Por Que Brigam os Pit Boys ?

Por Que Brigam os Pit Boys ?
Por Luiz Magãlhaes.

“É um equívoco associar os “pit boys” ao jiu-jitsu, conforme lemos com freqüência nos jornais. Os atletas são disciplinados e não procuram confusão. Além do mais, o jiu-jitsu é um “jogo de xadrez”, prevalecendo a inteligência sobre a força. Portanto, minha solidariedade aos milhares de adeptos brasileiros do jiu-jitsu que amam a prática esportiva desta modalidade.

Na base das chamadas artes marciais japonesas estão a disciplina, o bom-caráter e a gratidão. Eu diria que há mais duas qualidades essenciais: bom humor e humildade. Só a arrogância é capaz de eliminar a vontade de aprender e a procura por autoconhecimento. Com arrogância, partimos para o confronto como instrumento de compensação, transformando o medo em violência.

Será possível entender esta questão de violência sob a ótica das leis naturais ? Acho que sim, mas não é fácil entender o universo. É como a arte marcial: não precisamos entender, apenas praticar. Não é preciso decifrar o universo, basta participarmos dele. É isto, trata-se de “praticar o universo.” Se é requerido de nós esvaziarmos a mente para a prática da arte marcial, o mesmo se aplica à natureza. Em ambos os casos a condição indispensável é a paz de espírito, que acaba se expressando através da bondade no processo de integração de espírito e matéria. Quando isto acontece criador e criatura se tornam um só. A solução é simples. Apenas diferem os Caminhos: taoísmo, budismo, psicanálise e por aí afora…

Desde que comecei a praticar Aikido, ouço os professores dizerem que precisamos nos alinhar com o ataque, harmonizando-nos com a natureza. E somos estimulados a aplicar este conceito à vida diária. E que a prática inclua o ingrediente mágico: o bom humor – coadjuvante eterno da sabedoria e da inteligência. Aikido é isto: dar respostas positivas, criar vibrações positivas

O processo de harmonia começa com as nossas próprias palavras. Já perceberam que os pensamentos são feitos de palavras? Portanto, é vital colocar “uma sentinela à porta da mente” para escolhermos palavras positivas.

No caso específico do Aikido, treinamos sentimento, respostas positivas no sentido da resolução pacífica dos conflitos. Nosso objetivo é alimentar com vibrações positivas a energia universal, mantendo o corpo e o espírito livres para que se harmonize com as leis da natureza. A inteligência e a sabedoria atuam na medida em que controlamos o que está ao nosso alcance imediato: logo em seguida o bom humor entra em campo com as palavras construtivas e as conseqüentes vibrações positivas. Direcionamos isto ao universo, que sempre responde ao que estivermos produzindo. No Caminho do Aikido isto se chama “sentimento de Kokyu” – em perfeita harmonia com a energia universal.

É justamente o lado oposto da equação – a falta de harmonia – que gera violência, fragmentada pelos diversos grupos. Não somente os pit-boys da classe média, mas os “skinheads”, as gangues de subúrbios e os maus-elementos infiltrados nas torcidas organizadas. A lista é imensa. Todo dia, um grupo novo inaugura uma modalidade diferente de ódio e violência, através do espancamento de prostitutas, mendigos ou homossexuais. Nas delegacias de polícia os depoimentos são sempre os mesmos: espancaram “porque tiveram vontade.”

“Por Que Brigam os Pit Boys ?” Bem, a violência tem múltiplas causas. Logicamente, os atos de barbarismo não estão confinados aos grupos já citados. Estudos médicos indicam que o comportamento violento pode estar relacionado a disfunções do cérebro, à predisposição genética, fatores ambientais e histórico familiar. Dizem alguns especialistas que é possível intervir, quando fatores violentos são identificados na infância. Enfatizam que é necessário tratamento, porque alguns transtornos de conduta evoluem para quadros mais graves. Enquanto escrevo, escuto a apresentadora da Band News anunciar as notícias da hora: “Motorista morre em briga de trânsito em São Paulo. No Rio, pedestre é agredido por motorista com barra de ferro.” No Brasil são as barras de ferro. Nos Estados Unidos, eles usam os famosos tacos de baseball. Portanto, fica a advertência: não se briga no trânsito, ou melhor, não se discute. Vamos que do outro lado da contenda tenhamos um psicopata, um criminoso, um “serial killer.” Todo o cuidado é pouco. Evite brigar no trânsito!

Bem, perto de tudo isso que já explicamos, os pit boys são uns anjinhos mal compreendidos. Essa rapaziada tem um perfil bem claro. Buscam emoção fácil, são individualistas, preconceituosos, não suportam raças diferentes ou de outra condição social. É muito fácil, portanto, arrumar briga em casas noturnas, bares, estádios de futebol, etc. O estopim da agressividade é de fácil combustão, diante de uma demanda natural por violência, produção farta de testosterona, e falta de disciplina para manter a adrenalina em níveis toleráveis.

Certa vez ouvi de um praticante graduado de Aikido, que não houve alternativa para resolver o conflito. Uma banda de “rock” se apresentava na PUC, no Rio. Ele assistia ao show com a namorada, quando chegaram os “pit boys.” O líder do grupo começou a empurrar com violência e jogou a namorada do nosso colega ao chão. A resposta foi imediata, tipo reação medular: a técnica de defesa foi “irimi nague:” entrada rápida na direção do atacante na altura do pescoço – o “pit boy” caiu de costas e “apagou.” A resolução não foi pacífica, mas não havia alternativa e o protocolo do Aikido” permaneceu intacto.