Um tributo a Shigeru Kawabe Shihan

Um tributo a Shigeru Kawabe Shihan

Por Gaku Homma 22 de março de 2003

Tendo retornado, recentemente, de uma visita de doze dias ao Japão eu me sentei em minha escrivaninha repleta de cartas acumuladas durante a minha ausência. Com o sentimento de pesar eu me sentei para realizar a tarefa à mão. Meus pensamentos se dirigem para o meu último encontro com o Diretor da Aikikai, Shihan do Aiki Shuren de Akita, Shigeru Kawabe Sensei, apenas uma semana atrás. Eu conheci Shigeru Kawabe Sensei por mais de quarenta anos e ele também teve um papel muito importante na história da Nippon Kan. Ele nos visitou aqui em Dever em quatro ocasiões desde 1990, e eu e muitos de meus estudantes passamos algum tempo com ele em seu dojo em Akita, Japão. Poucos anos atrás, Kawabe Sensei foi diagnosticado com câncer, ironicamente na mesma época em que Morihiro Saito de Iwama, seu professor e amigo íntimo durante toda a sua vida. Morihiro Saito faleceu em maio de 2002 e agora Kawabe Sensei seguiu o seu caminho. Aguardando por sua jornada final, Kawabe Sensei retornou para casa do hospital no início de fevereiro deste ano. Os médicos disseram à família que não havia mais nada que pudesse ser feito. Eu visitei Kawabe Sensei no começo da tarde do dia 26 de fevereiro, onde eu o encontrei seqüestrado em sua própria cama. Ele estava deitado sem cobertas, levemente enrubescido pela febre embora o quarto tivesse resfriamento. Em sua face havia o olhar de um homem em profunda dor embora recusasse morfina para aliviar o seu sofrimento. Eu permaneci ao lado de sua cama e me ofereci para massagear suas pernas, como eu já havia feito, eu refleti, para o Fundador Morihei Ueshiba e para Morihiro Saito Shihan. Suas pernas já não tinham músculos, então, gentilmente massageei sua pele. Seu corpo estava tão leve e frágil que eu poderia levantá-lo com apenas uma mão. Nós falamos calmamente e eu lhe dei notícias de Denver. Sua mente ainda estava clara, mas era difícil ouvir o que ele dizia. Calmamente ele suspirava para sua esposa que podia entendê-lo como somente uma esposa de muitos anos pode. Ela retransmitiu sua mensagem repetindo, “ele diz para enviar suas lembranças para todos em Denver”. Uma lágrima se formou em seus olhos e ele desviou seu olhar do meu. Daquela posição ele levantou sua mão em um gesto de despedida. Ele estava dizendo sayonara. Era o adeus, a nossa última despedida.Não querendo mostrar as lágrimas que estavam agora se derramando em meu rosto, eu me virei para deixar o quarto. Sua esposa me acompanhou de perto, atrás de mim, e ofereceu o seu lenço. “Está tudo bem”, ela disse, “Ele fez o melhor que pôde para viver com dignidade. Seu corpo está cansado agora, e logo será a hora de ele retornar para o céu. Lá ele poderá descansar”. Ela disse isso com um triste, mas compreensível sorriso.Kawabe Sensei e sua esposa viajaram a última vez para os Estados Unidos e Canadá em outubro de 2002 a convite de seu estudante de longa data Mark Larson. Ele fez essa viagem contrariando os conselhos dos médicos, da família e, inclusive, o meu. Sua esposa, no entanto, sabia que não havia muito mais tempo e que aquela seria a sua última viagem ao exterior. Então eles foram juntos para completar uma última missão. A Universidade de Minnesota tem tido uma filial da Universidade de Akita nos últimos doze anos, e Kawabe Sensei teve por longo tempo o desejo de visitar e ensinar Aikido para seus estudantes em Minnesota. Ele também queria comparecer ao casamento de um de seus estudantes que agora vive no Canadá.Embora muito sobrecarregado, Kawabe Sensei completou sua missão e retornou ao Japão. Brevemente após o seu retorno ele deu entrada no hospital onde ele havia iniciado muitos dos últimos tratamentos enquanto o câncer estava tomando o controle.Sua condição era terminal, e um dia depois de ter acenado adeus para mim de sua cama, nas primeiras horas de do dia 28 de fevereiro de 2003, ele faleceu no início de seus 63 anos deidade. Como Morihiro Saito Shihan, Kawabe Sensei trabalhou quando jovem nas estradas de ferro japonesas, ele praticou judô quando jovem, mas não iniciou sua prática no Aikido antes deter por volta de trinta anos de idade. Ele começou sua prática de Aikido em Akita no Dojo