Separação de Corpos utiliza expressão corporal e Aikido para tratar de rompimento amoroso

Responsável pela dramaturgia, direção, cenários e figurino, a atriz Renata Mazzei destrincha no palco as agruras de uma separação, utilizando expressão corporal inspirada nas técnicas do Aikido. A trilha é composta por Dudu Tsuda, da banda Trash Pour 4 e o figurino de autoria de Renata Mazzei e da atriz Suzana Alves. Separacao de corpos1_credito Vitor Vieira

A união de experiências pessoais com técnicas do aikido é base do novo espetáculo solo de teatro da atriz Renata Mazzei, do CEPECA (Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator). Separação de Corpos é um projeto que une elementos de expressão corporal e técnicas da arte oriental aikido para contar a trajetória emocional de uma mulher que se separa do marido. A estreia é dia 8 de agosto, sábado, às 19 horas na Sala Experimental do TUSP . A temporada acontece aos sábados e domingos até 30 de agosto.

Concebida a partir das experiências pessoais da atriz e diretora, a dramaturgia, assim como todo o projeto, nasceu em meio à desordem da separação conjugal enfrentada por Renata em 2007. Diante da ebulição emocional gerada pela situação, a atriz alcançou os estímulos necessários para que, por meio de improvisações, construísse o roteiro e as cenas. “Quando comecei a criar a peça estava vivendo o fim de uma relação de 10 anos. Fui pega de surpresa, estava muito confusa, deprimida, angustiada e isso me trouxe uma turbulência emocional muito grande”, conta Renata.

Assim, das emoções, veio a criação: “Estava com meu mestrado atrasado, com dificuldade de me concentrar nele. Decidi, então, destrinchar esse tema, por uma necessidade íntima, como forma de entender o que eu estava vivendo e de me limpar de toda a carga negativa que uma separação traz. Não queria que isso fosse simplesmente uma terapia, mas que se transformasse em uma obra de arte com a qual outras pessoas pudessem se identificar”, explica Renata.

Aikido e dramaturgia
Além do texto, que expressa apenas uma parte dos elementos envolvidos no processo, a dramaturgia se completa com as imagens formadas pelos movimentos da atriz e pelos objetos utilizados em cena, ancoradas nas referências técnicas do aikido. A referência da arte marcial para a cena foi o resultado da pesquisa realizada por Renata em seu projeto de mestrado, O Aikido e o Corpo do Ator Contemporâneo.

Renata, que é praticante de aikido há 6 anos, explica: “Enquanto aprendia as técnicas do aikido fui percebendo que, em diversos aspectos, esta arte respondia a diversas questões surgidas no meu trabalho. Então passei a treinar não mais como uma mera aikidoista, mas como uma atriz pesquisadora, interessada em extrair desta arte marcial seus elementos essenciais e estabelecer uma ponte com meu trabalho de atriz”.

Na primeira parte da peça, está uma mulher que se prepara para o encontro com o amado. A fala é suprimida e a cena se conduz apenas por ações físicas. Em cena, um lençol simboliza o quimono usado no ritual de preparação das gueixas. Assimetria, ritmo lento e movimentos suaves denotam a inspiração na temática japonesa. Depois, o lençol se transforma no homem. O casal vive, assim, uma noite de amor representada pelos movimentos suaves da atriz. O homem, em seguida, vai embora. Essa partida é simbolizada pelo embate da mulher com o lençol – que agora deixa de ser o homem e se torna o vazio deixado pela separação.

Separacao de corpos6_credito Vitor VieiraA peça se desenrola com a percepção de solidão que assola a mulher e sua conseqüente prostração e desespero diante do abandono, que a leva ao luto. “Como símbolo de luto, uso uma saia inspirada no hakama que é uma roupa usada no aikido pelos praticantes mais graduados. Originalmente era usado por samurais para proteger as pernas enquanto andavam a cavalo. Em combate, o hakama escondia as pernas, tornando mais difícil prever a movimentação, dando assim, vantagem durante o combate”, explica a atriz.

As falas surgem quando começam os primeiros desequilíbrios e quedas, que sinalizam a desestabilização da personagem. A atriz passa pelos sentimentos de saudade e revolta, típicos dos términos de relação, enquanto recita textos criados durante a improvisação nos ensaios. Uma das referências técnicas do aikido utilizadas para retratar a revolta é o jyuwasa, uma seqüência livre de ataques do uke (quem recebe a técnica) sobre o nage (quem executa a técnica). Dos movimentos, a princípio, estáveis, surgem recordações que geram angústia, tristeza e raiva, explicitadas através da relação com os móveis, em que a atriz passa a ser golpeada pelos objetos em cena.

