Neste momento, após retornar do bonito encontro do “Aikido Juntos”, organizado pelo meu amigo Roney Rodrigues, vale uma reflexão. E porque não, uma orientação? O evento foi um sucesso. Roney conseguiu reunir diversos grupos. 7 diferentes grupos Brasileiros, incluindo nós; da UBA; sendo 11 sensei dando aula em dois dojos simultaneamente. Interessante também o que ele falou no fechamento: “O Aikido depende de esforço, dinheiro e tempo. E a união de todos é que fará o Aikido crescer. Esqueçam o passado e eventuais rusgas. Vamos trabalhar o futuro.” Temos que trabalhar no Aikido pensando que o esforço, tempo e dinheiro são necessários para nosso desenvolvimento, para o Aikido e para o grupo. Exatamente temos, sobretudo os mais antigos, que pensar nessas 3 dimensões: Nossa contribuição para o Aikido, nossa contribuição para o NOSSO Aikido e a nossa contribuição para o nosso dojo, nossa associação. Como artistas marciais temos que ter essa consciência maior. Nosso Shihan Dutra, em nossas conversas, falou muito sobre termos a consciência do nosso papel. E que transmitimos aos alunos o que deles esperamos. E hoje, talvez diferentemente dos tempos clássicos, realmente não se tem consciência do que é exatamente arte marcial, ou seu papel como artista marcial. Talvez por força das superficialidades das relações humanas de hoje, na época que as pessoas têm dificuldades de ler mais de 500 caracteres, e refletir mais, tudo tem que ser explicado. As sutilezas não são entendidas. Não há empenho em treinar a reflexão de seu papel no mundo. Sempre foi essa uma busca no caminho marcial. Tudo hoje é muito baseado no imediatismo, na superficialidade. Ontem estava vendo uma arte marcial, de certo professor, aula de defesa pessoal online. É a era dos sensei de youtube, de rede social. Do engodo. Dito isto. Se chegaram até aqui, parabéns. Conseguiram ler mais do que algumas frases. Agora vou sintetizar um pouco do que já está no nosso site e permeia nossas conversas: Cada um, enquanto alunos e sensei, dentro de sua graduação tem uma responsabilidade. Nas 3 esferas: Contribuição sincera é esperada para:
● O AIKIDO;
● O grupo e o dojo;
● Para seu desenvolvimento técnico e pessoal em geral como artista marcial
Aluno Kyu: Um aluno kyu, ainda iniciando, deve: Ir aos treinos, se desenvolver tecnicamente, participar das atividades sempre que possível, tentar entender o conceito de arte marcial.
Aluno Sempai: O sempai, deve: fazer tudo isso, e ajudar os iniciantes no treino, com espírito de cooperação. Participar de alguma forma na estabilização e crescimento do dojo. Nessa hora, o entendimento de que a aula de Aikido não é um curso de inglês, que você, não é só um cliente, mas um realizador de seu caminho, já deve ter sido assimilada. Ir sempre aos eventos obrigatórios, a não ser por força maior. E estar presente sempre que possível.
Aluno yudansha: A medida do crescimento da graduação, a responsabilidade, é claro, é maior: Tudo que antes era necessário, agora mais ainda. Além dos aprendizados técnicos, do sentido de cooperação, assimilado aos poucos, quando sempai, o entendimento de que você é uma referencia aos mais novos deve ser claro na sua mente. Você é observado pelos mais novos. Não só executando técnica, mas no seu comportamento e dedicação ao Aikido, ao grupo e aos outros alunos. Ao respeito pelos seus pares, e mais ainda ao seu sensei. Se você está há anos ou décadas aprendendo com um sensei e não entende a dedicação que ele tem ao Aikido e aos alunos, não o trata com respeito, não só, obvio, o chamando de sensei, mas com apreço pelo que ele já fez por você, pelo grupo dele. Se não entende o respeito que ele nutre ao seu sensei ainda presente, ou lá no seu passado; e pelo Aikido, é melhor repensar comportamentos. Se você desiste de ir a uma aula, não participa das atividades dentro do dojo, nos eventos da organização, não se empenha, não só em ir nos eventos apontados como obrigatórios, mas em outros importantes (como esse ultimo) você realmente aprendeu o que é o Aikido? Qual é o modelo que você está passando para os alunos mais novos? Sensei Roney, no evento, destacou um fato após a apresentação dos sensei de Iaido: Eles viajaram de SP, outro de Ribeirao Preto, outro de outra cidade, somente para uma apresentaçao de 15 minutos. Viajaram centenas de km somente para difundir a sua arte aos praticantes de outra. Isso é dedicação. E sem contar que sendo eles de cidades diferentes, fizeram apresentações totalmente coordenadas, muitas vezes em conjunto, o que por mais que sejam katas formais, exigiu ensaio e treino. Dedicação Para os yudansha do grupo, eu entendo que a participação é: Ir nos eventos obrigatórios SEMPRE, ir nos eventos da UBA e Ganseki Kai. Fazer um esforço sincero sempre para estar presente e inspirar os outros alunos. Buscar soluções para o grupo e ter no espírito a sensação de que é seu grupo e sua responsabilidade. Que não é o seu sensei que tem que fazer tudo. Você não é um turista de passagem. Dar aula informalmente quando necessário dentro do tatame, auxiliando o sensei, mas sem exageros, para não assumir a aula no lugar dele, mas o apoiando. Sobretudo