de Asakura, Dojo no qual eu fui instrutor durante algum tempo. Ele era mais velho do que eu quando começou a praticar Aikido. Eu vou me lembrar para sempre de quando ele começou, com seus óculos pesados, corpo compacto e uma pegada que podia frear um trem. Ele treinava diligentemente e recebia instrução respeitosamente. Poucos anos depois eu o encontrei novamente ali, Kawabe Sensei pediu demissão voluntária das estradas de ferro do Japão e se voltou para o Aikido como uma ocupação de tempo integral.Meu treinamento me levou para fora de Akita e Kawabe Sensei começou a treinar com freqüência no Dojo de Iwama com Morihiro Saito Shihan. Ele empenhou um esforço tremendo através dos anos em seu treino, e na promoção do Aikido em Akita. Finalmente ele se tornou Shihan do Dojo de Aiki Shuren e diretor da Aikikai na filial de Akita. Daquele tempo até muito recentemente, de modo privado ou oficialmente, Kawabe Sensei me ajudou e à Nippon Kan com seu conselho e assistência. A cerimônia funerária de Kawabe Sensei aconteceu no dia 4 de março. Para a comunidade local era raro que tantos dignitários do mundo do Aikido comparecerem vindos de longe para um funeral, especialmente em condições de nevasca. O atual Doshu Moriteru Ueshibaestava presente vindo de Tokyo, bem como muitas outros instrutores de alto nível vindos de muitas partes do Japão. Na cerimônia sua esposa falou eloqüentemente a respeito de seu marido: “Para o meu marido sua grande satisfação estava na alegria de seus estudantes. Ele teve muitos estudantes e eles fizeram sua vida rica. Ele estava muito feliz por ter sido capaz de ir à Minnesota para abrir o novo dojo de um de seus estudantes e por comparecer ao casamento de outro. Esses foram momentos de orgulho que fizeram sua vida completa”.Existem muitos professores como Kawabe Sensei que agora já se foram. Eu penso como nós devemos receber o que nos foi dado por eles e cuidadosamente, corretamente passar isto adiante. Esta, eu acho, é a nossa responsabilidade, e também a melhor maneira de apreciar e agradecer àqueles que vieram antes de nós. Existem muitos que dedicaram muito de suas vidas, não apenas no Japão mas em todo o mundo, ao desenvolvimento do Aikido. Alguns nomes conhecemos facilmente, outros não. No entanto, todos os seus esforços foram importantes contribuições e merecem ser lembrados como parte da história e legado para futuras gerações. Depois de ter deixado Kawabe Sensei, eu peguei o trem para Tokyo. Naquele dia eu me encontrei com o Fundador e editor da Aiki News, Mr. Stan Pranin, que havia chegado apouco tempo no Japão vindo dos Estados Unidos, eu havia planejado visitar o quartel general da Aiki News em Tóquio e eu estava feliz por encontrá-lo ali. Mr. Pranin agora esta vivendo nos Estados Unidos e coordena, edita e gerencia o escritório da Aiki News via comunicação eletrônica. Para cobrir novos eventos do mundo do Aikido ou para realizar entrevistas, Mr. Pranin visita o Japão regularmente. Eu estava com sorte de que ele tivesse acabado de chegar. Eu estava ali para visitar a Aiki News e satisfazer minha própria curiosidade. Existe uma frase japonesa que diz “Hyakubun wa ikken ni shikazu” que quer dizer “É melhor ver com os próprios olhos do que ouvir centenas de histórias de outros”. Eu queria confirmar a minha opinião a respeito da Aiki News. Eu, obviamente queria conhecer Mr. Pranin, mas também o resto de seu grupo no Japão. Aiki News é publicado trimestralmente de um pequeno escritório em Tóquio. Esta revista com uma distribuição de aproximadamente 5.000 cópias por número é apenas um de vários projetos que são desenvolvidos ali. Aproximadamente cinqüenta livros de Aikido e outras artes marciais também são produzidos bem como numerosos vídeos. O que eu comecei a me dar conta, enquanto eu visitava seu escritório inundado de dados e informações, foi da importância do tra