Ao atingir o esgotamento, a personagem toma a iniciativa de esperar o retorno do amado, alimentando a esperança de reconciliação, que o amado se recusa a aceitar. Simbolizando o homem, o bastão – chamado de jo no aikido – cria partituras, inspiradas nos golpes realizados com este elemento. “Pensei nele para a cena em que a personagem imagina o homem chegando, pelo sentido fálico do bastão e porque as movimentações com esse objeto são muito bonitas”, conta Renata. O desfecho da ação é a constatação do fim, a partilha dos bens entre o casal e a dissolução da relação, seguido pelo reinício do ciclo, que leva a personagem a seguir em frente.
Cenografia, trilha sonora e figurinos
No cenário, também de autoria de Renata Mazzei, caixas de madeiras espalhadas pelo ambiente fazem o clima da separação. “Caixas guardam segredos, conservam e protegem coisas, podem representar presentes ou objetos em mudança”, explica a atriz.

O princípio da esfericidade está presente em toda a estrutura da montagem, inclusive no cenário, na disposição das caixas. Como explica Renata, “todas as técnicas do aikido são circulares, pois, entende-se que o movimento circular é mais eficiente para vencer a resistência contrária”.

Sobre a trilha, composta pelo músico Dudu Tsuda (da banda Trash Pour 4), Renata explica que usou as músicas de Chico Buarque como estímulo, porque condiziam com o tema da separação, do amor e da saudade. “Só depois que as cenas estavam prontas é que o músico começou a criar a trilha”, conta a atriz. Já o figurino foi resultado da parceria entre Renata Mazzei e Suzana Alves, que também faz parte do CEPECA.

Sobre o grupo
O CEPECA (Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator) foi criado em 2007 por alunos da graduação, mestrado e doutorado, com direção do Professor Dr. Armando Sérgio da Silva e está sediado na ECA-USP. O CEPECA tem, como objetivo principal, o desenvolvimento de projetos específicos na área de interpretação, através da aplicação de ações, procedimentos e exercícios visando resultados perceptíveis na cena teatral. Desde a sua criação, se preocupa em aprofundar as pesquisas na área da interpretação através de seus vários núcleos. Em seu repertório estão os espetáculos: Hamlet, A Mulher e o Cisne, Ana-me, todos de 2009. Está previsto para setembro de 2009 o lançamento de um livro composto por artigos escritos por seus integrantes a respeito das pesquisas desenvolvidas.

Sobre Renata Mazzei
Atriz formada pelo Teatro Escola Célia Helena (1998) e advogada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1997), Renata concluiu recentemente pesquisa em nível de Mestrado na Escola de Comunicação e Artes da USP e integra o CEPECA (Centro de Pesquisa e Experimentação Cênica do Ator) coordenado pelo Prof. Dr. Armando Sérgio da Silva, dentro do qual preparou os espetáculos Separação de Corpos e A Mulher e o Cisne. Renata fez parte da Arte Tangível Cia de Teatro até 2007, companhia com a qual apresentou os espetáculos Sobre Sonhos e Esperança – espetáculo inspirado na vida e obra de Paulo Freire (2006/2007) -, Itãs Odu Medeia (espetáculo inspirado nos rituais do Candomblé – 2006/2007), Solidão (2005) e Nasus e Flora- Uma estória de amor (2002 a 2005).

Para roteiro
SEPARAÇÃO DE CORPOS – Estreia dia 8 de agosto, sábado, às 19 horas, no TUSP – Sala Experimental. Direção, Dramaturgia e Cenário: Renata Mazzei. Figurino: Renata Mazzei e Suzana Alves. Assistência e supervisão: CEPECA (Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator). Elenco: Renata Mazzei. Trilha Sonora: Dudu Tsuda. Duração: 50 minutos. Recomendação: 16 anos. Capacidade: 30 lugares. Temporada: sábados às 19 horas e domingos às 18 horas. Até 30 de agosto. Sinopse: Uma mulher, após ser deixada pelo amado, enfrenta diversos estágios emocionais em busca da superação dessa perda. Por meio do contato com os móveis da casa e das lembranças do passado, que desperta sentimentos como desespero, esperança, frustração, alegria, tristeza, desânimo e saudade, ela tenta se reajustar a nova realidade, descobrindo como seguir em frente. As ações da personagem bem como a concepção cênica foram inspirados no Aikido.

TUSP – Rua Maria Antônia, 294 – Vila Buarque – Tel. (11) 3255-7182. A bilheteria abre uma hora antes do espetáculo. Ingressos podem ser reservados por telefone ou pessoalmente na administração do teatro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Ingressos – R$ 20,00 (meia-entrada para estudantes, idosos e classe artística). Estacionamento conveniado: Rua Maria Antônia, 176 – R$ 6,00 mediante apresentação do carimbo ou comprovante de entrada.

Fonte: ARTEPLURAL Comunicação – Assessoria de Imprensa
Jornalista responsável – Fernanda Teixeira
MTb-SP: 21.718 – tel. (11) 3885-3671 / 9948-5355
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