em dojo cheio e/ou grande. Mas observar que nem todos os sensei gostam, e com bom senso. Além disso sempre que possível assumir um/uns horários como instrutor em um dos dojos ou mesmo buscar um local seu para isso. Shihan Dutra disse que na visão dele não existe isso de gostar ou não de dar aula. É uma obrigação com o Aikido. De respeito com ele e tudo o que foi feito pelos que antes vieram. Ou você valoriza o Aikido ou não. Uma coisa que quero enfatizar é que eu pessoalmente sempre abri para que conversassem comigo pessoalmente, sobre as inquietações e dificuldades. Assim como sensei Dutra e eu conversamos sempre, abertamente e nem sempre concordamos de inicio. Mas ele está ali para abrir minha mente com muito apreço. Mesmo quando as palavras são firmes. Mas que eu, por uma amizade de 20 anos e pelo imenso respeito que tenho por esse meu mestre, sei que ele tem uma experiencia e vivencia que serão sempre para mim uma referência. Sou muito grato pelo que ele fez e faz por mim, pelos nossos grupos (Sansuikai, agora a UBA e pela Ganseki Kai) pelo Aikido. E ele é exemplo para muitas pessoas no Brasil e fora dele. Mais do que um sensei, e também agora um amigo. Da mesma forma acredito que eu, se mereço alguma consideração, tenho que ser procurado pelo yudansha, ou qualquer aluno que precise, e informado de qualquer mal estar, problemas que estejam passando na Ganseki Kai, sobretudo os yudansha do grupo. Nem sempre poderemos atender ou resolver todas as questões, assim como sensei Dutra não pode me atender sempre, mas o entendimento e aceitação de limites é um desenvolvimento que o yudansha deve estabelecer em seu caminho. É amadurecimento. Mas é claro que existem coisas que podem ser resolvidas sim, e situações podem ser conduzidas da melhor forma se elas forem comunicadas. Não existe não falar. E eu não posso adivinhar. A adivinhação não deve ser um talento muito comum. E eu não a possuo, com certeza. Talvez finalizando: Se você não tem ido nos eventos obrigatórios, como nosso seminário de junho, se você não foi neste em SP, não comparece aos eventos gerais de treino, onde tento reunir todos, não vai aos treinos regulares; não está cumprindo o que esperamos e entendemos como dedicação e esforço. Voce está no grupo? Você está no Aikido? E em um grupo sério a visão seria diferente. E alguns agravantes: Se você é um senpai, se você é um yudansha, se como yudansha não dá aula, não incentiva os alunos mais novos, não promove um bom exemplo; não estamos vendo isso com bons olhos, pois você não está contribuindo devidamente com Aikido, com o grupo e com seu próprio desenvolvimento. Se este for o caso: O que falta dos 3 grupos de esforços? Não tem tempo? Não tem conseguido dedicação, Não tem dinheiro? Precisa de ajuda? Converse com a gente. Sente inquietações, já conversou com seu sensei? Já tentou buscar soluções? Está se esforçando ao máximo? Se o Aikido, o grupo e seu Aikido estão desassistidos, busque solução. E seja franco e justo com seu sensei e consigo mesmo. Eu, realmente não vejo com bons olhos, a falta de franqueza, e de esforço. E não posso ver igualmente o aluno que se esforça, apesar de tudo, com aquele não o faz, Seria uma injustiça com quem cumpre tudo o que falei. E são muitos. Por isso como disse, me procure, estarei aqui para auxilia-los na medida do possível, basta marcar uma conversa ou reunião comigo. Eu procuro os alunos sempre que possível, mas é mais fácil que vocês me procurem, pois como dizia minha mãe, para eu e meus irmãos: Eu sou um só. Com certeza tenho algumas experiencias e dificuldades ao longo de 33 anos de Aikido. Posso entender muita coisa e ajudar. Grandes esforços foram uma constante para que chegasse até aqui. Não sou Godan por acaso. E não ganhei graduação. Foi por esforço sincero. Me lembro, por exemplo (estava até conversando com sensei Tome sobre essa época) que para alcançar o shodan, tive que ir 5 vezes a SP durante todo um ano para treinar com meu sensei Severino. Com dificuldades financeiras. Ir nos seminários dele tambem no Rio. E em outros de outro grupo. Gastei tempo, dinheiro, me dediquei. Certas vezes não tinha dinheiro e ele me recebia em sua casa para economizar hospedagem. Demandou muito o Aikido. E sempre teve que ser assim, até hoje precisa o Aikido de minha atenção. Agora mesmo, percorremos um longo caminho até Piracicaba para dar aulas, treinar com os sensei amigos, e participar desse importante encontro. Problemas de coluna, dinheiro, tudo é um obstáculo, mas a obstinação do artista marcial é e deve ser maior. Muitas vezes sim, teremos que percorrer centenas de km pelo Aikido. Isso é o verdadeiro bushido. Não existe atalhos. Não existe esmorecer, nem deixar que nos esmoreçam. No final, somente você é responsável pela sua evolução. Podemos ajudar, mas sempre será você. Se as coisas não estão indo bem no Aikido para nós, não poderemos culpar os outros mais do que a nós mesmos. E irmos em outro campo verdejante do grande mestre que conhecemos na internet, não adiantará. Não tem fórmula mágica lá. Até mesmo no outro lado do mundo poderemos chegar e não avançaremos. Somos nós antes de tudo.
Walter Amorim Sensei