a cabeça de Yoritomo, em 1181.
O último confronto entre os sobreviventes da família Taira e as tropas de Genji aconteceu na Baía de Dan-no-Ura (província de Yamaguchi). A batalha foi vencida pelas tropas de Genji, em 1185. O pequeno imperador Antoku, neto de Taira-no-Kiyomori, morreu junto com sua mãe, filha de Kiyomori, nessa batalha, encerrando, assim, a Era Heian. Em 1192, Minamoto-no-Yoritomo instalou-se em Kamakura, dando início ao shogunato Kamakura. Esse foi o começo da era dos samurais no Japão.
A ascensão e a queda da família Taira, ou seja, Heike, pois a leitura chinesa do ideograma da família Taira é = Heike, foi narrado pelos biwa-hôshi, uma espécie de menestrel. Sua narrativa é conhecida como Heike-Monogatari (contos da família Heike), cujo tema central é a efemeridade da vida.
A vida na corte
Enquanto os bushi levavam uma vida austera, dedicando-se ao treinamento de artes marciais, os nobres se esmeravam em luxo e requinte. Eles vestiam várias camadas de roupas e valorizavam as combinações das cores que se entreviam em golas, mangas e barras, no caso das mulheres. Assim, além da qualidade do tecido, os nobres preocupavam-se também com as cores e seus efeitos. Existiam algumas cores usadas conforme a classe social do indivíduo.
Os nobres dessa época carregavam na maquiagem. Depilavam as sobrancelhas e desenhavam-nas com tinta de carvão. As mulheres adultas tingiam os dentes de preto.
O perfume de incenso, que foi introduzido no Japão junto com o budismo, era usado no dia-a-dia pelos nobres. Cada um criava seu próprio perfume misturando no mínimo dois tipos de incensos. Os nobres perfumavam os seus trajes queimando os incensos para que suas roupas ficassem impregnadas com o perfume criado.
A beleza feminina era medida pelo comprimento dos cabelos, que deviam ser longos, negros e sedosos. O máximo de beleza era ter cabelos mais longos que a própria altura, não ser muito magra e ter a pele bem branca.
Hábitos alimentares dos nobres
A alimentação da nobreza era modesta. O prato principal era o arroz, cozido com a água ou no vapor, acompanhado de peixes, carne de aves, verduras, algas e frutas. Os peixes eram, em sua maioria, secos ou conservados na salmoura. Por influência do budismo, muitos não consumiam peixes ou carnes, ficando desnutridos e doentes. A refeição era feita duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde.
Casamento na nobreza
Os nobres não moravam juntos ao se casarem. O homem possuía residência própria e freqüentava a casa da mulher, que tinha o dever de, com sua família, criar os filhos. A família da mulher também cuidava do marido, vestindo-o e alimentando-o. Tanto a mulher como o homem podiam manter relação com outros parceiros, porém sempre tratando a todos com igual respeito e consideração.
Esse tipo de casamento explica o grande poder e influência que o sogro exercia sobre o imperador, ao casá-lo com sua filha, muito embora o monarca construísse uma residência para suas esposas, em vez de visitá-las na c