balho que estava sendo feito ali. Eu pensei em Kawabe Sensei. Aiki News o havia entrevistado preservando, desta forma, sua vida e realizações para a posteridade.Sem esse tipo de documentação a vida de Kawabe Sensei seria relegada à memória de poucos, que seriam, em um tempo, enterradas junto com seus donos. O grupo da Aiki News,eu estava descobrindo, estava tendo um papel muito importante nessa documentação histórica. Muito poucos artistas marciais alcançaram um nível de “estrelato” a ponto de se terem livros escritos sobre suas vidas. Existem muito mais artistas, no entanto, que não se tornaram famosos, mas cujas vidas e contribuições são as mais importantes para a história. O grupo da Aiki News, eu estava aprendendo, estava trabalhando na meticulosa preservação dos eventos e da vida dos famosos… bem como da vida dos artistas marciais de nosso tempo que escolheram não serem famosos. Eles haviam realizado mais de 350entrevistas com instrutores de Aikido e outros artistas marciais de todo o Japão e no exterior. A comunidade das artes marciais no Japão encontra suas raízes fincadas há séculos atrás, e de muitas maneiras ainda está encharcada em antigas e, de alguma forma, arcaicas tradições. Muitas técnicas foram passadas de geração à geração sem serem gravadas, e ainda existe um ar de mistério e proteção em torno de muitas escolas de artes marciais. Fazer com que artistas marciais se abram para um “estranho” para documentação pública é um trabalho, no mínimo, complicado. Isto requer uma pessoa com talentos especiais e uma sinceridade especial no coração para ganhar confiança o suficiente para que se possa conquistar esse tipo de abertura. O termo Japonês para as técnicas secretas de um artista marcial é hiden ou okuden. Com o talento especial do grupo da Aiki News, muitos segredos do passado de nosso Aikido vieram à luz e foram gravados para que pudéssemos aprender. Muitos fatos que foram escondidos nas sombras ou que foram encobertos pelo mito tem sido revelados. Eu imagino que muitas pessoas não ficaram felizes com o fato de que antigos segredos tenham vindo à tona, enquanto outros talvez tenham ficado enciumados ou se sentido ameaçados. Eu ouvi rumores de que a Aiki News apenas “utiliza a história com fim de ganho monetário”. O que deve ser visto como um pensamento superficial. Os serviços prestados pela Aiki News são inestimáveis para nós, e o seu sucesso é um testemunho conveniente da necessidade que o mundo tem desse tipo de informação.Aqueles que cancelam e escondem seu passado (ou o presente da mesma forma) recusando-se a serem entrevistados não fazem nada pelo futuro das artes marciais no Japão. Aqueles que realmente acreditam no que estão fazendo são mais bem servidos ao se abrirem a respeito de suas atividades. Aiki News começou em in 1974 com oito páginas e tipos impressos à mão. Desde então,Mr. Pranin, com a ajuda de Ms. Ikuko Kimura e outros membros dedicados de seu grupo,transformou suas oito páginas em um império com mais de 10.000 assinaturas e uma página na Internet que é visitada entre 3.000 a 5.000 vezes por dia. A Aiki News se tornou o mais amplo recurso de informação sobre o aikido e sobre outras artes marciais no mundo hoje. Um número inacreditável de informações sobre a história de nosso Aikido e sobre história e cultura Japonesas foram resgatadas e organizadas para as futuras gerações. Enquanto eu caminhava pelo escritório da Aiki News eu me senti como se eu estivesse em uma Grande Estação Central de Aikido. As salas, embora estivessem cheias de pilhas de livros e abarrotadas de papéis de pesquisa, estavam organizadas em seções de produção,edição, negócios, distribuição e administração. O escritório estava vivo, com energia e o grupo trabalhava diligentemente em diferentes projetos. Eu ouvi dizer recentemente que existem atualmente 150.000 membros da Aikikai ao redor do mundo. Se você acrescentar a este cenário um inimaginável número de praticantes de aikido que não são membros da Aikikai, o número de aikidoístas no mundo hoje é assustador. Enquanto eu olhava ao meu redor eu pude perceber que aquele era o grupo capaz de organizar esta quantidade de história em sua constante progressão. Eu fico feliz porque a vida dos Shirans de nosso tempo encontrarão um lugar no registro da história para as futuras gerações. Eu fiquei muito impressionado com o que eu encontrei no escritório da Aiki News no Japão e eu desejo que Mr. Pranin, Ms. Kimura e o seu grupo continuem tendo sucesso nos seus empreendimentos, bem como nossos historiadores do aikido. Eu não tenho conhecimento de ninguém que seja mais diligente e esmerado em registrar a história de nossa arte marcial no mundo, e eu acredito que a Aiki News tenha produzido o mais completo e amplo arquivo de história das artes marciais disponível para nós hoje.Voltando para a pilha de correspondência em cima de minha escrivaninha, eu abri um envelope para descobrir uma foto. Era uma foto de um jovem casal se beijando em uma cerimônia de casamento. Decididamente eu sou um pouco antiquado, a fotografia parecia pouco tradicional para mim. A noiva estava vestida com roupa de couro preta e branca e exibia um chapéu maravilhoso. O casamento se deu em um pavilhão de borboletas entre borboletas e outras criaturas da noite. A marcha nupcial era o tema (do filme) Star Wars(Guerra nas Estrelas)… O noivo era Spencer Everroad, um dos meus uchideshi de quem tenho mais orgulho, e foi uma honra providenciar um buffet de meu restaurante para a recepção de seu casamento.A primeira vez que encontrei Spencer foi há dez anos atrás na primeira fila de uma nova classe de iniciantes no antigo dojo da Nippon Kan. Eu estava explicando exercícios de aikido quando Spencer, que costumava estar sempre pálido naqueles dias, ficou branco como um fantasma. Ele então, para minha surpresa, caiu batendo o rosto no tatame. Eu fui tomar conhecimento então que Spencer, que freqüentava a faculdade por tempo integral e passava as noites trabalhando para se manter e aos seus estudos, tinha usado o dinheiro de sua comida para pagar suas classes iniciais de Aikido! Foi um começo interessante! Depois desse começo dramático, Spencer se tornou um uchideshi da Nippon Kan enquanto ele trabalhava para terminar a faculdade. Ele trabalhava duro e era dedicado e se lidou heroicamente com as severas condições de uma vida de uchideshi. Eu o assisti crescer neste período de sua vida, e o vi realizar muitos de seus sonhos. E fico feliz quando ele vem ao dojo e sempre diz, “Eu estou em casa”. Eu acredito que agora estarei esperando que ele me traga fotos de suas crianças. Eu penso no que a esposa de Kawabe Sensei disse a seu respeito, de sua maior alegria ser a alegria de seus estudantes. Não apenas Spencer, muitos outros estudantes me trouxeram muita alegria. Muitos dos uchideshi que se graduaram com sucesso pela Nippon Kan estão longe, dessa forma eu não tenho a oportunidade de vê-los regularmente. É sempre um prazer receber cartões ou um telefonema no Natal ou no Ano Novo ou ainda uma visita surpresa. É como ver as crianças chegando em casa depois da escola.Retornando para pilha sobre minha escrivaninha, um jornal local chama minha atenção. Na capa estava um de nossos instrutores iniciantes Andy Bogart praticando Aikido no parque com outro estudante da Nippon Kan. Uau! Eu exclamei quando eu vi aquilo. Aconteceu de ele estar no escritório na hora e olhou para mim envergonhado enquanto eu lia a reportagem. “Desculpe-me pela foto Sensei”, ele começou. Eu apenas ri e com um sorriso eu lhe disse: “Não existe nada a ser desculpado, não se preocupe. Não existe nada de errado em se praticar ao ar livre em uma tarde de sábado agradável”. Enquanto eu olhava a fotografia retornei aos meus primeiros dias em Denver. Naqueles dias iniciais, antes de 1978, eu não tinha o meu próprio dojo para praticar. Eu estava ensinando na ACM local durante as noites dos dias de semana, e todos os sábados de manhã, durante o verão, eu e meus estudantes nos encontrávamos
no parque para praticarmos juntos. Depois da prática, nós íamos para minha casa e preparávamos um bom café da manhã juntos. Velhos tempos… eu pensei. Enquanto alguns dos estudantes daquele tempo ainda permanecem praticando na Nippon Kan, muitos agora têm suas próprias famílias e muitas responsabilidades para passarem o sábado praticando Aikido no parque. Aqueles dias de prática agora são apenas boas lembranças para a maioria.Ver uma das próximas gerações de líderes da Nippon Kan praticando no parque me fez sentir, por um lado, que realmente eu estou envelhecendo, mas por outro lado feliz por vermos eventos se completarem como um círculo. Eu estou orgulhoso dessa nossa próxima geração. Nippon Kan cresceu nas últimas décadas, e possui muitos membros. O tamanho e o espectro de suas atividades se também mudou (Veja AHAN para mais informações).Infelizmente, hoje seria muito difícil levar todos mundo comigo para casa e preparar café da manhã depois da aula! Ver jovens líderes da Nippon Kan tomando iniciativa e cuidando de novos estudantes realmente enche o meu coração. O que eu encontrei hoje em minha mesa essa manhã, o cartão de Spencer, e o recorte de jornal da aula no parque, leva embora algumas tristezas que eu sentia depois de minha chegada do Japão. Essas recordações me fizeram refletir sobre a vida na Nippon Kan. Hoje existem aproximadamente 250 estudantes na Nippon Kan e cerca de 10.000estudantes já passaram pelas classes de iniciantes da Nippon Kan na última década. Eu testemunhei muitos marcos na vida de meus estudantes. Eu vi graduações, casamentos,divórcios, nascimentos, doenças, contratações, demissões e mortes. Eu experimentei todas as preocupações e emoções advindas dessas experiências. Eu testemunhei atos de ternura,traições, ciúmes, generosidade e lealdade – todas as experiências que se pode ter vivendo em nosso mundo hoje. Todas me ajudaram a crescer enquanto a Nippon Kan crescia ao longo do caminho. Agora minha posição mudou. Eu não tenho mais a possibilidade de ministrar aulas no parque. O navio que eu piloto é muito maior agora do que foi um dia. Tenho que ter a visão de uma perspectiva mais ampla de modo a orientar a Nippon Kan em direção ao futuro. Para fazer isso eu preciso muitas vezes sacrificar meus sentimentos pessoais e agir além deles. Essa é uma posição na qual pode tornar-se isolado. Olhando para a foto de Andy no jornal praticando no parque me lembro dos tempos em que minha vida era mais simples e mais fácil em alguns aspectos, tendo muito mais privacidade, tempo pessoal e contato com meus estudantes. Faz-me rir pensar que muitos de meus estudantes agora não têm consciência dos dias iniciais da Nippon Kan e das lutas e de todo o processo que atravessamos. Existem alguns estudantes que, eu tenho certeza, acreditam que eu cheguei aqui do Japão com um dojo de 10.000 pés e centenas de estudantes empacotados em minha bagagem. Em todo o caso esta simples foto traz de volta o círculo completo de eventos da vida. Nos últimos anos, parece que muitos Shihans de alto nível japoneses têm falecido. Assim como Kawabe Sensei, eu tenho testemunhado outros Shihans que também receberam uma grande dose de alegria provinda da alegria de seus estudantes. Nossos professores nos ensinam a sermos fortes. Eles nos mostraram através do exemplo como sermos fortes em corpo, e como sermos forte em mente. Eles, obviamente, não nos ensinam verbalmente sobre a morte. Especialmente quando eles são fortes, as lições que nos ensinam são lições sobre a vida. Essas eram as melhores lições. Eu acreditava nisso até agora. O que eu estou agora começando a me dar conta é que a melhor e a última lição dos professores que eu conheci é uma lição que não é ensinada com palavras, embora seja amais poderosa de todas. A morte de um Shihan é a sua última lição e o seu último presente.Este é um presente que é amargo de ser recebido embora nos ensine muito sobre a apreciação dos outros e internamente nos dê direção sobre nossas vidas. Esta é uma lição deixada para que cada um de nós pondere e cresça individualmente. Na prática de artes marciais nós somos ensinados a sermos fortes. Onde, então, a morte se encaixa nessa força? Como isso pode ser parte da vida que esses líderes deixaram? O quê,finalmente, eles compreenderam de suas próprias vidas, prática e morte? Essas são questões que fazem parte de nosso estudo, nossa prática e das últimas lições de um Shihan. Eu espero ser capaz de entender essas últimas lições e ser capaz de seguir em seu espírito coma alegria de meus estudantes. “Se todo mundo que pratica meu Aikido é feliz, então eu, também, sou feliz”. Morihiro Saito Shihan 1927-2002 “Eu desejo e espero que praticando Aikido, meus estudantes sejam felizes. Até que eu não esteja mais presente eu tentarei ajudar meus estudantes a alcançarem a felicidade”.

Shigeru Kawabe Shihan 1940-2003

Shigeru Kawabe Sensei que tivemos a honra de conhecer em seminário conjunto dele com Isoyama Sensei em 2000.
Shigeru Kawabe Sensei que tivemos a honra de conhecer em seminário conjunto dele com Isoyama Sensei em 2000.

Original por Gaku Homma Sensei

(Tradução: William Soares)

Original no site nippon kan